Senti os braços de minha mãe afrouxarem em minha cintura enquanto grossas lágrimas caia de seus olhos. Papai estava estático, não movera nenhum músculo, mas logo percebi que estava chorando. Eu também chorava.

Não tinha mais nada o que fazer

Mamãe chorava alto e fez ou outra gritava. Retirou-me de seu colo e foi até onde apontei, chamando Anna desesperadamente e batendo contra o gelo. Papai a retirou do chão, abraçando-a e consolando-a. Nunca vira nada assim em minha vida

Não era pra menos

Meu pai levou minha mãe até mim, e encolhi-me, já esperando a bronca e as acusações de monstro. Mas ela me abraçou mais forte do que antes, enterrando seu rosto em meu cabelos platinados e chorando alto.

Enquanto papai conversava com os guardas, eu consolei mamãe, chorando junto à ela.

Logo, o general veio até nós, auxiliando minha mãe se levantar comigo em seu colo. Papai apareceu

– Lana, volte para o palácio e descanse, junto com Elsa. Alguns guardas as acompanharão. Eu ficarei e procurarei por Anna... Ela merece homenagens dignas de despedida - ele deu um leve beijo em minha mãe, dando-me um beijo na testa, afastando-se enxugando algumas lágrimas

Mamãe foi, ainda chorando, conduzida até uma carruagem. Entrou, com dificuldade, comigo em seus braços. Seus olhos não tinham o brilho habitual de vida que sempre tinham. O mesmo brilho que Anna tinha.

Chorava silenciosamente, enquanto víamos a paisagem passando como um borrão, a medida que aproximávamos do palácio. Descansei minha cabeça no contorno do pescoço de minha mãe, e ela me abraçou forte.

– Deveríamos ter ficado no palácio... – disse, mas minha mãe puxou-me para olhá-la e afastou alguns fios de meu cabelo

– Elsa, ninguém contava com isso... Você não fez por querer... Não sabia... Digo, ninguém esperava e podia ser com qualquer um! Vocês só estavam lá na hora e lugar errados – ela disse, me consolando

Ficamos em silêncio o restante do caminho. Chegamos e saímos, entrando pela portão principal do castelo. As ruas estavam desertas e o tempo estava fechado e triste. Alguns flocos de neve caíam

E eu odeio a neve

Odeio mais ainda por produzi-la

Entramos e diversas pessoas que trabalham no castelo se levantaram ao ver mamãe, eu e alguns guardas

– Majestade? - Sara, uma das criadas quebrou o silêncio que apareceu ali - Elsa? Onde está Anna?

Mamãe começou a chorar novamente e a sensação de culpa me invadiu

– Louise? Pode levar Elsa para cima e lhe preparar um banho? Vou até lá depois que... que resolver algumas coisas - minha progenitora disse, mantendo a voz controlada

Louise, minha dama de companhia, assentiu com a cabeça e retirou-me do colo dela. Esperou mamãe subir, antes de virar-me para mim e perguntar, diante de tantos olhares curiosos:

– Elsa, o que houve? Onde está sua irmã? - ela perguntou, em tom doce

Lágrimas rolaram pelos meus olhos antes de encará-la e responder

– A Anna está morta

*************************

Após tomar um banho bem quente, preparado por Louise, estava em meu quarto, esperando minha mãe, que afirmara vir me ver

Durante o banho, Louise não disse nada e estava com a mesma expressão de choque que os outros. Muitos choraram e outros, com olhos arregalados, diziam não acreditar

Nem eu acreditava, mas a ficha já estava começando a cair e isso doía.

Louise chorou enquanto penteava meus cabelos. Afinal, fora mamãe e papai, ela era a mais próxima de ambas, sendo dama de companhia. Mais que isso, Louise era baba e uma melhor amiga, que sempre podíamos contar com ela

Agora estava só em meu quarto, quando escuto uma leve batida na porta.

– Entre - digo baixinho

Mamãe entra e lança um sorriso triste ao me ver. Ela vai até mim, puxando-me para minha cama, fazendo carinho em meus cabelos. Sua face está inchada e, ao longo dos corredores, posso ouvir pessoas fungando ou chorando.

Ficamos em silêncio, enquanto a neve caía lá fora. Logo, uma outra batida ecoou em minha porta e, com a autorização de minha mãe, Louise entrou seguida por meu pai. Ela nos lançou um olhar triste e pediu licença, retirando-se antes que chorasse

Meu pai respirou fundo antes de começar

– O corpo não foi encontrado. Suponhamos que ele tenha ido muito fundo... Muitos tentaram mergulhar, e pegaram uma grande hipotermia. Anna... não vai voltar - ele disse

Mamãe chorou, eu chorei e papai chorou. Ele veio nos abraçar e meu desespero, minha culpa e meu medo eram tão grandes, que o quarto começou a congelar. Eles me olharam assustados, mas não com repulsa.

Quando percebi o que fiz, pedi para que se retirassem. Sabia o que vinha a seguir, uma crise. Era horrível e só Anna sabia. Ela que me ajudava a controlar. Mas ela não está aqui. Nunca mais

Eles saíram e garanti que não jantaria

Congelei o trinco, como sempre fazia, quando isso acontecia. E então começou. Paredes congelando, vidros praticamente rachando, móveis congelados, neve caindo, grandes e mortíferas pontas de gelo saiam de todo lugar. E eu me encontrava encolhida em um canto.

Me enrolei em meus cobertores na cama, não porque eu gostasse, mas porque me faria sentir segura. Antes de adormecer me lembrei de uma cena:

"Estávamos, eu e Anna, no grande salão de bailes. Estava tudo congelado, propositalmente e construíamos um boneco de neve, ao qual demos o nome de Olaf. Então Anna disse uma das suas frases favoritas:

– Elsa, você quer brincar na neve?

E eu nunca respondia"

Mas agora, eu tinha que responder, enquanto estivesse com sua voz em minha mente

– Sim Anna. Eu quero brincar na neve

E, com isso, acabei dormindo