Capítulo 8

Alpha pousou a xícara de porcelana no pires e soltou um suspiro baixinho.

–Não aguento mais esperar – revelou encarando o próprio reflexo no chá esverdeado.

A chuva do dia anterior havia sido passageira e o sol já começava a querer aparecer por entre as nuvens de algodão. Katerina estava na janela, brincando com a trança que caía pelo seu ombro direito e ao ouvir a voz doce de Alpha, olhou em sua direção, como num reflexo, mas não deu muita bola e voltou sua atenção para a paisagem, pensando no quanto o calor do dia já começava a fazer com que sua nuca grudasse. Definitavamente não se sentindo confortável com o clima bem diferente do de Sallisbury.

–Eu também – murmurou Jade – nenhum pronunciamento. Nada.

Isabelle deixou a revista que folheava de lado, parecendo automticamente mais interessada na conversa que se iniciava. Estavam a silêncio por tanto tempo que o som de outra voz era algo incrivelmente aconchegante.

–Desde o baile que não os vimos. Será que foi tão ruim assim?

A loira pareceu um pouco preocupada quando encontrou o olhar de Alpha, mas a garota apenas deu-lhe um sorriso fraco e aparentemente sincero, como se buscasse confortá-la.

–Não. Não acredito que seja isso, ou se não haveria um escandalo maior, não?

Jade concordou e se inclinou na poltrona:

–Mas que foi muito estranho aquela jornalista aqui ontem foi.

–Jessica? – pediu Morticia, repentinamente se aproximando da aglomeração de garotas – Vocês se referem a Jessica Gamber?

Jade fez que sim com a cabeça:

–Aposto que não é nenhuma ameaça. Jessica é uma mulher adorável

Ela passou as mãos pelo vestido amarelo claro, como se não se importasse muito com ele ou com o fato de que era revestido de seda. Jade achou aquilo um pouco insultante aos ótimos tecidos que o castelo comprava para fazer os vestidos, mas Morticia não parecia se importar tanto assim. Sentou-se ao lado de Alpha, colocando em contraste o corpinho magrinho da loira contra as pernas modeladas de Gardênia.

–Ela costuma ir no SPA da minha família uma vez por mês. É bem reservada e tal, mas não é o tipo de jornalista que quer saber de tudo espiculando, sabe?

–Sim – disse Jade – Caso contrário ela iria em um Salão de Beleza, não em um SPA.

Morticia sorriu, mas algo em seus olhos de ambar eram intimidadores. Como se desconfiasse de cada uma das garotas dali.

–Então o que você acha que poderia ser? – pediu Isabelle.

–Não sei... Talvez ela queria nos observar. Aposto que as informações que escrevem vão todas para o rei, ou pior, para Kaleb

Alpha e Isabelle trocaram olhares preocupados enquanto Jade deixava a coluna o mais ereta possível e pousava as mãos sobre os joelhos.

–Bem – disse ela – Isso é bom não é? Assim o príncipe poderá ver quem é sua melhor opção.

Ninguém respondeu, então ela riu baixinho e continuou:

–Aliás, aposto que ele deve adorar essa coisa toda de trinta e quatro garotas e uma princesa correndo atrás dele.

Ao pronunciar princesa, ela conferiu por cima de seus ombros se Myranda era capaz de ouvi-la, mas a princesa de Gales estava quieta, sentada sozinha numa mesa totalmente entediada e dando garfadas sem nenhuma emoção no bolo de chocolate. Seus olhos estavam focados em nada, afogada em pensamentos e parecendo trabalhar o cérebro em alguma coisa, mas era impossível dizer o que. Até mesmo para Jade – com toda esperteza e inteligência.

Ela não sabia o que pensar, não sabia o que deduzir sobre Myranda. Tudo bem, ela era uma princesa e tinha tudo para ganhar essa Seleção. Mas ela não ia deixar. Estava certa do momento que vestira a roupa do baile e que sentira que enfim tornara tudo o que sua mãe sonhava para ela real. Respirou fundo e voltou a conversa com as outras selecionadas.

–Alpha, pode me alcançar um copo de água?

A menina concordou e antes que pudesse sequer pegar o copo para Jade todas paralizaram ao ouvir os passos apreçados de Itália, que vinha acompanhada de Luana. As duas pararam abruptamente no meio do aglomerado, respirando um pouco exaltadas. Itália parecia ainda um pouco em choque, apertando uma mão na outra enquanto Luana exibia um sorriso alegre.

–Por favor, Alpha, para mim também – disse – Porque não sei como engolir essa notícia.

–O que foi? – pediu Isabelle praticamente ficando de joelhos no sofá.

Mas Itália não conseguiu responder, pegou o copo de água e bebeu um gole muito lentamente, como se sentisse uma dor na gargnta ao engolir. Luana respondeu por ela:

–Uma das criadas chamou-a para conversar e entregou-lhe isso – ela apontou para algo entre as mãos em concha de Itália – Quase tive um surto porque achei que Kaleb já estivesse começando as eliminações só que então... Ela mostrou o papel e se trata de um convite para um almoço com o príncipe ainda hoje.

Katerina, alheia ao grupo, deixou com que seus dedos escorregassem da asa da xícara e ela se virou para olhar a felicidade de Itália e até mesmo de Luana. Os olhos de Jade se encontraram com a garota. Nenhuma das duas disse nada, mas sabiam muito bem o que estavam pensando. Naquele momento, todas tinham milhares de pensamentos.

X

Kaleb colocou a enciclopédia na sua estante desocupada. Geralmente, nada além de poeira ocupava aquele lugar, mas desde a manhã de ontem ela passara a receber um único livro, o qual o príncipe não sabia mais o que fazer. Nada estava levando a nada. E pela primeira vez na vida, ele passava a considerar a hipótese de seguir um conselho de seu pai, afinal, se Herfleur não estava na merda talvez ele fosse um bom conselheiro. Talvez tivesse uma cabeça no lugar.

Durante a noite, um pouco antes de dormir, pensara por um curto momento sobre a conversa com Bailey. Hoje em dia, não sabia mais quando ela estava mentindo ou falando a verdade, mas ele mantera a franqueza quando disse que não queria nada com ela. E foi aí que percebeu que não poderia andar para frente se focasse apenas em trabalhar ou apenas nas garotas. Teria que conciliar os dois e iria fazer isso seguindo o conselho de Philip.

Na sexta-feira de manhã, enquanto ia para o escritório informar ao pai sobre a decisão, encontrara Kristie descendo as escadas para o Salão de Baile que também agora era o Salão onde passavam as tardes. Ele percebera por um leve momento que suas bochechas haviam corado e ela abrira a boca para tentar falar algo. Kaleb achou graça e se lembra vagamente de sorrir e levar um dedo aos lábios, em sinal de silêncio. Então ela assentira e correra para o Salão – literalmente. Não que fosse a intenção da garota, mas meio que parecia que ela queria fugir mais rápido o possível. Preferiria fazer um pouquinho de barulho a mais com os saltos do que percorrer mais da metade do corredor com o príncipe.

Pudera também. Não estava sendo a coisa mais agradável. Não trocavam palavras, não se conheciam. Seria ainda pior se ele chegasse e revelasse que tinha uma espécie de namoro com Bailey.

Kaleb tinha hesitado na porta do escritório, certo de que voltaria para buscar Kristie pelo braço e lhe convidar para fazer alguma coisa. É, seria bem estúpido, mas sentiu um pouco de vontade de simplesmente chegar e dizer o que saísse de sua boca. Talvez um passeio no jardim? Ou um almoço mais tarde? Não sabia. Era fácil ver que ainda estava com a cabeça cheia, como se o que Bailey dissera tivesse deixado um amassado em sua consciência, mas se gostar de alguém era possível, tecnicamente superá-la também tinha que ser, certo?

No final das contas, entrara de vez no escritório trocando meia duzia de palavras muito formalmente com o pai e escrevera um bilhete convidando uma das moças para um almoço juntos. Mas mesmo depois de já ter assinado, ainda não o havia endereçado, porque não tinha ideia de quem. Kristie? Evelyn? Gabrielle?

Eram só nomes que vinham em sua mente, algumas imagens de rostos indistintos, mas ele não conseguia ter certeza. Philip o observou por um momento e batucando seus dedos na mesa disse:

–Ponha Itália

Kaleb ergueu os olhos para o pai. O rei estava com aquela expressão vazia de sempre, não sabia se estava falando sério e porque especialmente aquela garota.

–Ponha Itália – repetiu roboticamente.

O principe pensou por mais um segundo e na horrível letra que tinha escreveu o nome da garota. Só faltava descobrir se era uma boa escolha.

.

Kaleb deixou o quarto quando viu que faltavam cinco minutos para o meio-dia. Não seria agradável deixar alguém esperando, então era ainda melhor que se antecipasse.

O combinado era que o almoço normal seria servido no Salão, como no dia anterior. Todas as selecionadas iriam fazer a refeição juntas apenas com a mudança de que Itália não estaria presente. Philip e Danielle dificilmente comiam juntos, ela em seu quarto e ele em seu escritório. E o mesmo era com o príncipe, mas hoje eles teriam uma sala comum para que pudessem ficar sozinhos.

Quando entrou na sala, Kaleb sentiu o cheiro de frango recheado com uvas passas. Ainda estava quente e a bandeja de prata parecia a luz no centro de tudo. Cercado por saladas de azeitona e tomate, havia um creme daqueles os quais ele nunca sabia dizer o nome. Provavelmente para se mergulhar um pedaço da carne, mas parecia bom. Era meio amarelado com raspas de pimenta.

A adega aos fundos do comodo parecia mais cheia do que nunca. Com vinhos tintos, brancos, vermelhos, bordos, merlot... Eram tantos que seria divertido tirar um tempo para ler seus rótulos e nomes. Kaleb estava servindo-se uma taça de um vinho branco, cuja embalagem dourada lhe chamara a atenção quando ouviu o clic da porta. Em reflexo seus olhos se levantaram.

Itália usava um vestido longo roxo. Não. Era lilás. Ou ao menos era isso que ouvia das mulheres, que sempre pareciam particularmente ofendidas ao ouvirem que o lilás é roxo e vice-versa. Mas a questão era que seu rosto estava levemente avermelhado – sem nenhum auxílio de maquiagem e seus olhos brilhavam.

–Olá – cumprimentou dando um meio sorriso.