I'm forever yours escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 17
Capítulo 16 - 6 anos depois




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Karina acordou com o despertador tocando às 7h15. Coçou os olhos, bocejando e começando a se sentar na cama. Desligou o alarme, largando o celular no criado mudo. Se espreguiçou, levantando e calçando os chinelos.

No corredor, ouviu o barulho de Bete fazendo o café da manhã na cozinha. Caminhou para o quarto ao lado do seu, abrindo a porta com cuidado. Entrou com passos suaves, sentando na beirada do colchão e começando a massagear as pequenas costas.

"Clarinha, filha... Hora de acordar." A mãe chamou com a voz suave, ouvindo a filha resmungar. "Vamos, pequena, você precisa ir para a escolinha."

"Mas eu quero dormir, mamãe, deixa eu dormir mais." Implorou a baixinha, o rosto ainda enfiado no travesseiro.

"Ana Clara, sem manha." O tom de voz ficou mais grave, fazendo a criança suspirar e virar na cama. "Você tem que apresentar o trabalho sobre a girafa hoje, achei que estava animada."

"E eu to, mamãe, mas por que a escola tem que ser tão cedo? Por que não pode ser a tarde?" Reclamou a pequena, enquanto a mãe a pegava no colo e saia andando com ela.

"Porque a mamãe trabalha de manhã, meu amor. Se você estudar a tarde, não vai me ver." Explicou a lutadora novamente, recebendo um aceno de cabeça. "Bom dia, Bete."

"Bom dia, vocês duas. Alguém acordou manhosa?" Questionou a empregada, enquanto Karina sentava a filha na banqueta, dando a volta e começando a servir as coisas do café da manhã.

"Eu não gosto de acordar cedo, tia Bete. Eu quero dormir mais." Reclamou Clarinha, coçando os olhos. "Mamãe, você podia trabalhar a tarde, né? Aí eu dormia até tarde."

"Quando a mamãe tiver a chance, prometo que faço isso." A loira entregou o copo de leite achocolatado para a filha. "Quer quantas bisnaguinhas?"

"Cinco, com requeijão. Eu to com fome." A menina acariciou a barriguinha, causando risos em Bete e Karina. "Por que o nosso leite e requeijão são diferentes, mamãe? Na casa da Luísa é outro."

"É que o seu é de soja, filha. Lembra, que você não pode tomar muito leite da vaca que faz mal?"

"Que coisa mais complicada." Reclamou a criança, começando a morder as bisnaguinhas que a mãe lhe entregava.

"Reclama menos, come mais, viu baixinha? Tenho que trocar o curativo no seu joelho antes de você ir para a escola." Clarinha se arrepiou. "Dá próxima vez, coloque as joelheiras quando for andar de skate com o Felipe."

"Falando nisso, a mãe do Felipe ligou. É aniversário dele hoje e ela vai fazer um bolinho para as crianças, aqui no salão do prédio, à noite." Avisou Bete, dobrando algumas roupas.

"Ótimo, adicione comprar um presente de aniversário na minha lista de afazeres do dia." Karina suspirou, massageando as têmporas. "Bete, fica de olho nela enquanto eu termino de me vestir?"

"Pode ir, K, eu troco a Clarinha para a escola." Garantiu Bete, parando em frente ao balcão. A lutadora a abraçou, agradecendo, antes de sair depressa para seu quarto.

A cada dia parecia que as horas eram menores e os afazeres, inúmeros. Escola, treino, lição de casa, e agora essa frescura de querer fazer ballet. Mataria a irmã quando a visse novamente.

Em horas assim, pensava no que todos haviam dito após o nascimento de Ana Clara, de que ela deveria contar a verdade para Pedro. O rapaz estava limpo, sofrendo com a perda do bebê e sentindo muito a falta dela. Mas aquele não era o momento, definitivamente.

Mesmo depois que acordou do coma, Karina ficou alguns dias no hospital e muito tempo acamada em casa. Tinha um bebê recém-nascido, com a saúde frágil, intolerante a lactose. A alimentação já complicada de Karina, que precisava se recuperar de tudo que havia acontecido, se tornou ainda mais delicada por conta da restrição de Ana Clara.

Era muita coisa para lidar ainda sem acrescer explicar à Pedro tudo que havia acontecido e aguentar as consequências disso.

Tinha sorte de ter uma família tão compreensiva e dedicada. Marcelo e Delma haviam se esforçado muito para conseguir que o juiz liberasse seus nomes na certidão de nascimento de Ana Clara, para que ela pudesse ter o sobrenome Ramos sem constar o nome de Pedro ali. Havia sido um caso extraordinário, que requereu alguns favores e conhecidos, mas que acabou sendo concretizado.

As festas de aniversário de Alan eram marcadas em finais de semana que Pedro com certeza teria show fora do Rio, o que não acarretaria em um possível encontro entre ele e Karina. As pessoas que normalmente frequentavam esses eventos e conheciam os dois eram Cobra, Jade e Ruiva, e após algumas explicações, os três concordaram em nunca tocar no assunto com ninguém.

Talvez o acontecimento mais complicado tenha sido o casamento de Gael e Dandara. Depois de tantos anos, todos sabiam que eles desejariam uma grande festa, com diversos ex-alunos e pessoas queridas. Porém, arriscar expor Karina e Clarinha não era uma opção, e o casal optou por uma festa mais íntima, em uma casa alugada em Niterói, com saída para a praia. Os convidados eram bem poucos, apenas os que sabiam do segredo, e a lutadora se sentiu extremamente culpada pela situação, apesar de o pai e a madrasta garantirem que estava tudo perfeito.

E tinha, é claro, Bete. Se não fosse pela mulher, Karina provavelmente teria desistido de tudo logo no início. Febres no meio da noite, dores de ouvido, cólica, vômito... Não podia ligar para Dandara e Delma esperando uma solução pelo telefone. Então ter a mulher em sua casa, a ajudando nos momentos de aperto, era uma benção.

Inclusive foi a força que precisava para voltar para o tatame. Gael conseguiu com um amigo de São Paulo um estágio para Karina em sua academia, tão logo fosse liberada para voltar às atividades. A loira relutou em deixar a filha, mas Bete lhe deu a confiança que precisava para trabalhar durante a manhã e, posteriormente, colocar Ana Clara na escolinha.

"Mamãe, vê se eu to cheirosinha." Pediu a criança, entrando no quarto de Karina. A lutadora se abaixou, cheirando a curva do pescocinho alvo. "É o perfume da Polly que a tia Tomtom me deu."

"Uma delícia, filha." A mulher garantiu, beijando o local. "Está pronta para a escola?"

"Só preciso que você me ajude a pegar a girafa."

A menina tinha seis anos e oito meses, e cursava o primeiro ano do ensino fundamental. Agora tinha trabalhos e tarefas quase diárias, e todas as noites, mãe e filha as faziam juntas, na cumplicidade que Karina tanto havia sonhado enquanto a esperava.

Sua vida só não era completamente perfeita porque uma peça do quebra-cabeças faltava.

~P&K~

Pedro caminhava pela praia ao final da tarde, sentindo como as praias da Califórnia eram diferentes das praias do Rio de Janeiro. Sempre fazia isso em cidades litorâneas, achava terapêutico e importante para que não se vislumbrasse com a vida de rockstar: tinha que se lembrar que sua casa era diferente, e que ela era seu lar, tão melhor do que aqueles locais diferentes.

Rodava entre os dedos a pedrinha que apanhara na rua, um hábito que mantinha até aquele dia. À cada cidade que visitavam, precisava pegar uma pedrinha e etiquetar, e depois guardava, para um dia entregá-las para Karina.

Pensava na ligação que a mãe acabara de lhe fazer, e na notícia assustadora. Não esperava aquilo, com toda a certeza. Queria acreditar que era um pesadelo.

Não aguentava mais perdas, apesar do tempo que havia se passado. A lembrança de Karina ainda o acompanhava o dia inteiro, especialmente a lembrança daquela manhã fatídica: ela de lingerie em frente ao espelho, sorrindo e lhe mostrando a barriga.

Sol dizia que ele se martirizava em demasia; seus pais o aconselhavam a deixar as coisas irem; Tomtom o abraçava quando ele precisava; João dizia que ele era uma marica...

"João... Seu idiota." Suspirou Pedro, secando os olhos com raiva.

Ele sacou o celular e ligou para Wallace. Explicou a situação, ouvindo o choque do amigo, e pediu que os shows dos próximos dias fossem adiados. O empresário prometeu fazer acontecer e desligou, deixando Pedro novamente sozinho com seus pensamentos.

"Por favor, cara, não me faz te adicionar às pessoas que eu tenho que dedicar Perdas." Implorou o guitarrista em uma oração, apertando os anéis que estavam em seu pescoço.

~P&K~

A noite no apartamento de Karina era sempre agitada. Ana Clara assistia uma série de desenhos antes do jantar, de maneira quase religiosa. A lutadora aproveitava esse tempo para resolver coisas como contas, listas de compras, o que teria que ser feito no outro dia.

Naquela noite, em específico, ela tentava vestir a baixinha para o aniversário do amiguinho, enquanto ela queria assistir ao desenho.

"Ana Clara, ou você para quieta para eu te vestir, ou você não irá para o aniversário do Felipe." Ameaçou a loira, vendo a filha a ignorar.

"É hora da princesinha Sofia, mamãe, não posso perder."

"Eu vou desligar a TV se você não me deixar colocar seu vestido." Bufou a mãe, e a criança a imitou, se aproximando. "Tem certeza que não prefere calça e camiseta?"

"Mamãe, vestido é bonito. Você devia usar também." A loira riu para o comentário infantil. "É verdade, você fica linda quando tá arrumadinha."

"Ah, então eu sou feia?"

"Claro que não, você é a mãe mais linda do mundo inteiro. Mas você fica ainda mais linda." Karina abraçou a filha com carinho. "O Alan fala que a tia Bianca é a mulher mais linda do mundo, mas eu acho que você é. Mesmo quando ela tá toda arrumada para as peças dela."

"Você também é a garotinha mais linda do mundo inteiro, minha princesa." A mulher deu um beijo na ponta do nariz da filha. "Vai querer fazer o que no cabelo?"

"Quero pôr o arquinho de joaninha." A pequena correu até a caixinha de acessórios, apanhando o dito. "Arruma pra mim?"

Apesar de ainda não se familiarizar muito com o universo feminino e frufru, Karina havia aprendido o básico pela filha. Bete ainda era necessária vez ou outra, mas normalmente a mãe conseguia lidar com tudo.

"Cadê a garota do vovô?" Ouviram uma voz na sala e os olhos de Clarinha brilharam, enquanto a mãe parecia confusa.

"Vovô Gael." A criança saiu como um raio, chegando na sala em instantes e sendo içada pelo lutador, que sorria para ela. "Que surpresa."

"Vovô teve que resolver algumas coisas aqui em São Paulo e aproveitou para ver vocês." Ela explicou, beijando-a de novo. Virou-se para Karina. "Espero não estar atrapalhando."

"Ela tem uma festinha aqui no prédio." Explicou a moça, abraçando e beijando o pai. "Se quiser, ela não vai."

"O que é isso... Mas é claro que vai. Eu vou embora só amanhã à noite, posso ficar com ela a tarde." O mestre a colocou no chão, ajeitando seu vestido. "Aniversário de quem?"

"Do Felipe."

"Quem?"

"O amigo skatista que ajudou ela a conseguir esse joelho ralado." Karina apontou a perna da filha, que sorria encabulada. Gael riu, beijando a neta novamente.

"Sem dar liberdade para esses meninos, ouviu pequena?" A filha quase riu daquilo. Uma vez ciumento, sempre ciumento.

"Tudo bem vovô, a mamãe me ensinou a lutar." Clarinha sorriu, quase fechando os olhinhos.

"Bete, você leva ela? Vou ajudar meu pai a se instalar." A mulher assentiu, apanhando o presente e indo para a porta. Clara beijou o avô novamente, repetiu o gesto com a mãe, e saiu correndo. Assim que a porta fechou, Karina virou para o pai. "Muito bem, o que está pegando?"

"Como assim?"

"Te conheço, seu Gael. Você não viria para São Paulo, mesmo que a trabalho, e aceitaria ficar um minuto sequer longe da Clarinha, a não ser que algo estivesse errado. Que tal desembuchar sobre o que é, hein?"

O homem circulou algumas vezes, antes de cair sentado e afundar o rosto nas mãos. Karina sentou ao seu lado, segurando sua mão com força.

"É o João." Admitiu Gael por fim.

"O que aquele maluco aprontou agora?" Karina se preocupou com a menção do meio irmão.

João e Fabi estavam morando juntos havia alguns anos, tinham uma filhinha de dois anos chamada Julia e havia a visitado há algumas semanas, com a notícia de que logo a lutadora seria titia novamente.

O que o rapaz teria aprontado que ocasionara uma viagem de Gael para São Paulo e lhe preocupava a ponto de o pai estar curvo e trêmulo.

"Pai, o que aconteceu com o João?"

"O João tá doente, Karina." Suspirou o mestre, encarando a filha. "O João está com câncer."


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Notas finais do capítulo

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