Tessa estava sentada na mesa de café da manhã do Instituto de Los Angeles, bebericando seu chá e estressada como sempre. Jem entrou na sala como se todo o estresse de Tessa não fosse nada, o qeu só fez com que ela ficasse mais estressada ainda.

— Este clima não faz bem para o seu humor, minha querida. — disse Jem. — Talvez devêssemos pedir a Malcom um portal para Londres, ou até Paris.

— Não quero portal nenhum, James — Tessa resmungou e encarou-o profundamente, os olhos cinzas gélidos, quando uma lembrança passou por ela.

Um dia como outro qualquer no Instituto de Londres, Tessa se sentou a mesa e começou a bebericar seu chá. Desde que Lucie preferira passar horas treinando a passar alguns minutos lendo com a mãe, Theresa tinha começado a ficar muito estressada.

— Este clima tenso não está sendo bom para você, Tess. — disse Will com um semblante preocupado — Talvez devêssemos chamar Ragnor para ajudá-la com isso. Poderíamos perguntar a ele se há um jeito de encontrar um livro que ela goste o suficiente para se atrasar meia hora no treino.

— Está tudo bem, Willian. Não quero Ragnor Fell para me ajudar. — resmungou e o olhou friamente com os olhos tempestuosos.

Tessa percebeu que apesar de tudo, Will continuava sorrindo para ela de uma maneira boba. Ela ficou com raiva e bufou pela segunda vez, percebendo o quanto o sorrisso do marido era irritante.

— Talvez, Tessa, você devesse dar uma caminhada no nosso jardim. Sabe que é bonito e fresco. — Jem disse gentilmente, como se Theresa não houvesse sido grossa.

Mergulhada em lembranças, saudades e pensamentos, ela o olhou perplexa:

— O que disse? — perguntou.

— Disse que você deve dar um passeio no jardim. Será bom para você, querida.

Tessa apenas assentiu e se levantou bruscamente. Murmurou um: "Tchau" e desceu correndo as escadas, rumo as confortáveis sombras das roseiras e macieiras. Ao chegar lá encontrou Livvy sentada lendo um livro e mordiscando uma maçã.

— Que livro é esse? — ela perguntou "discretamente" para Livvy. A garota tomou um susto e derrubou tudo no chão.

O livro (que Tessa percebeu ser Um Conto de Duas Cidades, de Charles Dickens, seu favorito) caiu aberto no chão, bem na parte em que a terra estava umida e grudenta, e a maçã rolou gramado afora, até aonde não poderia mais ser vista. Tessa ruborizou de vergonha e se abaixou para pegar o livro.

— Me desculpe, Livia, eu não queria asustá-la. — disse e entregou o livro para a garota. — Como vai Tiberius? Não tenho tido visto ele ultimamente.

— Como sempre. Isolado e estudando. — Livia respondeu sem muita animação. Percebi que estava começando mal.

Will olhou para Tessa, e então ela percebeu quase como que imediatamente o motivo daquele sorrisso bobo. Era o aniversário de Lucie, exatos um mês do começo do conflito entre Tessa e a filha, quando ela disse que iria dar um livro de presente a Lucie e a garota chorou e disse que Tessa era a pior mãe do mundo.

— Meu deus, eu não comprei nada para Lucie. — ela sussurrou para si mesma, mas alto o suficiente para que o marido escutasse.

— Não se preocupe, amor, eu já cuidei disso para você. — Will disse com um sorrisso travesso enquanto empurrava um enorme pacote. — E não se esqueça, este é o aniversário de dez anos dela, então Jem virá aqui para realizar a primeira runa nela. Mesmo brigadas, este é o momento mais importante da vida dela e seria bom que você estivesse lá.

Tessa pegou relutante o pacote e se levantou da mesa, mesmo sem comer nada, e disse:

— Vou lá falar com ela.

— Tessa? — disse Livvy enquanto sacudia a mulher. Tessa apenas continuava olhando para os olhos azuis da garota profundamente.

— Vocês duas são tão parecidas... — resmungou pensativa, e logo depois se lembrou de algo. Ela agarrou o pulso de Livia com força e disse: — Fique aqui, tenho uma coisa para você. — E então saiu correndo.

Quando voltou, meia hora mais tarde, Livvvy ainda estava parada no mesmo lugar, tentando absorver o que tinha acontecido. Consigo, Tessa carregava uma sacola cheia de livros. Mas, junto desses livros havia uma pintura. Uma pintura de Lucie, sua filha, com a idade que Livia tinha.

— Primeiro, quero deixar claro que isso aqui tudo é para você. — ela disse enquanto retirava vários e vários livros da sacola. Livvvy a olhou assustada.

— Tem certeza que não vai sentir falta de nada disso? — perguntou.

— Claro que vou! Mas estes livros já estão a tempo demais comigo. — Tessa ficou pensativa por um momento, mas logo sorriu e pegou a pintura na sacola — Tem uma coisa aqui que eu quero te mostrar. — disse e então mostrou a Livia a pintura de Lucie.

Ela ficou apenas encarando a imagem, assustada com o quão parecida ela era com a garota da pintura. Mesmo sendo, bem, uma pintura, Livvy podia ver o quanto os olhos azuis da garota eram parecidos com ela. Parecidos não. Idênticos.

— Quem é esta, Tessa? Por que os olhos dela são iguais aos meus? — Livia perguntou.

Para sua surpresa, Tessa tirou um pergaminho encantado da sacola e a puxou para olhar.

Assim que Tessa pisou na sala de treinamento, com o pacote rente ao peito e toda a coragem reunida, se deparou com uma imagem depressiva: Lucie, num canto qualquer, deitada chorando. Assim que chegou perto da filha, Tessa jogou o pacote de lado e a abraçou.

— Mãe, eu estou com medo. E se eu morrer com esta runa? Eu vou morrer estando brigada com você? — Lucie sussurrou com medo. Tessa apertou mais os braços envolta da filha e lhe disse confiante:

— Você não vai morrer. E eu não estou brava com você. — ela soltou um dos braços e pegou o pacote. — Eu ultrapassei seus limites pessoais e por isso quero te pedir desculpas. Trouxe uma coisinha para você. De aniversário e de desculpas.

Lucie se agitou no colo da mãe, sorrindo, e arrancou o pacote da mão de Tessa. Rasgou com tudo o papelão que o cobria e quase chorou de felicidade com o que tinha dentro: um uniforme de Caçadora de Sombras oficial, uma estela, uma adaga e um códex. Will pensara em tudo.

A garotinha se virou e abraçou a mãe com felicidade.

— Esqueça tudo o que eu disse. Você é a melhor mãe do mundo! — gritou feliz — Eu te amo!

— Também te amo, minha princesa. — Tessa disse, feliz por ter conseguido fazer as pazes com a filha. Ao ver a figura parada na entrada, ela acrescentou — Mas agora você tem que se tornar uma caçadora-de-sombras completa.

E então as duas se levantaram, e, lado a lado, caminharam, até o Irmão do Silêncio que estava ali para traçar um destino.

— Esta, Livia, é a arvore genealogica das famílias Herondale, Castairs, Ligthwood, Fairchild e Blackthorn. — ela apontou para mais ou menos o meio da árvore dos Herondale. — Aqui estou eu. — ela apontou para um nome: Tessa Gray. Livia pode ver que ela foi casada com Will Herondale e teve dois filhos: James e... — Esta é Lucie, minha caçula e a garota da pintura, ela se casou com Jesse Blackthorn, daí os olhos azuis de vocês.

Livia fez a coisa mais inesperada que podia acontecer: sorriu. Mas foi um sorrisso que Tessa só havia visto outra vez na vida: o sorrisso de Lucie.

— Então quer dizer que nós somos parentes? — ela perguntou e pulou de alegria quando Tessa assentiu. — Eu tenho uma tataraavó, vadias! Chupem! — se recompomdo repentinamente do surto, Livvvy pegou todos os livros no chão e disse: — Obrigada, Tessa. Mas agora tenho muitos livros para ler!

E então saiu pulando de alegria. Observando a garota se afastar, uma hipótese se formou na cabeça de Tessa. Uma vez Jem havia dito que havia uma roda da vida, e todos os seus amigos e parentes queridos estavam junto com você nela, e vocês rodavam juntos e se encontravam em todas as vidas. Mas ele também havia dito que a roda não girava para os imortais.

Mas e se ela girasse? E se a garota que ela havia acabado de ver era a reencarnação de Lucie?