Assassin's Creed: Os Segredos da Colônia escrita por O Mentor


Capítulo 1
Capítulo I




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Lisboa, Julho de 1803

 

Alguns lampiões eram a única fonte de iluminação disponível nas ruas naquela noite nublada de julho, na capital portuguesa. As sombras dos vagabundos e das prostitutas dançavam sobre as paredes do Mosteiro dos Jerónimos, enquanto as ondas do rio Tejo batiam vagarosamente nas duras pedras ao longo da base da Torre de Belém.

O movimento naquela parte da cidade era mínimo. As poucas pessoas acordadas àquele horário estavam ou encerrando um dia de trabalho cansativo para retornar às suas casas de reboco, ou iniciando a sua vadiagem noturna a fim de receber alguns poucos trocados. Muito distante daquela região, o Palácio Real de Queluz reluzia com sua riqueza e imponência: um lembrete diário para o povo português do quão distante eles realmente estavam de sua monarquia.

Dois cavalos puxando uma carruagem decorada passaram trotando pelas ruas de um dos bairros mais nobres de Lisboa, assustando um cachorro magro que vagava por ali. Esta se dirigiu objetivamente até uma das maiores mansões do local e aguardou pacientemente em frente à propriedade. Um sonolento guarda levou alguns segundos demais para perceber o que ocorria e, desesperado, correu para abrir os portões. Seus dedos tremeram para agarrar a chave uma vez que reconheceu o veículo à sua frente. Na semana anterior, o cocheiro havia sido um homem diferente. O guarda tremeu ao imaginar o que havia acontecido com ele.

Pôs estes pensamentos de lado e se forçou a fazer uma reverência enquanto a carruagem passava por ele e encaminhava-se ao extenso pátio em frente ao edifício principal da mansão. Os lampiões ao lado da porta de entrada foram acesos por um empregado, que, logo em seguida, correu para o interior. O veículo apenas estacionou e aguardou em silêncio.

Passaram-se alguns minutos até que o empregado retornasse para fora. Seus olhos estavam arregalados e precisou respirar fundo algumas vezes antes de anunciar em voz alta na direção da carruagem:

— O senhor Edgar Martins Gonçalves está pronto para recebê-los, cavalheiros. Por favor, os senhores façam o favor de me seguir. - sua garganta estava seca e de seu rosto pingava suor.

O cocheiro do veículo saltou para o chão e, com uma reverência, abriu a sua porta. O interior estava na penumbra, mas revelava três silhuetas. Duas delas desceram. Eram simples guarda-costas: casacos e calças de lã negra e um chapéu tricorne na cabeça. Cada um deles carregava um mosquete pendurado nos ombros e uma espada embainhada na cintura. Mantiveram-se em posição de guarda e esperaram pela saída do terceiro membro de sua delegação.

Sua face estava encoberta por um chapéu de abas largas. As mãos estavam suavemente enfiadas nos bolsos de seu sobretudo de couro, enquanto as botas pesadas faziam barulho ao se chocar com o calçamento em seus passos duros e confiantes. Suas armas estavam mais escondidas do que as de seus companheiros: o pomo de um sabre fazia volume sob suas vestimentas, enquanto duas pistolas estavam seguras em seus coldres pendurados no cinto.

Os três se encaminharam com calma e frieza na direção da porta de entrada. Passaram pelo empregado e invadiram a antessala da enorme propriedade. Como se conhecessem o local, marcharam até uma segunda porta localizada na esquerda do cômodo e irromperam em uma sala maior. Um ambiente que já lhes era familiar.

O salão principal da Mansão Gonçalves era bem decorado. As paredes, pintadas de um dourado claro, se encontravam pontilhadas com adornos, como escudos e espadas medievais, placas com cabeças de animais e alguns quadros muito bem pintados. Uma lareira crepitava na parede, oposta a quatro sofás formando um semicírculo em torno de um tapete oriental. Nos cantos havia algumas poltronas, e uma escrivaninha com papéis, pena e tinteiro se encontrava encostada na parede da esquerda. Enormes janelas, algumas abertas e outras tapadas com cortinas, podiam ser vistas ali também. E era próximo a uma delas que o homem se encontrava.

Quando os três estranhos chegaram, ele estava observando, pelo vidro, o seu extenso jardim localizado na parte de trás de sua propriedade. Ele se virou e suas feições ficaram mais visíveis. Era um homem de meia idade, com os seus 50 e poucos anos. O rosto claro possuía algumas rugas, principalmente em torno de seus olhos verde claros. Uma barba volumosa enchia-lhe o rosto, sendo da mesma cor de seus cabelos ondulados: grisalhos. Vestia roupas caras e casuais: um manto vermelho bordado com dourado, calças de lã brancas e sapatos sociais. Sua expressão era de receio, como se soubesse o que estava prestes a acontecer. Ainda assim, permaneceu calmo.

— Boa noite, cavalheiros. - disse ele, fazendo uma leve reverência. - Gostariam de se sentar e tomar um...

Ele foi interrompido por um dos capangas:

— Poupe-nos. Temos um objetivo aqui, Gonçalves. - e segurou o cabo do mosquete. O dono da casa estremeceu.

— Eu sei muito bem o que querem, senhores. Mas eu... - ele gaguejou. - Eu simplesmente não posso providenciar. Não no momento.

— Você já nos enrolou por muito tempo! - gritou o outro guarda-costas.

— Eu entendo a decepção de vocês, é claro. Mas há fatores que precisamos considerar. Se me derem uma chance apenas de explicar...

— Chega. - proferiu o homem de chapéu, imediatamente calando a todos na sala com sua voz grave. Todos passaram a observá-lo com atenção. Com calma e frieza, ele continuou:

— Edgar, temos sido complacentes com você por três meses agora. A paciência de todos tem um fim.

Instaurou-se o silêncio. As mãos de Edgar tremiam e a sua testa suava. Ele sabia que estava em uma situação difícil e conhecia as consequências de desafiar indivíduos como aqueles. Precisava pensar em algo rápido. Sua atenção, entretanto, foi logo desviada.

Alguém descia as escadas com pressa. Ouviu o barulho de botas se chocando contra o chão de madeira polido e, após isso, os passos no corredor. O recém-chegado irrompeu pela porta e todos se viraram para observá-lo, com algum espanto.

O garoto não podia ter mais do que 16 anos, mas era alto e tinha um porte atlético. Vestia calças marrons de lã, uma camisa branca e botas de couro com cano alto. Os cabelos eram negros e desgrenhados e os olhos eram verdes profundos. As feições eram bonitas, emolduradas pelos princípios de uma barba e um bigode. Varreu a sala com o olhar e, assim que notou os guarda-costas extremamente armados, questionou:

— Pai, o que é isso?

Edgar suspirou, nervoso:

— Nada de mais, filho. Só resolvendo alguns negócios. Negócios privados. Volte para o seu quarto, por favor.

— Mas...

— Fernão, por favor. - reforçou o pai. - Vá logo. Eu preciso resolver isso aqui.

O garoto fechou a cara. Fez uma breve mesura a seu pai e aos seus convidados e virou-se, dirigindo-se para a saída. Porém, não gostava que mandassem nele e odiava ser deixado de fora das coisas de seu pai. Saiu da sala e se encostou à parede logo ao lado da porta, de onde ele poderia ouvir tudo o que acontecia lá dentro.

— É um garoto muito bonito que você tem, Edgar. - comentou um dos homens. - Você pensou nele quando decidiu nos decepcionar?

— Ele não tem nada a ver com isso! - respondeu o pai. - Deixe-o em paz! Eu falo sério!

— Você não está exatamente em posição de negociar.

— Você não se encontra muito melhor. Se fizer qualquer coisa contra mim, eles vão investigar. E eles vão lhe encontrar.

Dessa vez, o aparente chefe do grupo interviu com certo ar de diversão.

— Ah, Edgar, eu me preocupo muito pouco com os homens de capuz. Deixe que venham.

— Eles vão matar vocês...

Fernão ouviu alguma movimentação. Foi o revoar de tecido, o som de metal raspando couro e, de repente, o inconfundível clique de alguém puxando a pederneira de uma arma de fogo. Ele sabia que alguém havia sacado uma pistola e a carregado. E tinha certeza de que a estavam mirando em seu pai.

— Eu aconselho que se preocupe menos com a minha segurança, Edgar. - continuou o homem. - E mais com a sua.

— Podemos negociar isso... - a voz de seu pai estava esganiçada. Ele estava apavorado.

— Podemos. Há apenas duas opções aqui: você me dá o que eu quero ou eu aperto esse gatilho. E então?

— Eu não tenho! - gritou Edgar. - Eu não tenho, está bem? Está sendo difícil! As coisas não são como costumavam ser, Dom Henrique.

Fernão não sabia do que se tratava toda aquela conversa. Seu pai não costumava trocar muitas informações com ele. Entretanto, conseguia imaginar qual era o destino de toda aquela conversa e se esforçou para pelo menos se lembrar do nome do agressor.

O homem, Dom Henrique, continuou:

— Então receio que os seus serviços não me são mais necessários.

E se escutou o ensurdecedor barulho do disparo. Fernão se virou e correu até a porta da sala a tempo de avistar a fumaça cinzenta que saía do bocal da arma se dissipar e o corpo sem vida de seu pai cair no chão com um baque, o sangue jorrando de seu peito e manchando o caro tapete. O jovem ficou sem reação.

— Olá, garoto. - falou o homem de sobretudo. Ele estava guardando a sua pistola. Em seguida, agarrou a segunda e calmamente começou a carregá-la com a bala de chumbo. Quando terminou, apontou-a para o peito de Fernão. - Agora temos que limpar a bagunça.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram, não gostaram? Me deixem saber. Deixem um comentário com as opiniões, dicas e sugestões de vocês. Até a próxima!



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