Órfãos escrita por Lady Vérity


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas finalmente criei vergonha na cara e escrevi o 8º capítulo, minha gente, espero realmente que gostem e que esse capítulo os deixe com um gostinho de quero mais, já que aqui veremos algumas... Descobertas inusitadas. Desculpem-me pela preguiça e pela demora em postar, obrigada por estarem aqui e boa leitura ;)



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Depois de ficar acordado pensando durante toda a madrugada, até ver os primeiros raios de sol surgirem, através das janelas empoeiradas da cozinha, Oliver saiu para caminhar, estava cansado, mas também queria ficar sozinho e os últimos acontecimentos o deixaram cheio de pensamentos inquietantes, simplesmente não conseguia dormir, de qualquer forma também precisava comprar comida e mais algumas coisas em algum mercado. Bateu à porta do quarto onde Joshua estava com sua família, apenas para saber se queriam que ele comprasse algo específico e, com um aviso, ele saiu sem falar mais nada.

– Não entre no quarto daquela garota, Joshua, não invente de matá-la entendeu?

Joshua ficou observando-o enquanto se afastava e saía porta à fora, tinha certeza que algo estava incomodando seu amigo, ele estava sério, o que por si só já não era normal, mas Oliver também parecia agressivo, talvez isso tivesse algo a ver com Joana, talvez não, talvez fosse difícil ter que lidar com a assassina de tantos órfãos e amigos e talvez tudo se tratasse apenas de Aylla e o difícil romance não assumido que os dois mantinham. Fosse o que fosse, por mais que Joshua gostasse e muito de quebrar cada osso do corpo de Joana, não desrespeitaria a vontade de Oliver, quando ele lhe falara daquela forma, ele sempre sabia a coisa certa a se fazer nos momentos mais complicados, era sempre ele quem mantinha a cabeça no lugar e impedia que Aylla e o próprio Joshua fizessem a coisa errada por impulso ou instinto.

Antes de voltar para junto de seu filho e Lara, Joshua encarou a porta do quarto onde Joana estava e depois olhou para Aylla, que até antes de Oliver sair, estava deitada no sofá, provavelmente fingindo que dormia, agora ela o encarava de forma estranha, havia algo de sombrio em seu olhar.

As duas crianças dormiam num sofá puído de dois lugares, Julia sentada e Sam deitado encolhido com a cabeça apoiada nas pernas dela, Joshua observou-os dormir por um instante e depois voltou seus olhos novamente para Aylla.

– Porque você não faz como eles e dorme também, Aylla? Você está precisando. Todos nós estamos. Muita coisa aconteceu e precisamos descansar pra botar as ideias no lugar.

– Minhas ideias estão bem, obrigada! Não se preocupe comigo. – Ela lhe deu aquele seu costumeiro sorriso e puxou o capuz para cobrir a cabeça e então deitou-se.

Joshua não era tão inocente assim, sabia que Aylla estava tramando algo, mas esperava que ela usasse um pouco mais sua inteligência e menos sua maldade e não acabasse fazendo alguma idiotice.

De olhos fechados, sentindo o cheiro de poeira impregnado no sofá e em cada parte daquela casa, Aylla ficou lembrando e relembrando, vez após outra, os amigos de que Joana tirara a vida, a crueldade com que ela os assassinara e sem propósito algum. Aylla podia suportar muitas coisas, ignorar, raciocinar com frieza se fosse preciso, nos momentos mais complexos, mas simplesmente não conseguia entender como eles podiam manter aquela maldita Outra no cômodo ao lado e simplesmente não fazê-la pagar por todas as vidas que ela roubou. Aylla podia suportar muitas coisas, mas não aquilo. Sem perder mais um segundo do tempo em que Oliver estaria fora e Joshua se mantinha no quarto, ela levantou-se depressa e foi até a porta do quarto de Joana, antes de abri-lo, ouviu a voz de Sam.

– Você devia deixar a menina em paz...

Aylla virou o rosto para olhá-lo e Julia também a estava encarando, com as mãos nos ombros do garoto. Sem dizer nada, Aylla abriu a porta e dessa vez foi Julia quem falou.

– Sabe, você devia ouvir o que ele diz. Destruir paredes não é só o que ele sabe fazer. Sam sabe das coisas.

– Parece que todo mundo aqui sabe das coisas, só não sabe fazer a coisa certa! – Aylla respondeu e trancou-se no quarto com Joana.

A garota loira a olhava, desprovida de qualquer expressão, não demonstrava sentimentos ou emoções, não parecia nervosa ou amedrontada, seu olhar era sempre desafiador, assassino, haviam olheiras profundas em sua pele pálida, parecia somente doente e cansada, toda frágil e acorrentada, indefesa. Com uma de suas adagas em punho, Aylla aproximou-se da cama de Joana e enquanto dava passos lentos para aproximar-se mais, foi deslizando a lâmina pelo corpo da garota, começando pelo pé e parando no pescoço, onde fez uma leve pressão até que a ponta perfurasse e uma gota de sangue surgisse.

Joana fez um ruido demonstrando dor e Aylla sorriu com prazer.

– Como você se sente agora, piranha selvagem? Sabendo que vai morrer, mas que não vai ser tão fácil e que essa merda só vai acabar quando eu quiser? Hum? – Controlando o ar, Aylla fez com que Joana não pudesse respirar e apenas quando a garota começou a se debater, ela deixou que o ar entrasse novamente em seus pulmões.

Sem nem mesmo tentar falar, Joana continuou encarando-a, ainda sem nenhuma expressão. Aylla queria fazê-la sofrer e queria ver isso naqueles grandes olhos assassinos e selvagens, mas percebia que aquela garota não funcionava dessa maneira, parecia ter sido feita para matar com prazer e morrer sem medo.

Sem tirar os olhos dos dela, Aylla começou a girar a adaga na mão, tentando imaginar como faria aquilo, podia simplesmente impedir que ela respirasse, até morrer sem qualquer resquício de ar, poderia retalhá-la com suas adagas, com toda certeza ela sofreria e sentiria muita dor, mas mesmo que estivesse amordaçada poderia fazer barulho e assustar as crianças no cômodo ao lado e certamente quanto pior fosse o estrago, pior seria a reação de Oliver.

Inesperadamente Joana começou a berrar e se debater com selvageria, finalmente alguma emoção em seu rosto, mas não era o que Aylla esperava, era puro ódio. Ela gritava por Joshua, berrava que o odiava e se debatia com tamanha violência que as correntes começavam a afundar na pele, fazendo sangrar.

– Tudo o que eu quero no fim dessa vida de merda é fazer você entender o quanto eu te odeio, Joshua... Eu te odeio! Você me esqueceu naquele lugar, você me deixou e eu quero te matar... EU TE ODEIO...

Aquelas palavras surpreenderam Aylla como nada mais que saísse da boca daquela garota poderia.

A porta foi escancarada, assustado Aylla e calando Joana, Joshua a havia arrombado e atrás dele estavam Lara e as crianças, de olhos arregalados.

– Aí está você... – Joana disse, com voz suave e um sorriso louco.

Joshua olhou o estado em que ela estava, sangue em volta dos pulsos e tornozelos e um pouco no pescoço, olhou para Aylla com raiva e falou com severidade.

– Você só tinha que deixar ela aqui, Aylla, disse que eu não deveria me preocupar, mas creio que preciso sim. Você tentou matá-la e acho que isso foi tudo o que Oliver nos pediu para não fazer.

– Joshua, o que... – Ela começou, mas ele a interrompeu com um grito.

– SAIA!

Aylla encarou Joshua com espanto por um momento e então saiu do quarto.

Joshua estava sentindo muitas coisas, estava com raiva, nervoso, perplexo e até mesmo sentindo-se culpado.

– É por causa disso... Joana? – Ele perguntou, com voz rouca, quase inaudível.

Ao ouvi-lo pronunciar seu nome, Joana apagou o sorriso cheio de ódio do rosto e olhou-o nos olhos, ela gostava disso, de olhar nos lhos, bem no fundo, porque era o único jeito de enxergar as verdades e as mentiras, só o que se podia ver nos olhos era real, o resto não importava. Mas ela não respondeu a pergunta.

– Eu... Quero falar com ela sozinho...Saiam, por favor... – Ele pedia aos três que ainda estava, no quarto.

As crianças saíram primeiro e Lara segurou uma das mãos dele por um instante, fazendo uma leve pressão, a expressão e o olhar dele a preocuparam e com olhar apreensivo, deixou os dois sozinhos.

– Então... – Ele começou, sentando-se na cadeira que Oliver ocupara horas antes – É por minha causa... Tudo isso é minha culpa... Você matou todos aqueles Órfãos por minha causa, Joana?

– Você não se lembra, Joshua? Do que você me prometeu e depois simplesmente me... – Ela falava baixo, séria, de repente começou a gritar – ESQUECEU NAQUELE LUGAR! ME DEIXOU LÁ PRA QUE ELES FIZESSEM O QUE BEM ENTENDESSEM COMIGO!

Joshua passou as mãos pelo rosto e cabelos respirando profundamente, então fechou os olhos e recostou-se na cadeira com os braços cruzados.

– OLHE PRA MIM, JOSHUA. – Ela berrou, depois acalmou o tom, voltando a falar com frieza – Olhe nos meus olhos enquanto falar comigo.

– Você me odeia... Por isso matou meus amigos?

– Você não merece companhia, Joshua. Você não merece amigos... – Enquanto falava, os olhos de Joana, mesmo contra sua vontade, deixaram com que as lágrimas começassem a escapar – Você me fez uma promessa. Você me deixou. Você me esqueceu... Mas eu nunca esqueci você, eu nunca esqueci nada e por isso te odeio tanto.

– Porque você simplesmente não me procurou?

De forma zombeteira, Joana gargalhou antes de responder.

– Procurar você? Você me abandonou e esperava que eu fosse rastejar por sua atenção?

– Se estava procurando vingança, poderia ter vindo a mim para isso, ao invés de matar meus amigos.

– Não. Eu... Observei o quanto eles eram preciosos pra você, o quanto se importava com eles e o que eu queria, Joshua, era que você entendesse alguma coisa sobre a solidão, queria que você ficasse sozinho, mas eu nunca consegui isso por muito tempo, não é? Eu sempre precisava matar de novo e de novo. – Joana falava com um misto de frieza e suavidade, piscando devagar, nunca tirando os olhos dos dele – Você é bom em fazer amizades, mas nunca se preocupou em manter a nossa. Você não merece morrer, Joshua, você não merece nada que seja fácil, você merece sofrer, merece perder, merece solidão... Esse é o tipo de dor que você merece e merece meu ódio. Você merece isso e sabe disso. – Por um instante Joana calou-se e apenas o observou sustentando seu olhar, os dois respirando devagar – Você não vai tentar se explicar, não vai inventar desculpas e justificativas, nenhuma história idiota sobre o porquê de ter me deixado pra trás, você sabe que não precisa mentir pra mim, sabe que estou certa, porque não eramos amigos, eramos família, eu sou parte de você, a única que você não deveria deixar pra trás, mas a única que deixou. Eu vi você fazer de tudo pra salvar seus malditos amigos ao longo de todos esses anos, mas o que você fez por mim, Joshua? Quando pensou em mim? Quando se lembrou de mim antes de me ver arrancando a cabeça de um de seus preciosos amiguinhos?

– Nunca. – Foi a única resposta de Joshua. Joana estava certa. O simples pensamento de que ela havia se tornado aquele monstro por causa dele o fazia sentir aperto no peito e na garganta. Ele a fizera acreditar que era sua família e acabou por abandoná-la e esquecê-la.

– Amigos. Família... Coisas que não existem... Você me fez acreditar em você, Joshua, eu tinha adoração por você... Tudo o que sinto agora é ódio. Eu realmente odeio você, Joshua...

Joana terminou de falar com voz trêmula e fraca, suspirou ao fechar os olhos e virou o rosto para a parede, para que Joshua não visse suas lágrimas e não falou mais.

Joshua também não falou nada, não havia o que ser dito, havia muito o que ser pensado mas nada para ser dito, porque ele finalmente sabia quais os motivos de Joana para matar, para ser o monstro que era.

“Isso é o que chama de deslize que se comete uma vez e se paga para sempre”. – Ele pensou ao levantar-se da cadeira depois de perceber que Joana não mais falaria com ele.

Depois de olhar uma vez mais para ela, por um longo momento, ele saiu do quarto e fechou a porta com delicadeza.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso, espero que tenham gostado e que estejam curiosos para descobrir o que realmente se passa entre esses dois e qual é o verdadeiro mistérios do passado de Joshua, até breve. :*



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