A doce voz angelical... Tão pura... Tão bonita... E tão gosmenta... Não consegui me conter e tive de uma maneira ou outra agarrar naquela mão. Aquela mão era lisa, branca e bonita, e de repente aquele belo rosto começou a se aproximar de minha face, indo em direção de minha boca. Olhei fixamente para os olhos daquilo, mas quando percebi, era tarde demais. Seu movimento desviava, indo fixamente ao pescoço, deixando a aparência angelical de lado. Tal coisa revelava ser um zumbi, e a bela voz era apenas coisa de minha cabeça. Jolene logo me empurrava, fazendo cair sobre a zumbi, consequentemente esmagando sua testa com o cotovelo.

– ESTÁ MALUCO?

– O que eu fiz?

– VOCÊ ESTAVA FALANDO COM A ZUMBI! VOCÊ APROXIMOU SEU ROSTO AO DA ZUMBI! VOCÊ ESTÁ MALUCO, JAMES?

– Não... Eu só pensei que... Esquece... Vamos voltar pro acampamento...

Jolene me prensava contra uma árvore, socando minha barriga e apertando fortemente meu pescoço. Ela encarava meus olhos com ardência, até que com muito esforço conseguiu soltar algumas palavras:

– Não... Me abandone jamais... Não... Me abandone jamais... Não... Me abandone jamais... Ouh... Não me abandone jamais...

– E-eu... N-não... – A-abandonarei... – dizia, me esforçando para falar as palavras, tendo em vista que estava sendo sufocado por Jolene, que não parecia nada satisfeita com a situação ali colocada.

Ela me soltava, tomando a dianteira e caminhando em passos rápidos e largos, pisando fortemente no chão. Pegava um pouco de munição que aquela zumbi carregava e seguia Jolene, que não queria falar palavra alguma. Rapidamente segurava a mão dela, para tentar tirar o clima de tensão. Aprendi nesses oito anos que NUNCA se deve brigar com ninguém. Todos devem SEMPRE estar unidos. Caso tenha uma rachadura na equipe, prejudica a todos.

– Jo... Eu sinto muito. Eu ainda sinto falta da Lilly.

– É, eu sei.

– Está brava?

– Não é que eu esteja brava, Jey. – ela largava minha mão – É que eu sou uma pessoa que se apega nas coisas facilmente. Eu já estou acostumada a perder coisas, pessoas. Mas é diferente quando você está apaixonada. Eu gosto MUITO de você, Jey. MUITO. Cinco letras, um único significado. Está entendendo? Eu não conseguirei ficar longe de você... Antes de tudo isso, eu era uma catadora de lixo. Hoje, sou uma rebelde em massa que mata pessoas... Quer dizer, coisas, para sobreviver. Enquanto catava lixo, eu via muitas coisas. Pessoas ricas, pessoas pobres, pessoas humildes, pessoas mimadas, pessoas idiotas, pessoas inteligentes, pessoas ignorantes. Eu via de tudo. Mas eu sabia que todas elas possuíam algo em comum: elas possuíam um coração e um cérebro. Por mais que uns usassem mais que os outros, eram todos iguais. Por mais que uns fossem mais ricos que os outros, eram todos iguais. E no fim, toda aquela diferença social só serviu para comprovar minha teoria: todos são iguais. Todos são zumbis. E assim como eles, todos somos iguais. Eu sou igual, você é igual. E é por isso que temos que lutar para mudarmos. Temos que virar coisas diferentes que esses bichos. Está entendendo?

– Pra falar a verdade... Não...

– Esquece.

– Já que estamos falando de teorias bizarras, você já parou para pensar que estávamos num apocalipse zumbi bem antes disso tudo começar?

– Já.

– Ok...

Um silêncio predominou a estrada por aqueles pequenos dois minutos. Depois disso, Jolene segurou e apertou minha mão, soltando um rápido sorriso.

– É brincadeira, pode falar.

– Você já parou para pensar que antes de surgirmos, quem dominava a terra eram os animais? E então, uma nova raça chegou, dominando o planeta e matando os animais para viver. Comendo eles. Os poucos que sobreviveram se escondiam em tocas, casas naturais, enquanto outros eram domesticados pelos “zumbis”, mais conhecidos como humanos. E então, uma nova espécie chega, e domina o que já havia sido dominado, matando os humanos para viver. Comendo eles. Os poucos que sobreviveram se escondiam em locais fortificados, enquanto outros dedicavam sua vida para exterminá-los. Quando morrermos, algo chegará e matará os zumbis. É o ciclo da vida. O ciclo do apocalipse.