Kowai no Ai Suru escrita por Camihii, Luh Black


Capítulo 17
Incômodo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura! o/



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- Haha, sim eu vi! O cara é hilário, totalmente sem noção!

- E quando ele enfiou a cabeça no balde? Cara, eu caí do sofá de tanto rir! Uma das minhas empregadas até me perguntou se eu estava bem! – Era uma manhã normal. Uma manhã normal em que eu conversava normalmente com meus colegas de escola, sobre um dos programas anormalmente engraçados que passavam na TV. Até que a porta se abriu e e certa pessoa observou a sala com calma, até chegar a mim.

- Olá, Matsuda. – Kyoko me cumprimentou, com a voz extremamente fria, chegando a ser assustadora. Muito assustadora.

- O-olá, Kyoko-chan.

- Não me chame assim. Principalmente agora, se não quiser, é claro, ser castrado com uma colher.

- O-o q-que houve? – Perguntei, já suspeitando sobre o assunto. E os traíras que se dizem meus amigos já haviam fugido.

- Soube que fez uma visita para alguém esses dias. – Eu gelei. Akira havia contado. – Seu amigo está hospitalizado, é?

- Me desculpa, Kyoko-chan, é que...

- Cale a boca, imbecil! Não quero ouvir suas explicações idiotas!

- Me...

- Cale a boca. Você... – Me assustei, meu celular começou a tocar de repente, quase como uma salvação.

- Desculpa, Kyoko-c... Kyoko. – Falei, atendendo o celular, e tendo a mera impressão de que ela não gostou nada disso. Dane-se, Momiji já me dá bronca o bastante.

- Alô...

- E aí cara, beleza?

- Ah, oi, Ogawa... Estou indo, e você? 

- Na mesma. – Ogawa Góki Satoshi era um amigo antigo, que freqüentava o mesmo acampamento de verão que meu pai me obrigava a freqüentar. Ele e mais alguns eram bastante íntimos de mim, mas só nos falávamos no acampamento, que eu havia esquecido totalmente. Era um descendente de russos ruivo extremamente irritante, que insistia em me ligar sempre antes do acampamento, que nesse, pela primeira vez, eu faltaria. – Tudo pronto pro acampamento? A Takahashi ta louca pra te ver.

– Ah, cara, não vai dar esse ano... – Takahashi era outra amiga do acampamento, que parecia ter uma queda por cada garoto de lá – Vou viajar... Sinto muito, mas e...

- Ah! Takahashi me contou, muito triste, que você ta namorando! É serio?

- Sim, eu to namorando – Droga... Não dou meia hora pro Japão ficar sabendo. E como a Takahashi ficou sabendo disso? Bem, ela sempre teve alguns contatos estranhos.

- Oooh! Tem que nos apresentá-la cara. Porque, bem, nós somos quase...

- Não me deixe falando sozinha! – Senti uma mão pegando meu celular e a voz de Ogawa ficar mais distante. Era Kyoko.

- O que você vai... – Ela pegou meu colarinho e me puxou para mais perto, obviamente, nervosa.

- Não disse para não falar com o Akira? Você é surdo ou é retardado? Ou os dois? Quer mesmo arriscar tudo? Quanto o ser rosa riria caso soubesse a verdade?

- E-eu... – Estava com medo dela, por mais que odiasse admitir.

- Faça isso mais uma vez e você está morto. E eu vou garantir que seu corpo não seja encontrado, nem que eu tenha que destruir cada pedaço seu, nem que eu tenha que queimar todo o seu corpo com uma vela, entendeu?

- H-hai. – Me jogou o celular e virou-se em direção de sua mesa. Haruo, Kennichi e Jiro se aproximaram, sem saber se riam ou ficavam com medo.

- Problemas com a patroa, Kaoru? – Perguntou Jiro, com um meio sorriso.

- Kyoko-chan é naturalmente assustadora, mas... Esse namoro de vocês é bem estranho, sabe? Se eu estudasse na mesma escola que a Kazumi-chan, ficaria pregado nela o dia inteiro.

- E aposto que qualquer um iria querer ficar assim com a namorada. – Eles estavam suspeitando, o que não era bom.

- Bem... eu dei uma mancada agora, e a Kyoko não é do tipo que gosta de mostrar afeto na frente dos outros, sabe?

- Aah, vem de uma família conservadora, é? – Família... bem, Akira não é nada conservador, na verdade, dá bastante liberdade pra Kyoko. O que me lembra que preciso falar logo com ele... outra vez.

- Sim, algo assim. – Sorri, meio sem jeito, e dei uma leve espiada em Kyoko, que agora se concentrava em um desenho... eu acho.

Precisava tomar uma atitude, ou esse namoro, mesmo que de mentira, não daria certo. Ela está sobre o controle demais, o que além de prejudicar minha imagem, me deixava frustrado.

Mais tarde, Nana-sensei veio com uma notícia extremamente chata: teríamos um Undokai. E quando ela perguntou quem se candidataria a treinador, por pura preguiça dela mesma fazer esse trabalho, para meu eterno desespero, Kyoko levantou a mão, e imediatamente os que haviam levantado a mão também abaixaram.

Resultado: além de termos que participar do Undokai, quem vai nos preparar é Kyoko... e ela parece determinada em vencer. E seu discurso foi simplesmente encorajador. Ameaçou os parentes de cada um da nossa sala caso perdêssemos, porque realmente queria o prêmio.

A aula acabou e fui para o carro, onde Ishida-san, o motorista, me esperava. Aah, hoje foi um dia cansativo. O Undokai, a ameaça da Kyoko, a desconfiança dos três bobões e a ligação do Ogawa... O Ogawa! Preciso retornar a ligação, ele deve ter tirado história de onde não tinha.

- Que é?

- Ogawa, sou eu, Kaoru...

- Sei que é você. – Ele estava nervoso. Provavelmente por que acha que eu desliguei na cara dele.

- Ogawa, escuta, aquilo não foi culpa minha! Juro! Mas é que minha namorada tava conversando comigo, e ela odeia ser ignorada e...

- Cala boca! Já entendi! Não precisa jogar na minha cara que você tem uma namorada, ok? – Pronto, havia voltado ao normal. Ogawa, era 2 anos mais velho que eu, e parece que desde que entrou na faculdade, não conseguiu namorar ninguém.

- Certo, certo, foi mal. E aí, como tem passado a vida?

- Muito triste, porque você nunca se lembra dos seus amigos, e quando um deles resolve falar com você pra confirmar a única vez que vocês se vêem no ano, você diz que não pode!

- Sim, mas é por uma boa causa! Eu posso explicar.

- Explique.

- Vou viajar com minha namorada. – Tive que ser direto, ele era um bom detector de mentiras.

- O quê? Vá pro inferno, você já tá viajando sozinho com ela? Pelo amor de Deus, estou me sentindo decadentemente desprezado.

- Nós não vamos sozinhos, o irmão dela, algumas amigas e o Arata també-

- O Arata também? Aquele afeminado também vai nos abandonar? É a revolução “abandone seus amigos”?!

- Larga de frescura, a gente marca um dia pra se ver. Todo mundo.

- Tá, mas me fala... aquela voz assustadora era da sua namorada?

- Sim... bem, ela tava nervosa, sabe? – Respondi, olhando para rua. Quanto menos ele souber, menos os outros vão saber, menos o Japão vai saber, e melhor vai ser pra mim.

- Que fofo, briga de namorados! Já são tão íntimos!

- Não é bem assim, na verdad-

- Ah! E pra onde vocês vão viajar?

- Err... Kyoto, vamos ficar na casa que tenho lá.

- Que lindo... aposto como vão dividir o mesmo quarto, hoho. Lembre-se de usar proteção, Kaoru, ou a coisa fica tensa!

- Pare de falar asneiras! O irmão mais velho dela vai estar lá também, e... Ogawa, preciso desligar. A gente se fala. Ishida-san, pare ali na esquina por favor. Vou descer aqui...

- Peraí, mal falamos cinco minutos e... – Desligo celular e saio do carro. Agora que penso, foi uma ação bastante impensada, já que Kyoko me ameaçou de morte hoje caso voltasse a falar com Akira sem que ela soubesse. Mas dane-se, preciso esclarecer as coisas antes da viajem.

- Nakamura-san! – Acenei, no modo “bom moço”. – Será que podemos conversar?

- Kaoru-kun, que bom te ver! Claro, só não posso demorar muito...

- Tudo bem, é urgente e rápido. – Seja sincero, direto, e rápido. – Nakamura-san, é sobre a Koyko-san e eu... bem...

- O que tem a Kyoko? Aconteceu algo? – Ele perguntou, preocupado.

- Não, é que bem... bem, aconteceu, mas nada de ruim... eu acho.

- Como assim, Kaoru-kun?

- Bem... Kyoko-san e eu estamos... err... – A maneira como eu, irremediavelmente, ficava sem jeito por falar sobre isso com Akira era inacreditável.

Provavelmente, o que me deixava assim era o fato de saber o quanto ele havia sofrido e lutado para cuidar de Kyoko sozinho, e principalmente o medo que os dois provavelmente sentiam de serem adotados separados. Acho que era algo como a Momiji com medo de ser demitida, ou o que a Momo sente por ficar longe do Arata. Eu apenas não conseguia esconder algo tão importante dele. Era como se ele puxasse a verdade, ou grande parte dela, da minha garganta.

Uma bondade e gentileza que, nos dias de hoje, é tão rara que quando se encontra chega a ser assustadora.

- Nakamura-san, sei que provavelmente Kyoko-san não falou nada com você mas... bem, há algumas semanas, poucas mesmos, eu e Kyoko-san... bem onde quero chegar é...

- Kaoru-kun, seja mais direto por favor.

- Bem... – Me curvei e fechei os olhos, deixando tudo, ou quase, sair – Há algumas semanas Kyoko-san e eu estamos namorando, e queria sua aprovação, Nakamura-san.

- O-o quê? Vo-vocês estão...? Como assim? – Ele começou a pender para o lado. Parece que realmente tinha sido um choque para ele, e começou a murmurar. – E eu nem... nem reparei nada... e a Kyoko não mudou seu comportamento nem um pouco e... e... só quando o Kyo ligou, mas deve ser por nostalgia... afinal, ele lembra diretamente o orfanato e...

- Nakamura-san, está tudo bem?

- Primeiro foi o trabalho, ai ela chega bêbada em casa... – Bêbada? – Dorme de repente na casa das amigas, e agora... agora não me conta uma coisa dessas?

- Nakamura-san?

- Mas o que está... quando ela me parou de contar as coisas? Sempre fomos tão unidos, principalmente depois do acidente e...

- Nakamura-san, está tudo bem? – Voltei a perguntar, o segurando pelos ombros. A bondade e simplicidade que normalmente era vista em seus olhos deram lugar a um tipo de desespero, como se estivessem perdidos. Havia realmente sido um choque pra ele.

- Kaoru-kun... ah, bem... sim, claro, foi só uma... surpresa. Eu preciso ir, nos vemos outra dia, sim?

- C-claro, Nakamura-san, tenha um bom dia...

- Para você também...

A reação dele foi meio que um choque para mim, não imaginei que seria tão... forte, pra ele. Agora estou um pouco receoso... pelo jeito, Kyoko havia escondido algumas coisas do irmão, e provavelmente ele se sentiu inseguro quanto a isso. Talvez eu devesse ter dito que havíamos acabado de começar namorar... Droga, sinto que acabei de arrumar confusão.

Isso não é legal.

--- / / ---

Primeiro e tão esperado intervalo da aula de esgrima. Caramba, Mori tem razão, preciso faltar menos. Estou destruído. Uma hora de aquecimento, mais uma de treino individual, meia hora de flexões e outra uma hora e meia de treino em conjunto, sem pausa ou momento para beber água, não é algo muito divertido de se fazer. E ele ainda pergunta por que tem poucos alunos.

- Aí, Matsuda – Era Ayama, um dos meus colegas de esgrima. Era um dos melhores, claro. Na verdade, segundo o que ouvi, ele costumava ser o melhor em tudo que fazia.  – Tá vivo ainda?

- Claro que tá. Vaso ruim não quebra! – Mas só perdia pra Tokugana, a hime da nossa turma. Única garota, e apesar de ser baixinha e aparentar ser fofa, era meio agressiva, mas ao mesmo tempo passiva – Fora que ele me ama. Não morreria sem se declarar, né, Ma-chan!

- Quantas vezes já falei pra parar de me chamar de “Ma-chan”, Tokugana?

- Do que tá reclamando? Ela me chama de “Ama-chan”, e recentemente descobri que em espanhol, “ama” se refere a amor! Sabe o que é ser chamado de “amorzinho”¹ por uma garota como ela??

- Pare de ser chato, Ama-chan.

- Me recuso. Aliás, perca as esperanças quanto ao Matsuda. Ele tá de namorada nova.

- Hããã!? Como assim? E a Ichikawa?

- Hã... bem, nós terminamos...

- Como assim o Matsuda terminou com a Ichikawa? – Ótimo, Yuta, o jornaleiro da turma, já tinha chegado e digitado a noticia: em breve todo o instituto de esgrima já teria recebido a notícia. Não que já não tivessem ouvido algo assim, mas eles se lembrariam do assunto agora, quando a suposta vítima, eu, estava ali. – Já tinha ouvido algo assim mas não acreditei.

Hora de apelar.

- Escutem, estou sim namorando outra garota, e realmente gosto dela. Mas ela é reservada, não é muito sociável com as outras pessoas e simplesmente vai me matar se descobrir que fico falando sobre ela por aí.

- Nossa... sua namorada é estranha. – Concluiu Yuta, meio perplexo.

- Com certeza. O normal seria ficar super feliz por isso.

- É, ela é meio excêntrica, mas sempre me ajudou muito.

- Do que é que os carentes de habilidades esgrímicas estão falando aí?

- Mori-sensei, desde quando sou carente de habilidade em esgrima e desde quando existe a palavra “esgrímicas”?

- Inventei a palavra agora, Tokugana, e enquanto você não me superar, ser carente de habilidades esgrímicas!

- Você é tri-campeão Japonês e vice mundial, como espera que alguém que pratica esgrima a cinco anos vença você, que pratica a 20?!

- E pra quem só pratica a 5 anos, você tá muito bem, Tokugana – Comecei – Eu pratico a quase 10 e você é melhor que eu!

- Ai já é questão de mentalidade, Ma-chan. Você é um leigo que pensa tão rápido quanto o andar de um jabuti. Já eu... bem, sou superior a você.

- Eu não deixava assim.

- Mas ela tem razão.

- Obrigado, Mori, você é realmente o melhor sensei. Mas tudo bem... eu já estou acostumado com esse tipo de tratamento. Me lembra um certo alguém... – Né, Kyoko? Tokugana só foi mais educada.

- Sério? Quem te dá a honra de se lembrar da minha ilustre pessoa?

- Uma pessoa mal educada, convencida, anti-social e controladora – Ou seja, minha namorada. Mas claro que não falaria isso em voz alta. Kyoko tem inteligência o bastante para atuar na frente dos outros, para minha sorte.

- O que quer dizer? Quer duelar, por acaso?

- Ótimo! Vamos voltar ao trabalho com vocês dois duelando.

- Peraí, Mori! Ainda temos 15 minutos de intervalo. Não dá pros dois duelarem.

- EI! VOCÊS AÍ TENTANDO FUGIR! JÁ DE VOLTA, TEMOS UM DUELO PRA ASSISTIR.

- Mori, não dá pra gente duelar!

- TODO MUNDO PRO TATAME! AGORA! E acho melhor não ouvir isso saindo da sua boca outra vez, Fujioka. Quer duelar comigo?

- Mori, peraí! Não vai rolar!

- Claro que vai, Kaoru. Estou louco pra ver os dois jogados no chão por desgaste físico e emocional excessivo. – Claro, esqueci do lado sádico do Mori. Nada o dá mais prazer que ver os próprios alunos morrendo por “desgaste físico e emocional excessivo”, como ele adora falar. – Não me decepcione.

- O quê?

Proteções postas, espadas na mão, “público” em volta e um Mori extremamente animado. Nem eu nem Tokugana estávamos afim disso. Mas depois de ouvirmos sobre as apostas, ficamos um pouco mais empenhados. A menor aposta era de 5000 e a maior 15000 yens.

- Comecem!

Ela começou avançando, mais rápida que esperava, por isso quase me acertou. Todos tinham medo de ter Tokugana como adversária porque ela não acertava para marcar ponto. Acertava pra ter ver estirado no chão e gemendo de dor. Por isso Mori gostava tanto dela ao ponto de ter apostado tudo nela. Isso, claro, porque ele me conhece desde que me entendo por gente e se considera meu pai.

Fico imaginando se ele não se considerasse isso. Provavelmente estaria perdido.

- Que foi, Ma-chan? Anda muito pensativo ultimamente, sabia?

- Influência da minha namorada, Tokugana. Entenda.

- Haha, que fofo! Ma-chan é tão fofo! – Ela falou, sorrindo como se sempre fosse uma garota fofa, para logo em seguida me acerta em cheio na lateral do meu tronco. – Ponto!

- Ai! Cadê aquela fofura de alguns segundo atrás? – Perguntei, me levantando e vendo que não só Tokugana, mas Mori e mais da metade da turma comemoravam.

- No amor e na guerra vale tudo, Ma-chan! – Justificou, sorrindo.

- Realmente estou rodeado de pessoas vis e perversas.

- Não adianta falar difícil agora, Ma-chan. Não combina nem um pouco com você.

- Tokugana: 1, Matsuda: 0. Preparaar! – Nos posicionamos e empunhamos as espadas, esperando o sinal de Mori. – Comecem!

Avança, avança, ataca, avança, defende e ataca. Era assim que ela fazia normalmente. Isso permitia que ela manipulasse o confronto, por isso tinha vantagem e sempre vencia. Mas às vezes ela mudava um pouco, atacando direto. E mais frequentemente ainda enrolava para nos cansar. E ela estava fazendo isso. E estava conseguindo, porque eu já estava virando pura água de tanto suor.

- Está se cansando, Ma-chan? Pode parar quando quiser, sou uma pessoa clemente. – Maldito sorrisinho fofo e vitorioso! Aargh! Como eu queria tirá-lo da cara dela.

- Conheço sua técnica, Tokugana. Não vai me pegar nessa! – Porque já pegou.

- Oh! Que honra. Ma-chan sabe meus segredos... isso faz de nós comprometidos?

- Se por acaso eu ficasse... com outra garota... – Falei, arfando – Kyoko me mataria!

- Oh! Então a namorada do Ma-chan tem nome!? Bom saber. Vou terminar logo com isso. – Avançou, atacou, atacou, defendeu, recuou, avançou, atacou, atacou, girou a espada e fez com que a minha caísse no chão, e pousou a dela sobre meu pescoço. Ótimo, tinha perdido. Não dá pra recuperar um 2x0 – Ponto!

Mori levantou, e fez isso bem lentamente. Andou mais lentamente ainda até nos e parou ao nosso lado, nos encarando. Corrigiu uma coisinha simples em Tokugana e me deu um soco nas costas, mas nós continuamos imóveis e parados esperando que ele nos liberasse. Era a regra. Enquanto o árbitro não ordenar ou apitar, não podemos nos mover.

- Tokugana. – Ele finalmente falou, depois de um tempo, e olhou para mim – Termine o serviço e mate esse inútil.

- O quê?

- Com praze-er! – Cantarolou, chutando minha espada para mais longe e começando a me atacar.

- Ow, Tokugana... peraí... Mori, manda ela parar, eu tô desprotegido aqui! Aí! Peraí! Isso doí!

Resultado final: De 8, 3 apostara em mim e perderam, depois foram tirar satisfação comigo, que estava caído no chão sem conseguir respirar direito. A ira dos Matsuda cairia sobre os Tokugana!.. ou não.

- Que vergonha... perdeu para um mulher... não fale mais comigo.

- Como assim? Você também já perdeu pra ela.

- É, mas eu tinha acabado de entrar na turma, estava constrangido e agitado de mais, o que me deixava sem concentração alguma. E eu não tenho um nome a zelar, Matsuda-kun.

- Tokugana! – Chamei, bem alto. Ao menos deles eu me vingaria. – Eles disseram que não acreditaram que eu perdi de uma garota, por que as acham mais fracas e inúteis. – Os dois gelaram e eu ri, ainda no chão. Tokugana odiava ouvir isso, e da última vez que alguém disse isso, a caixa de primeiro socorros foi usada.

E Mori só usa a caixa de primeiros socorros quando pelo menos uma espada está suja de sangue.

- Como é que é? Quem disse isso?

- Fujiokaa!

- Vou mostrar para o Fujioka-san qual o estilo feminino da família Tokugana de resolver as coisas.

- P-pelo que sei, vocês chamam os homens para brigar enquanto tomam chá, não é?

- Obaa-sama faz isso... vou mostrar o modo de resolver assuntos que okaa-sama me ensinou. – Nem ao menos colocou o capacete de proteção, apenas pegou duas espadas e foi ao ataque – Mori-sensei, prepare a caixa de primeiros socorros.

- Ok!

--- / / ---

Eu amo este quarto. Um vídeo-game de última geração, um computador de última geração, uma televisão de última geração, uma caixa térmica cheia de refrigerantes extra-gelados de última geração e o sofá mais confortável do Japão, é claro, de última geração. Aaah... nada como uma relaxante tarde pra tirar o dia de folga e virar os 3 jogos que ficaram atrasados. Me desculpem, mas andei muito ocupado!

Mas preciso tirar essa calça, estou com calor. Ficar só de cueca é tão bom!

- Matsuda. – Ouvi, e pulei de susto. Era Kyoko.

- Kyo... – Quando tentei falar, engasgei. Esqueci totalmente que estava com o refri na boca, porque estava com medo. Normalmente seria legal ter uma garota na minha casa e no meu quarto, mas está, sendo a Kyoko... não era nada legal. Nada mesmo. Chegava a ser perigoso.

- O que você está fazendo aqui?! – Perguntei, lembrando que nunca tinha passado meu endereço a ela. Arata?

- O que acha que eu estou aqui, imbecil?

- Eu...

- Eu não disse para ficar longe do Akira? – Merda, foi mais rápido do que pensei! Eu falei com ele durante o almoço, fui pra aula de esgrima e só voltei agora, 5h! Eu esperava mais um dia de vida. Ela começou a se aproximar, e por instinto, tentei me afastar. – Está com medo? Isso é curioso, não? Se sabia que na hora h, ficaria com medo, por que se arriscou tanto? Se sabia que na hora h você recuaria como o filhinho de papai que é, por que foi falar com Akira? Por que foi falar para ele sobre essa merda desse namoro?!

- Olha, Ky...

- Cale a boca. CALE ESSA MALDITA BOCA! – Ela me mostrou o tão medonho olhar dela. Mas dessa vez estava diferente. Parecia que ia me engolir e me torturar, eu realmente fiquei com medo. Sem perceber, caí no chão. – Há! Está com tanto medo assim?

Ela agarrou meu braço e me jogou no sofá, ficando frente a frente de mim. Eu acho que já estava tremendo.

- Está tudo acabado. E se prepare porque o seu reino vai acabar, porque o grande Matsuda Kaoru vai cair. Por você ter falado com o Akira, mas principalmente, por ter falado sobre esse “namoro” você está realmente ferrado.

- Kyoko, eu... – Gelei. Mais um vez alguém estava me virando as costas, e por culpa minha. Isso não era legal, e comecei a me desesperar um pouco.

- Cale a boca! Eu vou falar com a Ichikawa, e vou contar para todo o colégio que você foi chifrado pela sua namorada, e, como o ser patético que é, veio pedir a minha ajuda, pois não é capaz de encontrar uma namorada de verdade. Como será que todos vão reagir? Pena? Humor? Decepção, por saberem que o Grande Matsuda não é nada mais que um garotinho desprezível que não consegue lutar por si mesmo? Que tem que se esconder atrás de falsa namorada que nunca vai nutrir um sentimento por você?  Além, de ódio e desgosto, é claro.

“Mas, sabe? Agora, eu entendo a Ichikawa... Você não oferece mesmo nenhum benefício a ninguém. Você é um covarde que se esconde atrás do nome e do dinheiro do seu pai, e que nem ao menos honra a própria palavra. Quem poderia gostar de uma pessoa assim? Sem caráter, sem princípios... Você é repugnante.

“Antes eu apenas não gostava do seu perfume e da sua atitude prepotente, mas ainda achava que bem, mas bem lá no fundo, tinha uma razão pelo Arata sempre te elogiar e por querer tanto o seu bem. Mas vejo que ele só se preocupa com você, porque é inocente demais e acredita no melhor das pessoas, não conseguindo ver o quão deplorável você é.

“Uma pessoa prepotente, uma pessoa ignorante, uma pessoa egoísta, não importa o quão ruim seja o adjetivo que a descreve, você é o pior. Você é, simplesmente, o pior de todos. Sabe por quê? Porque antes ser prepotente, antes ser ignorante ou egoísta, o pior é nem ao menos ter a dignidade de cumprir com as suas promessas e fazer valer as suas palavras.

“Você é o pior tipo de pessoa existente.”

 - Eu... – Ela tinha razão. Era entendível porque ninguém se aproximava de mim sem propósitos financeiros. E isso, de alguma maneira, me fazia sentir mal. Mas em momento algum me arrependia de ter contado ao Akira. Posso não entender os motivos dela, mas ela também não entende os meus.

- Cale a boca. Eu vou te dar dois dias, dois dias, nada mais, nada menos, para você mesmo ter a coragem de ir contar a verdade para os seus amigos e para a Ichikawa. Depois desse prazo vou ser eu quem vai contar, e acredite, vai ser pior. E não apenas isso, por ter interferido na minha relação com o Akira, eu vou tornar a sua vida um inferno. Eu não estou brincando, não estou exagerando. Você vai desejar nunca ter nascido.

Ela saiu do quarto, e toda aquela atmosfera tensa se dissipou aos poucos. Mas meu coração ainda estava acelerado. O olhar que ela havia lançado para mim era pior, muito pior do que o que normalmente lançava. Me fez ficar paralisado, e não só de medo, era algo mais. Não sei o quê.

Mas senti um desespero estranho, mas muito conhecido quando a vi de costas. Era normal as pessoas se distanciarem de mim por causa de erros meus. Aconteceu com meus pais, que provavelmente me odeiam por isso. Droga! Não dá pra deixar isso assim.

Já havia me acostumado a ver pessoas me dando as costas, mas de alguma maneira ainda... incômoda. Quem esteve comigo desde o inicio? Primeiro foram meus pais, que me deram as costas da pior maneira. Depois os vários supostos amigos, que vieram até mim apenas por dinheiro. Então a Hana, que mesmo sendo considerada por mim uma simples cachorrinha, vê-la me trocar foi muito incômodo. Talvez por isso fiquei tão desesperado em mostrar que não era inferior a ela.

Complexo de superioridade? Talvez... mas ao menos tinha pessoas me seguindo e falando de mim pelas costas. Incomoda menos, eu acho. E agora Kyoko. Tudo bem que não nos damos muito bem mas... incomoda.

Será que só posso confiar de verdade no Arata e na Momij? Talvez seja errado fazer o que estou fazendo... procurando em quem confiar. É exaustante e não resulta em resultados. Quem vai terminar com isso sou eu!

Me levantei e corri atrás de Kyoko. Sabia que ela era rápida, e que os poucos segundos que demorei para me recompor e me decidir foram preciosos. Mas tinha algo que eu ainda não entendia.

Por que o Arata e meu pai estavam na minha escada e o principal, por que a Kyoko ainda estava nessa mesma escada.

- Todo o dia cédulas e mais cédulas são impressas. Todo o dia bilhares e mais bilhares de yenes circulam por todo o país. – Acho que não fiquei só alguns segundo. Parecia que estava havendo uma discussão ali, pela cara que o Arata estava fazendo. O rosto do meu pai, como sempre, demonstrava desprezo – O dinheiro é algo tão comum, então por que ele é tão valorizado? Por que pessoas como o senhor teimam em ver o dinheiro como o mais importante?

- Realmente, Arata, esperava mais de um Takada. – Começou meu pai - É por isso, por essas idéias tolas, que o primogênito dos Takada não vai cuidar dos negócios da família. E posso saber o que está fazendo aqui? Desde o momento que o seu pai te expulsou de casa, você não é mais bem-vindo aqui. Você, agora, não passa de um plebeu também. Você...

- Cale a boca, pai! – Resolvi interromper, constando que já havia ouvido o bastante. Se ele falava aquilo do Arata, imagino o que falou da Kyoko – O Arata é meu amigo e é por isso que ele sempre foi bem-vindo, e ainda é, nesta casa! E posso saber o que o senhor está fazendo aqui, não estava em Paris?

- Como ousa falar assim comigo, Kaoru?!

- Do mesmo jeito que você ousou a falar com o meu melhor amigo! E agora, o Arata, por ser meu amigo e ser bem-vindo nesta casa, vai jantar comigo hoje. E, é claro, se a Kyoko-san aceitar ela será muito bem recebida aqui também. – Joguei. Pelo pouco que conhecia Kyoko, tinha certeza que mesmo que meu pai não tivesse dito barbaridades ofendendo-a, ela faria algo para ajudar Arata.

- Claro que eu aceito, meu amor. – Respondeu sorrindo. Certo... talvez tenha sido sorte ela ser amiga do Arata. Ou destino, quem sabe...

Destino? Onde eu ando pondo minha cabeça?!

No final das contas, acabamos eu, meu pai, Kyoko e Arata jantando na mesma mesa. Minha única certeza neste momento é que a Faixa de Gaza é menos perigosa! Antes mesmo do jantar ser servido, o clima estava tenso, mas ri por dentro ao ver que Kyoko estava perdida com os talheres. É entendível. Pra que se precisa de X trios de talheres para um simples jantar? Dois trios, compostos por garfo, faca e colher, sendo um deles para jantar normal e outro para sobremesa, já não bastam?!

Quando comprovei que Arata estava irritado, por que ele se sentou na cadeira sem vontade e bufou assim que o fez, resolvi usar minha ultima cartada, que me permitiria realizar o sonho de uma pessoa: chamei Momiji para jantar conosco, assim ela finalmente conheceria minha nem tão nova assim namorada.

Ela aceitou sorrindo, mas meio constrangida pela presença de meu pai, mas Arata a incentivou a sentar-se conosco. Até Kyoko incentivou um pouco, sorrindo como se isso fizesse o clima melhorar um pouco. Na verdade, só piorou.

- Não – Ordenou meu pai, sentando-se a mesa, preparando-se para comer o prato já servido. – Empregados devem comer em seus devidos lugares: na cozinha. E ela sendo apenas a Governanta, sabe seu lugar.

- Pai, o que acha qu-

- Tudo bem, Kaoru-sama – Ela me interrompeu – Matsuda-sama tem razão, a mesa de jantar não é lugar para empregados, e como Governanta sei bem disso. Peço desculpas pelo inconveniente, Matsuda-sama. – Ela pediu, curvando-se para o velho – Com sua licença.

E assim que perdi Momiji de vista, Kyoko se levantou. Pegou o próprio prato, um garfo e uma faca, e seguiu atrás de Momiji. Quando olhei para Arata, procurando ajuda, ele apenas sorria, parecendo orgulhoso.

- Melhor assim – Meu pai disse, assim que Kyoko sumiu – Pebleus não devem fica juntos à elite como nós.

- Bem, então, com licença. – Falou Arata, pegando o prato, talheres e um guardanapo. Pude vê-lo sorrindo enquanto se virava. Meu pai olhou, e ainda mais satisfeito, voltou a falar:

- Como foi a escola, Kaoru? – Neste momento, o que eu mais queria era xingá-lo.

Eu sempre jantava com Momiji. Bem, era no meu quarto, mas a mesa para duas pessoas era incômoda, e os outros empregados, além de casa terem com família no terreno, também temiam meu pai. Então como a mesa de jantar ficaria grande demais para duas pessoas, comíamos no meu quarto, e às vezes, quando algo atrasava o jantar, até mesmo na cozinha.

Mas é claro que ele não sabe disso, afinal, mora naquela maldita empresa. Aposto quanto for preciso para confirmar que um dos andares de lá é um apartamento dele.

Olhei para ele, ainda meio chocado com a pergunta depois de metade das pessoas naquela sala terem sumido. De propósito, derrubei a taça com suco de uva e peguei meu prato, talher e guardanapo, seguindo o mesmo caminho que Arata fez.

Cheguei lá pouco depois dele, e para minha felicidade, Momiji e Kyoko se davam bem e Kyoko parecia, por um momento, ter se esquecido do nosso desentendimento de mais cedo.

O jantar foi animado, mas a conversa constrangedora.

- Nee, Momiji-san, lembra quando ele derrubou café no paletó branco e disse ser de propósito! – Estavam rindo.

- Sim! Fez uma carinha de choro tão fofa que não resisti e apertei suas bochechas. – Rindo muito.

- Ele era tão carente de atenção mesmo se déssemos toda atenção pra ele! – Rindo até demais pro meu gosto.

- Então é completamente entendível porque ele é como é hoje. – E rindo muito de mim!

- Mas o Kaoru-sama era tão lindinho naquela época! Tinha o quê, uns 7 anos?

- Mas não mudou muito, Momiji. Lembro bem de como nos conhecemos. Não queria falar comigo por que eu parecia muito uma garota naquela época.

- Não mudou muito, Arata...

- Ao menos chamo a atenção de mulheres de todas as idades!

- E quem disse que eu não chamo?

- Está namorando a Kyoko-chan. – Hugh, jogo sujo! Não podia negar isso na frente da Momiji. E ainda disse isso sorrindo. Traíra...

- O que tem ele namorar a Kyoko-san a ver com isso, Arata-san?

- Eu tenho a mesma idade que ele, Momiji-san – Kyoko respondeu, sorrindo de leve e me encarando, provavelmente tentando mostrar para mim que eu era um inútil.

Um melhor amigo que destrói minha moral dentro da minha própria casa e uma namorada que me considera um verme inútil. Me pergunto se não poderia doar tanta sorte pra alguém...

- Mas se tem algo que não esqueço, foi quando Kaoru ganhou seu primeiro vídeo game. Tive que escondê-lo por que ele simplesmente não queria parar de jogá-lo! – Por que raios eu ainda estou permitindo que falem da minha infância!? – No dia que o escondi, ele chorou como nunca havia chorado antes. Mas estava tão lindinho.

- Tem sentido, Momiji-san. Kaoru sempre foi birrento. – Ah, me lembrei por que... – Se lembra o que ele aprontou na festa de aniversario de... acho que 7 ano, quando ele afundou a cara de um convidado importante no bolo e depois jogou o resto do bolo no resto dos convidado?

- Sim! Claro que lembro, não tem como esquecer. Foi a festa mais desastrosa do Kaoru-sama. – É porque a Kyoko está aqui.

- Mas o que mais me dá risadas é quando lembro que ele trocava várias letras quando menor. – E está se divertindo com o fato de Momiji e Arata estarem destruindo minha imagem de perfeito.

- Ah! Eu me lembro, me mostrou alguns vídeos uma vez, Momiji. – Se divertindo, rindo muito, e como eu queria que ela esquecesse o episódio de mais cedo... Não podia fazer nada.

- É verdade. Ele sempre trocava o K pelo T, e tinha muita dificuldade para falar alguns nomes. Quando comentavam isso na frente dele, ficava com os olhos molhados de lágrimas e o rosto vermelho, todo emburradinho. – Ótimo, agora vai falar dos meus antigos problemas de fala! Por que não fala até que idade precisava de ajuda no banheiro também?!

- Como agora, Momiji-san? – Os três olharam para mim. E tentaram segurar o riso, mas só tentaram, na conseguiram.

- Por que não param de fofocar e terminam de jantar? – Falei, percebendo que minha voz saíra mais emburrada do que queria. E eles riram mais.

A partir dali, alternaram entre zuar o Kaoru e comer, até que a chuva ficou mais forte e Momiji teve que ir fechar algumas janelas, para que não molhasse a casa, e a cozinha foi dominada pelo silêncio. Arata mandava sms pra alguém, e eu sabia que mesmo se perguntasse ele não me responderia a verdade. E Kyoko estava olhando fixamente para algo.

Era uma pequena poça no mármore, onde havia uma mosca morta.

Mas por que ela olhava pra mosca?

--- / / ---

Depois daquilo, Kyoko gentilmente se despediu da Momiji, do Arata e de mim, guardando especialmente para um abraço um pouco... demoníaco? Quando terminamos de jantar, meu pai já tinha saído, e eu agradeço por isso.

Agora eu e Jiro estamos felizes, ou nem tanto, às 8 horas da manhã, na piscina da escola, praticando natação enquanto Kyoko berrava em nossos ouvidos para que aumentássemos nossa velocidade. Será que ela estava aqui por minha causa? Afinal, poderia estar vigiando o PaintBall ou a corrida de 100 metros, onde a Hirano está, ou até mesmo o tênis ou o basquete, onde a Matsui está.

E ela está exigindo muito de mim. Mais do que o normal, e por alguma razão, do Jiro também.

- TÁ PARADO POR QUE, MATSUDA? QUERO VER SEUS BRAÇOS E PERNAS BATENDO NA ÁGUA! ANDA! E VOCÊ TAMBÉM, KAMEKYO! – Ela estava absolutamente irritante gritando em plenos pulmões, enquanto estava sentada confortavelmente bem longe da água gelada. Eu ainda encarava quando ela olhou o relógio e se levantou, preparando-se pra gritar outra vez.

- E lá vai ela gritar de novo! – Ouvi Jiro murmurar.

- OK! TODO MUNDO AQUI! – Chamou, e nós tivemos que obedientemente obedecer. Quando nos aproximamos mais, ela voltou a falar. – Eu marquei o tempo de cada um de vocês, e o melhor que têm aqui é aceitável. Não quero aceitável, quero perfeito. Por que não vão achar nada aceitável o que vou fazer com vocês caso a nossa sala perca. Mas vão achar perfeito o que vai acontecer se a nossa sala ganha.

“Preciso pegar o horário de cada modalidade e conferir se estão treinando direito, e vocês farão o seguinte: daqui a dez minutos, a Chiharu-san vai começar a marcar o tempo de vocês e anotar nesta prancheta, certo Chiharu-san? Vai marcar o tempo de cada um, e quando terminar vai pedir pra alguém marcar seu tempo.”

“Eu irei conferir depois se os tempos marcados condizem com os que eu marquei, por que sei que vocês não vão ficar rápidos de repente. Esses 10 minutos serão pra vocês descansarem um pouco. E ai de vocês se um único ficar sem marcar. E quero todo mundo dentro d’água até que o último tenha o tempo marcado.”

“Tem 15 minutos. Quando terminarem, vão pra o vestiário e depois para a sala de aula.”

- C-certo, Nakamura-san.

Foram os dez minutos mais rápidos da minha vida. Assim que Nakamura sumiu da nossa vista, uma garota teve ataque de pânico, o que de certa maneira foi assustador. A equipe de natação era composta por dois garotos, no caso eu e Jiro, e duas garotas, Chiharu e Masumi, sendo esta última a que tivera o ataque de pânico. Com toda razão eu diria, Kyoko está realmente irritante como “treinadora”.

Depois de terminarmos a marcação, nos arrumamos e fomos para sala. Ainda faltava uma hora para as aulas começarem, e quase a turma toda já estava na sala, alguns reclamando, outros tentando dormir por alguns minutos.

- Bom dia! – Ela cumprimentou, entrando na sala com um sorriso amigavelmente demoníaco. – Vocês tem uma semana para melhorarem, e muito, em cada uma de suas habilidades. Não vão gostar de perder. Têm espírito esportivo ou não?

- Já falou isso, Nakamura. Muda o disco agora, ok?

- Gosto de lembrar, Takahiro. Assim ninguém esquece o que vai acontecer se perdemos. Mas obrigada pelo conselho. – Falou fria, finalizando a conversa ali. Foi até o retro projetor da sala, ligou-o e colocou uma folha em cima dele. – Desligue a luz, por favor, Takara.

“O que está na frente de vocês, – Ela começou, apontando pra imagem que se formara no quadro da sala. Era uma tabela com horários e modalidades, que supus ser do Undokai – é a relação de horários do Undokai, que ocorrerá semana que vem, e ocupará um final de semana inteiro do Clube particular da escola, que pra quem não sabe, fica há alguns quilômetros daqui.”

“A cerimônia de abertura que começa ás 9h, mas quero todo mundo, sem falta, às 8h. Teremos um pequeno intervalo para os alunos irem para sua primeira atividade, seja para assistir ou participar. A primeira modalidade é esgrima, tendo 2 participantes por sala, um menino e uma menina.

“Depois, às 10h50 teremos o Xadrez, onde o mais intelectual de cada sala vai ter que jogar, e no caso desta sala, vencer, ouviu Haruo?”

- Copiado, colado, e imprimido Treinadora!

- Ainda acho que é um erro te por no Xadrez, mas a vida é sua. O Xadrez será junto com o Tênis de mesa, que tem um único participante por sala. Depois teremos o almoço das 12h50 ás 14h. Uma hora é mais do que o suficiente. Ás 14h começa o Karate, ás 14h30 o Judô e às 15h o Kendô, cada um com dois participantes por sala, uma menina e um menino.

“Em seguida um intervalo ás 15h30, e as 16h30 começamos com natação” – Ela olhou para mim, quase me fuzilando. Ainda tava nervosa por ontem? – “tendo quatro participantes por sala, duas meninas e dois meninos. Ás 18h30 temos outro intervalo, para logo depois, ás 19h, começarmos o Paintball, que durara duas horas com sete participantes por sala e misto. Então, para confortar os pobre e fracos corações dos ricos alunos da escola, tem um piquenique. Alguma pergunta?”

- Temos que ficar o dia inteiro?

- Considerando que a torcida por sala provavelmente dará pontos, sim, têm que ficar o dia inteiro. Os dois dias inteiros. – Completou, recebendo como resposta alguns protestos baixos. Depois, voltou a falar, e desta vez um pouco mais alto. – No segundo dia, começamos imediatamente com a corrida de revezamento, ás 9h, e quero todo mundo aqui ás 8h30. A corrida de revezamento será separada em sexos, ou seja, será uma corrida com cinco alunos de cada sala para as meninas e para os meninos.

“Ás 9h50 temos a corrida de 100m, são dois garotos e duas garotas. Ás 10h40 temos o tênis, que será em dupla e misto. Uma dupla por sala. Ás 12h40 temos um almoço, e as 2h teremos futebol, com onze pessoas e apenas masculino, o vôlei, tem duas equipes de seis participantes, meninos e meninas, e basquete com duas equipes com cinco pessoas, meninos e meninas, ao mesmo tempo. Nessa hora dividiremos a turma igualmente para as torcidas. Ás 17h30 começa um dos melhores eventos, a Caça ao Tesouro”

“A Caça ao Tesouro tem 2 participantes de cada sala, entre eles o líder de cada sala, no caso, eu, e nos juntaremos as outras turmas do segundo ano. Nana-sensei não me explicou muito bem, mas pelo o que entendi, receberemos na hora um enigma e teremos que resolvê-lo, encontrando um tipo de tesouro. Dessa vez, não será dividido por sala, e sim por ano. Ou seja, o segundo ano está completamente unido nessa jogada. Cada ano procurará o tesouro de outra serie, e os que encontrarem primeiro o tesouro que lhes foi ordenado, recebem o enigma para o último e principal tesouro, que será escondido pelo próprio diretor. Eu explico melhor mais tarde, para a pessoa que eu selecionar.”

“Ás 20h começamos a Maratona Intelectual, com 6 participantes por sala, incluindo o líder, e divididos em duplas por determinado assunto, no caso, assuntos gerais, música e cinema, e para os menos intelectuais, é praticamente um Quiz. A equipe será decidida pelo líder, então eu também direi melhor os detalhes à equipe que eu escolher.”

“Para a infelicidade de muitos, o segundo dia será bem longo” – Ela riu, e com a sala em completo silêncio me assustei um pouco. Ela parecia uma assassina sequestrando inocentes alunos de uma escola pública e lhes mostrando como mataria cada um. Típico de um manga ou Novel² shounen – “Às 22h teremos um intervalo para vocês se arrumarem, pois às 23h30 teremos um encerramento. Uma grande festa pelo, enfim, término do Undokai, com direito a banda, e no final do encerramento que acontecera às 2h da madrugada, o anuncio da sala vencedora.”

“Ou seja, tragam seus produtos de higiene pessoal, beleza, roupas de gala e empregadas.” – Ela falou finalmente se sentando – “Alguma pergunta?”

Ninguém respondeu ou levantou a mão. Toda a cansativa explicação demorou meia hora, então só nos faltava meia hora antes das aulas. Mas Kyoko voltou a se levantar.

- Ótimo. Yoshio, entregue esses papeis pra mim. – Mandou, entregando uma boa quantidade de papeis para o garoto, que imediatamente começou a nos entregar – Nessas folhas tem tudo que eu acabei de explicar, juntamente das modalidades e quem da nossa classe participará de qual modalidade. Só não estão inclusos, claro, os que participarão da Caça ao tesouro e da Maratona Intelectual, pois decidirei ainda essa semana. E também uma ficha médica exigida pelos professores, onde você tem que colocar seus dados e responder as perguntas. Se tem alguma doença, alergia, fobia, se esta infectado por um vírus ou uma bactéria, se tem problema mental e/ou alguma mutação genética cerebral e qual sua comida preferida. Algo que sei que conseguem responderem por si sós e que precisa ser entregue agora.

- Que rigorosa... Como pode namorar com ela? – Ouvi Jiro murmurar pra mim. – A sala só prestou atenção por medo. Apenas.

- Pois é...

- Ah... E é claro. Entre os papeis, na ultima folha, tem um pequeno contrato que quero que assinem e me devolvam agora mesmo. – Ela começou a falar, sorrindo e se sentando.

- E do que se trata? – Ouvi uma garota perguntar, parecia ser Ayoma-san.

- É um contrato no qual vocês se responsabilizam por tudo o que acontecer com seu corpo e mente durante e alguns dias após o Undokai. Podem ler se quiser, não estou roubando dinheiro de vocês. – Respondeu sorrindo, o que fez com que eu me encolhesse um pouco baixando os olhos para o tal contrato.

- E o que poderia acontecer conosco, Kyoko-chan? – Kennichi e sua grande boca. Sempre perguntava o que ninguém queria saber.

- Nunca se sabe. Afinal, se perdermos, vai que cai alguma coisa realmente pesada na cabeça de alguém!? Ou quem sabe alguém sem querer tropeça e cai do telhado da escola ou da janela da sala... Podem acontecer vários acidentes e não quero me responsabilizar por isso depois, poderia prejudicar meu futuro. Nunca se sabe, não é verdade? É bom eu me precaver. – Por que ela dizia aquilo sorrindo, mas seus olhos diziam que era isso que ela faria se nós perdêssemos? Mas que raio de coisa ela quer tanto conseguir daquele shopping!?

- Mas e se algo acontecer com você, Nakamura-san? – Outro louco perguntou do fundo da sala. Tudo bem, é perdoável, ou não, afinal, não sabem o que Kyoko pode fazer quando quer machucar alguém.

- Fique tranquilo, Takahiro, nada acontecera comigo. – Ela respondeu com uma convicção assustadora, que o fez recuar um pouco. – Bem, ainda temos um pouco menos de meia há até as aulas começarem, então quero que vocês leiam e assinem o contrato e logo depois que começassem a estudar, pois a Maratona Intelectual abrange vários temas, estudados na escola ou não. Por enquanto é só.

--- / / ---

“Por enquanto”? Por enquanto?!

Tinha mais?! Eu vou jogá-la na piscina pra ela ver se é bom estar na água gelada às 7 horas da manhã e ficar por lá por mais de uma hora! Vou colocar todos os equipamentos de esgrima nela pra ela ver se eles são levinhos! Quero ver ela manusear uma espada! Maldita... Essa irritante mania de menosprezar os outros já está irritando todo mundo!

E como eu estou dentro dos menosprezados, eu também estou irritado!

- Yo, Kaa-chan! – Era Kennichi, e pelo jeito estava vindo me irritar com a namorada, pois estava com o celular na mão.

- Se for falar da sua namorada, nem abra a boca.

- Poxa, Kaa-chan, eu nem disse nada!

- Melhor assim.

- O que mandam, Kennichi, Kaoru?

- Kaa-chan está irritado sem razão alguma.

- Deve ser por causa da Kyoko. E ele parece nervoso também, né? – Tava tudo tão na cara assim? – Pelo amor de Deus, Kaoru, precisa arrumar algo melhor. Ela é o cão chupando manga!

- Ha-chan tem razão... não parece que vocês estão namorando mesmo. Não é assim comigo e com a Kazumi-chan.

– É isso! – Falei, ou quase gritei, me levantando da cadeira. Como pude ser tão lento!? O único cara que eu conheço e tem uma relação firme de namoro é o Kennichi.

Bem, o Jiro diz ter uma namorada, mas fala dela uma vez a cada meio ano, e duvido que a namorada do Kennichi seja imaginária. O Kennichi pode me mostrar o caminho!

- Kennichi, como é sua relação com a Kazumi-chan?

- Manami-san pra você.

- Tanto faz, fala logo!

- Bem... – Ele começou, sem entender muito bem e olhando confuso para Haruo – Como ela tem curso de línguas e depois Arranjos florais, nos encontramos depois da escola quase todo dia. E normalmente saímos nos finais de semana também, quando ela tá livre, e... – Ele começou a babar, era melhor cortar ali.

- Certo, mas me explique: como vocês decidem onde e quando ir.

- Bem, normalmente eu ligo pra ela e pergunto se ela vai estar livre, e eu que sempre ligo, porque a mulher não deve sentir saudades, ela deve ser a razão da saudade e...

- Kennichi, não quero lição de moral, quero saber como vocês decidem quando vão sair!

- Combinamos. Eu pergunto a ela onde quer ir, então ela me pergunta onde eu quero ir, ai eu pergunto a ela de novo e... – Ele olhou pra mim e logo parou de viajar, voltando, ou tentando, ficar sério – Bem, vemos em que lugares o outro que ir, decidimos juntos quando saímos e pra onde vamos... por quê?

Isso é tão... óbvio! Como não pensei nisso antes!?

O plano inicial era termos encontros, e até hoje só consegui levá-la à uma festa chata, e isso porque o Arata conseguiu convencê-la. Desde então, em todas às vezes que nos encontrávamos fora da escola alguma catástrofe acontecia!

Este suposto namoro está sendo controlado por um lado só, e não dá pra ficar assim!

- Vou comprar meu almoço! – Falei, saindo correndo. Fora que nós nem a menos andávamos almoçando juntos! Ela senta sempre com o Miura, e quando resolvo me sentar com eles, os dois ficam calados, encarando os próprios obentos.

Vou resolver essa relação agora!

Cheguei ao refeitório e logo comecei a procurar por Kyoko. Estava na mesa de sempre, sentada como sempre, com os mesmos cadernos de desenho em volta, o mesmo potinho de obento, ouvindo MP3 como sempre, e fazendo a mesma cara de tédio. Andei rápido até ela e me sentei lá.

- Kyoko, precisamos conversar. – Ela vagarosamente levantou os olhos de seus desenhos e me encarou, com certa decepção ao ver quem era.

- Ah... é só você. – Falou, tirando os fones de ouvido. – O que quer? Reclamar sobre os treinos. Fique tranqüilo, não é o primeiro a-

- Kyoko, somos namorados não somos?

- Bem... – Ela parou um pouco, parecendo pensar em algo, decidir algo – Na teoria sim.

- Então por que não seguimos a teoria?

- Como assim?

- Namorados têm igualdade nas decisões, saem juntos durante a semana e não humilham em público um ao outro! – Falei em um grito sussurrado, me aproximando um pouco mais para que ela pudesse ouvir perfeitamente. – E já estou cansado de ser humilhado por você em qualquer momento!

- Sinto muito, mas é assim que o mundo gira.

- Não, não é! Ok, fico um pouco feliz que você tenha entrado nessa farsa para salvar minha integridade, minha honra por...

- Ter sido traído e chutado.

- Por tudo o que aconteceu, mas a integridade e honra que eu supostamente deveria proteger está sendo destruída! – Pestanejei, demonstrando um pouco de raiva. Ela fazia cara de surpresa, o que me dava mais coragem para continuar falando. – Não sei por que entrou nessa, não te dei motivo algum pra isso, mas entrou. E eu não vou deixar que você jogue como quer! Impôs regras, e eu também imponho!

Ela parou por um momento e ficou me encarando, calada. Estava quase subindo em cima da mesa e algumas pessoas no refeitório já percebiam que estávamos começando a brigar. Mesmo que eu acho que este é o fim de uma briga.

- Sente-se. – Ela falou de repente, voltando a comer. Só quando me sentei voltou a falar – Em partes fico feliz que você tenha tomado tanta coragem para me encarar, de uma vez, dessa maneira, no momento em que estou como sua treinadora. – Hugh, ela tinha razão.

- Chega a hora na vida de um homem que ele precisa encarar a morte, Kyoko-chan.

- E depois de uma década, alguma frase que preste. Fico feliz que saiba com quem, ou o quê, esta lidando, Matsuda-kun. – Rebateu, mas eu não demonstrei surpresa, hesitação ou qualquer outra coisa. Continuei a encarando. – Quais seriam suas imposições? Se forem aceitáveis, posso pensar no caso.

- Não me chame de imbecil em público. Namorados não se xingam desse jeito.

- Posso tentar.

- Se não passar o almoço comigo, vai ter que voltar pra casa comigo. O público alvo da nossa peça são os estudantes daqui e as pessoas da alta sociedade. Se não atuarmos bem na frente deles, significa que tudo foi por nada.

- Apesar de não gostar da ideia, gostei da metáfora e sou obrigada a concordar.

- Vamos sair pelo menos duas vezes por semana-

- O qu-?

- Akira já esta sabendo sobre nosso suposto namoro, certo? Vai querer frustrá-lo ainda mais e deixá-lo pensando que ainda está escondendo mais coisas? – Não gostava, mas tinha que jogar sujo nessa situação. E havia funcionado, pois ela logo baixou os olhos um pouco pensativa – Se precisar de uma desculpa sobre nosso namoro, diga que começamos a sair muito recentemente, e que tanto você quanto eu estávamos temerosos sobre a maneira de contar isso a ele.

- Acha que Akira é burro? Ele não acreditaria nisso!

- Burro realmente não é, mas o Kaoru-kun sempre foi sincero com ele, ele confia em mim. Quem esta perdendo a confiança dele é você! – Ela se assustou com o que disse, e eu me animei um pouco. Estava mostrando que também sabia jogar no primeiro controle!³

- Seu... Certo! Mas não pense que isso não terá volta. A vingança é um prato que como morno, nunca quente nem frio.

- Obrigado pelo aviso.

- Mas eu decido pra onde vamos, quando vamos, e você paga todas as contas!

- De acordo. Mas para as festas, eu escolho o vestido.

- Arata escolhe o vestido.

- Certo, ele é mesmo melhor pra essas coisas. – Concordei. Nem sei por que sugeri isso, sair pra comprar roupa com mulher sempre foi um tormento. Voltei a encará-la. – Vou te chamar de Kyoko-chan a partir de agora.

- Mas-

- E teremos um relacionamento mútuo, Kyoko-chan. Você não é mais quem controla a situação, o reinado aqui é em par.

Ela me encarou como se quisesse jogar seu obento ou alguma cadeira em mim, mas logo aceitou. De mal grado, mas aceitou, e isso é o que importa.

--- / / ---

- Disse mesmo isso pra ela?

- Disse! Acha que sou de mentir sobre isso, Arata?

Estávamos eu e Arata no meu quarto, jogando um pouco de videogame e conversando, como fazíamos na maioria das vezes.

- Quando se trata de você, Kaoru, é meio difícil saber. Esta sempre mentindo pra se vangloria.

- Estou falando da Kyoko, e não de uma garota qualquer. Quando falei do irmão dela, o Akira, ela já prometeu vingança, acha que eu faria algo mais pra irritá-la? Ela já ta como minha treinadora pro Undokai, e eu tô ferrado porque tenho certeza que ela vai descontar tudo nos treinos!

- Não entendo o porquê disso, Kaoru. A relação de vocês é tão linda e adorável.

- Tão quanto a com meu pai, eu sei! Mas a viagem tá aí, e eu já consegui estabilizar um pouco as coisas entre a gente então acho que tá um pouco melhor que antes.

- Menos mal.

- Menos mal. O que me lembra, falei pra ela que você ia vir aqui em casa ontem e ela me pediu pra te passar um recado.

- Diga.

- Quer você no Undokai e no shopping quando ela for pegar o prêmio.

- Kyoko-chan é tão confiante.

- No lugar dela eu também seria. Ameaçou de morte toda a classe caso perdêssemos. Disse que não podíamos depender dos inúteis dos outros líderes, por isso tínhamos que conseguir a maior pontuação possível nas modalidades interclasses. 

- Sei...

- E a Momo, Arata? Tem a visto?

- Momo? Tenho sim. Ás vezes cabulo algumas aulas pra ir até a escola dela visitá-la e ficar algumas horas com ela.

- Ela ainda tá com problemas na escola?

- Sim. Por isso tenho ido vê-la na escola. E uma de suas senseis, a única que realmente se importa com ela, tem me deixado vê-la por isso. – Enquanto falava, segurava o controle com força e quase socava os botões. Momo era o único assunto que o alterava, principalmente desde que saiu de casa – Aquelas pequenas víboras que estudam com a Momo tem a intimidado cada vez mais desde que ganhou aquele concurso de ciências. E segundo a sensei dela, parece que Momo está hesitante quanto à sua inteligência. Não responde as perguntas da professora durante a aula e tirou 90 nos últimos testes.

- 90? Ela errou de propósito?

- Parece que sim. E meus pais não estão ligando pra isso. Quando a professora os chamou pra uma reunião, não foram, alegando que Momo não precisava de auxílio na escola. – A partida acabou e ele largou o controle. Estava realmente preocupado. – Então ela tem conversado comigo, e sendo a nova professora responsável pela sala, tem deixado que eu fique com ela durante algumas horas, fora da sala.

- Isso te aliviou, certo?

- Claro. Momo é nova demais pra passar por isso, tem 7 anos, pode ficar traumatizada. Não está preparada pra ficar sozinha por ser um pouco diferente das outras crianças. E no mundo que ela está vivendo, isso vai acontecer pra sempre.

- É... é muito difícil fazer amigos durante a adolescência ou vida adulta.

--- / / ---

Ela estava na frente da sala, nos encarando e já calada há alguns minutos. Graças a isso, o ar tenso já estava nos ombros de toda classe, e às 8h da manhã.

- Esgrima: Matsuda e Inori. Tênis de Mesa: Komaki. Xadrez: Haruo. Karatê: Jiro e Maki. Kendô: Haruo e Amane. Judô: Inori e Kennichi. Natação: Chiharu, Matsuda, Masumi e Jiro. PaintBall: Asami, Hirano, Shoutaro, Kaname, Sazaki, Yuki e Yuuto. – Ela ditou os nomes, olhando para o mesmo maço de folhas que havia nos entregue alguns dias atrás – Todas essas 17 pessoas irão competir hoje, e alguns sortudos competirão duas vezes. Os dias de hoje e amanhã decidirão o destino de vocês. Decidirão se receberão seqüelas corporais na segunda feira, e alguns com sorte na terça, ou se poderão contar orgulhosos aos seus netos que um dia venceram o Undokai da Campbell Gakuen.

“Dêem sua alma hoje, ou podem se arrepender já que talvez ela perca o uso em alguns dias. Amanhã eu direi a mesma coisa para o resto da sala, mas hoje estou dizendo diretamente pra vocês. Eu quero vencer, porque eu quero o premio. Porque o quero ou o que vou fazer com ele não interessa, eu só quero o premio. E sei que vocês também querem.”

“E vocês vão sair desta sala agora, não para ficarem felizes com um segundo ou terceiro lugar. Vocês só vão ficar felizes e relaxados quando conseguirem o primeiro lugar! E pro resto da sala que só está aqui por que eu mandei. Quero todos torcendo, gritando e berrando por seja lá quem estiver competindo, e só vão parar se disserem que isso vai tirar pontos da nossa turma.”

- E o que vai ficar fazendo, Nakamura-san?

- Selecionei ontem todos os que irão para a Caça a Tesouro e a Maratona Intelectual comigo – Que seriam: na Caça ao Tesouro, ela e o Jiro. E na Maratona Intelectual: eu e a Kyoko, na categoria geral; Asame e Miyuki, no cinema e Maki e Haruo, na categoria músicas – E o diretor me mandou ajudá-lo a organizar algumas coisas para a Caça ao Tesouro, então preciso ir.

“E só mais uma coisa: Vençam!”

Seja lá o que Kyoko queria, ela estava realmente empenhada. Chegava a estar obsessiva.

__________________________________________________________

¹- Amorzinho: Nesse casso, o sufixo –chan é usado também como diminutivo, por exemplo, sou a “Luh-chan”, aportuguesando isso, seria a “Luhzinha”. Quando a Tokugana o chama de “Ama-chan”, poderia estar chamando-o de “amorzinho” ou “amadinho”. Eu que criei isso! 8D

²- Novel: Para os que suponho serem poucos que não sabem, Novel é um livro, leitura muito comum entre todas as idades no Japão. Os mais famosos costumam virar manga e anime. Alguns Novels famosos: Suzumiya Haruhi no Yuutsu, ToraDora, Higurashi no Naku Koro Ni, Battle Royalle(cujo manga já foi publica no Brasil, se gostam de sangue e violência, leiam! Mas recomendo todos os citados! 8D).

³- Primeiro Controle: Pra quem não entendeu, o que acho que foi pouca gente, fiz uma leve referencia aos videogames, onde o primeiro controle é o que arruma as configurações do jogo. Maus, ridículo eu sei, mas ando jogando muito vídeo-game com minha melhor amiga –‘


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Notas finais do capítulo

Bem, aqui está mais um cap de KNAS! 8D Finalmente, o Kaoru resolveu tomar partido!

Esperamos q tenham gostado! E se, merecermos, esperamos ou reviews... e/ou chocolates... eu tô com vontade de comer bolo de cenoura com cobertura de chocolate há uma década, então, n me importaria de ganhar alguns u-u

Bem, bolos a parte, obrigada por lerem!

Camihii