Quando o sol surgiu além das colinas, Claire acordou exausta. Estava se sentindo mal, mas não lembrava-se de seu pesadelo. Estava exausta, então conseguiu dormir um pouco na aula de química. Bem, não faria diferença, suas notas eram boas em química.

– Sem querer ofender Claire, mas você está péssima. Teve outro pesadelo? - Claire assentiu.

– É, mas não me lembro oque foi. Acho que vou pra casa direto da escola.

Na aula de Literatura, ficou rabiscando no caderno, sem perceber oque escrevia. Ao chegar em casa, tirou a roupa e deitou-se na cama, exausta. Disse aos pais que a escola tava a ocupando e o clima não ajudava. Charlie e Alice ficaram brincando no parquinho da casa. Claire olhava para a floresta através do janelão, e adormeceu com a visão de uma figura alta movendo-se entre as árvores. Ficou com medo, mas o sono falou mais alto.

Acordou com o telefone tocando no corredor. Olhou para o relógio ao lado da cama. Meia-Noite. Havia perdido a hora do jantar e seu estômago roncava. Saiu da cama num pulo e atendeu o telefone. Silêncio. Estava farta daquilo e largou um "Foda-se" para quem estava a ouvindo. Desceu as escadas e foi até a cozinha, sua mãe havia deixado uma sobra de lasanha na geladeira. Colocou no microondas e esperou aquecer. Ouviu-se o telefone tocar denovo, mas ignorou-o outra vez. Sentou-se na mesa sozinha, e devorou o pratinho da lasanha de carne com um gole de coca. Ficou sentada à mesa, olhando para aquela cozinha. Nossa, é praticamente o triplo do tamanho da cozinha do antigo apartamento. Riu. Parecia tão distante as noites no hospital, as seções de tratamento. Afastou a ideia ao balançar a cabeça. Estava guardando a louça na pia quando ouviu um barulho de corpo caindo. Subiu as escadas numa pressa só, e Charlie estava deitado no chão do corredor.

– Charlie! Ai meu Deus, oque aconteceu? - o menino de cabelos escuros como o dela a olhou, triste.

– Desculpe, maninha, é que eu ouvi uns passos e vim correndo pra cá. Acho que eu tava tendo um pesadelo.

Claire sentiu o coração gelar. Charlie? Ele nunca teve pesadelos antes.

– P-pesadelo? Com oquê?

– Eu não me lembro agora. Só vim correndo pra cá e tropecei na bolinha. Desculpe, Claire. - Ele a abraçou forte. Ela ainda estava muito chocada. Levou-o no colo até o quarto, e depois voltou para o seu. O caderno havia caído no chão, perto da janela.

Havia vários rabiscos fortes de árvores espalhadas pelo canto da folha. Não árvores comuns- pinheiros. Círculos também haviam sido desenhados, e havia uma frase escrita no centro com uma letra garranchuda:

Não vá para a floresta - fuja fuja da floresta não faça como as Beryl ele vai te pegar ele vai ele vai ele vai te pega...

Claire fechou o caderno. Um vulto passou pela floresta.