Melisandre desceu seus olhos em direção ao rapaz pela enésima vez aquele
dia... não se podia dizer que ambos tinham um bom relacionamento. Um
estava sempre implicando e incomodando o outro, principalmente o
rapaz... ele parecia fazer questão de irritá-la vinte e quatro horas por
dia, sete dias por semana, quatro semanas por mês...

–Que diabos você quer dessa vez, Isaak? -houve um minuto de protesto,
enquanto a tática de ignorá-lo era mandada para o ralo junto com sua boa
educação. Ela não tinha atirado uma pedra na cruz, mas sim jogado uma
bigorna... só podia ser.

–Ah, você sabe... te perturbar é um ótimo hobby, nunca me canso.

A resposta dela foi um bufar e revirar de olhos. Mastigou a parte
interna da bochecha, uma mania de quando estava nervosa, e focou sua
atenção no caderno entre seus dedos.Quisera terminar uma tarefa de casa,
mas com Isaak por perto, isso era impossível.

–Você não cansa nunca?

–Não...

–Eu preciso terminar isso aqui...

–Ahn, sério?

O descaso na voz dele fez com que ela segurasse o caderno em forma de
cilindro e o batesse em sua cabeça. -Se não vai me ajudar não atrapalhe,
caramba!

–Ai! Sua ignorante... você é sádica ou o que?

–Vou te mostrar quem é sádica já, já... -voltou a abrir o caderno e
mudou de posição, ficando com as pernas cruzadas, como se estivesse
meditando.

–Você destila maldade...

–E você é um pé no saco... não tem nada melhor pra fazer? Tá sol... vá
jogar futebol com seus amigos ou algo assim... -balançou de maneira
metódica a mão, dispensando-o.

Isaak ergueu uma sobrancelha e sentou-se ao seu lado, os olhos focaram o
céu. "Não tem a menor graça sem você."
Ele pensou, mas não disse. Em vez disso, seu argumento foi algo assim:

–Sabe, estou feliz... é um bom dia para estar feliz não acha?

–Sentimentalista... tem pelo menos um bom motivo pra isso?

–Hummm... sim, eu diria que sim...

Mel apenas moveu o foco de seus olhos para observá-lo novamente, e
surpreendentemente recebeu um beijo na bochecha. A careta enfezada que
fez foi o suficiente pra ele se distanciar o mais rápido que conseguira.

–Okay, okay... estou saindo... não precisa me matar... -pôs-se de pé
novamente, começando a andar pela calçada. Não parecia nada zangado,
muito pelo contrário.

–Clap along if you know what happiness is to you...¹–cantarolou para si
mesmo, enquanto seguia em frente e virava a esquina...

Melisandre podia até mesmo negar o quanto quisesse, mas o verso chegou
aos seus ouvidos. Um leve rubor passou pela sua face, enquanto ela
juntava ambas as mãos na frente do rosto, batendo-as uma vez.

–Idiota...