As cartas que recebi estão em cima da mesa, e eu estou de mãos vazias. As palavras escritas com tanto cuidado, penetram meu frágil coração. Não sei o pensar, e nem o que fazer.

Estou me afogando nas minhas desesperanças, porque no final a única coisa que restou foi o desespero e a memória do que uma vez nós formamos. Um casal, com todas as imperfeições possíveis.

“- Amo você, sabia?”

Eu amava quando você dizia isso, amava com todas as minhas forças. O primeiro ‘te amo’ que saiu da sua boca foi o mais precioso, o guardo a sete chaves. Tantas palavras jogadas ao céu. Por que nós não dizíamos que nos amávamos com mais frequência? Eu sinto falta disso. Sinto falta de tudo.

“- Querido?”

Querido. Você começou a me chamar assim no dia que pensou que estivéssemos começando uma vida, e um dia talvez, iriamos nos casar e você me chamaria assim, todos os dias, todas as noites, todos os segundos de cada hora presente, pelo resto das nossas vidas.

“- Você está bem?”

Quando os seus olhos demonstravam preocupação, meu mundo podia andar na corda bamba, mas ele ainda estaria seguro. Eu podia estar acabado, mas você me fazia olhar para tudo com o máximo de esperança. Você era minha esperança.

“- Pare de me distrair!”

E o que você fazia com o meu tempo? Não era distração? Você odiava quando eu a beijava no meio do trabalho, porque dizia que sua concentração ia pelos ares, e que queria ficar ali comigo para sempre, no caminho dos meus lábios. Eu também queria, me perder no caminho dos seus.

“- Não faça isso, que feio.”

Que tipo de relacionamento era o nosso? Você me repreendia como mãe e se preocupava como uma, ouvia-me como amiga, abraçava-me como irmã, mas amava-me da forma mais real possível. Será que foi por isso que sempre brigávamos?

Olhei para a mesa redonda, lá estavam três cartas, mandadas a mim e eu não sabia o motivo. Queria saber, mas meu medo de que eu me perdesse naquelas palavras era grande. Já tinha abrido uma e meu coração estava sufocado.

Da primeira carta, nada mais saiu do que uma singela frase, escrita com letras perfeitas.

“Eu doei tudo de mim.”

Você está falando do quê? Do seu amor? Da sua raiva? Do seu perdão? Você, mais do que ninguém, sabe que odeio coisas incompletas. E isso é tão estranho, porque nós éramos tão incompletos. Mas nunca vou deixar de admitir que o nosso incompleto era perfeito para mim.

- Tudo bem, eu consigo. – Respirei fundo, acobertando minha covardia por simples palavras, e abri a carta.

“Suas imperfeições eram meu porto seguro.”

Desesperei-me aos poucos. O que ela queria afinal? Despedaçar-me ainda mais? Matar-me aos poucos?

- Meu Deus...

Amacei a carta e a joguei contra a lareira da velha cabana, olhando as chamas consumirem o papel como o vazio consumia o meu coração. Observar o calor das chamas se alastrar fez-me lembrar de seus abraços. Quentes e vividos. Prontos para mim.

“Ora, Sasuke, não fique triste. Quer um abraço?”

“Você vai cobrar por ele?”

“Já estou ganhando só de abraçar você.”

Nossas brincadeiras, que sempre acabavam com um adicional que adorávamos. Sua risada era gostosa de ouvir, lembrava-me crianças, puras e inocentes. Você adorava crianças. Será que ainda quer construir aquele orfanato? Como sonhava, você.

“Acho que vou cortar meu cabelo.”

“Não corte.”

“Por que não?”

“Eu odiaria perder um fio do seu cabelo, pra quem quer que fosse.”

Seu cabelo era rosado e eu o amava assim. Parecia que estava em uma primavera continua. Você o mantinha cumprido, mas vivia dizendo que gostaria de corta-lo, para ver como é ter cabelo curto e para doar seu cabelo a uma instituição de câncer. A criança que recebe-se o seu cabelo seria a criança mais feliz do mundo.

Suspirei e abri a segunda carta, um pouco mais preparado para o baque.

“O que aconteceu com nós dois?”

Não sei dizer. As crises de ciúmes aumentaram. As palavras indelicadas surgiram. As ofensas vinham com mais frequência. Nós brigávamos por tudo. Você chorava, e eu ficava irritado. Nossas carícias sumiram. Nossos beijos também. E, de repente, você acabou com tudo.

“Nós estamos sofrendo, Sasuke. Continuar essa relação seria... Inútil.”

“Não faça isso, Sakura. Podemos mudar, eu posso...”

“Não, Sasuke. Eu não quero mudar e não quero que você mude.”

“Então, por que vai desistir?”

“Isso não é desistência, querido. É só o adiantamento de uma coisa que provavelmente vai acontecer.”

“Não podemos esperar até lá?”

“Recuso-me a te ver sofrer, Sasuke.”

E cá estou eu, Sakura. Sofrendo e sofrendo, a cada dia que passa eu sofro por você. E por que? Você não está mais aqui. E duvido que volte. Está do outro lado do mundo, curtindo a vida sonhadora que sempre teve. Já eu estou me remoendo em memórias passadas, completamente borradas pelo tempo. E tudo isso porque você não quis me ver sofrer.

Tudo isso porque terminou comigo.

Dessa vez não emiti nenhum som, simplesmente peguei e abri a última carta. Quando li a última frase, rasquei-me por dentro. Milhões de sentimentos passaram por mim, mas o que ficou foi a mágoa.

“Você é minha ruína.”

Não, Sakura, você é minha ruína. E sabe por que?

A sua voz tinha o timbre mais suave.

O seu sorriso iluminava minhas noites.

O seu cabelo acendia meu coração.

O seu olhar fazia meu mundo cair em segundos.

O seu corpo tinha as curvas mais perfeitas.

Eu perdi tudo isso, futuramente, para alguém que você vai amar mais do que eu. O seu amor era o mais importante para mim, mas eu dei um jeito de pôr fim nele também não é?

Agora você não chama-me de querido, seus abraços não preenchem meu corpo e seus lábios não esquentam os meus. Seu corpo não se encaixa no meu e sua respiração já não pode mais ser ouvida. Eu perdi tudo.

Mas uma coisa me resta, apesar de tudo.

Eu ainda amo você, Sakura.

Eu estou me afogando nesse amor, mas ainda consigo respirar, então...

Tudo vai ficar bem.