- Eu não quero voltar. Nunca mais. Mesmo.
Harry virou-se, com a caneca de chá nas mãos.
- Você não pode simplesmente sair da escola, Art. Falta tão pouco...- sentou-se em minha frente, colocando as canecas na mesa e a mão sobre a minha - Eu não sei como aquela gente não gosta de você. Quer dizer, olhe pra si mesmo.
Eu olhava. Mesmo. O cabelo negro que eu nunca conseguia alinhar, magro demais, pálido demais, com olhos grandes demais para o meu rosto pequeno, andando sempre por aí com um livro debaixo dos braços e fones no ouvido..
- Você é... É... - Harry ainda tentava continuar. Eu dei um risinho, tomando um gole do chá.
- Cuidado, Hars. Se pensar muito vai queimar o pouco dos neuronios que sobrou aí.
- Haha nossa que engraçado. Mas falando sério, Art. Você tem de me dizer se as coisas piorarem
- Não foi nada demais, de qualquer jeito. Eu só queria finalmente começasse, sabe? Parece que todo esse tempo que passei na escola, eu estava esperando minha vida começar, como se eu estivesse preso ou coisa assim.
Harry me olhou com um sorriso nascendo em seu rosto, enquanto brincava com meus dedos da mão.
- O que você pretende fazer depois? E não em relação a profissão e tals. Quero dizer, a gente.
- Como assim? Isso não vai mudar muito, vai? - retribui o aperto em sua mão, tentando entender o que ele queria dizer comigo.
- Bem, você vai estudar aqui na Mitchfield, e bem, é muito longe da sua casa pra você ir de ônibus. Eu podia te levar...
-Mas teria de dar muita volta. - interrompi, ainda confuso. Por que o fato dele me levar pra faculdade mudaria algo?
- Art, não interrompe. Bem, eu sei que daria uma volta e é por isso mesmo... Não acha que é melhor, hm, você vir aqui morar comigo?
Eu o encarei, atônito. Harry era alguns anos mais velho que eu, e claro que eu sabia que ele queria algo mais sério. Gostava disso. Mas essa realmente me pegou de surpresa.
Vendo que eu não respondia nada, Harry começou a mexer as mãos, nervoso.
- Olha, se você não quiser, se achar que não está pronto, tudo bem. Eu entendo, também não iria querer uma coisa tão seria assim nessa idade, mesmo, eu entendo. Posso ir te buscar mesmo assim, nem é uma volta tão...
- Harry, amor, cala a boca.
- Que?
- Voce acha mesmo que eu não riria querer morar aqui com você? Mesmo? A cada dia você fica tão obtuso...
- Então você quer?
- Dã.
Ele se levantou, contornando a mesa e me abraçando pelos ombros, rindo, enquanto eu abraçava sua cintura, sentindo o cheiro de canela dele. Eu sentia que podia vencer qualquer coisa na escola agora, desde as meninas que me olhavam torto até meus antigos amigos que me ignoravam. Iria fazer novos amigos na faculdade, com os mesmos gostos que eu, talvez até mesmo outro que fizesse letras também. Naquele momento, eu acreditei realmente que tudo ia melhorar, desde que Harry estivesse lá, me fazendo levantar de novo. Enterrei meu rosto em seu pescoço, respirando fundo e sentindo-o se arrepiar com isso.
- Francamente, Arthur... Quem fala obtuso hoje em dia? Só o meu namorado mesmo...
- Que você ama- respondi, todo feliz.
- E que me ama.
- Convencido.
Não sei quanto tempo ficamos naquele abraço, mas na minha cabeça, ele dura pra sempre, enquanto eu visualizava todas as manhãs que iria acordar do lado dele, continuando Verdadeiramente, loucamente e profundamente apaixonado por ele. Por Harry.