Quase 18 anos antes...

― Capitão Miyazaki. ― o marinheiro se aproximou do leme, onde seu capitão comandava o navio. ― Não adianta. Os perdemos de vista. ― Anunciou frustrado o subordinado.

― Maldito Chapéu de Palha! ― o estouro do leme se partindo ao meio fora ouvido no navio inteiro. ― Contate o QG, perdemos os três prisioneiros, mas avise também que isso não acaba aqui. Eu vou apanhá-los. - Gritou enfurecido, enquanto o marinheiro podia apenas ouvir assustado. - Cada um dessa maldita linhagem!

―X―X―X―X―

O quarto estava escuro. A cama estava fria e ainda desarrumada. No estado exato em que ele a havia deixado dias antes, quando resolvera sair do Sunny em uma “missão suicida”. Droga. O que aquele idiota estava pensando quando aceitou algo assim?

Tudo bem, eu entendo. Era do Rayleigh-san que se tratava. Ele não deixaria um amigo tão importante assim ser simplesmente apanhado por aqueles dos quais fugiu a vida toda. Mas era realmente necessário fazer algo tão perigoso? Certo... Zoro estava com ele e no final das contas, ele era ele. Geralmente não tínhamos com o que nos preocupar quanto a isso... Acontece que dessa vez era diferente. Era de uma frota inteira de navios de guerra que estávamos falando. Esses dois idiotas iriam se infiltrar num exército inteiro de inimigos.

Nós até que insistimos em irmos todos juntos, mas pela primeira vez na vida, Mokey D. Luffy acreditou que chamar a atenção não seria uma boa ideia. Como ficamos ao ouvir isso da boca dele? Exatamente assim, perplexos.

Agora lá estavam os dois. Capturados propositalmente, para se infiltrarem em um dos navios e tirar o Rei das Trevas de lá ― o qual, aliás, ainda não entendemos como foi capturado. Claro, havia marinheiros envolvidos nisso. Marinheiros que na verdade eram revolucionários, prontos para auxiliarem na fuga do filho do líder deles. Ainda assim... Era perigoso demais. Até mesmo para nós.

E como eu, Nami, ficava nisso tudo? Desesperada por notícias e enfurecida por aquele idiota simplesmente ter decidido isso sem nem mesmo nos consultar antes. Apenas disse que faria e fez. Bem Luffy, não?

Suspirei frustrada, sentando na cama bagunçada.

Fazia cinco dias que não davam notícias e dez que haviam partido. As únicas notícias que tínhamos sobre o assunto eram as que os jornais nos traziam, as quais aliás não nos confortavam em nada. Coisas como “O Rei dos Piratas e seu imediato finalmente capturados”, “Rei dos Piratas, Caçador de Piratas e imediato de Gold Roger têm seus dias contados”, “Execução de Monkey D. Luffy e Silvers Rayleigh, junto de Roronoa Zoro, é em uma semana”, com certeza só nos desesperavam mais.

Chopper e Usopp não paravam de falar que precisávamos ir salvá-los; Sanji estava quieto como nunca esteve antes, tanto que fazia dias que não ouvia suas cantadas; Brook já criara inúmeras músicas sobre a perca de seus queridos amigos, músicas macabras demais para o meu gosto, e é claro, chorou enquanto tocava todas, junto de Franky; Robin também estava quieta, nunca havia a visto tão preocupada; e eu... bom, eu estava ali, sozinha naquele quarto mais uma vez, pensando no que isso tudo iria dar e em como eu odiava aquele idiota de borracha por nos ter feito enlouquecer daquela forma.

Poderíamos simplesmente fazer o que Chopper e Usopp vinham dizendo para fazermos durante esses dias todos, irmos resgatar Luffy, Zoro e o Rayleigh-san. Acontece que eu não permitia isso. Contraditório? Pode até ser, mas o que diabos eu podia fazer se fora essa a função que aquele infeliz me deixou?

“Não deixe que ninguém mais se meta nisso. Eu e Zoro resolvemos.”

Por que diabos estava obedecendo? EU NÃO SABIA. Apenas não conseguia não obedecer, por mais que cada célula minha quisesse ir, alguma coisa me impedia de fazê-lo.

― Mas que droga! Seu idiota! Sua idiota! Argh! ― joguei um dos lençóis da cama no chão. Oh sim, eu estava com raiva. E muita.

Poderia ter continuado a gritar e xingar meu capitão e a mim mesma, mas gritos lá de fora me impediram.

Eram gritos de alegria? Eram as vozes de quem eu pensava que eram?

Saí correndo do quarto, cheia de esperança e receio. Esperança de que realmente fossem eles. Receio de não ser e eu me frustrar. Ambos os sentimentos, porém, foram-se embora, deixando espaço para uma alegria que eu não sentia há dias.

Lá estavam eles. Os três. Livres e sendo recepcionados pelo bando. Pude presenciar uma cena extremamente rara, quando Robin deixou uma única lágrima atravessar seus lábios esticados em um sorriso de alívio. Ninguém além de mim e Zoro perceberam, ela sempre fora discreta o suficiente para isso, mas com certeza, eu entendia como ela se sentia. Afinal, compartilhava disso.

No meio da bagunça que todo mundo fazia, Luffy olhou para os lados, provavelmente percebendo que faltava alguém e então me encontrou, no alto da escada, observando tudo ainda sem saber o que fazer: se o agarrava ali mesmo, não me importando com todo resto ou se começava a espancá-lo, por me deixar tão aflita. É incrível como você pode vivenciar sentimentos tão contrários ao mesmo tempo. Alegria e raiva.

Um único gesto, contudo, fez todo e qualquer tipo de sentimento relacionado à raiva esvair-se rapidamente de mim.

Em um sorriso aberto, embora cansado, ele disse as únicas palavras que não poderia ter dito caso eu pretendesse seguir a segunda opção de reação à volta deles.

― Eu disse que voltaria.

O que aconteceu depois disso? Exatamente o que Robin disse em meio aquele sorriso irritante dela de sempre que aconteceria quando ele voltasse, quando exclamei para ela que o odiava por ser tão egoísta.

“― No exato momento em que ele pisar no navio, você vai correr para os braços dele, pedindo que nunca mais faça algo idiota assim e ele vai lhe dar uma simples resposta."

– Eu falei que estaria aqui.

E então eu sorri. Em meio às lágrimas, eu sorri.

Sim, ele sempre estaria ali. Ainda não entendo porque insisto em não aceitar isso.

―X―X―X―X―X―X―X―

O vento das montanhas eram realmente gelados e o chão era tão branco, que os cinco pontinhos escuros parados no meio da neve se contrastavam drasticamente.

― Eu não acredito, Seion! Você fez com que nos perdêssemos do guia! Seu idiota! ― E o cozinheiro fechou seu sermão com um belo chute na cabeça do companheiro.

― Ai, Ken! Isso dói, seu infeliz! ― Reclamou o moreninho levando sua mão ao galo enorme que se formara.

― A culpa foi dessa espadachim mimada que não soube vigiá-lo direito. Nos distraímos um único minuto e ele sumiu. ― A atiradora retrucou.

― E por que diabos a culpa é minha agora?! ― Exclamara Nara irritada, pela primeira vez naquele dia. ― Não tenho o dever de ficar vigiando o Seion! Ele já é grandinho o suficiente para cuidar de si mesmo. ― A morena completou de cara feia.

― Foi você que disse que tínhamos que vir para as montanhas como ele queria, então a responsabilidade é sua!

― A Ayssa tem razão! Você que deveria ficar de olho nele, Nara! É a sua função desde que nasceram. ― Ken debochou.

― Ora. Olha aqui seu cozinheiro de merda... ― A garota estava prestes a avançar, quando o grito da única que se mantinha calada fora escutado.

― Já chega! ― Exclamou ela começando a se irritar.

― Vish, a Issa deve estar de TPM. É a segunda vez que vejo ela nervosa hoje. ― Ayssa comentou debochada, o que fez uma veia saltar na testa da jovem médica.

No entanto, a mesma respirou fundo, recobrando sua costumeira paciência.

― Não vai adiantar nada querermos culpar alguém. Aconteceu e ponto final. Agora temos outras coisas para nos preocupar, como onde vamos nos abrigar na nevasca que está prestes a começar ou onde o Seion está. Porque caso não tenham percebido, ele sumiu de novo.

No mesmo instante os olhos dos outros três se esbugalharam em surpresa e desespero e assim concordaram em algo naquele momento.

― Aquele idiota!