Aquela tarde não foi uma das melhores para ninguém.

Lauren ainda nem havia subido ao trono e, quando chegou do funeral, já foi logo "colocando ordem", como ouvi ela dizendo às poucas pessoas que trabalhavam ali.

Depois da morte de Anna, papai determinou que se fechassem os portões e diminuísse os números de pessoas trabalhando ali, ficando somente criados de sua confiança. Ele acreditava que, se as pessoas vissem alguma coisa anormal, não contariam a ninguém

Não seria diferente agora.

Os mesmos criados, mas novas regras de minha parte, pois, se vissem alguma coisa, eram para August e Lauren que contariam.

Após ouvir diversos berros que a maluca dava, dizendo o que era e o que não era aceitado no jantar da coroação, veio a calmaria.

Finalmente me levantei da onde estava até então, com as chaves e a carta na mão. Achei uma caixinha, coloquei tudo ali dentro e congelei o trinco. Em seguida, levei-a até um fundo falso em meu armário e deixei-a ali.

Sentindo-me mais confiante, fui até o banheiro e tomei um bom banho. Me vesti e fiz minha tradicional trança. Assim que acabei, ouvi batidas exigentes em minha porta. Atendi e logo Lauren me empurrou para o lado, entrando em meu quarto, acompanhada de Melissa.

Louise vinha logo atrás, com cara de poucos amigos

– Presta atenção pirralha - começou Lauren, olhando para mim - essa noite, é a coroação. Por mais que eu não queira e deteste esta ideia, meu marido quer você conosco. Por isso, a sua dama de companhia irá ajudá-la a se arrumar.

Louise me mandou um sorrisinho. Pelo menos ela ficaria comigo.

Lauren então chegou mais perto e forçou meu rosto a olhar para o dela

– E só uma gracinha, como aquela no funeral de sair correndo, e eu juro que você nunca irá desejar ter nascido - ela disse, os olhos ameaçadores

– Isto é uma ameaça? - perguntei, devolvendo-lhe o olhar

Não havia porque não devolver as ameaças, já que eu não tinha mais ninguém para que ela pudesse usar para me quebrar

Seus olhos faiscaram, sinalizando perigo

– Entenda como quiser - ela respondeu soltando meu rosto bruscamente e limpando a mão nas vestes, como se sentisse repulsa por ter tocado em mim

– Venha Melissa, temos que ficar glamourosas para esta noite - elas se retiraram do meu quarto e Louise suspirou, frustrada

– Elsa, desculpe-me não ter feito nada. Mas ela ameaçou a todos e suas palavras davam um duplo sentido tenebroso! - ela estremeceu

A acalmei

– Está tudo bem

Ela tocou meu rosto carinhosamente, onde havia as marcas certinhas dos dedos de Lauren na minha pele branca.

– Essa mulher é horrível. Ela ameaçou você, a verdadeiro herdeira do trono. Ela só está aqui porque August está guardando o trono para você. - Louise disse, conduzindo-me até a penteadeira e desfazendo a trança

– Como ele aguenta ela? - perguntei de repente

– Não sei se é amor, deve ser só a necessidade de tê-la para continuar governando Lesirih - ela respondeu - Mas, se for amor, ele escolheu muito errado

Concordei com a cabeça, enquanto ela penteava meus cabelos, ainda molhados pelo banho

– Como assim ele está guardando o trono? - perguntei - Não terei que esperar ele renunciar para então assumir?

– Não. É o que chamamos de "Rei por escolha e não por sangue". Veja, ele tem sangue real, mas não o sangue de Arendelle. Ele era seu único parente, por isso assumiu. Foi uma escolha e não uma ordem. E o único herdeiro de sangue que temos é menor de idade. Por isso, quando você completar dezoito anos ele terá que sair por boa vontade, já que o trono não é dele. Por exemplo, ele não pode usar a suíte real, por ela ser sua agora. Nenhuma delas pode entrar lá, sem sua permissão - ela explicou

– Vejo que será três anos difíceis ao lado de Lauren - comentei

– Sim, será. A filha dela também não facilita - ela disse, terminando um meio preso complexo, com cachos - Bem, seu cabelo está pronto. Tem algum vestido?

Olhei para o baú e levantei indo até ele. Queria mostrar a Lauren e Melissa quem é que era a herdeira.

E não era elas

Retirei o vestido do baú e os olhos de Louise brilharam

– Era o último presente da sua mãe não? - ela indagou e eu afirmei com a cabeça

– Bem, ela iria querer que o usasse esta noite - ela falou, já me ajudando a colocar o vestido

***************

Depois que me ajudou a me arrumar, Louise teve que sair. Já estava anoitecendo e decidi dar uma volta no palácio.

Para falar a verdade, queria encontrar a porta que pertencia a minha chave.

Mamãe e papai iriam querer que eu fizesse isso

Foi com esses pensamentos que retirei a caixinha do meu armário, descongelei o trinco e vi minha chave ali dentro, reluzindo

Retirei-a de lá, lacrei e guardei a caixinha novamente e, hesitante, saí do meu quarto. Escondi a delicada chave sob a luva, receosa de que, se Melissa ou Lauren vissem, iriam querer descobrir a todo custo da onde era essa chave.

Mas elas estavam mais ocupadas, gritando do outro lado do corredor, sobre o cabelo não estar bom ou o babado do vestido que se soltou.

Respirei aliviada e andei apressadamente pelos intermináveis corredores. Se eu estivesse certa, o quarto seria ao lado do de papai e mamãe. Achei o corredor e encontrei, ao lado da suíte real, uma porta branca, lisa.

Mas o símbolo era um floco de neve, esculpido em cristal, igual ao da chave, porém um pouco maior

Encaixei a chave na fechadura prateada e a girei e, sem dificuldade nenhuma, destranquei a porta.

Entrei logo em seguida, sem demora e fechei a porta atrás de mim, sentindo-me melhor pelo o que logo vi