Ele dançava sob uma única luz numa ampla e escura sala. Anos de aulas e treinos o recompensaram com muita habilidade e prestigio em seu meio. Era um dos mais novos coreógrafos do mundo da dança. Era reconhecido pela mídia e possuía uma grande quantidade de fãs espalhados pelo mundo. Nada disso importava, todas as noites, quando o seu estúdio de dança fechava as portas e ele era um dos poucos que permaneciam. Ele apagava as luzes, com exceção de uma, e deixava a música ser a única que o guiaria por alguns minutos. O rapaz nunca se importava de sair tarde demais do estúdio. Tudo era esquecido quando as luzes se apagavam. Ele dançava e dançava por horas a fio, se assim o permitissem. Naquela noite em especial, parado em um dos cantos, o mais velho observava o mais novo dançar. E cada movimento o fazia lembrar de quando conhecera o mais novo.

O pai do mais novo o havia convidado para o recital de seu filho. Por mais que o mais velho não gostasse desses eventos, ele foi. Era uma grande oportunidade de se aproximar do chefe. Seu chefe era conhecido por reger tudo com um braço de ferro. Tal braço que amolecia e virava gelatina quando se tratava de seus filhos e netos. O mais velho fora com a plena convicção de que aquela seria a noite mais tediosa de sua vida. E naquela noite; em um recital; o mais velho encontrara o amor de sua vida. Para o mais velho era como se o mais novo flutuasse no palco. Ele nunca pôde explicar o que acontecera naquela noite. Era uma daquelas coisas da vida que não se tem uma explicação plausível. Eles passaram por muitas situações para chegarem onde estavam. Ambos possuíam cicatrizes. Cicatrizes que eles não abriam mão. Tais cicatrizes os tornaram quem eles eram. Tudo o que queriam era um lugar em que teriam paz. Um lugar em que seu amor não seria fora de padrão. Um lugar em que o amor se encaixaria apenas por ser amor e nada mais que amor. Sem rótulos. Limitações.

O mais novo o sentiu antes mesmo que o mais velho se aproximasse. Os braços maiores o abraçaram, e os lábios suaves e doces o beijaram abaixo da orelha. O mais velho sabia o que causava ao corpo do mais novo mesmo após tantos anos. Este beijo, este pequeno e simples beijo, sabia ele, era o suficiente para acender o mais novo. O mais velho não podia evitar. Seu corpo ainda se atraia para o do mais novo como todos os olhares em uma sala escura seguiam o único facho de luz.

–Está me atrapalhando...–o mais novo sussurrou com pouca convicção e um sorriso se formando em seus lábios.

O mais velho apenas sorriu enquanto afundava seu nariz no pescoço do mais novo e aspirava o cheiro tão familiar. Cheirava como lar. O mais novo sentiu seu corpo relaxar em reação aos braços do mais velho ao seu redor. Mais por instinto que escolha, o mais novo virou para olhar o par de olhos castanhos que ainda o despiam de qualquer receio e medo. O mais velho inclinou-se para beijar os lábios do homem que amava. Um beijo terno; de amor; na ampla sala. Sob a única luz. No mundo deles. No mundo em que não eram foras da lei.

Foras da lei por amar.