Delilah Winterbell, o Fogo da Morte escrita por Marjyh


Capítulo 1
O Por-do-Sol de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Delilah Winterbell é uma personagem original que criei. n_n
Eu estou trabalhando em desenhos melhores para ela, mas... Por favor, conheça a história dela. c:>

Boa leitura.



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Era um dia normal. O sol estava super quente, meio-dia, o céu completamente limpo. Muito longe, mas ainda perto o suficiente para ser visto, a torre da capital de Arquimidia, Calnat, se erguia imponente sobre suas muralhas altas. Uma brisa suave arrastou o cheiro do sangue e da poeira do campo de batalha, mais perto da fazenda da sua família do que gostaria.

Olhando no exato lado oposto da capital, estava um campo devastado, logo abaixo das colinas onde estava alojado o acampamento de defesa da linha de frente do Exercito de Calnat. A garota bufou, ainda relembrando que não conseguia entender como seus pais conseguiram concordar em colocar tamanho risco sobre a vida deles. “Não se preocupe, Delilah!” Eles lhe disseram “Aposto que em três meses aqueles asmodianos fedidos já vão fugir com os rabos entre as pernas!” eles lhe disseram.

- Que papo furado... – A garota bufou, ajeitando uma madeixa loira atrás da orelha.

Já estava quase se completando um ano desde que aquela guerra começou. Aquele era o dia do seu aniversário de 16 anos, e ela iria passá-lo junto com um bando de brutamontes ou cuidando dos feridos de guerra. Não que estivesse completamente contra aquilo; gostava das histórias dos homens e gostava de aprender de como tratar ferimentos. Mas, definitivamente aquele mundo... Não era para ela. Sangue e violência para todos os lados, sem contar as olhadelas incomodas que alguns lhe lançavam.

- Matando trabalho, baixinha?

Delilah deu um pulo e se virou na direção da voz, com os punhos fechados e as pernas afastadas, mas se deparou com a feição tranqüila e descontraída de um soldado de cabelos escuros e olhos de igual cor. Ele colocou as mãos na frente do corpo, debochando.

- Oh, nossa, que assustadora!

- Maldito--... Você é quem deveria estar fazendo seu trabalho na linha de frente, Ercnard!

Sem pensar duas vezes, Delilah atirou uma toalha completamente encharcada na cara do soldado, e está parou pendurada na cabeça do homem. Um sorriso despontou nos lábios da loira, que cruzou os braços enquanto via Ercnard tirar a toalha da cabeça e apertar no punho, completamente encharcado.

-... Hah... – Ele murmurou, dando um sorriso nervoso, mas logo ficou com uma feição irritada, gritando. – Eu fico arriscando minha vida na linha de frente, protegendo sua fazenda, e é assim que você me agradece?!

Delilah simplesmente mostrou a língua. Um nervo saltou na testa do soldado.

- Sua...

Ercnard começou a andar na direção de Delilah, que continuou parada no meu lugar, o balde cheio de água e toalhas aos seus pés, encarando-o em seus olhos negros.

- Você não me dá medo, Ercnard. – Ela disse, dando um sorriso preponderante.

- Deveria ter medo, eu poderia te esmagar facilmente. – Ele ameaçou, segurando o cabo da enorme espada dupla, Soluna, em suas costas.

- Você não iria. – Ela continuou, com uma feição séria agora. – E mesmo se fosse... Sua noiva ta encarando aqui diretamente.

-... Que.

Delilah apontou para logo atrás do rapaz, e quando ele se virou, viu uma mulher de cabelos loiros e olhos amarelados olhando para eles. Parecia uma versão mais velha e mais alta da Delilah, um pouco mais esguia, na realidade, com o cabelo longo preso num rabo de cavalo. Ela estava de braços cruzados e emitia uma aura de pura fúria.

- A-Ah... Ro-Rose, não é...

- Quantas... Vezes... Eu já te falei... Para não mexer com a Delilah?! – Rose gritou, avançando contra o soldado de cabelos escuros.

A última coisa que Ercnard viu antes de ser arrastado e ficar quase surdo com os gritos de Rose, foi o sorriso quase diabólico da baixinha loira as costas dele.

-x-

Depois disso, o dia passou como sempre. Delilah fez as tarefas comuns e mais leves primeiro, lavar a roupa, estender, dar comida aos cães e a lavagem aos animais. Depois do almoço, era o horário que ela se dirigia para as barracas do acampamento do exercito. Seu pai nos últimos tempos passava quase o dia inteiro lá, com exceção das vezes que tinha que trabalhar na plantação. Rose era sua impetuosa – e, diga-se de passagem, forte – irmã mais velha. Delilah nunca realmente entendeu o que sua irmã poderia ter visto naquele idiota, imbecil e arrogante do Ercnard, mas aquilo não era algo que ela deveria opinar.

Até por que, sua mãe costumava dizer que às vezes o destino é mais sábio do que parece ser injusto. Talvez fosse irônico lembrar que ela veio a falecer de uma doença que vinha devastando diversas pessoas. Alguns diziam que aquilo era um mal que os asmodianos trouxeram com eles e que se espalhava pelo ar, enquanto outros diziam que, apesar de ter relação com os asmodianos, era uma doença na própria alma da pessoa.

De todas as maneiras, era graças a esse pequeno, mas intenso, desejo de vingança que Delilah ajudava tão dedicadamente ao acampamento, tentando sempre saber se estavam tendo algum avanço no campo contra os asmodianos. Mas os meses se passaram e a situação pareceu ficar tão desesperadora ao ponto de aceitarem a ajuda de um asmodiano.

Dio, ao que parece, era esse seu nome. Até onde sabia, ele estava na barraca principal, não mais do que quatro metros do estábulo improvisado que montaram para os cavalos de guerra, onde ela estava naquele momento, alimentando os cavalos. Ela parou por um momento, enxugando o suor da sua testa e olhou de canto para a tenda, a tempo de ver um rapaz alto, de cabelos roxos e um físico claramente trabalhado, usando roupas... Estranhas, para ela. Chifres saiam da sua cabeça e sua pele possuía um tom de roxo, suas orelhas eram um pouco pontudas.

Sem perceber, a garota chiou, e o asmodiano imediatamente olhou para ela. Por um momento que sua alma pareceu afundar, os dois se olharam diretamente, até ela enfim desviar o olhar, virando o rosto abruptamente, e no primeiro passo duro que foi dar, rolou para frente, tropeçando na bacia de comida dos cavalos.

Seu cabelo curto e loiro ficou cheio de palha, co alguma dificuldade se ajeitou, saindo da comida dos cavalos enquanto escutava o relinchar dos cavalos e seus olhos lacrimejavam, tanto pela dor da queda quanto da vergonha. Podia escutar alguns soldados perto dali rindo daquela cena. Malditos..!

- Ei, você está bem?

Ela se virou, estranhando a voz e vendo o asmodiano de cabelo roxo de antes, lhe estendendo a mão para ajudá-la a se levantar. Delilah ficou parada por alguns instantes, apertando o vestido surrado, os risos pararam pelo menos. Ela mordeu o lábio inferior e abaixou a cabeça, desviando o olhar para o lado e segurou a mão dele para se levantar.

- E-Eu não precisava da sua ajuda. – Ela respondeu depois que ficou de pé.

- Claro que não. – O asmodiano simplesmente cruzou os braços na frente dela, com um semblante completamente indiferente.

Delilah apertou de volta a saia do vestido e se virou, saindo da bacia e pisando duro enquanto se afastava.

Dio, o asmodiano, deu um sorrisinho. Ela o fez lembrar dela.

No entanto, Delilah não deu nem dez passos direito quando um batedor passou correndo por ela, segurando seu braço ferido. Mesmo que tivesse ajudado a tratar dos ferimentos dos soldados, era a primeira vez que via um ferimento tão recente e sério na sua frente. O homem segurava seu braço que era mantido apenas por um fio de pele, o restante parecia ter sido arrancado por ferozes garras.

- Ataque! Asmodianos! Estamos sendo atacados!!

Delilah se encolheu contra o palanque de uma barraca, olhando da direção que o homem veio correndo. Uma foice havia aparecido literalmente do nada nas mãos do asmodiano Dio, e os soldados humanos estavam se preparando para o combate. Não muito longe, criaturas que pareciam lobos humanóides vinham correndo em quatro patas, e logo atrás deles vinha um... Garoto? Ele flutuava no ar e tinha cabelos roxos, mas sua pele era de um tom humano... Mas, aqueles olhos... Delilah se sentiu ameaçada só de olha-los.

Precisava sair dali. Agora.

A garota se virou, se preparando para correr, levantando a saia um pouco para facilitar sua corrida, mas parou, olhando para os cavalos, agitados e presos. Não podia...

Deu uma breve olhada mais a frente, vendo que aquelas criaturas-lobo foram contidas por um muro de escudos, e vendo a chance, Delilah correu para soltar os cavalos. Havia terminado de soltar o primeiro e vê-lo correr, quando viu o asmodiano Dio se virando para ela, em choque.

- O que você está fazendo aqui?! Saia!

- Não! Não posso ainda! – E partiu para o segundo. Faltava só mais um.

- Deixe os animais!

- Não vou deixá-los virar comida de asmodiano!

Dio se preparou para mandá-la correr mais uma vez, quando uma daquelas criaturas-lobo pulou contra ele. O asmodiano segurou as garras com o cabo da foice e a girou seu corpo junto com a arma, jogando a criatura no ar e o cortando em seguida no meio do torso com a lâmina. Delilah terminou de soltar o segundo e ficou abismada por um instante, tremendo de medo ao ver tal cena. O asmodiano a olhou um tanto quanto friamente e caminhou em sua direção, com a lâmina da arma ainda pingando sangue quente.

A garota se sentiu cada vez menor diante do homem, que parecia ficar cada vez maior quanto chegava mais perto, até parar na frente dela, apenas com o palanque que prendia o terceiro cavalo entre eles e movimentou sua foice.

Delilah se encolheu instintivamente, mas não sentiu seu sangue escorrer. O cavalo relinchou e quando abriu os olhos novamente, viu que a corda que prendia o animal havia sido cortada e este já corria para longe. Dio tinha virado de costas para ela e voltava para o caminho. Se não fosse pela situação, certamente ela teria caído ali mesmo. Suas pernas estavam bambas.

O asmodiano parecia pronto para sair correndo para o campo de batalha, quando parou subitamente e olhou para ela novamente. Mas, dessa vez seu olhar foi terrível. A garota foi ao chão. Ele parecia furioso, raivoso.

- Ora, ora, que olhar mais assustador. – Delilah escutou uma voz um tanto infantil e masculina atrás dela, falando bem do lado do seu ouvido, lhe dando um arrepio.

Ela virou o rosto, assustada, e viu aquela figura que antes estava atrás das criaturas-lobo. Mas como ele foi parar ali sem nenhum dos soldados notarem? Ele sorriu para a garota.

- Oi!

- Que-Quem... – Ela balbuciou, tremendo de medo.

Delilah podia sentir uma aura destruidora saindo do garoto de olhos dourados atrás dela, ele estava de pernas cruzadas no ar, apoiando a cabeça com a mão enquanto sorria despreocupadamente para a loira. Mas, Dio parecia completamente o oposto de descontraído.

- Saia de perto dela... – O asmodiano aparentemente mais velho rosnou, apertando a foice em suas mãos.

O garoto bufou, ajeitando a postura e erguendo a mão esquerda, onde flutuava uma espécie de... Cubo roxo muito escuro com gemas avermelhadas em cada lado, girando.

- Vê se pode Deus, esse verme acha que pode mandar em mim. – O garoto deu um sorriso verdadeiramente diabólico, olhando para Dio com o canto do olho. – Essa insolência vai custar caro.

- Saia de perto dela agora, Veigas!

O garoto riu, erguendo a mão esquerda. Uma aura mais forte começou a ser emitida do cubo.

- Desapareça!

Quando a mão do garoto foi descer, uma perna apareceu do nada contra a cara do garoto, literalmente uma voadora rasante que fez com que o garoto voasse na direção oposta da direção que veio o chute. O garoto rolou para o lado, derrubando o cubo, que pareceu emitir uma espécie de alerta.

Ercnard caiu logo atrás de Delilah, se levantando imediatamente. Pela primeira vez, ela estava feliz em ver ele.

- Você virou suicida por acaso?! – O soldado pensou duas vezes em dar um sermão quando viu os olhos chorosos da garota. – Err, vamos, anda logo!

E a puxou pelo braço, forçando-a a ficar de pé e quase a saiu arrastando. Delilah se levantou desajeitada, olhando para trás para ver o garoto se levantar com a mão no rosto, em completa e absoluta fúria.

- Eu não terminei com você! – Ele gritou, pareceu desaparecer pouco antes da foice do Dio cortar o ar.

Delilah engoliu em seco.

A dupla saiu correndo das barracas, parando nas colinas pouco antes da árvore onde haviam discutido mais cedo, onde ela jogou uma toalha molhada na cara do seu, agora, salvador. A garota caiu no chão imediatamente, ofegando. Suas mãos não paravam de tremer e o que aquele garoto havia gritado ainda ecoava em sua mente. Ela engoliu em seco.

Veigas. Era esse o nome dele?

- Você... Está bem? – Ercnard perguntou depois de recuperar um pouco do fôlego, se apoiando nos joelhos.

Delilah acenou com a cabeça. Ele deu um sorriso de canto.

- Que bom, sua irmã iria me matar se--... – Ele parou assim que viu os olhos da loira se enchendo de lágrimas de volta. – Errr...

O soldado olhou para o lado, coçando a nuca com uma das mãos e se abaixou, passando a mão no alto da cabeça dela. Delilah avermelhou, um tanto em choque com o carinho repentino e olhou para Sieghart, boquiaberta.

- Vou ter que deixar aqui, Delilah. – Ele disse, dando um sorriso. – Vai ficar bem sozinha, certo?

-... Si... Sim. – Ela forçou um sorriso, apertando a saia do vestido para tentar fazer parar as mãos de tremer.

Ercnard acenou com a cabeça e ficou sério, se levantando e sacando a Soluna, partindo para as barracas logo em seguida, deixando Delilah para trás.

A loira se levantou ofegante e lentamente recobrando os sentidos. Fui tudo tão... Rápido. Era difícil estar ali, agora, e pensar que pouco antes estava prestes a morrer. Não pôde conter um pequeno sorriso, como um surto depois do momento tão intenso que passou. Talvez sua sanidade cedesse por um instante, apenas um. Mas, considerando o que passou, talvez fosse aceitável ou pelo menos compreensível.

A garota começou a andar em direção da árvore e viu um corpo mais a frente, no chão. Congelou por um instante. Sentiu sua boca ficar seca enquanto suas pernas se moviam sozinhas em direção do corpo. Os cabelos loiros estavam soltos, alguns fios jogados para os lados, não muito longe do corpo, que estava cheio de cortes. O vestido surrado manchado de sangue.

Delilah caiu mais uma vez, com lágrimas enfim escorrendo pelo seu rosto. Sua sanidade esvaindo mais uma vez, lembrando do sorriso dela.

- Irmã...

Uma sombra se projetou acima do corpo de Rose, atraindo o olhar de Delilah, que viu sua casa em chamas logo atrás daquela sombra que flutuava no ar, com um cubo flutuando na mão esquerda. O sorriso diabólico se projetava mesmo com o sol no poente logo atrás dele, pintando o céu de vermelho. Vermelho sangue.

- Achei~ - A voz do garoto disse, dando um risinho ansioso.

O rapaz ficou ereto pela primeira vez, mesmo que ainda não tocasse o chão.

- É ela, não é Deus?

- Sim. Delilah Winterbell, humana. Órfã. Sangue--... – Uma voz saiu mecanizada saiu do cubo, fazendo um arrepio passar pelo corpo da garota.

- Não me interessa mais nada sobre ela, não me importa seu nome também. – O garoto cuspiu essas palavras de um jeito mimado, olhando irritado para o cubo. – Eu vou destroçá-la de qualquer maneira.

O garoto começou a se aproximar lentamente da loira, parando de frente a ela, com um sorriso de puro prazer em seus lábios. Um prazer maligno.

- Por quê? – Ela murmurou.

- Não tem por que alguém tão inferior como você saber. – Ele respondeu, jogando o cubo para frente. – Não que seja muito difícil entender que você apenas tem que morrer.

O cubo se dissolveu na luz arroxeada que o envolvia, avançando para frente como se fosse apenas um raio de luz que parecia cortá-la cada vez mais fundo e cada vez mais rápido. Seu sangue caiu no chão, se misturando com o de sua falecida irmã. Quando a luz arroxeada parou de cortá-la, o cubo apareceu de volta na mão do garoto, coberto de seu sangue. Delilah caiu para trás, ofegando. Sua visão estava turva, sentia-se cansada e com dor por todo seu corpo.

O garoto deu um risinho.

- Ela é mais resistente do que eu imaginava! Ahahahaha! Que divertido! – Ele apontou o cubo mais uma vez para ela. – Agora morra.

O cubo pareceu disparar uma energia, ofuscando sua visão completamente. Mas a luz intensa logo se tornou na mais completa escuridão.


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