On Our Way, I Found You escrita por Fuyu


Capítulo 4
Chapter 4 - The New Girl


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas! Como estão?

Bem, vamos às anotações:

— Esse capítulo foi escrito para vocês, meus amores! Estou aqui lançando esse capítulo porque sei que estão esperando a muito tempo! Deem opiniões! O que estão achando? O que querem? Vamos, vamos!! Comentem!

— O próximo capítulo irá demorar mais um tempo, gente! Sinto muito mesmo, mas a escola tá exigindo muito do meu tempo que tá tudo bagunçado! Mas já digo que estamos na reta final! SIMMMM!

— Quero agradecer à Fuyu (charááááá) e a Anna Winchester PELAS RECOMENDAÇÕES! Nem acredito com apenas 3 capítulos, eu já tenha recomendações! MUITO OBRIGADA, AMORES! Não tenho palavras para dizer o quanto fico feliz com esse gesto de vocês! Eles me motivam ainda mais a escrever!

— E obrigada por TODOS os comentários, galeura! Já somos um time! Tudo que vocês dizem me deixam muito mais alegre e muito mais animada para escrever! Obrigada!!

Bem, é isso!

Aproveitem!



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Certas coisas podem ser consideradas bizarras na vida de alguém. E, há dias em que o destino exagera na dose de bizarrices de maneira misteriosa. Aquele dia, por exemplo, era um dia bizarro muito bem feito e com recheio em cima.

Todos sabemos que aquela terça-feira tivera um começo na medida do aceitável. Passando para a metade, ficara bem mais do que o que eu chamaria de aceitável. Era perfeito.

Só que a vida acaba com tudo depois, como sempre.

Após minha tentativa amigável de terminar meu não-namoro com Lisanna, concluí que algumas pessoas não gostam muito de levar um fora, considerando o tanto que ela gritou e ameaçou naquela tarde.

Intrigas adolescentes eram um saco.

A melhorparte do dia foi quando meu mentor — yeah, eu preciso de um. Dezessete anos aqui, lembram? Não sou um gênio completo — me ligou avisando sobre uma reunião de última hora na empresa, e isso você pode ler na completa ironia.Naquele dia em especial, meu day-off, não queria pisar na empresa. Eu estava cansando, logicamente com certo grau de sonolência, e digamos que não faria um trabalho muito bem feito com sono. E eu gosto de trabalhos bem feitos.

Porém, não se pode ignorar uma ordem direta do seu pai.

Se você for inteligente o bastante irá ler nas entrelinhas que o meu mentor na verdade é Igneel Dragneel, fundador da Dragneel’s, ou seja, meu pai.

Então, em minha ida à empresa após o término do infer... escola, eu estava com fome. Com tanta fome que havia a possibilidade de eu ter algum tipo de problema no organismo por falta de comida.

Não duvide do meu corpo, ele tem suas próprias regras.

Passei na Wendy’s, mas particularmente, preferia qualquer outra coisa — McDonald’sserviria —, mas foi o que encontrei no caminho, então pensei que o mais prudente seria não arriscar outro lugar.

Só havia um problema.

Eu havia estacionado na vaga para deficientes físicos.

Isso não foi legal.

Nem ético.

E por isso que meu carro foi guinchado.

Pelo que eu ouvi, um velho cadeirante me viu estacionando e coincidentemente notou que, na verdade, eu não tinha nenhuma deficiência visível e mandou guincharem minha Bugatti.

Mas eu estava, sim, deficiente! Não fisicamente, claro. Era algo interno, mais ou menos na região do meu estômago, porque a fome de um Dragneel não pode ser controlada. Suponho que se eu não estacionasse em algum lugar lá, eu teria algum tipo de síncope.

Sem brincadeira, dude!

Porém, o país não te ajuda em momentos de crise, então tive que literalmente sair correndo atrás do guincho, não conseguindo encontrá-lo, por isso me vi obrigado a ligar para os seguranças do meu pai par descobrirem o paradeiro do meu bebê. Além disso, o coroa não gosta de perder os carros por aí. Apenas nos jogos de pôquer.

Acabou que as únicas alternativas restantes eram pegar um ônibus — oi? —, achar um táxi — Uberem cidades grandes demora demais, man! —, procurar a estação de metrô ou ir correndo até a empresa.

Eu escolhi correr.

Já pode me chamar de doente.

Antes dos xingamentos, sejamos sinceros: eu sei correr muito rápido porque participei de vários times de todo tipo de esporte em toda minha infância. Eu não sabia andar de ônibus por mera ignorância e táxi era um pouquinho complicado de encontrar numa rua movimentada.

Só que, com todas as certezas mundiais, budistas, hindus e universais, eu esperava tudo menos trombar com a garota nova.

Not good. Not good.

Claro que foi uma surpresa maravilhosamente boa. Mas, com certeza não o melhor timing.

Certo, eu derrubei os bolinhos da menina. Um meliante um tanto quanto excêntrico roubou a mochila dela e ela conseguiu dar um tipo de chilique muito bem controlado, mas... acredito que após as aulas daquele dia, fora comprovado que meu autocontrole — muito bem usufruído, obrigado — não estava em seus melhores momentos.

E estou convicto de que ela também achava isso.

Tudo bem que um babaca nato, tipo o Gray, fica em cima da garota que ele quer pegar. Isso é completamente normal em nossa linguagem masculina. Garoto vê garota. Garota vê garoto. Garoto quer garota. Garota quer garoto. Garoto se dá bem. Finish.

O problema é quando o garoto em questão quer a garota, mas tem a leve impressão de que se ficar muito tempo perto dela, uma coisa muito ruim poderá acontecer. Ao garoto, digo. É o que importa aqui, minha gente.

Não coloquem na cabeça de vocês que sou algum tipo de ateu com relacionamentos. Acredito que o namoro, em si, não seja algo especificamente ruim, é até saudável. Mas um homem deve saber quando seus princípios estão em risco. E Lucy era um risco que eu não queria tomar.

Come on!Ela era linda, esperta e com um temperamento admirável. Quem não iria querê-la?Huuuuum?

 Esse foi o prelúdio de vários romances clichês desastrosos. Só um aviso.

E, ao invés de agir conforme o que toda essa ladainha mental fala, eu estava seguindo a loira perigosamente linda em questão numa aventurazinha atrás de sua mochila que havia sido roubada por minha culpa, quando eu deveria estar em reunião, provavelmente bem séria para meu pai mandar uma mensagem, na empresa da família. A empresa que herdarei no futuro.

É, que linda terça-feira.

Bom, eu concordava com ela em um ponto: todos sabemos que não se deve derrubar os bolinhos de alguém, mesmo que acidentalmente.

Principalmente bolinhos de garotas atraentes.

E, man, eram bolinhos. Você deve respeitá-los. É a lei da vida, não sabiam?

— Posso te fazer uma pergunta?

Estávamos andando por pelo menos quinze minutos desde a bronca — deliciosamente convidativa, devo ressaltar — que ela me dera pelo incidente. Você pode até pensar que, já que sou eu, já deveríamos estar nos pegando, pois sempre que alguma garota bonita anda comigo sou um maníaco depravado, certo?

Errado.

Só para deixar claro, andávamos numa distância perfeitamente segura um do outro. Oh, sim. E eu nem encostava nela. Nenhum pouquinho. E não nos falávamos também. Só havia os sons dos carros e de pessoas ao redor.

Só isso.

Que tal começar a me respeitar?

Estava difícil. Vocês sabem.

Ahhhh, sabem, sim.

— Que é? — disse, sem me olhar.

Franzi o cenho.

Ela até podia ser linda, mas aquele humor era triste.

— Você veio do interior?

Ela me olhou com raiva.

Sabe aquela hora que você sabe que deve se distanciar do perigo pra proteger a masculinidade? Por isso, dei um passo para o lado.

— São Francisco parece interior para você?

Bom…

— Não, claro que não — Minha voz falhou como se eu estivesse rindo. Pigarreei —, nop.

Ela contraiu os lábios, resmungando baixinho,e então ficamos naquele silêncio perturbador novamente.

Eu definitivamente preferia estar em casa comendo pretzels.

Não me julguem por isso, okay? Eu sabia muito bemde que Lucy era atraente em vários sentidos e que havia vários pirralhos recém-saídos da escola olhando para ela enquanto caminhávamos; também tinha muita consciência de como sua pele parecia macia, e os lábios eram mais deliciosos e carnudos que eu já vira.

E sei que eu deveria estar ajoelhado na rua agradecendo a Deus por essa benção maravilhosa.

Mas sei também o quanto ficar perto de alguém — que realmente gostaria estar beijando naquele instante — sem falar absolutamente nada era absurdamente frustrante.

Era monótono.

Odeio monotonia.

— Então... — falei, tentando quebrar um pouco daquele gelo — Os bolinhos eram gostosos?

Ela me olhou com raiva, seu olhar me dizendo: “Você é idiota?”

— Sim — respondeu, virando a cabeça para um cara vestido de algum desses bichos da Disney tirando foto com algumas crianças.

— Sabia que fui eu quem sugeriu que eles fossem vendidos? — Dei meu sorriso charmoso.

Estreitou os olhos, deixando-os semicerrados.

— Tenho certeza que o seu favorito é o de coco. Todo mundo gosta desse — continuei.

Silêncio.

— Adivinhei?

E... Silêncio.

— Sim? Não? Não? Sim?

Silêncio de novo.

Segurei o riso, lambendo os lábios.

— Ah, então é o de morango.... — falei, fingindo tristeza — Bem, fazer o quê. Mas você já provou o de laranja? Com cobertura fica…

Ela me interrompeu.

— Natsu! Qual é o seu problema?! — perguntou, virando para mim, os olhos ardendo de raiva.

Oh, boy, eu amava aquilo.

— Meu? Nenhum. — Sua mandíbula apertou ainda mais. Sorri, satisfeito — E você? Está tudo bem? Quer água? Seu rosto está um pouco vermelho…

Ela bufou, claramente infeliz.

Sinceramente, não consegui evitar e cheguei mais perto dela. Sendo mais preciso, perto o suficiente para falar a centímetros do seu rosto. Lucy era uma garota linda. E eu sou um homem atraente, inteligente, experiente e muito bem colocado entre os mais populares da escola, mesmo nunca estando nela. Eu sei das coisas.

Sei sim.

Lucy franziu o cenho, parecendo extremamente irritada.

— Seu... — Antes de qualquer xingamento, tampei sua boca e a puxei para perto de uma loja de discos.

Ah, sim. EU havia enxergado o tal bandido. Ele estava saindo de uma loja que vendem donuts duros e com recheio ruim. Mas de onde estávamos, ele até parecia uma pessoa normal, caminhando tranquilamente, como se não tivesse a possibilidade de chamarmos a polícia e em poucos minutos ser abordado ali na calçada.

Por que até esses estranhos não desconfiam que os adolescentes também podem ser pessoas ruins?

Senti a tensão da loirinha enquanto olhávamos o cara. Ele estava um pouco mais nítido. Tinha um pacote branco em mãos, a mochila cinza nos ombros e um sorriso enorme.

Patético. Era apenas um marginalzinho amador.

Lucy, por outro lado, não estava seguindo minha tranquila linha de pensamento e aparentava se preparar para voar em cima do coitado em poucos segundos.

Segurei seu ombro com força, fazendo-a virar para mim.

— Quê? — quase rosnou, levementeirritada.

— Sem imprudências. A coisa aqui pode ser séria — falei, tentando soar um pouco convicto em minhas palavras.

Ela olhou para o cara comendo o donut enquanto caminhava olhando para os lados e acenando o doce para um mendigo do outro lado da rua como se dissesse “Ah é, dude! Eu consegui, agora faça melhor!”. Ela virou de volta para mim, com o cenho franzido.

Olhei-o de volta e ponderei um instante.

— Vamos logo! — Me deu um tapa e em seguida saiu do nosso esconderijo.

— Ai! — exclamei, sorrindo enquanto alisava o meu braço.

Claro que eu a segui.

 

N&L

 

Ceeeeerto. Eu sabia que ser ladrão neste século — ou em qualquer século — poderia ser algo ruim para uma pessoa. Porque, claro, você nunca ficará rico. Apenas se houver alguns contatos com a máfia italiana. Mas digamos que eu não sabia que condições domésticas dos bandidos eram tão precárias daquele jeito.

Eu nem queria saber.

Seguimos o sujeito, que amorosamente apelidei de O cara do Donut, até um beco. Já havia escurecido igual aos filmes zoados de terror. Até dava para levar a sério se não houvesse todo tipo de lixo possível naquele lugar inóspito.

Cadê o saneamento básico, minha gente? Cadê?

Falando sério, o local tinha o cheiro mais horrível que já senti em toda a minha vida e eu conheço vários lugares fedidos para comparar.

Vocês por acaso já entraram no quarto do Gray?

Comecemos por aí.

Enquanto eu divagava, não tinha dúvida alguma de que Lucy pensava em mil e duas formas de arrancar o fígado do cara da maneira mais dolorosa possível. Considerando sua expressão, batia um medo das coisas que passavam naquela cachola.

O beco era muito mal iluminado — o que seria óbvio para qualquer bandido amador se instalar — e pouco escondido. Qualquer policial encontraria O cara do Donut em dois segundos, e pelo que parecia, nem havia onde se esconder. Nem preciso falar que ficava em uma rua movimentada, o que era ainda pior e completamente estúpido.

Eu o aconselharia a se misturar com aqueles carinhas traficantes de drogas. As bocas de fumo geralmente ficavam em lugares muito bem escondidos e até improváveis. O lugar perfeito para um bandido iniciante.

Viu? Sou um cara muito bacana.

O homem vasculhava a mochila de Lucy com tanto interesse, mexendo em tudo — principalmente na carteira, vamos combinar —, com um sorrisão no rosto me lembrando aqueles vilões patéticos dos desenhos.

Sem brincadeira! O sorriso dele era tão Coringa que parecia verdadeiramente agradecido a Deus por ter ganhado cem mil dólares, mesmo não sendo o caso.

Nosso novo esconderijo era apenas uma das paredes que compunha o beco, o que nos deixava de frente para rua com várias pessoas olhando como se fôssemos lunáticos. Era até compreensível, principalmente porque a expressão de Lucy não estava em seus melhores dias naquele instante.

“Tenho certeza de que ela dará uma voadora no bandidozinho em um minuto.”

Cutuquei-a no braço no braço e ela se virou com raiva.

Dei-lhe um olhar: Acalme-se, dude!

Ela me respondeu, também com o olhar: Vai se ferrar!

Por que nós, homens, sempre apanhamos fisicamente, verbalmente e olharmente das mulheres?

Revirei os olhos e mexi a cabeça indicando para irmos um pouco para o lado. Ela assentiu.

— Eu quero matá-lo.

“Isso eu já percebi, sweetie.”

— Ei, vamos acalmar os ânimos por aqui, okay? — falei, bem-humorado.

Ela estreitou os olhos, irritada.

— Como?! Ele está mexendo em tudo! Tudo! — Apontou para o beco — Vai saber quando ele lavou as mãos! E se elas estiverem sujas de maconha?! Crack?! Heroína! Ou... —Sério, eu tive que interromper.

— Antes de tudo — Me olhou —, quieta. — Ela emburrou a cara e abriu a boca para protestar — Agora. — Ela ficou em silêncio, ainda me olhando com raiva. Yeah, man! Silêncio era bom, silêncio era essencial — Vamos bolar alguma coisa.

Assim que terminei de falar, ela soltou um suspiro desanimado.

Certo, admito. Senti peninha.

— E agora, por favor, pode tirar essa cara de morta do rosto? — Lucy deu um sorriso fraco, hesitante, olhando para baixo — Ainda não. Você sabe fazer melhor do que isso. — Rolou os olhos abrindo a boca toda, num sorriso típico daquelas professoras de filmes antigos — Credo.— Ela deu um soco no meu braço.

— Por favor, pode calar a boca?

Abri a boca imitando seu sorriso assustador.

— Para com isso, Natsu! — Gargalhou.

— Certo, agora sim. — Sorri torto — Então? O que planeja?

Lucy me fitou com o cenho franzido e disse:

— Eu? E eu lá sei como se rouba um ladrão?

— Tecnicamente não estaremos roubando, apenas pegando de volta o que é seu, no caso.

— Ah, sério? — Sorriu sarcástica — Nem pensei nisso.

Retribuí o sorriso, arqueando a sobrancelha em desafio.

E, lógico, ela arqueou de volta.

Fez-se um silêncio de exatamente três segundos quando me veio à mente uma espécie de plano. Não exatamente um, mas um.

Peguei a sua mão e a levei de volta para nosso esconderijo original, detalhando tudo em minha mente. Eu não sabia se poderia dar certo, meu celular não vibrara ainda com algum tipo de mensagem ou ligação, e não dava para ficar adiando a paciência — finita, sublinhe isso — de Lucy.

Vida complicada essa, viu? Por isso eu não saio de casa.

— Vamos conversar com o cara — sussurrei.

Ela arregalou os olhos.

— Você é doido?! Ele pode ter uma arma, Natsu! — sussurrou de volta.

Mais contraditória impossível, hein?

— Você acha que o cara que roubou a mochila de uma garota sem ela ver, comprou sei lá quantos donuts numa lanchonete e mora num beco quase no centro da cidade onde qualquer, qualquerpolicial poderia ver, tem uma arma?

— Claro que sim! — disse toda convicta, colocando as mãos na cintura, olhando-me com reprovação.

— Você, por acaso, já assistiu algum filme de ação policial, ou algo assim? — Ela ponderou um instante e logo depois abaixou os olhos, pensando — Certo. Confie em mim.

A raiva voltou aos seus olhos como um raio.

Até deu um calafrio…

— Mas ainda sim, é perigoso! — berrou.

Tenho certeza que O cara do Donut ouviu. Certeza absoluta. Ele até pode ser um novato, mas esse povo aprende a ter o ouvido aguçado de uma forma ou de outra, e acharia estranho pessoas falando no "seu espaço". Também, se considerar o fato de que estávamos quase dentro do beco, e a garota doida ao meu lado não sabia controlar as emoções, acredito que não tinha como fugir.

— Quem está aí? — uma voz áspera perguntou no escuro.

Olhei para Lucy como se dissesse: “Você conseguiu, dude”, e andei um pouco mais para dentro do beco, ouvindo os passos dela atrás de mim. Só deu tempo de ver o vulto do cara, apontando um donut como se fosse alguma espécie de arma enquanto apertava algo branco em seu torso vigorosamente.

Juro do fundo do meu coração que tive que segurar o riso.

Notei que Lucy observava com atenção cada movimento do homem. Então eu deveria fazer alguma coisa para andar aquela situação restritamente bizarra.

Cutuquei-a, fazendo um gesto com a cabeça para me seguir mais para frente já que o cara ainda estava meio afastado.

E de novo surgiu outro sentimento em seu rosto. Só que dessa vez foi o pavor mesmo.

Ah, ninguém merece…

— Não, não, não — gesticulou com a boca sem emitir som.

— Sim, sim, sim! — imitei seu gesto, puxando sua mão.

Ela balançou a cabeça repetidamente.

Bufei.

— Quem? Quem é? Quem são vocês? — Acho que o cara estava com um pouco de medo, frisando que, agora mais nítido, ele segurava os donuts com força e a sua mão apontada para nós balançava como se estivesse tirando uma formiga dela.

Lucy continuava com o receio neon em seu rosto, o que já estava me tirando do sério. Não era ela a toda corajosa ali? Come on!

— Você quer a sua mochila ou não? — sussurrei. Ela me olhou, o medo dando espaço para uma nova expressão. Quando eu a vi assentir, sorri — Eu estou aqui com você. Confia em mim? — cochichei novamente. Ela apertou minha mão em resposta e um sentimento bom se instalou entre nós.

Virando novamente para o bandido-mirim, tive que segurar o riso novamente. Ele agora abraçava a sacola repleta de donuts coloridos, e um donut que parecia cor-de-rosa estava apontado para nós ainda. Porque, lógico, quem nunca se defendeu com um donut por aí? De morango ainda por cima!

Hey, pal!— Prestei atenção aos movimentos do homem, que agora rodava à espreita, feito um urubu. Notei que ele colocava um donut na boca — Viemos em paz — levantei minha mão direita como sinal de rendição, e ouvi Lucy bufar ao meu lado enquanto apertava minha mão livre de leve.

— O que querem? — disse, a voz abafada pelo tal do doce, cauteloso e ainda nos rodeando.

Seguinte, eu até tentaria levar aquilo tudo a sério, mas a situação já caminhava ao ridículo.

Tentem imaginar: o cara vestia um moletom com “I LOVE SANTA” escrito — algo meio estranho, afinal estávamos quase em fevereiro —, calças sujas de recheio colorido de donut e tinha uma expressão de malvado, tipo um doutor esquisitão de filmes antigos.

Além disso, havia todos aqueles donuts que estavam no pacote, e um apontado em nossa direção, já com uma mordida enorme no canto.

Pigarreei, pensando em como abordar a situação quando senti um tremor no bolso.

Dei um sorriso.

— Essa é uma boa pergunta, meu camarada — falei e o vi estreitar os olhos desconfiado — Acredito que você possa abaixar a sua arma. — Acenei para o donut, então ele o enfiou inteiro na boca e apontou outro, sem quebrar o contato visual.

Chicago, eu sei que você pode fazer melhor que isso.

Eu sei que pode.

— Não tenho maconha.

Levantei a sobrancelha.

— Somos apenas adolescentes, meu caro.

— Não tenho cerveja.

Pela visão periférica, vi Lucy segurar o riso.

— Tenho certeza que seus gostos para bebidas não são parecidos com os meus.

— Então, o que vieram fazer aqui?

— Tenho certeza de que podemos resolver isso como americanos civilizados. — Limpei a garganta — Tem algo com você que me pertence e eu quero de volta. Bom, não é exatamente meu, mas da minha garota aqui. Sabe, ela pode ser bem birrenta e distraída quando quer.

Eu simplesmente sabia que ela revirara os olhos.

Dei um sorrisinho.

— Eu não tenho nada aqui! — disse, excessivamente inquieto — Caiam fora! — gritou, sua mão tremendo ainda segurando o donut. Ah, cara, você poderia facilitar…

— Escuta aqui, mate— Sinto em dizer que não fui eu quem falou isso —, não viemos pegar seus donuts nojentos. Quero que devolva o que roubou de mim ou vai sofrer as consequências e tenho certeza que você não irá gostar!

Tudo bem, tudo bem. Ela estava irritada. O mais irritada que uma mulher poderia ficar numa situação como a nossa. Lucy não era idiota e muito menos paciente, claro que ela não ficaria lá, parada aguardando a boa vontade do sujeito. E eu realmente acredito que seu temperamento seja uma qualidade em vários momentos.

Menos naquele.

O cara do Donut apontou um de seus preciosos, agora na direção de Lucy — ainda com aquela mão doida tremendo — quando eu notei que ela se aproximava dele com uma expressão sanguinária. E foi só ela dar mais um passo que ele, quase à beira de um colapso nervoso, reagiu, jogando o donut que agora parecia de baunilha, bem na cara de Lucy.

Ah, meu Deus.

Aquilo foi uma afronta. Ela ia matar o cara.

Quer apostar?

— Você está me zoando?! — ela berrou.

— Para trás! — Só deu tempo de ver o cidadão enfiar dois donuts na boca, largar o saco cheio no chão e dar ré para pegar alguma coisa perto ou dentro de uma gosma verde esquisita.

“O que é essa gosma, man?!”

— Eu vou matar você! — Claro, só poderia ser a garota doida não percebendo que o cara poderia estar tirando algum tipo de objeto assassino de dentro daquela gosma suspeita!

Na real, aquela coisa era muito esquisita.

— Lucy, corre! — gritei, já me afastando.

Ela me olhou com raiva.

— Claro que não! O que você está dizendo?! — Cara, que mania de contrariar tudo, por que não escuta?

Estreitei meu olhar cauteloso e, admito, assustado, para ela que graças a Deus era perceptiva.

E, no segundo seguinte, corríamos pelas ruas o mais rápido possível, indo para bem longe do Cara do Donut.

Eu não vi o olhar das pessoas. Elas eram apenas vultos para mim. Talvez pensassem que fizemos alguma coisa de delinquente — porque na sociedade, adolescente é sinônimo de bandidagem —, mas eu não ligava. Ligava para nossas pernas se movendo em total sincronia.

Foi no mínimo... diferente. Simplesmente veio em mim uma sensação que eu só sentia em raros momentos. Aquele sentimento que você pode tudo, que nada é tão complicado, que qualquer coisa está a seu alcance, que a liberdade está bem à sua frente, que tudo é tão simples como andar para frente.

Comecei a gargalhar, uma onda de adrenalina correndo em minhas veias, ativando tudo dentro de mim. Fazendo-me correr ainda mais rápido, desafiando minhas pernas, desafiando meus limites até onde eu poderia ir, até onde eu alcançaria.

Ouvi uma gargalhada ao meu lado, e vi Lucy rindo da minha reação enquanto ficava um tanto atrás de mim, mas ainda sim conseguia manter meu ritmo. Acredito que ela tenha sentido a mesma sensação. Ela virou o rosto para mim também, e deu um sorriso. Suas bochechas coradas, os olhos brilhantes e o cabelo completamente desgrenhado. A coisa mais linda que já vi em toda a minha vida.Retribuí seu sorriso, ainda olhando em sua direção, quando eu tropecei em alguma coisa inesperada.

Ela parou, me analisou, vendo se eu estava mesmo bem, sorriu desafiadora e saiu correndo em direção à uma praça que estava bem na frente.

Então era uma competição.

Dei um sorriso e corri atrás dela, e em segundos consegui alcançá-la, logo passando na sua frente, fazendo um L com as mãos enquanto a olhava, zombeteiro. Seus olhos arderam com a provocação e correu mais rápido, o que me fez acelerar ainda mais os meus passos.

Corremos mais um pouco, um sempre alcançando o outro até que acabamos desistindo, afinal quem acabava ganhando era eu, mas que surpresa. Troteamos, então, por mais algum tempo, nos empurrando ou fazendo o outro tropeçar.

Ela ria o tempo todo, completamente solta e livre de toda aquela situação esquisita, e apenas se divertia como qualquer adolescente da nossa idade.

Eu simplesmente não queria que aquela noite acabasse tão cedo.

— Sinto muito pela sua mochila — falei, depois que nos sentarmos numa calçada, um pouco longe da praça onde havíamos praticado nossa maratona. Ambos ofegantes e cansados. Eu nem sentia minhas pernas. Mas valera totalmente a pena.

Totalmente.

Lucy me analisou um instante, a respiração desregular ainda insistindo. Mesmo assim, ela deu um sorriso doce e disse:

— Tudo bem. — Deu de ombros — Tirando o fato que terei de refazer meus documentos, não tinha nada lá que realmente importasse.

Fitei-a, desconfiado.

— Tem certeza? E aqueles seus resumos de aula e não sei mais o quê?

Ela sorriu, tímida.

Oh man, se ela continuar sorrindo assim…

— Os livros estão no armário e as provas já passaram. Tenho tempo — respondeu com a voz mansa.

Dei uma risada presunçosa.

— Bom... é um pouco ruim ouvir isso, honey.

Ela me olhou, confusa.

— Posso saber por quê? — Cruzou os braços.

Estiquei as pernas e virei a cabeça para olhá-la melhor.

— Só mostrando, loirinha — falei, divertido. Ela continuou sem entender até eu acenar com a cabeça para frente. Loki já saía do carro com sua mochila e, amém, minha Bugatti estacionada logo atrás de seu carro, completamente intacto — Valeu, dude! — exclamei, levantando-me para cumprimentá-lo

Ele jogou a mochila em cima de mim, a cara emburrada. Loki era um bebezão. Mando fazer coisas tão simples e fica todo choroso. Talvez ele tenha entrado em contato com a gosma verde, aí eu até consigo entender.

Mirei Lucy com seu cenho franzido, olhando tudo na total ignorância. Quando virou para mim e viu sua mochila, soltou um “Oh, man”baixinho.

— Sabe, eu acredito que mereço um aumento — Loki, o chefe de segurança mais zoado que existe, disse ajustando seu terno e óculos, arqueando uma sobrancelha em minha direção.

Levantei a cabeça para olhá-lo melhor e sorri.

— Desculpa, mate. Isso é com o chefe. Pede para ele bem sorridente, quem sabe?

Continuou me observando e depois bufou, ignorando-me e se dirigindo ao seu carro, resmungando algo sobre filhos estúpidos, velhos caquéticos e pastas de dente.

Voltei minha atenção para Lucy que continuava com a expressão confusa no rosto, olhando para frente.

— Você vai me explicar? — perguntou, ainda sem me olhar.

— Claro, mas antes — falei, esperando-a se virar para mim, e quando isso aconteceu, dei meu melhor sorriso, o que a fez corar lindamente. Coloquei a mochila nas costas, e estendi minha mão para ajudá-la —, que tal irmos naquele Cheescake Factoryque passamos há uns cinco minutos e te conto tudo que sua mente mirabolante quer saber?

N&L

 

— Bom dia, querido!

— Bom dia, Layla. — Sorri.

Ela retribuiu o gesto e deu espaço na porta para eu passar.

E sim, queridos e queridas, após o acidente — se é que podemos chamá-lo assim — com O cara do Donut, eu e Lucy nos aproximamos de uma forma meio espantosa. Bem, na verdade, eu me aproximei. Come on!Era uma questão de necessidade.

Mais ou menos.

Mas era.

Ficou muito comum acordar meia hora mais cedo do que meu horário regular para buscá-la e irmos ao colégio. Já faziam duas semanas, mas não tinha como esquecer dela, envergonhada e linda, dizendo que sua mãe era uma daquelas pessoas meio doidas da ecologia que não apoiavam a utilização de tantos veículos por aí, quando eu perguntei o porquê de ela não ter um carro. A conversa não foi uma das melhores, tanto pelo fato daquela garota ser extremamente teimosa. Ela se recusava a ir de ônibus alegando que estava traumatizada e dizia que iria começar a ir a pé ou de bicicleta para o colégio.

Lógico que não permiti. Sou um cavalheiro, senhoras. Vocês sabiam que o tráfico feminino está aumentando cada dia mais?

Acredito que se houvesse mais de mim pelo mundo, tudo seria muito melhor. Sou muito altruísta.

Mentira. Nunca conte com a minha ajuda para qualquer coisa.

O motivo real da minha repentina boa vontade surgiu apenas por um motivo:

Eu me viciei em Lucy Heartfilia.

Completamente.

E o pior é que me sinto ótimo admitindo isso.

Afinal, sejamos sinceros, eu não acredito em romance e toda essa bagaça. Não acredito que um cara, cuja a essência é podre, muda após encontrar a "garota certa". Não consigo e nunca quis entender a paixão ou o amor. Não sou filósofo. Tenho mais o que fazer da vida.

Por isso, nem sei dizer se o que sinto por ela é algum tipo de paixão ou algo parecido. Sentimentos são meu fraco. É, na verdade, todo fraco de um nerd ou de algum cara extremamente ocupado com a vida como eu. Então, me digam vocês: Estou ou não apaixonado por ela?

Esse termo ainda é um tanto assustador. É possível ter esses tipos de sentimentos em menos de um mês, afinal?

A única coisa que eu sei é que tudo nela me encanta. A sua inteligência, a teimosia, a doçura, a ironia, a aparência... absolutamente tudo.

O melhor é ela ter a capacidade de ser tão inocente a ponto de corar com um elogio simples, e ao mesmo tempo ser perspicaz e irônica nas horas mais certas possíveis. Além disso, nada consegue superar o fato de ter tanto senso de humor e inteligência o suficiente para entender tudo que eu falo sobre planilhas ou qualquer outro assunto que qualquer outra pessoa acharia "chato" ou "difícil de entender". Ela não. Ela tinha uma ânsia em saber, uma curiosidade própria que a deixava irresistível. Ela era perfeita. Em todos os níveis.

Além de tudo isso, têm várias manias dela que são incomparáveis. Ei, não me olhem assim, tá legal? Temos aula juntos e eu a levo para a escola todos os dias. Tenho tempo para analisar muito bem alguém que estou interessado.

Humpf.

Sempre quando Lucy pensa em alguma coisa que por acaso não seja de seu conhecimento, ela fica ansiosa. O nível de ansiedade nesses casos é tão alto que chega a ser assustador porque ela morde os dedos fortemente e franze tanto as sobrancelhas que elas tremem. Há casos que rói as unhas e não percebe, logo depois vê a unha já não mais tão presente em seu dedo, guarda a mão dentro do bolso do casaco e faz força para não tirá-la de lá.

Aí você pergunta o que eu acho de fascinante nesse tipo de coisa.

Bom, eu acredito muito nessas coisas de identidade. Todo mundo é o que é. Muitas pessoas de hoje em dia acham que precisam ser artificiais, dando a ideia de serem perfeitas, quando não são. Esse tipo de gente é usável, fácil de pegar e de jogar fora.

Falta de amor próprio, that’s it.

Agora, uma pessoa realmente "perfeita" é aquela que sabe quem realmente é, tem princípios e cuida deles com muito carinho. E, dude, ninguém é perfeito. As meninas podem soltar pum, por exemplo. Quem não solta pum, man? Elas podem roer as unhas também. Quem nunca roeu as unhas?

Respondi sua pergunta?

— Daí ele disse que o cupom estava inválido. Você acredita? — Tomei um gole do chá orgânico e balancei a cabeça, negando. Quando cupons poderiam ficar inválidos?

Layla deu um suspiro enquanto colocava mais um pedaço da torrada integral na boca.

Ela era doidinha. E divertida. Seus cabelos loiros estavam presos num rabo de cavalo, os olhos iguais aos de Lucy com um brilho irritado muito aparente. Suas roupas eram típicas de pessoas desse jeito meio zen. Muito colorido e com saias longas.

Se você pegasse as duas e comparasse, poderia dizer que Lucy é a versão mais jovem de Layla. As semelhanças entre elas eram macabras. Até mesmo partes da personalidade tem as mesmas características.

Ela começou a resmungar alguma coisa sobre carrapatos quando terminei aquele chá, a única coisa que eu conseguia ingerir naquela casa.

— Bom dia — disse a voz que eu acostumei a ouvir bastante nos últimos dias.

Lucy trajava roupas típicas de quem vai à escola. Moletom, calça jeans e tênis. Básico, leve e fresco.

Mas nela, meus caros, era lindo.

— Bom dia, amor — respondeu Layla, com a voz mansa.

Lucy deu um beijo na bochecha da mãe, e em seguida sorriu para mim.

Dude— riu.

Mate.— Levantei-me da bancada da cozinha e fui até ela, estalando um beijo em seu rosto também.

Ela sorriu.

— Sabe, eu ainda acho vocês muito fofos — disse a senhora, que não gostava de ser chamada de senhora, com um sorriso sugestivo no rosto e seu olhar passando de mim para Lucy repetidamente.

— Mãe!

Permita-me explicar. No primeiro dia que apareci na casa de Lucy, a mãe dela — em seu bom humor habitual — acreditou que finalmente a filha havia largado a solidão e "fisgado" um namorado, que, em suas palavras, era muito mais lindo do que qualquer garoto que ela esperava que sua filha namorasse.

Fiquei lisonjeado.

Infelizmente, tive de convencê-la de que eu não era o namorado de Lucy e só estava fazendo um favor como amigo.

Ela não acreditou, no entanto.

Não-senhora esperta.

— Você não acha, Layla? Sempre digo isso a ela, mas a garota é complicada... — Fiz um "não" com a cabeça, junto de uma expressão desanimada para reforçar minhas palavras.

Lucy torceu os lábios, desgostosa.

— Quer calar a boca? — disse, irritada.

Sorri e balancei a cabeça.

Come on!Olhe para nós. — Apontei para nós dois — Somos lindos juntos! — exclamei, apertando suas bochechas com as duas mãos enquanto ela revirava os olhos.

Notei Layla gargalhando atrás de mim.

— Sete e meia, crianças! Vocês não querem se atrasar, não é? — Nem vi quando Lucy pegou sua mochila, só senti a sua mão me arrastando para fora da casa.

— Obrigado de novo, sogrinha! — Pisquei, então ela me deu um beijo na testa, rindo.

— Dirija com cuidado, querido. — Assenti e saímos para fora — Boa aula, amores!

Lucy bufava ao meu lado quando eu já dera partida com o carro.

— Você ama isso, né? — Cruzou os braços.

Sorri e liguei o rádio.

Honey, é claro que eu amo isso.

N&L

 

As aulas de manhã foram as mais chatas. Até hoje eu não sei porquê decidi fazer biologia. Nem lembro se fui eu quem escolheu ou se foi Gray que proporcionou aquela coisa maldita em nossas vidas. Bom, se foi, ele se ferrou junto, afinal o horário dele também tinha biologia. Uma matéria inventada pelo satanás.

Na aula de informática, eu e Gajeel ficamos jogando MMORPG, aqueles horríveis com qualidade igual a de uma televisão de 2001. Aquela aula era um pouco mais produtiva, tirando o fato de que naquele dia o professor havia faltado.

E, a aula de inglês foi... normal. Vi novamente coisas que já sei. E que, por causa da minha idade, sou obrigado a ficar revendo sem direito a protesto. Com isso, minha manhã acabou.

O almoço era o mais importante.

— Quem você quer me apresentar? — Lucy perguntou, quando eu a arrastava até o refeitório.

Eu a encontrei indo para o terraço novamente — eu sabia da existência daquele negócio, meu primeiro ano na escola foi todo lá — com algum lanche integral que era imposta a comer. Sempre sozinha. Nunca tentando se enturmar.

Aquilo me incomodava. Eram poucos os intervalos que eu passava junto dela. Claro, afinal eu tinha os meus amigos e não queria ficar respondendo perguntas desnecessárias depois. Mas, eu acredito que uma pessoa não pode sobreviver sozinha. Em qualquer ambiente. Precisamos de alguém, pelo menos uma pessoa, que possa ser nosso confidente, nosso parceiro. Não falo de namorados, mas de amigos. Eles sempre estarão lá por você, e por mais que várias vezes pareçam ser enviados do satã, são seus amigos e fariam qualquer coisa para te ver bem.

Por exemplo, se eu não tivesse Gray para contar várias merdas que vivo, poderia estar a ponto de explodir ou alguma coisa do gênero.

Por isso, me incomodava o fato dela não ter alguém. Pelo menos uma pessoa. Ela já me dissera que até era amiga de Mirajane, mas na maioria das vezes tentava ficar longe dela e do grupo dos "que se achavam alguém" na escola.

Por isso, precisei tomar providências.

— É surpresa. — Dei um sorriso largo quando a vi franzindo o cenho.

— Eu tenho medo das suas surpresas — disse, caminhando ao meu lado.

— Não deveria. Eu até consigo ser bonzinho de vez em quando.

— Isso. De vez em quando.

Olhei-a, zombeteiro:

— À essa altura do campeonato você ainda não aprendeu a confiar em mim? — Ela me olhou, ponderando um instante.

— E eu deveria? — Sorriu.

Ah, man…

Retribuí o gesto, meneando a cabeça.

Nós estávamos entrando no refeitório quando ela notou o que eu iria fazer, e com isso, empacou e me olhou com um tipo de vulnerabilidade em sua expressão. Um tipo de medo que não dava para entender. Aquilo era esquisito. Muito esquisito. O que ela tinha contra as outras pessoas? Ela queria ficar sozinha, perambulando por aí, até quando?

— Por que está fazendo isso? — perguntou, uma voz quebradiça que atingiu em cheio o meu estômago como um soco, me fazendo pensar se eu não era um babaca por estar tentando ajudá-la sem o seu consentimento.

Mas, sejamos sinceros, eu sabia que surpresas poderiam ter resultados positivos na maioria das vezes. Menos quando era aquele filme do Pânico, aí, então né…

Mostrei-lhe um dos meus sorrisos tortos — claro, eu tenho coleção de sorrisos. Sabiam? — e a olhei com ternura.

— Qual o problema? — Ela abaixou a cabeça em silêncio — Você está com medo? Dude?Hey. — Peguei seu queixo com a mão e levantei seu rosto para mim. Eu sabia que fazer aquilo bem no refeitório da escola era implorar para parar nas bocas de todos, mas mesmo assim, eu precisava fazer aquilo. Aquela garota era incrível, eu seria umloserse aproveitasse sozinho — Não há motivo algum para isso. Você tem que apenas confiar em si mesma e permitir que os outros conheçam essa confiança também. É só se mostrar de novo, sem amarras, sem pressão e isso pode ser tudo em seu tempo, mas mesmo assim, não adianta, Lucy. Não adianta se continuar fugindo e se privando de conhecer os outros. Ninguém consegue ir a lugar algum assim. — Estreitei meu olhar — Deixe os outros te conhecerem! Conheça o seu lugar. Ache o seu lugar! Lucy, a única pessoa que pode fazer isso é você. — Ela analisou meu rosto. Seus olhos indecisos — Não há porque ter medo. Eu estou com você.

Apertei um pouco mais a minha mão em seu queixo, observando-a.

— Não tem problema em confiar em amigos. Não tem problema algum nisso — terminei.

Lucy mordeu um pouco o lábio inferior e abaixou o olhar. Depois de um tempo balançou a cabeça em concordância e deu um sorriso fraco e eu sorri de volta.

— Então, let's go! — Puxei seu braço e a levei até a mesa onde ficavam as pessoas mais desajustadas mentalmente, mas que eu, com toda certeza, chamaria de parceiros para uma vida inteira.

E estava a mesma coisa de sempre: Erza e Jellal fingiam ser bons moços e comiam tranquilamente, ora se olhando com um sorriso. Ainda temos algumas teorias sobre esses sorrisos deles. Alguns de nós acham que é um convite para algo mais. O resto pensa que eles tinham algum tipo de sintonia romântica, ou algo assim. Prefiro a primeira suposição. Que é? Não me olhem assim!

Gajeel e Levy dividiam a mesma comida. Pelo que parecia, eles estavam de bem novamente. Perdi as contas de quantas vezes aqueles dois já terminaram. Era insano. Em alguns momentos você pensa que eles se odeiam, em outros, parecem o casal top 20 de alguma revista. Se minha cabeça estiver bem, acredito que aquela era terceira vez que eles voltavam em uma semana e meia.

Tem gente doida nesse mundo sim, meus queridos.

Gray, como sempre, comia sua salada com frango assado como se fosse a oitava maravilha do mundo. O cara tinha um jeito que virara muito comum por aí: Os marombas. Particularmente, não acho uma coisa muito ruim ser uma pessoa louca para ter uma saúde de ferro e tal, mas sei lá. Eu, por exemplo, faço academia junto com ele e Gajeel, e somente Gray é todo fissurado em comer verde. Homem, meus amigos, precisa de sustento. Muito carboidrato. Por isso que Gajeel consegue ter uns dois metros a mais que todo mundo. O cara tem a mente inteligente.

Juvia, sentada ao lado de Gray, com sua aura psicótica rodeando a todos, lançava olhares furtivos a ele enquanto comia a mesma coisa: salada e frango.

De todos ali, eu era o mais normal. Acreditem. Acreditem bem.

E, o habitual: todos estavam nem aí para a vida alheia. Cada um desligado e distraído com qualquer outra coisa que não fosse a escola. Menos Erza, suponho. Ela poderia estar pensando em maneiras de escravizar o time de futebol americano por ter deixado mais trabalho para as faxineiras no vestuário masculino daquela semana. Aquele lugar fedia mais que o pé do Gray.

Pigarreei e todos olharam para mim. Bem, mais ou menos. Olharam para mim e para Lucy, depois voltaram para mim e passaram para Lucy de novo. E depois me encararam.

Antes que eu pronunciasse, foi Gray quem acabou com o silêncio:

— Nem vem. O seu hambúrguer não apareceu hoje — disse, com um sorriso malicioso — Mas, dude, vejo que achou algo melhor que um hambúrguer.

Retribuí seu sorriso.

—  Folks, essa aqui é a Lucy. Ela é nossa responsabilidade agora. — Dei um sorriso afetado — Sejam normais. Não queremos que ela fuja.

— Não queremos mesmo! — Levy disse, se levantando e vindo até nós — Prazer, Lucy! Eu sou a Levy! Vou te apresentar a todo mundo, está bem? O babaca é o Gray — Ela apontou para ele, que tinha um sorriso alegre no rosto —, Erza, a presidente do conselho estudantil e Jellal, vice-presidente e seu namorado — Enquanto ela foi apresentando, me sentei no outro lado de Gray e peguei um tomate de seu prato. Ele rosnou enquanto eu gargalhava —, Juvia — Apontou para Juvia que sorriu tímida —, Natsu, que eu já sei que você notou o quanto ele é idiota — Lucy sorriu, um pouco corada —, e meu namorado, Gajeel.

— É um prazer conhecer vocês — respondeu, envergonhada.

— Meu Deus! — Erza exclamou, se levantando e indo até Lucy — Ela é tão educada e normal! Por que quis ser amiga do Natsu?

Lucy deu uma risadinha, ainda meio contida.

— Eu não quis — disse ela —, ele me obrigou — falou, com tom zombeteiro.

Erza estreitou o olhar para mim, a cara do demônio estampado em seu rosto.

— Ei, ei, ei! Tem coisa errada aí! Sou um cara do bem! — respondi.

— Não é não, querido — Levy pronunciou, revirando os olhos e eu mandei-lhe um beijo.

— Bom, então podemos obrigá-la mais um pouco — Gray falou, planejando ir até Lucy também, mas Juvia o impediu — Só que comigo é claro — Sorriu e olhou para Juvia, franzindo o cenho em seguida — Quer me soltar?

— Não. — A garota deu um sorriso macabro, meu Deus — Sente-se e coma, senhor Gray. Sente-se e coma.

— Ela acabou de chamar ele de "senhor"? — Lucy perguntou, um pouco baixo, a sobrancelha arqueada para mim.

Dei de ombros.

— Ah, liga não! — Levy riu, mexendo as mãos. Eu ainda penso se ela é hiperativa — Vem, senta do meu lado.

Notei que, sentando ao lado de Levy, Lucy ficou bem na minha frente. A baderna ia começar…

— Você já falou com a Lucy, amor? — questionou Levy, forçando um sorriso para Gajeel, que deu de ombros.

— Hey — disse.

Ele era meio antipático, fazer o quê.

— Ele, você consegue conquistá-lo falando alguma coisa sobre rock antigo — disse Jellal, estendendo a mão para ela — Espero que suporte essa gente. Eles são esquisitos, mas se perseverar um pouco, dá para acostumar.

Ela apertou a mão dele com um sorriso pequeno no rosto.

— Acho que sim — respondeu.

Levi começou a puxar conversa com Lucy que estava um pouco hesitante, mas depois de um tempo, entrava no assunto com mais facilidade. Gray algumas vezes se intrometia em certos momentos para perturbá-la com alguma asneira que sempre a fazia dar um sorriso sem graça, como se dissesse "Você poderia parar com isso, né?". Tenho certeza que se fosse comigo, ela já teria me espancado.

Só falo verdades.

Ela começou a se soltar e a sorrir mais em algumas partes da conversa. Era bom ver que o que fiz resultou em algo positivo para nós dois. Ela, começando a ter amigos e eu, vendo-a feliz.

É, eu sei. Sou um babão.

— Pensa rápido, mate! — Gajeel disse, e jogou uma azeitona em mim que deu tempo de desviar.

— Fala, amor. — Dei-lhe uma piscadela. E Gray e Jellal riram quando ele fez o famoso "tsc" com a boca.

— PlayStation 4 ou Xbox One?

Ponderei um instante.

— Você já não tinha o Play Station 3, cara? — Arqueei a sobrancelha e peguei outro tomate do prato de Gray que, irritado, bateu na minha cabeça.

— Eu quebrei — falou.

— Não me diga — Gray respondeu, tomando seu suco de laranja.

— Esse já é o... décimo? Nono? — ponderei.

— Acho que é o décimo terceiro — Jellal intrometeu.

— Okay, espertos, querem ajudar ou não? — disse, com seu humor habitual. Péssim humor habitual, quero dizer. O cara vivia carrancudo.

— Xbox One — falei.

— Play 4 — Gray disse.

— Xbox One — Jellal opinou.

— Dois contra um — avaliei e sorri.

— Man, eu não queria o Xbox — Já abríamos a boca para reclamar — Só que eu não sei se ele é ou não uma boa opção…

Quando eu ia abrir a boca para falar algum xingamento, Lucy disse:

— Por que você não compra aquele que mais atende às suas... necessidades? — Quando foi que ela havia parado de falar com a Levy mesmo? — Tipo, o Xbox One possui retrocompatibilidade, o que ajuda na compra dos jogos, e conexão com a TV a cabo. Porém, o GPU é um pouquinho inferior ao Playstation 4, e não possui conexão via Bluetooth, apenas HDMI e USB. Ah! Além disso, os jogos de Playstation são exclusivos e muito famosos.  — Gesticulou um controle de videogame com as mãos e arqueou a sobrancelha — Particularmente, prefiro o controle do Playstation, o DualShock é mais simples e dinâmico. Mas, o Controller do Xbox não é ruim e ainda vem com o Kinect — ponderou, um pouco perdida em pensamentos.

Um silêncio.

1…

2…

3…

—Gostei de você, Bunny-girl. — Ele sorriu, os piercings se movimentando junto com a sua boca.

— “Bunny-girl”? — Ela riu.

— Sabia que estava esquecendo algo. Pode falar sobre jogos com ele também — Jellal disse, com um sorriso — Mas tente rock antigo. Funciona.

Ela sorriu e virou para Levy, que tinha um brilho meio estranho nos olhos direcionados a mim.

Franzi o cenho e me virei para Gray que havia me cutucado.

— Aonde você encontrou essa garota?

Dei de ombros.

— Foi você quem me mostrou, lembra?

Era oficial: Lucy Heartfilia era perfeita em todos os aspectos consideráveis para a cambada masculina. Eu sabia que sua personalidade seria cativante para eles, mas ela simplesmente conseguiu conquistar todo mundo. Até Erza, uma mistura doida de demônios e anjos, falava sobre milhares de coisas com ela, pelo que pude ver. Juvia também. Parecia até uma garota normal quando conversava com Lucy sobre bonecas de pano e países exóticos.

Os caras continuavam com a discussão sobre os videogames, ora se voltavam para Lucy, ora conversavam entre si, mas não consegui desviar os olhos dela. A timidez já havia sumido. Ela ria com vontade e conversava animadamente, parecendo uma criança alegre com seu programa favorito. Tinha certeza de que tudo ia bem, afinal meus amigos sabiam como acolher pessoas. Entretanto, não pensei que tudo seria tão natural e me senti feliz notando isso.

Aquele sorriso deveria ser multiplicado por cem, por tão lindo que era.

Fiquei analisando suas expressões por mais algum tempo e nisso, houve um momento em que ela me flagrou olhando-a e sorriu. Um sorriso limpo e alegre, os olhos brilhando felizes e realizados.

E, sem som, com apenas sua boca mexendo, um "Obrigada" surgiu.

Um sentimento novo e gostoso se instalou dentro de mim e me tomou por completo pelo resto do dia.

N&L

 

O restante do dia passou rápido. E junto com ele, todo o tempo que poderia passar com Lucy. Levy se autoproclamou a guardiã dela, e junto com as outras garotas, criaram alguma espécie de irmandade um tanto quanto suspeita, então deixaram eu e o resto da cambada por nós mesmos. Dois sem namorada para beijar, um sem psicótica para segurar a camisa e o outro — no caso, eu — sem a garota que eu mais queria conhecer no momento.

Não que eu esteja reclamando, é claro.

Todo tipo de frustração que havia em mim se dissipou quando ela apareceu no estacionamento no fim das aulas para irmos embora juntos.

Lucy sorria lindamente. Olhou para mim com uma ternura nem um pouco habitual e entrou no veículo sem mais nem menos. Sem eu ou ela termos que xingar. Sem sarcasmo. Sem raiva. Sem... nada. Apenas um sorriso e um olhar doce extremamente lindos.

Ela até mesmo me deixara escolher a música que iríamos ouvir, sem reclamar absolutamente nada.

Era suspeito. E mesmo assim, não pude evitar certa alegria que surgiu em mim ao vendo-a daquela forma.

Quando estacionei de frente para sua casa, Lucy virou para mim e sorriu mais uma vez.

— Obrigada. De novo — Corou —, você tem que parar de me ajudar. Estou acumulando dívidas com você.

— Acho que não. Sabe, você deveria me escutar mais e aceitar que eu sou uma pessoa boa.

Seus olhos ficaram mais ternos.

— Você é uma boa pessoa, Natsu. Muito boa, na verdade.

Ficamos nos olhando por um tempo, os dois analisando cada parte do rosto um do outro,  até que ela corou e disse:

— B-Bem... Eu vou indo. Obrigada novamente. — Saiu do carro e antes de ir para a porta, voltou e bateu no vidro da janela — Nos vemos amanhã?

Ela sempre fazia a mesma pergunta todos os dias. Nunca entendi o porquê. Nas primeiras vezes, pensei que era para confirmar e conseguir fazer toda uma preparação, que eu não sabia qual poderia ser. Ali, não sei se era para ter a certeza de que eu continuaria ajudando-a ou algo do tipo.

Análises, análises...

— Sim, Lucy. Nos vemos amanhã.

Ela sorriu e assentiu, indo em direção à casa.

E quando eu comecei a ligar o carro, uma exclamação surgiu na minha mente e olhei para Lucy que já havia entrado em casa.

Eu não queria que a distância de "amigos" continuasse entre nós. Eu não sabia o que ela significava para mim, não sabia o que sentia por ela; eu não tinha a menor ideia. Entretanto, sabia que não queria continuar daquela forma. Eu queria algo mais, mesmo sem ter ideia do que era, queria.

Havia algo simplesmente certo em Lucy. Algo que a fazia diferente. Algo que me puxava em sua direção e não deixava me afastar.

Eu não queria me afastar.

Saí de dentro do carro, corri até a porta e toquei a campainha.

—  Natsu? — disse ela quando abriu a porta, o cenho franzido — Aconteceu alguma coisa?

—  Aconteceu que... — Olhei em seus olhos confusos — Eu quero que você saia comigo, Lucy.


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Notas finais do capítulo

E então, gente? Gostaram? Deem opiniões! Amo ouvir ideias novas, elogios, críticas... Comentem para eu ver como estamos andando!

Então, infelizmente, estamos indo para o PENÚLTIMO capítulo! E esse amiguinho vai demorar chegar, me desculpem! Me desdobrei completamente para escrever esse aqui! Vou sempre tentar escrever um pouco a cada momento, para tentar ir mais rápido! Prometo que irei recompensá-las por toda a paciência! Vamos todas firmes e fortes, yeaaah?!

Mais uma vez, obrigada pelo carinho, pelos comentários e pelas recomendações e pelos favoritos também! Tudo me deixa energética para estar trabalhando por vocês, e para mim também!

Nos vemos amores! Tentarei ser rápida!
Beijossssss