Algo Se Enciende escrita por Jorge Blanco Meu Marido


Capítulo 1
Caminhada


Notas iniciais do capítulo

Recomendo vocês, enquanto lêem, Escutarem Algo se enciende - Mercedes lambre (https://www.youtube.com/watch?v=Sbznw1SR5P0)

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Andava pelas ruas de NY. Ano passado nesta mesma data comemorava com toda minha família. Nunca passou pela minha cabeça que hoje eu estaria sozinha em uma noite fria e escura.

Durante a caminhada mirei as casas : todas bem enfeitadas , pela janela via uma grande mesa cheia de faturas com crianças correndo em volta ... todas ansiosas para a chegada do papai Noel.

Me recordei dos meus natais quando era menor... Papai sempre dizia que teria que dormir para chegar meu presente, nos dois colocávamos biscoitos e leite na bancada perto da arvore iluminada. Minha mãe achava tolice mas era um momento só nosso onde imaginávamos como seria ele descendo a chaminé e qual seria o presente que ele deixaria...

Essa tradição acabou quando cheguei na adolescência. Me lembro a expressão de papai quando disse não. Ele ,muito atencioso, veio me chamar para fazermos os biscoitos e coloca-los próximos a arvore. Disse um “não” curto e grosso fazendo seu sorriso sumir e surgir uma expressão de tristeza. Estava na fase rebelde e só queria me isolar...

Os natais seguintes foram todos iguais : meia noite descia de meu quarto , ceia e depois quarto. Cada vez mais distantes dos meus pais. As vezes fazia birra porque minha mãe pedia para eu ficar o tempo todo com eles naquele dia. Meu pai cada vez mais distante ... não confiava neles como antes.. achava que eles queriam meu mal e meu “amigos” que iam sempre estar ao meu lado.

Natal dos 16 passei na delegacia e depois fui para o hospital . Por que ? achei que já era dona do meu nariz e poderia fazer o que eu quisesse. Os meu “amigos” iam a uma festa depois da ceia e eu queria ir junto mas meus pais , obvio, que não deixaram. Fugi de casa e enquanto eles pensavam que eu dormia estava em uma festa da pesada bebendo , mas a bebida foi o leve . Me ofereceram droga e eu a impulso da galera aceitei. Policias chegaram e acabou a festa. Fomos todos para delegacia esperar nossos pais e quando os meus chegaram ... bom seus rostos diziam tudo. Depois passei mal e acabei no hospital.

Foi assim ate meus 17 anos , aquele natal era o ultimo que passaria com eles. Fui aceita em uma faculdade distante e teria que deixar minha casa, minha vida toda ficou para trás. Somente naquele ano aproveitei cada segundo com ele e vi o quando fui tola nos anos anteriores.

Nesses 4 anos de faculdade só vi meus pais 2 vezes. Que falta que me fez ter o carinho deles e seu apoio nas minhas decisões.

No natal do ano passado finalmente estava em casa com minha família. Tudo estava pronto para a ceia... a casa decorada , a mesa com os enfeites, presentes e tudo que completaria um natal perfeito.

Seria esse ano que ia me reaproximar de meu pai. Subi para o seu quarto e bati na porta a fim de chamar ele para os biscoitos. Ele sorrio quando lhe disse o que queria.

Descemos juntos para a cozinha. Faltava um ingrediente : farinha. Papai chamou mamãe e eu para irmos ao mercado.

No trajeto ate o mercado um homem jovem bêbado bateu em nosso carro...

Quando acordei no hospital perguntei sobre meus pais e então soube que eles haviam falecido...

Neste ano meus tios e primos tentam de tudo para me fazer dar um sorriso, querem que eu me abra e diga tudo que estou sentindo... nunca chorei por causa da morte deles e nunca vou chorar porque nunca vou encontrar alguém que me escute de verdade.

Se eu tenho ódio pelo motorista bêbado ? Não... ele devia estar com problemas por isso bebeu para desabafar. Ele sempre me procurou para pedir desculpas mas eu não gostava de voltar as lembranças daquela noite e ele era a lembrança mais forte.

Me falaram que ele ficou atormentado depois do acidente ... realmente fiquei com pena.

Durante meus devaneios esbarrei em algo , ou melhor, alguém. Nunca pensei que ia encontrara essa hora no meio da rua. Era um homem alto, estava com os olhos vermelhos.

-Finalmente te encontrei... – disse aquela voz grossa. Realmente fiquei com medo. Ele estava me procurando?! Pensei em correr...

-O que você quer ?- perguntei assustada quando senti sua mão segurar meu braço.

-Planejo isso a um ano e agora to com medo de falar- disse ele bem baixo - Eu sou...ehh..ehh...o o o homem que bateu no seu .. c-c-c-carro no ano passado.

-Não quero falar com você.

Me soltei e andei depressa mas ele não desistiu e veio atrás de mim.

-Espera por favor- disse ele em frente a mim- Olha você tem todo o direito de me odiar , mas pra que o ódio ?! Eu me arrependo de ter feito o que fiz e isso me perturba todas as noites... eu não durmo uma noite completa desde o dia do acidente... me perdoa por favor.

-Você quer só o meu perdão para se sentir melhor consigo mesmo , mas nada vai trazer meus pais de volta.- continuei a andar me fazendo de indiferente.

-Eu faço qualquer coisa ... por favor.

Quando olhei para ele me veio todas aquelas lembranças malditas que eu tanto tentava esquecer, toda a dor veio a tona.

-SAIA DE PERTO DE MIM ... VOCÊ NÃO VE QUE SÓ ME CAUSA DOR! EU NÃO TE ODEIO ,MAS VOCÊ E A LEMBRACA DESGRACADA DA MORTE DE MEUS PAIS.

Senti algo úmido em minhas bochechas. O que era isso ?! Quem era eu ? Eu não choro! Não posso estar chorando... só escutava meus soluços logo veio a falta de ar ... me ajoelhei e clamava para que meus pais voltassem.

Senti ele se aproximar e se ajoelhar assim como eu.

-Eu sinto muito- dito isso aqueles braços fortes me envolveram.

Ele me abraçou e escutei seu choro baixo. Não havia mais ninguém na rua , só nos dois no chão chorando feito loucos.

-Eu não aproveitei meus pais como devia e só vejo isso agora que os perdi- eu disse em meio ao choro

-Eu matei duas pessoas por mero capricho ... nunca devia ter bebido por um motivo tão tolo... me perdoa?

Só lhe abracei mais forte... ficamos assim durante longos minutos confessando um para o outro todos os nossos erros , coisas que queríamos mudar e os grandes feitos.

Nos levantamos e ele secou minhas lagrimas e eu as dele. Olhei para ele ... eles estava rindo !?

-Qual o motivo da risada ?- perguntei

- Estamos parecendo loucos no meio de uma rua deserta- disse ele rindo.

Não me contive e comecei a rir junto... pela primeira vez, depois da morte de meus pais ,eu sorri.

Olhei para aqueles olhos verdes e senti algo ... como se eu tivesse encontrado meu caminho , meu destino ou talvez o destino tivesse me encontrado.

-Quer passar essa linda noite de natal comigo ? Podemos ir ate a minha casa e preparar alguns biscoitos – ele disse sorrindo

-Claro..

-A proposito como você se chama ?

-Violetta

-Prazer me chamo Leon....

E assim caminhávamos lado a lado na noite fria de Natal.....

Si te sientes perdido en ningún lado
Viajando tu mundo del pasado
Si dices mi nombre yo te iré a buscar

Ya verás que algo se enciende de nuevo
Tiene sentido intentar cuando estamos juntos
Tiene sentido intentar....


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Notas finais do capítulo

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