Alice estava uma pilha de nervos. Ela e Luke saíram havia dois dias, e ele não ligara e não respondera às mensagens. E ela queria saber o que acontecera.

Alice fizera algo de errado?

Suspirando, ela resolveu não ir até a casa dele. Não queria parecer uma maluca obcecada – e era exatamente assim que estava agindo no momento.

– Alice, vá dormir – Nicholas disse, talvez cansado de vê-la andando pela sala. – Só me deixe ver televisão em paz.

Encarando-o com um olhar irritado, Alice foi até o quarto de Jack. Sem bater, ela empurrou a porta entreaberta e encontrou-o de cueca jogado na cama.

– AAAH, VESTE UMA ROUPA, SEU MALUCO!

O grito dela assustou-o, e antes de virar de costas Jack saltou da cama. Alice escutou o ruído que as vestes faziam quando o irmão as apanhava. O quarto estava sendo iluminado pela luz pálida da televisão onde Jack jogava videogame.

– Pode olhar agora, sua invasora de quartos – resmungou ele, deitando-se novamente na cama. – Seus gritos são muito desagradáveis.

– Desculpa – murmurou, cruzando os braços. – Como você é magrelo.

E Jack era mesmo muito magrelo. Um estereótipo dos garotos da escola que passam o dia todo no quarto jogando, assistindo a filmes e lendo HQs.

– Você também é magrela – rebateu ele.

Alice revirou os olhos.

– Eu me esforço pra ser magra, ué – explicou-se. – Eu faço muitos exercícios.

– Desculpa se o sonho da minha vida não é ter barriga tanquinho.

Alice riu, vendo que ele estava certo. Desde quando isso se tornara um pré-requisito para definir alguém? Aliás, por que estavam falando de músculos?

– Ah, foi mal. Posso jogar com você?

Jack cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas.

– Não.

– O quê?! – Alice exclamou, antes certa de que ele deixaria. – Por quê?

– Já me cansei de te ensinar a jogar videogame. Toda vez é a mesma coisa. E a gente sempre briga no final.

Alice bufou, e pensou. Algo mais que eles poderiam fazer juntos para ela se distrair.

Espera, tinha uma coisa! Mas exigiria muito sacrifício da parte dela, e Alice não sabia se conseguiria aguentar.

– Que tal… - começou ela, decidindo-se. – Que tal assistirmos Velozes e Furiosos?

O rosto de Jack se iluminou, e ele deitou de bruços na cama, enfiando a cabeça embaixo da mesma. Puxou de debaixo da cama uma mala, e, quando abriu, Alice se surpreendeu.

– Qual deles? – perguntou, mostrando com a mão.

Todos os seis filmes de Velozes e Furiosos estavam lá onde deveriam estar as roupas, devidamente organizados.

Alice gostava mais dos filmes Cinco e Seis, e decidiu entre os dois.

– Operação Rio – respondeu, respirando fundo.

– Isso! – exclamou Jack, satisfeito.

Ele tornou a fechar a mala e colocou-a sob a cama novamente, deixando apenas Velozes e Furiosos 5 para fora.

– Estou surpreso com a senhorita hoje, Alice – Jack admitiu, inserindo o disco no aparelho de DVD que ele mesmo trouxera. – Mas prefiro não contestar.

Alice se sentou sobre o tapete, encostando a lateral do corpo na cama de Jack. Ele deitou-se de bruços e ambos assistiram a boa parte do filme, e então o celular de Alice apitou.

Mais rápida que a luz, ela desbloqueou a tela do celular e viu que era uma mensagem de Luke. Os ombros dela relaxaram como se um enorme peso houvesse sido retirado. Não, ele não se esquecera dela.

E, ao ler a mensagem, ela ficou de queixo caído.

“Alice, oi. Desculpe-me por não termos nos encontrado nesses dois dias, mas eu ando ocupado. E preciso pedir uma coisa importante. Preciso que vá a um lugar comigo amanhã. Não sei mesmo como te pedir isso, mas é urgente. Me responda o mais rápido possível dizendo se está ou não livre amanhã.”

Alice terminou de assistir ao filme, mas não estava prestando atenção. Respondeu que estava livre no dia seguinte, mas não perguntou o que queria saber: Para onde ele queria ir?

Ela deu boa noite a Jack e saiu do quarto dele, indo para o seu próprio. Deitou na cama e não conseguiu dormir, porque pensava e pensava. Finalmente, decidiu mandar outra mensagem para Luke, questionando o local a que ele pretendia ir e queria tanto levá-la.

A resposta demorou, e, quando Alice leu, chocou-se.

“Preciso que vá comigo até a casa do meu pai.”

Depois disso, Alice resolveu não enchê-lo mais. Aquilo não fazia nenhum sentido. O pai de Luke o abandonara, provavelmente não morava por perto e por que ele gostaria de tê-la por perto?

Alice revirou-se na cama durante a noite toda, e quando amanheceu ela tratou de sair de casa. Eles haviam marcado na praia, e Alice chegou um pouco cedo demais. Sentou-se em um banco perto do quiosque, e esperou por Luke.

Talvez dez minutos mais tarde, ele apareceu. Os olhos levemente inchados, ele parecia ter chorado na noite anterior. Evitava olhar nos olhos de Alice. Ela o abraçou.

– Onde fica a casa dele? – perguntou ela, evitando perguntas muito específicas.

– Ele está em Onset agora – Luke respondeu, a voz baixa e um pouco rouca.

Ele conduziu-a até o carro, e não conversaram durante o caminho todo. Pareceram atravessar uma boa parte da cidade, e Luke finalmente estacionou o carro.

A rua era bonita, com algumas árvores e casas pequenas e com o típico clima de praia. Alice e Luke andaram lado a lado. Então, Luke conferiu um papel no bolso e parou, de frente para uma casa simples.

Era branca, com quatro janelas na frente e uma porta com tela para mosquitos. Ao lado havia um barco, e Alice não sabia se pertencia ao pai de Luke ou ao proprietário da casa ao lado, já que não havia cerca.

Luke segurou a mão dela.

– Obrigado por vir – murmurou, beijando o topo da cabeça dela. – Não tenho como agradecer.

Ela surpreendeu-se com a demonstração súbita de afeto, mas permaneceu imóvel com um sorriso calmo. Queria dizer-lhe que não devia se preocupar com agradecimento, mas lhe pareceu inoportuno. Luke parecia só um garoto deslocado, mas era bem mais forte emocionalmente do que aparentava.

Olhando normalmente, parecia alguém alheio à maioria das coisas. Mas não.

Luke deu alguns passos e bateu na porta de madeira, mantendo Alice logo atrás. Ela observou quando Luke prendeu a respiração ao ver a maçaneta girar. E permaneceu presa quando a porta se abriu.