Era óbvio que isso iria acontecer. Era tudo tão previsível, mas mesmo assim Jason decidiu não enxergar.

Preferiu ignorar o tempo que o garoto passava ausente, ignorar cada vez que afastou seus toques, ignorar os silêncios que antes eram preenchidos com conversas banais e alegres, ignorar as noites em que apenas faziam sexo, sem nenhuma demonstração de carinho, ignorar o cheiro do clone impregnado nas roupas do menor, ignorar cada ato do Robin Vermelho que o fazia duvidar do amor que sentia pelo garoto.

Não era uma surpresa que isso iria acontecer. Ele sabia que seu lugar logo seria ocupado por outro, que seria abandonado, como acontecera desde que nasceu. Ninguém nunca permaneceu muito tempo com o ex-Robin, mesmo quando era inteiro, e tudo apenas piorou quando Batman o deixou para ser quebrado por um palhaço.

O que o Capuz Vermelho não havia previsto eram as lágrimas do menino ao se despedir. Os belos olhos azuis agora vermelhos, seu belo rosto e sua pele clara rosados e molhados com o líquido cristalino que escorria sem parar, mas ele não conseguia se importar, o rapaz teria o melhor amigo para consola-lo, para secar suas lágrimas e para apagar a indiferença com que o maior está lidando com sua dor.

“Você não precisa de mim, Drake, você sabe cuidar de si próprio.” Disse ao ouvir o pedido quase desesperado para que ele não o abandonasse, não o deixasse, e então virou-se de costas, teria fugido nesse momento se o menor não estivesse agora abraçando sua cintura.

“Por favor, Jay, eu te amo, não faça isso, nós podemos superar juntos!” O abraçou com mais força, segurando sua jaqueta com firmeza.

“Você já superou.” Respondeu com frieza e acendeu um cigarro, tentando em seguida afastar o herói de si. “Você já me substituiu pelo Kent.”

“Não é assim, Jason, eu poss...” Tentou responder, se explicar, qualquer coisa para mantê-lo com ele, mas foi interrompido pela forma brusca com que o outro se virou, arrancando a máscara vermelha que cobria seus olhos, e encarando o menor com algo além de frieza, uma mistura de tristeza e raiva, que o machucava muito mais do que a forma fria com que ele falava cada palavra. “Você acha que pode explicar, você achou que seus amigos estúpidos gostariam de mim, você acha que pode fazer as coisas, Drake, mas você não pode, nunca pôde. Se você tem que ir, eu não vou te impedir, sinceramente, eu vou te agradecer, você tornou isso muito mais fácil para nós dois.” Diz amargamente, para então dar uma tragada longa no cigarro, o jogar no chão e pisar nele em seguida, voltando a ficar de costas para o Robin.

O rapaz tenta se aproximar novamente, chamando o nome do ex-namorado suavemente e segura uma de suas mãos, mas o maior puxa o braço de forma violenta e empurra o menor. “Não ouse tocar em mim!” Grita e tira a jaqueta, a jogando no garoto. “Eu não quero mais essa jaqueta impregnada com seu maldito cheiro, eu não quero mais aquele estúpido apartamento, não quero mais nada seu ou que um dia você tenha tocado.” Com isso o adolescente volta a chorar de forma desesperada, voltando a pedir para que ele não se afaste, fazendo falsas promessas de que voltariam a ser o que eram antes, mas o anti-herói não acredita, por mais que queira, por mais que deseje fervorosamente ficar com o menino que o fez tão feliz, que reacendeu a esperança de que ele poderia voltar a sociedade e de que não seria chamado de psicopata entre as pessoas que um dia tiveram algum valor para ele, mas todas essas mentiras, contadas tantas vezes, eliminaram a crença que o Capuz Vermelho teve em seu Robin, seu precioso Robin, que o traiu, mesmo sabendo como o outro confiava, amava, e até mesmo precisava dele.

“Desapareça da minha vida, Drake.” Manda e pula do prédio, desaparecendo antes que o garoto consiga registrar qualquer movimento ou qualquer traço de seu caminho, deixando-o sozinho com suas lágrimas e com a dor de sua perda.