That's My Secret escrita por Clary Avelino


Capítulo 8
E essa detenção?


Notas iniciais do capítulo

Dedicado pra Gabones maravilhosa



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Junho

É a primeira vez na vida que eu vejo uma professora colocar alguém numa detenção por estar fora do lugar, tudo bem que eu a provoquei, mas mesmo assim... Pelo menos eu já sou ferrada, pois uma detenção no meu histórico não vai manchar de vermelho um papel que provavelmente já está menstruado.

Quando Adriana disse “velha” ela esqueceu de mencionar “malcheirosa” e “chata”. A sala parecia um lixo, com as cadeiras bagunçadas em um bolo estranho, várias teias de aranha crescendo do ventilador de teto quebrado até o quadro branco que era amarelo. O cheiro de mofo invadia o ar de maneira ágil e muito inconveniente... Essa sala precisava urgentemente de uma faxina ou até mesmo uma dedetização, incluindo a própria Sra. Rodrigues, que parecia um rato gordo e cheio de pelos brancos, seus dentes eram estranhamente grandes e eu percebi uma grande verruga escura perto da sua boca... Ou algum bicho ali e ela nem percebeu.

Meus pais já haviam sido comunicados do meu incidente, coisa que também era desnecessária, eu ia chegar uma hora depois do almoço, podia muito bem falar que estava estudando com a Isa para algum trabalho, mas não, a porcaria do colégio tinha que informar para meus pais que a filha deles além de perder de ano estava rodando pela sala e o diabo á quatro.

– Bem, a detenção começou. Nada de aparelhos eletrônicos, comida ou conversa. Se quiserem fazer alguma coisa durante esses cinquenta minutos, peguem seus livros e estudem ou adiantem a lição de casa. – Sra. Rodrigues se sentou na cadeira, puxou a mesa velha e desgastada para mais perto de seu corpo, puxou um grosso livro de algum lugar que eu não fiz questão de prestar atenção e começou a folheá-lo.

Olhei por cima do meu ombro procurando Luigi, ele estava duas cadeiras atrás da minha desenhando alguma coisa na cadeira, levantou os olhos rapidamente e pareceu sorrir com eles. Mais três alunos estavam na detenção, duas garotas e um garoto que não quis verificar quem eram.

Arrastei os olhos até a professora que continuava imersa em sua leitura e virei meu rosto em direção a Luigi que ainda me olhava.

Vou sentar atrás de você – sussurrei tão baixo que senti meus lábios tremerem.

Ele apenas negou com a cabeça e voltou os olhos para a mesa que agora era mais preta que branca.

Abri a boca para protestar mas nenhum som saiu dela, esse garoto é bipolar ou coisa do tipo? Mordi minha bochecha respirando profundamente para não surtar naquele momento, eram coisas assim que me faziam perder a cabeça, ele estava falando comigo na sala agorinha e por que agora faz essa palhaçada?

Se acalma Clarissa, vai que ele só não quer pegar mais um dia de detenção. Deixa de neurose por uns míseros segundos.

Pensei comigo mesma respirando profundamente, não era correto me importar com as atitudes do Bennet, ele tinha uma namorada para isso, ser ciumenta e neurótica.

– Com licença. Sra. Rodrigues, poderia conferir se falta algum nome em sua lista? – Cátia perguntou, se encaixando entre a porta e a parede. Ela parecia furiosa com algo e seu tom de voz denunciava quanta raiva ela carregava no momento.

– Claro – ela respondeu, pegando a lista de alunos que estavam de detenção naquela manhã – Vou fazer a chamada agora mesmo. Clarissa Dawson – levantei a mão, sentindo olhares em minha direção, que não me intimidaram, só me fizeram arquear a sobrancelha e colocar mais força no olhar superior – Luigi Bennet.

– Aqui – a voz foi ouvida atrás de mim. Contive todos meus impulsos de virar em sua direção e continuei olhando para o rato gordo que chamava os alunos.

– A... – ela franziu a testa e trouxe o papel para mais perto de si – Alexandria Nolasco?

É Alejandrina Nolasco – ela disse, com um sotaque mais forte do que o necessário. Ela era intercambista vinda da Espanha.

– Certo. Dominique Ferraz? – ela levantou a mão, encolhida no canto da sala. Dom era a irmã mais velha de Isa, nada parecida com a irmã e nem de longe tão legal quanto tal – Roberto Melo? – o garoto levantou a mão com a cara emburrada, ele tinha um piercing na sobrancelha e cabelos espetados artificialmente. Parecia mais um integrante de Tokio Hotel á um aluno normal – É, hm. Eduardo Drummond?

Levantei os olhos a procura de Eduardo, ele não estava na sala. Uma voz conhecida foi ouvida atrás de Cátia e eu percebi instantaneamente o porque da irritação.

– Estou aqui. – o outro lado da porta foi empurrado, revelando um Eduardo extremamente emburrado e com a cara enfezada. Ele estava fugindo da detenção.

– Ele estava no corredor se agarrando com uma garota. Violando o regulamento do colégio, que é bem claro quando diz que alunos que não estejam no ensino médio não podem se relacionar em público.

– E onde está essa garota?

– Ela não estava com a farda do colégio. A partir disso, não pode ser enviada para um castigo.

– Trágico – resmunguei, encaixando os pés na cadeira em frente á minha. Abaixei minha cabeça e esperei o sono da aula de história vir agora, podiam chamar a professora para explicar como o Brasil é atrasado em relação ao mundo para eu poder dormir novamente.

Eduardo sentou na cadeira em frente á minha e começou a balançar os pés de forma que me estressou de todas as maneiras possíveis. Ele era chato assim sempre ou só nas horas vagas?

– Para com isso – sussurrei perto de sua cabeça, baixo o bastante para que apenas ele ouvisse.

– Com o que? – perguntou, erguendo o canto da boca num sorriso misto. Agora a ponta dos seus dedos faziam leves batuques na mesa – Clarissa, você não acha que deve me tratar melhor? Eu guardo seu segredo sujo de sábado sem nem hesitar e você me retribuí assim?

– Eu não sou a única que tem segredos, certo? Ou preciso gritar que a garota do corredor é a minha melhor amiga? – ele parou os dois movimentos e ficou estático – Porque se não for, você realmente vai ter que começar a me tratar bem.

– Eu não sou o Luigi – sua cabeça virou levemente em minha direção e seu olhar parecia sério – Se eu estou com a Isabella, é porque eu gosto dela. Não seria capaz de fazer isso.

– Me diga, como você é amigo do Luigi mesmo? – perguntei expressando livremente minha curiosidade – Retiro todas as coisas que eu disse sobre você á Agatha.

– O que você disse sobre mim?

– Que Luigi era mais maduro que você.

– Cada um amadurece do jeito que quer. Luigi amadureceu para a vida, eu amadureci para o amor. – seu sorriso ficou limpo, mostrando que aquelas palavras eram realmente sinceras.

– Como eu amadureci, Eduardo?

– Você amadureceu demais em relação á tudo. Assim explica o porque de você ser esperta demais. Mas ao contrario do certo, você mostra para todos que é podre, que passou do ponto. Por isso ninguém espera coisas boas de você.

Parei para perceber que a sala inteira estava olhando para mim e para Eduardo, todos menos o rato gordo, que tinha dormido ou estava morta.

– O mundo espera que você seja bom, mas você não pode ser bom o tempo inteiro. Então nada mais justo que mostrar sempre seu lado ruim, para quando você quiser mostrar que todo lado ruim tem um lado bom, eles se surpreenderem e lembrarem que antes de pedir algo para seu anjinho fazer, do outro lado do ombro tem um diabo. As pessoas fingem que são anjos, mas todo anjo precisa de seu demônio. Essa é uma das leis da vida. Ou até mesmo uma de minhas leis. Você não pode andar sempre na mesma linha, as vezes andar na contra mão é mais interessante.

Eduardo se virou completamente e sorriu, pressionando os lábios e estendendo a mão para mim.

– Acho que começamos com o pé esquerdo. Sou Eduardo Drummond. – apertei sua mão e sorri.

– Muito prazer, sou Clarissa Dawson. – aproveitei que o rato ainda estava dormindo e pus minha cadeira ao lado da de Eduardo, fazendo-o rir baixo – Só para constar, eu não gosto de seu nome, os apelidos para ele são muito comuns. Mas seu sobrenome é interessante, porém grande.

– Então, como vai me chamar? – perguntou numa mistura de curiosidade e diversão.

– Drummer! Eu vou te chamar de Drummer! Problema seu se não gostou.

– Drummer é legal. Nunca gostei de meu nome mesmo. Além dos apelidos, o nome é muito comum. Eu poderia me chamar Everozebaldo. Ou Refrigerante!

Pus a mão na boca, juntando todas as forças para não rir naquele momento. Não precisava despertar o guardião do inferno.

– Clarissa também é um nome comum. Vou te chamar de Corbíniana! – senti que meu rosto estava variando entre o vermelho ao roxo, se eu segurasse o ar por mais alguns segundos, iria ficar preta.

– Vamos nos conhecer melhor, se você continuar fazendo piadas sinto que eu vou ter um ataque e acordar aquela coisa ali. – apontei para Sra. Rodrigues.

– Bem, um tempo atrás eu te disse que Luigi era repetente e que tinha atrasado a alfabetização, por isso é um ano mais velho que você. Então acho que você me deve informações sobre Isa. Sabe, eu sei algumas coisas sobre ela, mas queria saber mais. – seus olhos brilharam ao pronunciar o nome de Isabella e eu senti uma pontada de inveja de minha amiga.

– Tudo bem. Por onde começamos?

Alguns minutos mais tarde, Eduardo sabia mais coisas sobre Isabella que a Dominique. Ou não. Mas isso não vem ao caso. Pelo menos não agora.

Um sino foi ouvido de longe e eu tive que checar as horas para ter certeza de que aquilo não era um sonho de mal gosto. Mas não era, o sinal havia tocado mesmo. Mas como assim, eu entrei na sala há cinco minutos?

– Meu Deus, o tempo passou tão rápido! – Drummer sorriu, expressando estar tão espantado quanto eu.

– Acho que eu devia ficar de detenção mais vezes. Mas é claro, se você vier comigo. Passar a detenção sozinha deve ser horrível. – puxei a alça de minha bolsa e a encaixei no ombro, seguindo para a porta acompanhada de Eduardo. Por segundos eu pensei: Aonde esse garoto estava nos últimos meses?

– Quando eu chegar em casa, meus pais vão me esperar com um grande abraço por ficar em detenção. Provavelmente eu vou ficar o fim de semana de castigo e o resto do mês sem video game.

– Video game diminuí os neurônios. Eles deviam fazer isso sempre, sem video game você será uma pessoa mais inteligente.

– Isso é uma ofensa! – ele pôs o peito da mão na testa e jogou a cabeça para trás, fazendo cara de ofendido – Eu não sou burro! Tudo bem que eu estou repetindo a oitava série, mas isso não faz de mim uma pessoa burra! Olhe para você, repetiu a oitava série sem nem jogar video game!

– Eu sou vagabunda Drummer! Isso torna as coisas diferentes. Não faço nada, odeio estudar... A lista continua, posso citar até a porta do colégio. – não estávamos relativamente muito longe, mas foi o primeiro lugar que eu vi na frente – Vamos testar sua inteligência sobre os assuntos desse ano... Hm, qual a formula de delta?

– B² - 4ac, minha avó lembra disso, e ela fez a oitava série com Jesus Cristo. – rolou os olhos ao chegarmos a portaria, eu ia andando para casa e não sabia se ele ia também, mas pareceu não se importar com o fato – Minha vez de perguntar.

– Eu não disse se você podia perguntar, quem faz as perguntas sou eu! – protestei, ainda rindo – Eu vou para casa, Eduardo.

– Eu não quero almoçar em casa, quero comer alguma besteira. Vamos no Bob’s? – peguei meu celular e chequei o horário, faltavam dez minutos para dar 14h30min, não era uma hora apropriada para almoçar.

– Acho que meus pais não vão deixar, eles já querem jogar minha carne num tanque de tubarões por ter acabado na detenção. – murchei, brincando com o aparelho que estava em minhas mãos.

– Eu peço para sua mãe. – ele puxou o celular de minha mão e desbloqueou a tela, pensando no que poderia ser a senha. Franziu a testa e começou a tamborilar os dedos impaciente – Deixe-me ver. Qual sua senha? “euamoluigi” ou “bennetminhavida”?

Mostrei meu dedo do meio para ele e puxei o celular de volta, digitando minha senha e entregando o objeto branco.

– A senha é “queenofgasstation*”. Você nunca iria acertar.

– Por que? Só porque é o título de uma das músicas mais antigas da Lana? Na época que ela se chamava Lizzie Grant ainda? – deixei minha boca abrir e ficar em forma de “o”. Encolhi meu nariz e continuei parada, totalmente pasma – Não julgue um livro pela capa.

– Não julgar. Ok. E quem sou eu? – arqueei uma sobrancelha, ainda sorrindo de forma engraçada. Eduardo pôs o telefone na orelha e segurou o riso.

– Uma garota que desafia professores e xinga como uma louca mas chama a mãe de mama – ai meu Deus, ele estava mesmo ligando para minha mãe?

– EDUARDO DRUMMOND, DESLIGUE ISSO AGORA! – voei nele, mas senti sua mão cobrir meu rosto e me segurar aonde eu estava. Repetindo o que disse há algum tempo, não se de onde ele tirava tanta força.

– Alô? É a mãe da Clary? – ele ainda segurava a risada, com uma das mãos no telefone e a outra me mantendo longe dele.

– PONHA NO VIVA-VOZ PELO MENOS! – pedi de um jeito autoritário, como quem estivesse mesmo desesperada.

Eduardo pressionou algum lugar da tela e a respiração de minha mãe ficou muito alta.

Clary? – a voz da minha mãe me tirou dos devaneios que me encontrava nas expressões de Drummer.

– Oi Sra. Dawson. Eu sou o Eduardo, e queria sair com sua filha agora. Nós vamos almoçar no Bob’s. Claro, se a senhora deixar. – procurei por qualquer buraco para poder enfiar minha cara. Havia tanta educação na fala de Eduardo que minha mãe me perguntaria depois se ele era um professor de etiqueta.

Você é o namorado dela? – buraco? Eu quis dizer uma cova.

– Não senhora. Sou apenas um amigo. Mas se a senhora quiser, posso te apresentar seu provável futuro genro. – me deem uma passagem só de ida para o centro da terra.

Ah querido, seria ótimo! Se quiser vir jantar hoje a noite conosco, eu ficaria muito feliz! Aproveitando que o pai da Clarissa não vai estar em casa, esses assuntos são altamente proibidos perto dele. Ele acha que as filhas vão começar a namorar na faculdade! – mamãe soltou uma risada nasalada e eu desisti de procurar alguma cratera no chão para me enterrar – Clary amor, eu sei que você está ouvindo.

– E pedindo para alguém estourar meus ouvidos também – resmunguei.

Querida, não seja tão rabugenta.

– Não precisa ser tão educada também, pode falar como você fala normalmente, com palavrões e gírias. Essas falas de matriarca não combinam com você. – retruquei apontando para um banco branco na praça, caminhei até lá e sentei acompanhada de Drummer que ainda segurava o celular – Isso serve para você também Eduardo. Não precisa de toda essa educação. Você falou “senhora” tantas vezes que eu quase achei que minha mãe tinha oitenta anos.

Mais uma vez, a risada de minha mãe foi ouvida do outro lado da linha, agora ela falaria como a mulher que eu conhecia.

Você é um pé no saco Clarissa, eu nem posso fingir ser uma boa mãe. Se eu fosse uma mãe nova e que usa roupas que nem á suas, você não iria gostar, pirralha. – agora sim, apresento á vocês Amellie, minha mãe.

– Você casou com o papai com 20 anos, usou camisinha até os 25 porque quis. Nunca obriguei ninguém á nada!

Olha aqui pirralha, vai logo pra essa porcaria de lanchonete antes que eu vá ai onde você está e dar na tua cara.

– Também te amo mãe, desliga Eduardo. Agora.

DESLIGA NÃO, EU AINDA QUERO VOCÊ AQUI NA JANTA PRA SABER DESSE TAL... – graças a Deus, ele desligou a tempo.

– Essa mulher ainda vai me matar de vergonha – bati a mão na testa e a arrastei pelo rosto.

– Ela é assim todo dia?

– Não, só quando o papai faz alguma surpresa ou quando o time dele perde alguma partida.

– Qual foi a surpresa?

– Nenhuma, ontem teve jogo.

****

– Você saiu da sala? Mas por que? – Eduardo perguntou curioso, nós estávamos no interior da lanchonete, mais rindo que comendo.

– Porque ela disse que quem quisesse sair, não era obrigado a ficar na sala! Não queria assistir àquela aula, então levantei da sala e saí – respondi simples, ainda rindo da expressão dele.

– Você não é uma boa influencia para mim! – ele deu mais uma mordida no seu hambúrguer e se afastou meio metro de mim.

– Estamos no mesmo barco querido – finalizei meu milk shake e levantei da cadeira ao perceber que apenas seu refrigerante estava em mãos – Vamos embora? Preciso dormir.

– Vamos – ele levanto e passou o braço pela minha cintura, me puxando para perto dele – Obrigado.

– Por que? – perguntei, encostando minha cabeça em seu peito e o abraçando fortemente.

– Por me deixar te conhecer – apertei o abraço e respirei fortemente.

– Me arrependo de não ter deixado antes. Mas sua primeira impressão de mim foram meus cabelos em sua cara. Você deveria estar bem longe. – gargalhei – E depois eu ainda te chamei de garota. – parei de rir e virei o rosto para cima – Por que você me segurou?

– Luigi pediu para eu sentar ao seu lado e impedir qualquer coisa que tentasse fazer.

– Como ele sabia que eu ia fazer algo?

– Ele sabia que a futura namorada dele ia fazer algo. Aquela vaca.

– Você não gosta dela – afirmei, rindo do modo que ele falou da namorada do melhor amigo.

– Por isso que eu não te segurei na segunda vez que foi em cima dela

Apertei o abraço mais uma vez, desejando não perder aquela amizade nunca.

– Vamos embora – repeti, entrelaçando meu braço no dele.

Ele assentiu com a cabeça, sorrindo levemente. Seus olhos se moveram para nossa frente e de imediato fazendo seu sorriso sumir.

Acompanhei seus olhos e senti eu rosto se transformar numa expressão de nojo. Logo há alguns metros de nós, Bárbara estava no colo de Luigi, numa tentativa frustrada – assim espero – de arrancar seus lábios.

Drummer se soltou de meu braço e começou a caminhar em direção do amigo, como quem não quer nada com nada.

– Ei amigo – ouvi sua voz – calma ai, assim as atendentes vão expulsar vocês dois daqui. – sentou ao lado de Luigi e sua namorada, agora vermelha – Clary amor, venha aqui. Não pode conversar com os outros a metros de distância – o que?

– Eu não pretendo ficar, já disse que quero ir para casa – não pretendo conversar com ninguém, nem chegar perto desses dois, posso pegar HIV.

– Cinco minutinhos e eu prometo que te levo em casa. Agora sente aqui conosco, aposto que eles dois adorarão sua presença – anotação do dia: sempre perguntar á Eduardo o que ele vai fazer.

Caminhei lentamente até eles, mas não sentei, fiquei em pé, encostando meu corpo na mesa, bem longe da bactéria e seu namorado.

– Então – Bárbara saiu do colo de Luigi e sentou no banco, se recompondo. Em parte, porque se começássemos a restaurar aquele ser demoraria a eternidade – quando você e Clarissa começaram a namorar? – se eu tivesse comendo ou bebendo algo agora, toda comida iria para quilômetros luz de mim.

A troca de olhares entre Eduardo e eu foi mais que rápida, segundos depois estávamos nos contorcendo e rindo escandalosamente, atraindo a atenção de outras pessoas que estavam presente.

– Não estamos namorando – disse, depois de receber olhares confusos.

– Então porque ele te chamou de amor? – não é de sua conta, vadia.

– Porque ele é meu amigo, Bailey. Amigos chamam os outros de amor – olhei para Drummer que me encarava de maneira sugestiva. Sua boca se movimentou sem emitir nenhum som. “Aja” – Você deveria saber disso, ou não tem amigos? Alias, seu namorado deveria ser seu amigo também! Ele nunca te chamou de amor? – ela estava estática, com aquela cara de aberração que vem segundos antes da cara de nojenta – Estranho, tive a impressão de que ele já me chamou de amor antes, afinal, somos amigos, não é Lu? – olhei em sua direção e sorri sarcasticamente, quem sorria do mesmo jeito que eu era Drummer – Mas enfim, a conversa foi ótima mas eu tenho que ir para casa! Vamos Drummer. – caminhei até meu amigo e estendi a mão, que foi agarrada segundos depois, caminhamos até a porta e eu acenei lentamente – Tchau Bárbara, tchau amor! Nos vemos amanhã!

Continuei caminhando com o braço encaixado no de Drummer até chegarmos a esquina perto da praça que estávamos algumas horas atrás. Ao chegarmos no mesmo banco, ele sentou ao meu lado e me encarou sério, sem aquele deboche de antes.

Sentei ao seu lado, sem entender muito o que passava em sua expressão, mas eu estava disposta á ouvir.

– Por que Luigi? – as palavras saíram de sua boca com uma entonação confusa, ele não sabia mesmo o que se passava ali. Na verdade, nem eu sabia.

– Devia perguntar para ele, porque eu. Eu não o escolhi, – pausei – na verdade, acho que não houve isso de escolha, ninguém escolheu ninguém.

– Vocês se escolheram, sem nem perceber.

– Ninguém escolheu ninguém – repeti – Alias, Luigi escolheu Bárbara. Você viu como ele está feliz com ela, eles se merecem.

– Está feliz com ela e te beijou na casa dele. Nossa, como isso é interessante. Ah, o que foi que vocês fizeram na piscina mesmo? Vocês se beijaram e só com aquele beijo você fez ele ficar com cara de otário! – ele levantou do banco, parando na minha frente e mexendo as mãos a cada palavra – Você é a única pessoa que não percebe isso, mas ele te escolheu desde a primeira vez que te viu. Sabe, eu fiz amizade com ele na primeira semana e ele me contou sobre você, sobre a garota estranha que se bateu com ele no primeiro dia, o xingando de todos nomes possíveis. De como ela era interessante. E na sexta, ele sabia que você faria alguma coisa. Ele fez piadinhas, chamou sua atenção e depois foi até você te ajudar!

– Pena que ele estragou tudo, não foi? Pena que depois de todo esse esforço, ele estragou tudo abrindo a boca! Esse é o problema de Luigi! Ele sempre estraga tudo! Foi assim em frente a diretoria, na sala de aula, no quarto dele, na piscina e hoje na detenção! Ele sempre estraga tudo! Ele nunca sabe a hora de parar de falar merda!

– O que ele disse naquele dia? Na sexta-feira? – perguntou, ignorando tudo o que eu disse antes.

– Ele disse que iria me desmascarar, que iria fazer a mascara cair. Que iria mostrar como eu realmente era.

– Quem você é?

– Você não sabe como eu odeio que me perguntem isso. As pessoas acham que eu não tenho sentimentos, que eu sou um vegetal! No começo, eu achava que essa não era eu, que isso era uma fase. Depois eu percebi que esse ser que convive com vocês todo santo dia, é apenas o que estava escondido dentro de mim, precisei de um empurrão para liberá-lo.

– E a vadia? – seus dedos me apontaram de cima á baixo e ele me observou por alguns segundos, esperando a resposta.

– Ela não existe. Não é uma fase. É uma imagem. Essa é a personagem que eu criei para jogar com Luigi Bennet.

– Você quer continuar com esse jogo, Clary? Quer continuar a fazer uma coisa que você não goste? Só por raiva? Você vai acabar magoada no final, e o pior é que não vai ser a única.

– Drummer...

– Você sabe que não pode continuar com isso por muito tempo. Não é algo que ninguém saiba, não é nenhum segredo. Mas Luigi vai ficar com você no final. Você sabe disso, Bárbara sabe disso, todo mundo sabe disso.

– Por que nos beijamos uma vez?

– Porque é assim que as coisas acontecem. Não é algo precipitado, é algo que devia estar acontecendo desde o primeiro dia de aula.

Não respondi nada. Ele estava errado, não era algo que acabaria daquele jeito. Todos sabiam ao contrario, todos sabiam que qualquer coisa que fosse relacionada á mim acabaria em encrenca.

– Clary? Você acredita em destino? – por três segundos, me peguei olhando para aqueles olhos castanhos.

– As pessoas acham que o destino muda as coisas. Sabe o que eu acho? Que ele é uma vadia. – passei as mãos nos cabelos e suspirei forte, sentindo minha cabeça pesar – Drummer?

– Hm?

– Me leve para casa. – respondi baixo, olhando para meus pés.

– Agora? – ele puxou minha mochila pelos meus braços e encaixou em suas costas.

– Todos dias até nos formarmos.

– Você vai ficar bem?

– Eu vou processar todas as coisas que você disse e depois vou ignorá-las até a hora que eu explodir na frente de todo mundo, de novo.

– Dessa vez vai ser diferente, eu estarei lá, não só para te segurar, mas para te ajudar.

Obrigada por me deixar te conhecer, Eduardo Drummond.


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Notas finais do capítulo

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