Dama Perfeita escrita por Miranda Jackson


Capítulo 1
Capítulo 1




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Gemidos de dor de diversas vozes eram o único som que se ouvia naquele quarto escuro. A pouca luz que penetrava as grades de ferro que impediam a saída de fugitivos , iluminava os rostos pobres e feridos de uma dúzia de pessoas que se encontrava lá dentro. Todos apertados e agarrados uns aos outros com medo de serem mortos ou atacados por alguns pareciam ter sido.

Do outro lado do quarto dos prisioneiros, encontrava-se quatro pessoas numa sala muito mais arranjada e com um ar luminoso. Eram de diversos tamanhos e aspetos.

Um homem, o mais idoso pelos cabelos brancos poderosos e os olhos mais frios que uma noite gelada de inverno, estava sentado à ponta central da mesa, enquanto era acompanhado uma uma bela mulher, a mais jovem que ali estava, cujos olhos e alma conseguia ser ainda pior que o seu marido velho. Ela não deveria ter mais de vinte e poucos anos, já ele tinha acima de sessenta. Algo que não a agradava.

— … E o que ganhamos com essa mina? — ele tinha uma voz rouca e cansada. Olhava para um homem musculado com mais tatuagens que pele humana.

— Segundo os estudos que foram feitos — declarou profissionalmente a sua esposa — poderemos conseguir mais de vinte milhões em joias incrustadas. Foi uma mina abandonada à já muitos séculos pela sua instabilidade atómica. Poderia explodir a qualquer momento.

— Certamente, ainda pode explodir? — quem perguntou foi o homem a seu lado, cuja mão estava sobre a coxa destapada pelo vestido curto dela. Tal afeto que não era notado pelo velho.

— Lógico. Fui me informar com o ministro adjunto da defesa e proteção daquele local. Já ninguém o vigia, nem sabem se ainda está inteira ou não.

— Ganharemos vinte milhões só com as joias? Seria correto arriscar-mos a utilidade daqueles vermes por tão pouco dinheiro?

— Os vermes facilmente são arranjados — todos presentes na sala de riram com a piada contada pelo idoso. — Alysha, você sabe o que tem a fazer — pela primeira vez um tom carinhoso estava na sua voz, enquanto massajava a mão da esposa. Esta sorriu de uma maneira falsamente apaixonada e saiu com as suas papeladas, abandonando a conversa sádica que se fez presente naquela sala.

Xxx

O cheiro que vinha de uma pequena gruta fechada era insuportável ao nariz de Alysha. Era um cheiro intenso a fezes, sangue, suor e sexo. Ao fundo dessa gruta típica de pedras havia várias luzes como de uma discoteca para jovens.

O ambiente não era melhor que o odor que pairava no ar. Várias plataformas com postes de metal estavam colocadas ao redor da sala. Mulheres e homens com aparentes marcas de violência eram obrigados a rebolar de um lado ao outro.

Alysha não gostava daquele local, nem tão pouco era algo que combinava com os seus cabelos sedosos e bem tratados loiros, nem com a sua estrutura alta de com curvas, assim como algumas plásticas nos seios. Os seus olhos azuis indicavam o nojo que sentia por ali estar, mas era importante.

Passou por entre as mesas, observando homens e mulheres a terem relações em qualquer lugar. Viu um jovem a ser espancado enquanto era violentado por outros dois que abusavam do seu corpo frágil de uma maneira odiosa. Mas ela não estava importada com o sofrimento imposto àqueles que a servem. Apenas são úteis para utilizações de emergência e bons negócios que faziam com o exterior.

Parou à frente do barman que olhou para o decote do seu vestido caro, antes de se voltar e servir a sua bebida habitual sem ser trocada uma única palavra.

O olhar malicioso trocado entre os dois deixava explicito o adultério que iria ocorrer naquela noite.

Enquanto bebia um álcool de cor azul e espessa, Alysha pensou em tudo o que teria de fazer no dia seguinte. Pensou em toda a sua vida. Vivia na máfia que traficava pessoas por seu prazer. Amava o sadomasoquismo, mesmo não tendo intenção de se mostrar criminosa. Mas quando o seu marido lhe deu uma oportunidade para mudar de vida, ela não negou a sua mão. Agora era casada com ele e abria as pernas a qualquer homem jovem. Mas o dinheiro e as suas riquezas eram algo que compensava todos os obstáculos que se colocavam na sua frente para a felicidade.

Aos poucos sentiu perder aquela “inocência” de garota que não acreditava numa possibilidade melhor que viver de um café, tornando-se numa mulher cada vez mais fria e cruel que via um sentimento de conforto naqueles que sofriam às suas mãos. Uma mulher que foi esquecendo dos seus princípios tomados da sua infância para se tornar alguém que só pensa na sua felicidade. E isso a deixava cada vez mais orgulhosa de si mesma.

Xxx

— Se tentarem fugir, estão mortos. Se voltarem com vida, bem, estarão mortos pouco tempo depois — ela olhava para eles como presas, algo que tinha de se alimentar. Alysha se encontrava numa pequena sala com alguns escravos a seu lado. Não os conhecia de lado nenhum e a maioria faria a sua primeira e última missão. Apenas reconheceu o homem que vira ser estuprado no bar do outro dia. Tinha uma arma de fogo nas mãos, algo que evitava usar para não sujar a sua pele com o sangue nojento que aquelas pessoas tinham. Todas queriam ambições para a vida. Ela lhe deu uma oportunidade para fazer algo. Era uma troca justa, na sua mente sádica —, portanto aconselho a que façam algo de útil antes de morrerem — uma mulher à sua frente deu um pequeno gemido de terror e, de certo modo, como se estivesse a desafiar a sua líder.

Lentamente e como uma predadora, Alysha se aproximou dela até ficarem com o rosto a centímetros uma da outra. O seu olhar era impiedoso e apenas se riu quando viu o desespero no rosto da escrava por lhe ter apontado a arma à testa.

— Achas que isto é uma brincadeira? — a sua voz era fria e cruel, mas não estava interessada na perda de uma vida, quando tinha tantas outras para substituir. A mulher, após a pergunta, abanou a cabeça de maneira aterrorizada, tentando negar os seus reais pensamentos. Alysha olhou para onde estava um homem musculado que a protegia. Não eram preciso palavras para se saber o que desejavam. Sem nenhum aviso ou palavra trocada, o corpo dela desabou no chão, enquanto sangue escorria pelo local de onde o tiro tinha sido disparado. Mesmo no seu coração. — Alguém tem alguma coisa a dizer? — nada fora dito, nem olhares se fixaram no seu rosto. — Não pensem que foram designados para isto por serem especiais. Mas sim, porque são aqueles a que a morte não será lamentada. Se orgulhem de fazer algo de jeito, afinal, vocês queriam mudar a vossa vida, certo? É esta a oportunidade que tanto ansiavam. Têm uma semana para pensarem na vossa vida nojenta e o quanto ela é insignificante.

xXx

Tentando não acordar o seu marido que dormia a seu lado, lentamente e já vestida com uma roupa preta e de couro, Alysha saiu do quarto. Se pudesse, evitava ter de ouvir os roucos velhos do seu marido idoso, mas cada vez mais ele queria controlar a sua vida. Era apenas uma questão de tempo até ele cair morto como todos os outros.

A mulher não matava pessoas. Não era preciso matar para ser cruel, a sua alma indicava tudo.

Todas as noites quando não estava com as pernas abertas a outro, gostava de ir até ao armazém onde prendiam os vermes. Quase todas as semanas via grandes camiões de entregas de pizza a passarem por ali, mas em vez de darem a comida, largavam aqueles que eram apanhados na teia. Sim, porque numa das máfias mais poderosas de todos trabalhava como uma aranha. Aqueles que se arriscavam ficavam presos no fio até, por fim, perderem a vida. Isso a alegrava cada vez mais, mesmo sem tendo uma razão para a felicidade que sentia ao ver a desgraça alheia.

Entrou pelas portas das traseiras, sentindo de imediato o cheiro que lhe a enjoava.

Do seu cinto comprado com o dinheiro do seu marido, tirou uma lanterna e olhou em volta. Não temia pela vida, mas não se arriscava a ter a sua pele tocada pelas mãos dos outros. Ou morta por aqueles que amava matar. Os seus saltos de alto ecoavam no chão como gotas de água, fazendo um barulho delicado como se estivesse a desfilar por uma passarela. Não havia nenhuns movimentos em seu redor, mas sentia que estava a ser observada. Não era uma pessoa de se assustar, mas, muito infantilmente, tinha medo do escuro.Algo que não encaixava com a pessoa que era.

Sentiu um andar atrás de si e, tentando assustar quem quer que fosse, virou-se de imediato, dando com o garoto que tinha sido estuprado no bar.

Na opinião de Alysha e sem admitir isso em voz alta, até que o verme era bonito. Os seus cabelos castanhos estavam totalmente sujos, mas contrastavam com os seus olhos azuis escuros. A sua roupa estava rasgada e ensanguentada. A sua pele estava coberta de feridas, algumas ainda abertas.

Encararam-se um ao outro. O ar rancoroso dela, o ar curioso dele.

Ele parecia ser doente mental, avançou contra ela lentamente como um zombie. A cada passo que ele dava, ela afastava-se, até que Alysha sentiu suas pernas embaterem em algo sólido. Não pode ser descrito o que se passou a seguir, tão rapidamente.

Uma dor insuportável queimava lhe o pé como se estivesse sendo pregada e queimada. As lágrimas subiram aos seus olhos que começaram a arder e sentiu as mãos a rasparem no chão de pedra, ferindo-se. Caiu sobre uma caixa de metal, mas umas outras caíram sobre si.

A dor quase não lhe permitia ver, até que sentiu que o peso que estava em cima de si fora libertado. O garoto que era ligeiramente mais novo que ela tentou pegar-lhe na perna, mas como fugindo de uma doença fatal, ela afastou-se rapidamente, mas o seu pé partido não lhe permitia levantar. Não tinha forças para tal.

— Mon perdão — ele tinha uma voz fraca com um sotaque meio francês. Percebendo que ela não queria que lhe tocasse, afastou-se e procurou uma toalha ali perto.

Alysha tentava levantar-se, mas não conseguia. Sentia o seu corpo fraquejar com tamanha dor que estava a ultrapassar.

Os seus braços foram erguidos para o ar, levantando o seu corpo com a ajuda do escravo. Ele tocava-lhe apenas com uma toalha. Era, sem dúvida, mais inteligente que os outros vermes para perceber tal coisa.

Ao lado da caixa de metal estava uma estaca de madeira. Largando-se da força dele, apoiou o corpo sobre o objeto, usando com uma bengala. Mas não tinha como voltar para casa e explicar ao seu marido que tinha saído à noite, sendo que ele não lhe permitia tal coisa.

Percebendo pela sua expressão do rosto, o garoto indicou sem falar uma sala vazia que ali havia. Afastando a sua ajuda, ela caminho lá para dentro, encontrando um sofá já desgastado onde se sentou.

Olhou para todos os movimentos que o homem fazia. Sem lhe tocar, ele deu-lhe um pedaço de madeira pequeno. Com um pano sujo, Alysha fez um pequeno curativo ao pé, para se manter o mais ereto possível.

— Mon perdão — voltou a pedir ele.

— O que acha que lhe dá o direito de dirigir a sua palavra insignificante a mim? — não, na mente congelada de Alysha, o tal homem não a tinha salvo. Nada tinha feito.

Ele não disse nada, olhando para o chão, enquanto se mantinha em pé à sua frente. Ela não se importava com a sua presença. Na realidade não se importava com presença nenhuma da gente da laia dele. Só não poderia admitir que eles lhe tocassem. Não eram dignos de tal coisa.

— O que está fazendo aqui a estas horas?

— H-hum, e-eu vim passear antes de... Bem, ir trabalhar — ele se encolhia de cada vez que falava, com um possível medo de levar um tiro. E isso a divertia.

— Qual é o seu nome?

— Teodoro.

Ela olhou-o, mas ele não a olhava. Alysha virou o seu olhar para a lua que se erguia no céu, visível pela janela de grades que estava naquela sala.

— Eu também gosto de vir aqui passear. Ajuda-me. — ela falou sem pensar. Falava demais.

— Porquê? — Teodoro logo se arrependeu. Curioso demais. Fechou os olhos temendo o que viria a seguir com o seu atrevimento. O olhar que era transmitido pelos seus olhos azuis eram tão gelados que só por eles poderia congelar totalmente. Nunca vira ninguém assim, o que só o deixava mais curioso.

O mesmo era com ela. Não que gostasse alguma vez dos escravos, mas eram boa companhia porque pouco falava. E há muito que precisava de desabafar. Eles tinham de a servir.

— Tenho uma vida perfeita, mas eu não sou perfeita. — ele a olhou surpreendido, mas rapidamente virou o olhar, olhando para a janela com a lua brilhante. Alysha percebera que Teodoro ficou interessado na conversa. Não poderia voltar a casa naquela noite, então seria melhor aproveitar. — Eu não irei gostar mais de você com esta conversa, contudo como sendo sua obrigação servir as minhas necessidade, afinal, gente nojenta como você só serve para isso, poderia contar certas coisas... pessoais. Só não espere sair vivo amanhã da mina. O meu amor por você não muda nada, verme.

Ele apenas assentiu, ainda magoado com o apelido que sempre lhe davam. Pessoas como a mulher à sua frente eram odiadas por todos, mas ele sentia que, ao contrário dos que matavam, ela tinha uma pequena alma que lhe permitia continuar a ter vida dentro de si. Estava interessado em ouvir a sua história. Gente como ele só era usado como isco, prostituição ou para uso das necessidades dos chefes.

— Eu entrei neste mundo exatamente como você. Eu queria uma oportunidade para subir na vida, algo que, como sabe, é um pecado nesta máfia. Mas a mim deram-me uma outra hipótese. Joias, dinheiro, roupa em troca de fidelidade.

— Foi o seu marido que lhe fez a proposta?

— Foi. Eu era uma bailarina num pequeno coliseu de New York. Vivia com a minha mãe que estava seriamente doente e recebia pouco de salário, algumas vezes não tinha comida. Pensei em matar-me em muitas alturas, sabe, viver na sombra de alguém e não ter como fugir porque a minha mãe estava dependente de mim. Era uma sensação desagradável, em particular com todos os meus pensamentos, mas não tinha como a abandonar. Nessa altura tinha alma dentro de mim. Foi então que surgiu um homem quando estava num baile. Ele ofereceu-me uma bebida e perguntou-me quais eram os meus desejos. Eu respondi.

“No dia seguinte apareceram três pessoas em minha casa que me levaram para uma loja de armas abandonada. Mas ao contrário de ficar assustada, eu amei toda a adrenalina que o medo me dava. Jonh, o meu marido, deu-me a oportunidade de ter tudo o que eu quisesse, desde que aceitasse o seu pedido para viver o resto da vida a seu lado. O que tinha eu a perder? Ganhava todos os meus desejos, apenas tinha que dormir com um velho. Algo que nunca me incomodou.

— Você não se condena por ter aceito o pedido dele? — no minuto seguinte, arrependeu-se de tal pergunta, mas ela não se importou em responder.

— Porque diz isso?

— Porque todos nós também tínhamos um sonho, mas a senhora odeia-nos...

— Nunca pensei nisso, na verdade. Não é uma questão de vos odiar, mas talvez seja isso em parte. Escolhi a vida que seria boa para mim, mas muitas vezes olho para trás e percebo certas coisas, antes insignificantes, que me fariam querer voltar ao passado.

— Às vezes são pequenas lembranças do passado que podem mudar o futuro. Foi minha mãe que me disse — acrescentou apressadamente quando o olhar curioso dela pairou sobre o seu rosto. Se tirasse todas as marcas da face, ele seria um homem belo.

— Qual era o seu desejo?

— Ser presidente da republica. Pequei bastante para o tentar ser.

— Nós não somos tão maus como parecemos — ela comentava como se estivesse falando sobre o tempo. Falar com ele estava a ser mais natural do que pensava. —, apenas castigamos o desejo pecador. E se ver bem, até lhe permitimos que dê uma morte digna, como uma lembrança de um pecado que lhe condenou a vida. Todos temos defeitos, o seu é a curiosidade. Cuidado com ele.

— Se me permite ousar mais deste defeito, qual é o seu?

Ela olhou nervosa em redor da sala. Sentiu o seu pé a inchar sobre o curativo feito, pensando se valia a pena comentar sobre um assunto que tanto temia e fez tudo para deixar no abismo. Mas Teodoro estaria morto pela manhã, permitindo que o seu segredo continuasse só para ela.

— Eu sofro de SIDA. Aquele vírus que tenta me matar por dentro e que se tornou a barreira para o meu maior desejo. Eu tinha dezassete anos quando tive as minhas primeiras relações sexuais. Eu pouco o conhecia, namorávamos à uma semana e então fizemos sem proteção. Temia ficar grávida naquela idade, mas quando fiz o teste, deu negativo. Após alguns meses fui fazer uma daquelas consultas anuais e fui detetada como seropositiva. Temi mais pela vida do que se tivesse uma arma apontada. — ao contrário do que julgava, ele continuava a olhar para Alysha como uma pessoa normal. Algo que ela adorava que o fizessem. — Odeio que as pessoas me toquem, especialmente vocês por viverem nestas condições. Qualquer doença me pode matar.

— Teme a morte?

— Temo a dor. Mais do que qualquer coisa. Tenho medo do sofrimento que possa ter de enfrentar e ao ver o vosso fico com um ego mais elevado, por assim dizer. Eles sofrem, eu não. Durante muitos anos evitava cruzar-me com as pessoas, que me olhassem com pena de morrer em breve. Eu vos invejo, na verdade. Podem ter uma morte digna que mesmo assim eu nunca o terei.

— Qual é o seu sonho? Aquele que referiu que tinha uma barreira.

— Ser mãe — como de momento, Teodoro pôde reparar que o gelo que congelava a alma fria dela se tornava em algo mais caloroso. Toda aquela conversa demonstrava a alma quente que ainda havia. — Mas não posso condenar a vida do meu filho a viver algo assim. Gosto de imaginar uma casa cheia de crianças, mas apenas o posso ver em sonhos. Muitas vezes eu estou lá.

— Mais vale perder-se em sonhos que viver a vida real — desta vez a interessada era ela. A expressão no seu rosto era o suficiente para perceber que permitia que Teodoro continuasse com a conversa. — Eu sou órfão. Fui abandonado em criança após a minha mãe ter morrido, juntamente com a minha irmã. Felizmente acabamos por ser acolhidos, mas a minha irmã sofria de cancro, uma das razões por termos sido abandonados. Morreu com cinco anos, pouco tempo depois de sermos acolhidos. Desde então que tentei me tornar alguém que fosse bom o suficiente para um dia governar um pais, mas tinha pouca escolarização. Quando me ofereceram a tal “oferta” eu não neguei. Tinha que agarrar tudo o que podia em nome da minha irmã. Foi assim que vim aqui parar — parte de si esperava ver remorso no rosto de Alysha, mas nada foi visto para além de indiferença.— Sabe, todos nós podemos ter uma morte digna. Basta o fazer-mos para querer.

Antes de Alysha poder responder, o sol ergueu-se no céu. Levantou-se com dificuldade e apoiada no pau de madeira saiu da sala, mas não sem antes dizer um pequeno “Boa sorte”. Era a melhor recompensa que Teodoro poderia receber daquele pedaço de gelo.

Ficou ali sentando durante um tempo. Era tão diferente da mulher que os tornava iguais. Deveria ter odiado falar com ela, mas isso lhe permitiu conhecer um lado humano que não havia naquela máfia. Eles roubavam pessoas para as vender ou usá-las como barreira para salvar suas vidas. Isso o enojava. Contudo ela tinha razão numa coisa: o que sobe, sempre desce. Deveria ter medo de amanhã, mas estava feliz por finalmente poder abandonar a vida de escravo que tinha.

Xxx

Deveria haver lamentações, mas apenas risos e gargalhadas sedentas de dinheiro havia em volta. A mina explodira, mas antes fora possível salvar uma grande parte das joias lá incrustadas.

Alysha estava de braço dado ao seu marido, enquanto comemoravam a sua vitória. Os gemidos de dor dos escravos que eram chicoteados eram abafados pela conversa alta.

Ao olhar para uma mulher a ser espancada, Alysha sorriu. Era sempre assim e nunca mudaria. Antes eles que ela.

Faria tudo para ter a sua morte digna, como Teodoro tivera. Mas, principalmente, não deixaria que um vírus lhe tirasse toda a felicidade que tinha. Porque era assim que a máfia funcionava: A perda de uma vida nojenta era o ganho de uma vida honrada.

Alysha nunca se arrependera da decisão que tomou. Pode ter perdido toda a alma que tinha e se ter tornado numa das mulheres mais cruéis do mundo, mas mesmo assim isso lhe deu a personalidade que faltava. Jamais se iria arrepender de morrer ao lado do dinheiro. Amava-o mais que tudo no mundo, algo que a orgulhava cada vez mais. Era o filho que nunca teria.

Toda a dor, todo o dinheiro, sangue, sofrimento, tudo poderia ocultar a dor que lhe provocava o peito. Ela seria sempre a dama perfeita.


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Notas finais do capítulo

Então, tenham em conta que isto não é a vida de Alysha na máfia, mas sim um dia especial da vida dela, então não levem em conta que esta situação aqui passada é o que se passa em toda a sua vida lá, apenas uma parte.Espero que gostem.Não se esqueçam de comentar o que acharam ♥ Fico puta da vida quando favoritam a história, mas não comentam.Xoxo *-*



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