Uma intensa mistura de laranja e violeta era tudo o que se via no límpido céu de Karakura, tudo parecia ocorrer com a mesma normalidade aos simples olhos humanos, que nada viam de anormal ao seu redor.

As poucas nuvens que ainda existiam ali mexiam-se deixando claro, por fim, um portal abrindo-se, revelando Ichigo a contemplar o belíssimo pôr do sol de Karakura. A noite logo cairia trazendo consigo a lua para iluminar a escuridão do anoitecer.

Havia perdido mais tempo do que esperava com seus preparativos para vir até o mundo humano, precisava tomar medidas de prevenção antes de tudo, pois somente com sua pressão espiritual poderia acabar com todo equilíbrio entre a Soul Society e o mundo real. Esse fora um dos motivos que o levou aceitar o cargo de capitão da Gotei treze.

Sabia que o procedimento seria um pouco demorado, afinal aprimorar todos os equipamentos para reduzir setenta por cento de seus poderes não era nada fácil, mas parecia que o excêntrico capitão do decimo segundo esquadrão, Kurotsuchi Mayuri, estava disposto a enrola-lo a fim de tirar alguma informação proveitosa do ruivo impaciente.

Finalmente após horas e horas preso naquele tedioso laboratório, estava livre para procurar Rukia, sem medo de prejudicar qualquer alma inocente.

Não havia mais tempo a perder. Precisava encontrar Rukia e era para isso que estava ali, onde tudo começou, essa era sua única pista, talvez ir ao encontro de Uarara era o mais correto a se fazer e por saber disso, que mais que depressa, Ichigo sumiu em Shunpo aparecendo em frente ao tão conhecido estabelecimento, denominado Urahara Shop.

Nada parecia ter mudado ali desde a sua última visita, a mais ou menos, dezesseis anos atrás.

— Boa noite, Kurosaki-san, — Saldou Urahara abrindo a porta de repente. — Sabia que viria. — Completou escondendo um misterioso sorriso atrás do seu tão inseparável leque.

— Boa noite, Urahara-san. Suponho que também já saiba meus motivos. — Afirmou, recendo um simples aceno positivo. — Que bom, isso evita que percamos mais tempo com explicações desnecessárias. — Declarou Ichigo seriamente.

— Certo. Certo. Vamos entrar. Tessai-san acabou de preparar um chá. — Falou passando pela porta aberta com Ichigo logo atrás. — Você pretende começar a procurar a Rukia-san por onde? Alguma pista a mais que possa nos ajudar? — Pergunto enquanto caminhavam.

— Nada, eu não tenho nada concreto. Tudo o que sei é que ela está para completar dezesseis anos e que vive aqui em Karakura. — Respondeu Ichigo com a mesma pose seria, que adquiriu sendo capitão do nono esquadrão.

— Entendo. — Disparou Urahara pensativo enquanto sentava em frente a Ichigo na mesa baixa, onde muitas vezes já haviam se reunido. — Acho que já sei por onde devemos começar. — Disse com os olhos ocultos pelo inconfundível chapéu listrado.

— Escolas. — Declarou Yoruichi adentrando a sala de repente. — Certo, Kisuke? — Perguntou sorrindo.

— Certo, Yoruichi-san. — Respondeu cantarolando.

— Já havia pensado nisso também, por isso vou precisar de um gigai. — Falou Ichigo deixando um pequeno sorriso tomar sua face. Sentia-se feliz por finalmente estar começando sua busca. — E de um modificador de memorias também. — Completou lembrando das memorias loucas que aquele pequeno aparelho poderia criar.

— Certo. Se tudo o que Isshin-san me disse estiver correto. Um inimigo logo surgirá. Devemos nos preparar e encontrar Rukia-san o mais rápido possível. — Declarou Urahara seriamente. — Se pelo menos soubesse que ela tem energia espiritual seria tudo mais fácil.... — Resmungo consigo mesmo.

— Tem razão, Urahara-san. Encontrar Rukia é o principal, não quero que ela corra riscos desnecessários. — Disparou Ichigo seriamente.

— Você parece bem motivado, Ichigo. — Declarou Yoruichi sentando-se a direita de Urahara. — Está feliz? — Indagou olhando de forma enigmática.

— É claro que sim, vou finalmente reencontrar uma companheira valiosa, que julgava nunca mais por ver. — Disparou Ichigo rapidamente sem pensar duas vezes em suas palavras.

— Companheira? É só isso que ela significa para você, Ichigo? — Questionou fazendo com que o silencio predominasse pelo pequeno cômodo.

Sinceramente Ichigo não sabia responder aquela pergunta. Já havia pensado várias vezes sobre isso, desejado ter Rukia ao seu lado para esclarecer todas aquelas duvidas, mas não a tinha e negava-se a pensar em algo que não podia responder sozinho. Sentia-se pressionado a responder, mas não conseguia.

— E-Eu... Bom, eu... — Começou sendo bruscamente interrompido pelo barulho estridente de seu celular espiritual tocando, avisando que três hollows atacavam pela cidade no momento. — Hollow! — Exclamou pondo-se de pé rapidamente.

— Deixa que o Shinigami responsável pela cidade dá conta. — Declarou Yoruichi relaxa.

— Não, eu vou. Sinto que tem algo estranho acontecendo. — Respondeu seria em sua forma shinigami.

— Certo então. Voltei para o chá. — Disparou Urahara servindo-se do chá que Tessai deixava a mesa.

— Certo. Serei rápido. — Respondeu desaparecendo instantaneamente.

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Um urro ensurdecedor era ouvido da janela do quarto de Yosen, que sentia-se inquieto. Mas um daqueles monstros aparecia para lhe tirar o sono. Aquilo estava ocorrendo com frequência, mas estranhamente o monstro desaparecia sem nem deixar rastro.

Estava tentado e descobrir o que era tudo aquilo, descobrir que era seu salvador e fora com esses pensamentos que deixou o pequeno apartamento onde vivia.

O vento gélido da noite castigava seus rebeldes cabelos negros, mesmo com a pouca luz pode ver a criatura grotesca a espreita-lo, preparando-se para o bote.

Yosen já não sabia se existia na verdade um salvador, pois naquele momentos, pensava que tudo estava perdi para ele, até que sem aviso prévio. A criatura foi engolida por algo que lhe lembrava uma boca gigante.

— Ora. Ora. Olha o que temos aqui? — Disparou com um tom de voz infantil. — Um lindo garotinho perdido perto de um monstro tão feio?! Que sorte a minha.... — Completo caminhando lentamente em direção ao rapaz, que observava desconfiado a estranha figura pequena de fase oculta a aproximar-se.

— Quem é você? — Indagou corajosamente sem hesitar.

— Ah. Ninguém importante. — Respondeu cantarolando infantilmente.

Yosen já não conseguia falar, sentia seu corpo pesar. Algo incomumente poderoso aproximava-se do lugar e parecia que não era só ele que havia notado. A pequena figura estava paralisada no lugar.

— Droga! — Exclamou desaparecendo rapidamente.

O ar estava cada vez mais pesado. Seus pulmões ardiam em busca de ar. Seus olhos ardiam tentando enxergar na penumbra.

— Merda! — Exclamou uma voz em suas costas. — Não cheguei a tempo. — Continuou, fazendo Yosen olhar para trás com esforço.

Nunca havia visto figura mais estranha.

— Q-Quem é você? — Gaguejou tentando manter-se firme perante ao ser de estranho kimono preto.

— Você pode me ver? Você é um humano? — Perguntou Ichigo surpreso.

— Que perguntas mais estranhas. É claro que eu sou humano. Você não é? — Questionou impaciente.

— Bom... Ah você não precisa saber... — Respondeu Ichigo sentindo-se estranhamente irritado. — Você pode me dizer o que aconteceu aqui? — Perguntou observando com curiosidade o rapaz corajoso a sua frente. Sentia que algo naquele garoto lembrava a si mesmo no passado.

— Ah você não precisa saber. — Retrucou debochadamente dando as costas para um irritado Ichigo.

— Certo. — Respondeu raivoso.

— Certo. — Concordou caminhando lentamente de volta para seu pequeno apartamento. Aquele maldito homem de estranhos cabelos alaranjados o havia irritado profundamente.

O noite estava extremamente bela. Ichigo sentia-se frustrado, mas observar um magnifico eclipse lunar o acalmava. Lembrava-se da antiga história conta por sua mãe.

A magnifica lenda do sol e da lua, amantes apaixonados, que estavam destinado a viverem separados, mas devido à grande bondade de Deus, conseguiam reunir-se uma vez a cada ano para amar-se e a isso deram o nome de eclipse. Talvez ele e Rukia fossem iguais ao sol e a lua, viveram longe por dezesseis anos, mas finalmente a hora do eclipse estava chegando.