–Tem um minuto, senhor Adams?

–Ah, claro, claro. Senhorita... Watson, não é mesmo?

Joan assentiu com a cabeça, sentando-se na cadeira que lhe fora indicada. Harry Adams fechou a porta da sala, caminhando a passos lentos até a mesa de mogno entalhado.

–Algum progresso com o caso de Sofia?

–Não muito, para ser sincera. – ela suspirou – Mas descobrimos algumas coisas interessantes, entretanto.

Harry mexeu-se desconfortavelmente na cadeira, não gostando do rumo daquela conversa.

–Pode repetir, por favor, como era sua relação com a senhorita Meirelles? Tem certeza de que você não era nada mais que seu benfeitor?

Os lábios crispados e o olhar baixo entregaram aquele esperto homem de negócios.

–Ninguém nega que o senhor foi bom para ela e que ajudou Sofia quando ela precisou. Mas precisamos saber se havia algo mais entre vocês.

–Por que haveria? – perguntou, sem encará-la.

Joan abriu a bolsa e de lá tirou alguns papéis dobrados. Abriu um a um sobre a mesa, lenta e cuidadosamente.

–Você não nos disse, por exemplo – disse com a voz calma – que depositava toda semana uma grande soma na conta de Sofia no banco.

Harry Adams deu uma risada nervosa, passando as mãos pelo cabelo ruivo.

–Você vai me achar um belo panaca quando ouvir o que fiz.

Joan se controlava para não sorrir.

Ele já tinha cara de panaca.

Harry suspirou e olhou para a detetive.

–Sofia trabalhava, na verdade, para mim. Ela era, digamos, minha espiã na empresa de Mark, mantendo-me informado de tudo o que acontecia.

–Eu... não entendo. Você e o senhor Dennis são sócios, não?

–Somos, mas Mark queria desfazer a sociedade porque pensava que estava sendo prejudicial para ele. E já foi comprovado que este mundo é regido pela máxima de Darwin: ‘‘Os mais adaptados sobrevivem. ’’ Ainda vivemos em uma selva de pedra, detetive Watson.

Tudo bem, Joan tinha que admitir. Ele era um panaca.

Harry Adams sorriu ironicamente ao dizer:

–Não sou um assassino, senhorita Watson. Sou só um idiota.