Pra dizer a verdade, você é apenas bom.

Eu não me importo. Eu não consigo tirar os olhos de você.

Seus olhos vibravam fortemente ao enxergar aquele pequeno embrulho. Era um dia comum para a pacata cidade de Charlotte, EUA. Havia saído do trabalho com pressa, e devido ao tanto que corri, estava ofegante, suado e fedido. Mesmo assim ela me olhava com olhos melancólicos, admirando o embrulho que me esforcei para fazer. Estava rasgado embaixo, mas acho que ela não notou, e isso era bom. Com um pouco de esforço ela conseguia tirar a fitinha, que estava amarrada com um nó cego. Com mais um pouco de esforço ela conseguia retirar o embrulho, e quando abria, se deparava com outro embrulho.

- O que é isso? – indagava, um pouco irritada de seu esforço ter ido em vão.

- Abra.

- Isso é muito difícil de abrir! – ela se sentava em forma de índio no chão, virando o rosto para o lado.

- Não é não. – me sentava ao lado dela – Só depende de sua perspectiva. Imagine que esse laço seja igual ao nosso amor. Um amor cego, infinito, que nunca terá fim. Mas se necessário acabar, é só fazer um pouco de esforço para que uma barreira seja erguida no meio do nosso amor. Essa barreira seria um dedo, que puxaria o outro lado do laço e tiraria. O embrulho seria as lembranças do amor destruído. Por mais que o laço afetivo tivesse sido destruído, sempre teria algo que, de um jeito ou de outro, nos lembraria dessa pessoa. E então temos a caixa fechada. Ela é o lugar onde queremos guardar essas lembranças. Onde iremos depositar nossas mágoas e decepções. Mas em algum momento, vamos ter que abri-la, e quando abrir, veremos um outro presente. Outro presente com fita, embrulho, com algo misterioso dentro. Esse presente representa o quanto nosso amor é infinito. Mesmo com brigas, barreiras, mágoas e decepções, sempre terá uma pequena chama que fará nosso amor ser infinito, e é esse presente que temos que admirar. Se você olhar com atenção, vai ver que o laço é impossível de ser arrancado, apenas cortado. Se olhar com mais atenção, vai ver que o embrulho está preso ao pacote. Mas se você olhar com mais atenção, vai perceber que dentro dele há algo perfeito. Quer ver?

Ela afirmava com a cabeça que queria, pegando rapidamente o pacote e retirando a tampa e a fita. Logo ela pegava o pequeno compartilhamento vermelho, que ao ser aberto, revelava ter uma aliança dentro. Peguei-a rapidamente, e me ajoelhando em sua frente, colocava o anel em seu dedo.

- Você quer se casar comigo?

- C-casar? – ela se levantava, olhando para mim de uma forma curiosa. Ela não demonstrava não querer responder positivamente a pergunta, mas parecia que algo a incomodava. Agarrei suas mãos e continuei a olhar para ela, mas a resposta foi um “chega pra lá”. Ela havia soltado minhas mãos. – A-amor... É-é que... Bem... Eu gosto muito de você... Essa comparação do nosso relacionamento com esse presente foi muito boa... Mas eu acho que tem um furo no embrulho... – ela apontava para tal parte rasgada do objeto – E-eu te amo, mas... Eu tenho apenas 18 anos... Faz pouco tempo que deixei a escola, tenho que me dedicar a estudar... Sou muito nova pra colocar um fim na minha vida de experiências... Eu sou muito nova, não sei o que quero da minha vida ainda... E isso meio que me pegou de surpresa... Eu não quero ser grosseira, mas é melhor deixarmos isso para um futuro mais distante...

- Mas você é tudo pra mim! Você é linda, ótima! Agora que nos encontramos, vamos ficar junto, minha querida...

- Pra dizer a verdade, você é apenas bom...

- Eu não me importo. Eu não consigo tirar os olhos de você.

- Não me obrigue a aceitar, cara... Eu te imploro... Você já é mais velho, sabe como é ficar confuso sobre sua vida... Todo mundo da sua idade tem uma ideia de como é isso!

- NÃO, EU NÃO TENHO! DESDE PEQUENO EU SEMPRE SOUBE COMO EU QUERIA A MINHA VIDA! QUERIA SER UM ATOR, QUE IRIA SER CONHECIDO E ADMIRADO PELO QUE FAZ, COM UMA BELA GAROTA QUE DIRIA “OH MEU QUERIDO, SE ESTÁ TUDO BEM, EU PRECISO DE VOCÊ NESSA NOITE SOLITÁRIA”. ESSA ERA A MINHA VIDA! UMA VIDA FELIZ, SEM COMPLICAÇÕES, ONDE O CASAL AJUDARIA UM AO OUTRO, SEM MEDO DOS OBSTÁCULOS, PASSANDO POR TUDO QUE QUISESSEMOS!

- E desde pequeno eu sonhei com um futuro calmo, sem sentir pressão das pessoas, podendo decidir o que eu queria, sem ter que ouvir meus pais decidindo por mim. Parece que meu novo papai está aqui na minha frente, tendo um surto nervoso.

- Ok James, se acalma. – suspirei – Eu entendo perfeitamente isso, e por isso estou indo embora. Quer dizer, eu acho que entendo. Quando você estiver decidida do que quer para a sua vida, volte a falar comigo. Não quero viver uma vida de “se” e “talvez”, eu quero uma vida de “sim” ou “não”. Fica a seu critério essa escolha.

- Se quer que a barreira entre o laço de fita seja erguida, tudo bem. Mas quero que saiba que eu não sou um presente, que quando aberto, irá guardar uma outra caixinha de amor. Adeus, J.W.

Ela saía de seu escritório, me deixando lá sozinho, olhando para o vão. Um segurança logo entrava no local. Ele era alto, grande e musculoso, apesar de um pouco fora de forma. Moreno, o homem apontava para eu sair do local, segurando uma chave em sua mão. Entendi aquilo como se fosse um “me dê licença, preciso fechar aqui e organizar”. Saí do local e abandonei tal prédio, tendo que passar por ela novamente, que dizia estar voltando no escritório para pegar alguma coisa. Decepcionado com Lilly, fui embora. Apenas peguei meus utensílios e abandonei tal local. Eu amava ela, ela sabe disso... O jeito que eu olhava para ela... As palavras que eu dizia... Eu daria minha vida por aquela mulher... Mas eu não quero uma vida duvidosa. Eu quero uma vida sem reticências, com apenas uma letra maiúscula para início de frase e um ponto final para terminar a vida, sem vírgulas, reticências, aspas e parênteses. Nada que fosse atrapalhar a minha vida.