Anything Goes escrita por drewmi


Capítulo 2
II. Planos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/541439/chapter/2

Pensando bem, eu fiz a coisa errada. Entendo que meu pai foi tomado, e nenhum tônico milagroso pode consertar isso. Mas eu precisava ser corajosa.

No momento que ele foi mordido, quase não entendi o que estava acontecendo. Mas depois eu percebi que aquilo, o que quer que fosse, não tinha volta. E eu não tive um único pingo de coragem para tirar meu pai daquela situação. O único jeito seria matá-lo de vez, o que é preferível do que ser deixado perambulando por aí com fome de carne humana.

Não ando armada, é claro. Mas acho que pedras resolveriam; "mire na cabeça", ele disse no meio de suas últimas palavras entrecortadas por sua respiração já falha. Ou eu poderia sair do bunker com as armas que achei por aqui e procurá-lo. Devia isso a ele, depois de tudo.

Meu pai foi um cara simples, mas divertido. Antes da minha mãe falecer, quando eu tinha seis anos, nós três sempre saíamos para fazer piqueniques e acampar. Lembro-me dos dias mais gelados, quando fazíamos fogueiras e cantávamos músicas antigas que meus pais adoravam. Beatles, The Smiths, Rolling Stones... a maior parte do meu gosto musical vem desses dias calmos que passava com a minha pequena família.

Depois de mamãe falecer, ele nunca deixou de me levar para acampar, ou montar as fogueiras nos dias frios. Claro que não era a mesma coisa sem a minha mãe, mas ele nunca me abandonou, e isso foi o mais importante. Ele sempre me ajudou, e nunca deixava de acompanhar meu crescimento e a minha vida, apesar de trabalhar duro, e por dois.

Amava - ou melhor, amo meu pai. E não sossegarei até tirá-lo dessa meio-vida-meio-morte horrível que tomou conta de seu cérebro. Não permitirei que ele sofra mais; Acredito que ele ainda seja ele, bem lá no fundo. Bom, nesse mundo perdido ele não poderá mais se recuperar. Mas logo ele encontrará mamãe, onde quer que ela esteja. E do jeito que as coisas andam provavelmente eu serei a próxima, antes do esperado.

Exatamente 120 horas que estou presa aqui. Comecei a juntar tudo o que preciso pra sair e procurar meu pai. Achei uma mochila velha, a que usávamos para acampar. Ela é de couro e, apesar de antiga, continua resistente.

O movimento lá fora diminuiu. Os tomados ainda vagueiam, mas com menos frequência. Aliás, não vejo meu pai faz um tempo. Ele costumava se arrastar aqui perto, procurando algo - ou melhor, alguém - para se alimentar.

Antes, quando ele ainda estava por perto, eu poderia tentar acertá-lo daqui de dentro. Mas só decidi que era o que eu deveria fazer agora, então realmente preciso sair para procurá-lo. De qualquer jeito, é melhor assim; tenho a certeza de que isso não pesará em mim depois.

Só sairei quando eles estiverem mais dispersos e afastados daqui. Isso pode acontecer amanhã ou só daqui umas semanas. Bem, preciso salvar meu pai, mas não deixarei a cautela de lado.

Não tenho certeza de que vou voltar; nas verdade, tenho quase toda a certeza do mundo de que não vou nem conseguir dar meia dúzia de passos lá fora antes que um deles arranque meus braços ou sei lá o que. Mas mesmo assim, estou certa de preciso fazer isso. Afinal, preciso de um propósito para continuar vivendo nesse mundo; não ficarei sentada até adoecer ou envelhecer, esperando a morte.

Ainda tenho esperanças de que haja seres humanos vivos lá fora. Espero encontrar alguém conhecido; nossa cidade inteira não pode ter sido tomada em tão pouco tempo. Quem sabe não acho alguém em quem eu possa confiar?

Aliás, procurei a pasta que meu pai citou, a C-203. O arquivo gigante, cinza e enferrujado do bunker já estava completamente bagunçado quando eu consegui encontrá-lo, então não achei pasta nenhuma. Mas continuarei procurando até a hora que eu sair daqui. E, bem, quando eu voltar; SE eu voltar.

Pra falar a verdade, estou depositando minhas esperanças em Andrew. Ele é meu melhor amigo desde sempre, e nós dois formaríamos uma ótima dupla nisso tudo. Não sei se mencionei, mas costumava fazer diversas aulas de diferentes artes marciais. Ainda não perdi a forma, e tenho certeza que ele também não.

Provavelmente Andrew está vivo ainda. Fico pensando se ele está sozinho por aí, como eu. Sua família se mudou para a cidade vizinha, mas ele ficou. Disse que foi por minha causa.

Dois dias antes dessa doença, ou sei lá o que, se espalhar e tomar a cidades, nós nos beijamos. Ele avançou, e eu não recusei. Fazia um tempo que nutria sentimentos por ele. Já o amava como amigo, mas era algo mais. Aliás, é algo mais. Não o esqueci, claro. Preciso dele, e estou segurando firme com esperanças de encontrá-lo por aí quando sair para procurar meu pai.

Pensando bem, agora tenho duas missões. Preciso de Andrew.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anything Goes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.