Um Outro Lado da Meia-Noite escrita por Gato Cinza


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu com mais uma fic... no que será que vai dar?



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– Morticia! Morticia! – fechei os olhos me escondendo debaixo do meu edredom quando ouvi a voz infantil e chorosa de Magnolia me chamando.

Fingi que não ouvia ela e nem suas repetidas batidas na porta. Depois de alguns minutos ela parou e tudo ficou estranhamente silencioso o que foi uma surpresa já que nós duas compartilhamos de uma teimosia fenomenal. Minha curiosidade foi saciada instante depois quando eu curiosa me atrevi a ir sorrateiramente até a porta para ouvir – sim eu tenho o mal habito de ouvir atrás das portas. Ouvi passos suaves se aproximando e o irritante barulho de chave no trinco. Céus ela fora chamar Margarida!

Corri e saltei na cama fingindo-me de dorminhoca. Era sábado e única coisa que eu não queria era me fingir de alegre para desconhecidos. Margarida entrou em meu quarto batendo os saltos propositalmente na madeira polida de meu quarto.

– Levante-se preguiçosa – ouvi a voz rouca e mandona de minha irmã mais velha que puxava meus pés – Não pense que acredito que está dormindo á esta hora do dia Morticia de Gardênia Belaya.

Me mexi encolhendo-me debaixo do edredom, estávamos no fim do outono e o tempo era agradavelmente frio, mas eu sempre tive o mal habito de dormir com a janela aberta, coisa que sempre me fazia levar bronca das pessoas. Infelizmente Margarida sempre foi mais persistente que qualquer pessoa que já tive a honra de conhecer. Resmunguei saindo de debaixo do edredom quando ela começou a fazer cócegas em meu pé.

– Me deixe dormir um pouco mais.

– Me poupe de sua teimosia por hoje querida, sei que está acordada desde antes do sol nascer – replicou Margarida indo mexer no meu baú ao lado de minha penteadeira.

De fato eu havia acordado cedo para admirar o nascer do sol como sempre faço desde meus dez anos, alias deveria me apresentar, mas minhas irmãs já disseram meu nome, então o farei apenas por formalidade, me chamam de Morticia tenho 20 anos e sou a pessoa mais preguiçosa que conheço, felizmente não conheço muitas pessoas.

Me levantei, me enrolei em um roupão e escuro e grosso, fiquei parada encostada no portal de madeira da porta de meu quarto, Margarida mexia os lábios remoendo palavras ofensivas dirigidas, bem eu sabia, ás minhas roupas. Ela assim como toda e qualquer mulher de nosso tão evoluído século XVI não compreendia o porquê de eu, uma garota de vinte anos ter me decido por entrar na vida religiosa e me trancar em um convento.

Margarida ergueu um vestido cinza de manga longa e torceu o nariz, voltou a mexer em meu baú parecendo ainda mais desgostosa pelo meu desprezo por moda e beleza. Margarida era a mais velha de minhas irmãs, dona de uma pele macia e dourada pelo sol, possuía cabelos negros como breu que lhe caiam lisos sem nenhuma onda até as coxas grossas, os olhos eram castanhos claros como mel iguais ao de nosso falecido pai, as sobrancelhas finas e cílios grandes escuros que davam uma expressão sedutora ao rosto fino de linhas delicadas e lábios fartos, o corpo escultural sempre foi proporcional em todos os ângulos, cheia de curvas sedutoras que deixava o mais grosseiro dos vestidos lhe cair bem como que feito exclusivamente para ela, seu único defeito era o gênio forte de quem detestava ser contrariada. Naquela manhã ela usava um vestido simples de cambraia verde claro e um xale verde musgo cobrindo os ombros. Ela estava com 31 anos, casada á doze com David Marshall um habilidoso advogado de mesma idade que ela, tinham dois filhos; Andreas de nove anos, um lindo menino que herdara a beleza da mãe e a personalidade tímida e retraída do pai, e Daisy uma menina delicada de quatro anos que recebera o mesmo nome de sua progenitora.

– Você precisa de uma visita á modista para ontem – olhei para minha irmã que estava com um vestido de chita florido em mãos com um sorriso triunfante como se acabasse de encontrar um objeto perdido.

– Vou tomar meu banho – respondi ignorando o comentário dela, segui para o banheiro no fim do corredor onde Magnolia já havia preparado meu banho.

A água estava do modo que eu gosto, gelada e sem espuma. Mergulhei e fiquei aguardando em silêncio até sentir meu corpo livre de um cansaço que sentia. Dentro de algumas horas seria a festa de noivado de Magnolia onde ela conheceria em fim seu noivo, eu havia prometido interferir no noivado para que ela não se casasse, mas Narciso nosso irmão responsável pela família estava irredutível sobre o assunto.

– Meg vai se casar quer ela goste quer não – disse ele resoluto quando tentei argumentar os contra de um casamento arranjado. “Fora o fato dela já estar em idade de se casar, a menos que resolva fugir como você fez”, isso foi motivo bastante racional para que eu ficasse calada.

Eu entrei para o convento assim que fiz dezessete anos pelo simples motivo que estavam pretendendo me casar com um comerciante com quem eu seria obrigada a viver até que a morte nos separasse infelizmente matar o cônjuge na lua de mel é crime punível com pena de morte, e morrer enforcada em praça publica não está em meus planos de como ter uma vida feliz.

Depois de meu relaxante banho desci para ouvir mais uma hora de coisas que relativamente não me interessavam a respeito do noivado de Magnolia. Encontrei minhas três irmãs sentadas á mesa na cozinha falando todas de uma só vez. A primeira a notar minha presença foi Verbena que se levantou e veio me abraçar me erguendo do chão.

– Me solte Vê – mandei tentando respirar.

Olhei para Verbena dos pés aos cabelos parando bons segundos analisando o rosto rechonchudo dela. Verbena tem 25 anos, rosto redondo, cabelos castanhos escuros sempre cortados a altura dos ombros, olhos verdes iguais aos de minha mãe e pele pálida, ela estava casada á seis anos e meio com o barão William Quarini, um velho rabugento que se apaixonou pela capacidade gastronômica de Verbena e praticamente a comprou. Eu definitivamente detesto o barão, ele tem idade para ser avô de minha irmã, para ser mais exata ele tem 71 anos.

– Verby já decidiu como quer que sua múmia seja banida?

Verbena me olhou irritada colocando as mãos em sua cintura.

– Tenha mais respeito por meu marido Mort, eu já disse me casei com ele por que eu amo.

Me segurei para não revirar os olhos e a chamar de mentirosa, fiz uma falsa mesura me inclinado para frente.

– Como desejar baronesa Quarini, que vossa senhoria mais seu esposo sejam felizes até que a morte os separe – confesso, eu sou incapaz de não provocar – O que será logo considerando a idade avançada do barão.

Verbena abriu a boca para me ofender quando Narciso entrou carregando baldes em cada mão acompanhado de Andreas que abriu um largo sorriso quando me viu.

– Tia Mort – gritou Daisy que vinha logo atrás deles com um cesto de flores, ela correu para me abraçar empurrando Andreas para o lado.

– Meu pequeno Leprexaum, como está?

– Já disse para não chamar meus filhos de nomes de criaturas mágicas – adoro o som da voz de Margarida ralhando comigo.

– Desculpe Margo, eu esqueço.

Narciso me olhava com semblante preocupado, meu irmão sempre estava preocupado comigo o que me faz rir um bocado já que de minhas irmãs apenas eu e Verbena somos as únicas na família que não precisamos de proteção masculina, Magnolia também não precisava, mas isso foi a muito tempo ela se auto baniu do mundo das bruxas, uma pena eu penso.

Narciso tem 27 anos é alto mais de 1,85, tem ombros largos, cabelos castanhos curtos, olhos verdes, pele queimada pelo sol quente na qual trabalha durante o dia todo e músculos bastante notáveis o que me faz pensar no estrago que ele faria se resolvesse entrar em uma briga. Sorri para ele tentando o fazer deixar de lado aquela expressão de quem não esta nem um pouco feliz com o que vê, e o que ele via era a irmã morena de olhos castanhos e pele pálida, eu no caso.

– Preciso falar com você em particular Mort – disse com sua voz grave saindo da cozinha.

Eu o segui para fora lançando olhares pedintes para minhas irmãs que estavam na porta nos olhando afastar em direção ao poço.

– Que houve Narciso? – perguntei quando a distancia para se manter uma conversa confidencial era segura.

Ele não me respondeu, caminhamos até o poço e ele sentou na borda feita de pedras grandes virado para mim com um olhar distante, como se o peso do mundo estivessem guardados em seu ombro. Ele suspirou profundamente antes de focar meus olhos.

– Andreas me mostrou o que ele pode fazer, ele ergueu a água d poço sem usar o balde.

Levei um tempo para assimilar aquilo.

– Quando?

– Há pouco, eu disse que vinha pegar água e ele se ofereceu para vir comigo, levou um tempo para criar coragem e se oferecer para retirar a água do poço, então me mostrou o que sabia fazer.

Fiquei tonta com a informação, depois me sentei. Faz mais de trezentos anos que os magos foram banidos de nossa linhagem, apenas as mulheres recebem o dom e Andreas é... uma criança ainda.

– Margarida sabe?

– Não, Andreas disse que me contou por que confia em mim, ele ei te contar, mas ficou com medo de você dedurar ele para a Margarida.

Compreensível, eu prometi para Andreas que sempre o ajudaria, mas que quando achasse que fosse um assunto realmente importante ou perigoso eu pediria ajuda a mãe dele, e ser um mago em 1600 é realmente algo com que se preocupar. Principalmente com a mania irritante das pessoas em queimar, enforcar e afogar bruxas.

– Vou fazer um cordão para ele, peça para que ele seja paciente.

– E se ele não for capaz de controlar? Cordões são perigosos, se alguém notar que ele usa um cordão pode ser pior.

– Ok, posso falar com Margarida e vamos comprar um cajado para que ele use, ou melhor uma vassoura e ai ele pode mostrar um truque de voo exclusivo.

– Não use sarcasmo comigo Mort. Faça o cordão para ele.

– Ótimo, e narciso acho que você deve convencer Andreas a contar para os pais que ele é um bruxo. Melhor agora que quando fizer alguma bobagem.

Narciso fechou a cara me olhando como se eu o culpasse de algo que não sou culpada, depois sorriu deixando de lado toda sua preocupação.

– As famílias bruxas estão cada vez mais desaparecendo e logo em nossa família nasce um bruxo, que sorte.

– Veja pelo lado bom, o feitiço eterno que proibia nascimentos de homens bruxos em nossa família foi quebrado.

– Isso é o que me preocupa faz mais de trezentos anos que os homens de nossa família perdeu a capacidade mística, isso é por direito e para segurança algo que apenas mulheres podem receber, e nem todas nascem com o dom. De nossa geração apenas você e Verbena nasceram bruxas. Por que o Andreas e não a Daisy?

Dois problemas que odeio em nossa sociedade atual, ser uma mulher inteligente e pensar por conta própria é uma desonra para a família, segundo ser irmã de um cara que pensa e formula ideias iguais as suas é horrível, infelizmente Narciso é tão inteligente, analítico e curioso como uma mulher bem instruída que morde sua língua para não falar na presença de homens. Mesmo eu tendo dado de ombros e refeito meu caminho para casa fiquei com as palavras dele martelando em minha cabeça. Por que Andreas recebeu a magia que é concedida apenas as mulheres a mais de três séculos?

Ao anoitecer nossa casa estava com clima de festa, o noivo de Magnolia viria para o jantar. E eu estava faminta, mas era por informações. Me sentei olhando para a estrada que levava a cidade, nossa casa fica na área rural e os vizinhos mais próximos ficam á mais de cinquenta metros de distancia de modo que se algo nos acontecer leva um tempão para chegarmos até alguma viva alma.

– Mort, quero falar com você – me virei olhando para minha irmã menor.

Magnólia tem 18 anos, tem cabelos pretos e lisos que caem até a cintura, hoje para a ocasião de seu noivado ela havia deixando a franja certinha penteada para a lateral e com o cabelo semipreso em um coque , com bastante volume no alto da cabeça complementando com uma tiara rocker , os olhos verdes estavam vermelhos por que há pouco chorava e soluçava tentando convencer a Narciso e Margarida que não precisava se casar, o corpo esguio e modelado cheio de curvas atraentes estava coberto por um longo vestido de cetim rosa e os lábios fartos tingidos de vermelho e a pele dourada pelo sol diário, ela estaria linda se não expressasse tamanha raiva por ter que se casar com um homem que nunca vira em sua vida.

– Já pensou em como vai me impedir de casar com... com...

– Edwin Fletcher McGregor IV? – disse o nome olhando atenta para ela que parecia prestes a chorar mais uma vez – Engula as lagrimas, eles estão vindo.

Magnólia rangeu os dentes entrando em casa, eu permaneci onde estava olhando para a estrada. A carruagem escura de rodas grandes de madeira dourada foi a primeira coisa que vi aparecer na estrada, quando chegou mais perto notei o forro dos bancos vermelhos de couro. O cocheiro desceu torcendo o nariz para mim como se eu fosse inferior a ele, por um segundo imaginei se essa reação seria por eu estar trajada em roupas simples e parada no lado de fora como se fosse uma criada esperando pelos seus senhores, ele abriu a porta e aguardou.

O primeiro que desceu foi um rapaz loiro de vestes pretas e olhos azuis que me pareceu bastante entediado com a situação. Depois desceu o homem que pelos passos confiantes que deu até onde eu estava e pelo modo especulador com que me olhou era o Edwin McGregor, se minha irmã fosse uma pessoa fútil e tola se casaria com ele pela beleza. Edwin em seus 29 anos era um sedutor moreno de pele bronzeada, alto, olhos azuis claros como o céu em dia de sol, rosto másculo de maxilar quadrado, cabelos negros curtos, corpo bem desenvolvido por músculos e elegância.

– Esta é a casa da família Belaya? – perguntou ele com uma voz nasalada enquanto analisava a simplicidade da fachada da casa que meus pais viveram uma vida para construir.

– Sim senhor – respondi desviando o olhar para o garoto loiro que não devia ter mais de 15 anos e disse – Acompanhem-me

Abri a porta e os levei para os fundos da casa onde o jantar seria servido. Margarida arrumava últimos detalhes na mesa enquanto o cheiro delicioso de torta de pêssego fugia da cozinha. Daisy ajudava a mãe e David conversava animado com Narciso, Andreas os ouvia sem dar atenção. Margarida veio rápida como se eu pudesse transmitir alguma doença, ela se virou apresentando Edwin aos outros enquanto eu subi para arrastar Magnolia para fora.

– Eu não vou descer Mort – gritou ela quando chamei pelo seu nome.

– Magnolia Leroy Belaya saia dai é uma ordem, eu digo.

– Não! Me deixe em paz eu odeio esse homem não vou me casa com ele.

– Você nem o conhece Meg, vamos querida.

Depois de um tempo de silêncio na qual eu ouvi Narciso falando Margarida eu resolvi fazer algo que jurei não fazer a menos que fosse uma crise de risco absoluto.

– Pelo sangue que nos une, pelo silencio que nos acolhe, por Gaia que nos protege, eu sangue de teu sangue ordeno, obedeça-me. Saia agora do quarto.


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