Capítulo 6 – Quero ficar sozinha

– O quê?

– É Helô, ele é um vampiro. Ele e a irmã.

Rir foi minha única reação a isso. Ri muito, a ponto de lágrimas começarem a cair de meus olhos.

– Ele é um vampiro?

– Pare de rir, Thompson, isso é sério.

– Não dá! – falei segurando minha barriga.

– Você acha que eu estou brincando, não é? – assenti tentando controlar a risada – Caramba Heloisa, eu não estou brincando! Por que uma vez na vida você não pode acreditar em mim, em vez de acabar descobrindo a verdade sempre que quebra a cara ou faz alguém sofrer por sua causa?

Com a mesma velocidade que o riso veio, ele se foi. Ben havia tocado em um assunto que entre nós dois era proibido, do mesmo jeito que era falar de seu pai, ou no meu caso, da minha mãe e de minha avó. Em ambos os três casos havia sido nossa culpa.

O pai de Ben só deixou sua mãe porque ele nasceu. Pelo que consegui descobrir, um vampiro não pode ter um filho atrapalhando sua eternidade.

Minha mãe tinha ido embora, deixado o meu pai por não querer cuidar de mim. O único motivo por todos esses anos eu não ter deixado meu pai namorar, foram puras esperanças de que um dia, Gianna voltasse.

Já no caso da minha avó, vocês já sabem. Ela teve um ataque cardíaco ao me ver tentando cortar meus pulsos.

Os três acontecimentos não são as melhores coisas a serem mencionadas em uma conversa.

– É melhor eu ir – falei já abrindo a porta. Senti-o segurando meu braço, num gesto mudo de desculpas, mas eu não estava com humor para isso. Soltei-me de seu aperto, indo em direção ao meu armário. Tenho certeza que alguém devia ter levado minha mochila para lá.

Os corredores estavam desertos, por ainda ser a hora do almoço. Nem tentei segurar as lágrimas que insistiam em voltar, ninguém iria vê-las mesmo.

Me surpreendi ao encontrar duas pessoas encostadas no meu armário: May e Laura. E detalhe, estavam com minha mochila.

– O que vocês duas estão fazendo aqui?

– Nossa, é assim que nos recebe depois de termos de ficar aqui esperando a vossa majestade aparecer? – disse May.

– Podiam ter deixado minha mochila no chão. Eu não me importaria nem um pouco.

– Anna nos contou o que aconteceu. Sentimos muito – Laura olhou para May, acho que pedindo mentalmente para ela dizer que sentia muito também. Mordi meu lábio inferior, tentando não dar um sorriso.

– É nós sentimos muito – disse May ao levar uma cotovelada de Lau.

– Obrigada meninas, mas não preciso de sua falsa compaixão, Dona Mayana.

– May!

– Que foi? Ela sabe, eu sei e você sabe Lau. Nós três sabemos que eu não sou muito boa em consolar as pessoas ou demonstrar algum tipo de empatia. Mas você sabe que eu sinto muito, não é Helozinha? – só pude revirar os olhos – Helô, você sabe onde o Ben está?

– Na última vez que eu o vi, ele estava no Esconderijo.

– Valeu. Ei, você se lembra porque nós colocamos esse nome naquela sala?

– Não olhe para mim – disse Laura – eu cheguei esse ano.

– Acho que o nome já diz tudo, May – disse enquanto abria meu armário e pegava meus livros. Com a aula de Educação Física, eu poderia adiantar um pouco as lições.

– Bom, crianças, eu já vou indo – disse May. Com certeza iria falar com o Ben sobre as teorias dele. Teorias sem fundamento, se me permite dizer.

– Depois a gente se encontra May – disse Laura. Só acenei em despedida – Não quero participar daquela conversa.

– Idem.

– Olha Helô, talvez nem seja verdade o que a Haley falou.

– Não importa para mim se for verdade ou não. Uma hora, eu vou ter de aceitar que meu pai não vai ficar esperando pela minha mãe. Só não queria que ele se casasse com aquela baranga da Bruna.

– Eu tenho certeza de que logo ele vai perceber como ela realmente é.

– Obrigada por tentar me consolar Laura, mas eu não estou muito afim de piedade no momento, ok?

– Tudo bem. Quer ficar sozinha?

– Se não se importar – falei receosa.

– Ok. A gente se vê na saída – dizendo isso, ela se foi. A única pessoa que eu queria ficar agora é comigo mesma. Sei que é egoísmo, chega até ser ingratidão por ter amigos tão legais, mas eles não vão poder me consolar. Não agora.