Gritos no Silêncio escrita por Jessica Stall


Capítulo 3
Capítulo 3 - Único amigo.




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Era o primeiro dia de aula de Claire na nova escola e por mais incrível que pareça, não estava nervosa. Simplesmente não estava. Acordou antes do sol nascer; estava transtornada com a noite anterior. Como a lanterna tinha ficado ligada, se tinha adormecido na cama? E se tivesse dormido perto da janela, como foi parar na cama denovo? Quem eram aquelas meninas? Tudo parecia uma grande bobagem, mas isso continuava a assombrar Claire. Tomou café reforçado e decidiu que ia a pé para a escola: Oque totalizou uns 40 minutos.

A escola de Mader Joseph era uma construção de teto baixo e paredes de pedra cinza. A entrada principal parecia uma igreja, mas dentro a escola era um tanto modernizada. A luz era azulada e havia um grande aquário no final do corredor. Claire pegou o horário na secretaria junto com o número de seu armário. Ninguém falou com ela, nem sequer olhou para ela. A primeira aula foi de Ciências Humanas e depois, Física. O professor de Ciências a apresentou à sala, mas mal deram atenção à ela. Lanchou sozinha, mas não achou isso ruim. Na escola antiga tinha somente Leo e Jenna... Poderia acostumar-se a viver daquela maneira. Seria até bom ficar sozinha de certa forma: Poderia ler todos os livros de sua lista em paz e rapidamente. As coisas continuaram em seu percurso até o terceiro dia: No fim da aula, um garoto ruivo e alto foi falar com Claire. O nome dele era Steve Brown e estava no segundo ano. A voz era suave e nervosa, os olhos eram castanhos e usava óculos. Perguntou se ela era "A Garota Nova" e Claire disse que sim, apesar de estudar na Mader Joseph há 3 dias. Ele era gentil, mas não era muito interessante. De qualquer maneira, não irritava, e seria bom ter alguém para conversar.

Steve disse que poderia deixa-la em casa se quisesse. Ele morava em uma das últimas casas da vila, e passava perto do bosque. Estavam andando por entre os pequenos quarteirões quando Claire viu.

A mulher dos olhos de gelo estava parada em pé em uma varanda. Ela agora usava um vestido branco e um manto da mesma cor. Olhava fixamente para Claire, que não se controlou e encolheu-se. Sentiu as pernas balançarem e o corpo ficar frio. Oque diabos aquela velha tinha? Acabou esbarrando em Steven, que a levou para o café mais próximo. Lá estava quente e seguro, havia cortinas do lado de fora para impedir o sol e Claire sentiu-se melhor.

– Oque aconteceu? Você tava passando mal... - disse Steven, pedindo um café à atendente.

Claire pensou que não era bom falar daquilo agora. Ele poderia acha-la estranha, e levar uma certa fama em cidade pequenas é muito ruim. Balançou a cabeça, bebeu um grande gole do café e disse:

– Nada. Não foi nada demais. Talvez pressão baixa, o clima daqui é... Diferente. Venta demais. E há... Toda aquela floresta... Na cidade a gente não tinha disso. - Steven riu, então ela riu também. Até que ele não era tão desinteressante como pensava.

Ele a deixava todos os dias no comecinho do bosque e ia a pé até em casa. Jenna ligou logo depois do jantar, e as duas conversaram durante horas. Ela disse que achava que Leo gostava dela, e Claire disse que um namoro entre os dois seria bom.

– Agora não! -respondeu Jenna, e ambas riram - Quer dizer, eu não sei... Até agora só quero amizade dele. Mas quem sabe em um futuro próximo?

Conversaram e conversaram, até dar-se de conta que todos na casa já haviam se preparado para dormir. Desligaram e Claire colocou o pijama, mas estava sem sono. Havia tomado café de manhã, à noite e quando quase desmaiou, ainda mais cedo. Devia ser aquilo. Começou a ler sentada nos travesseiros junto à janela. O tempo passava e nada de sono. O telefone tocou no corredor, e Claire levantou-se para atender.

– Alô? - perguntou, e ninguém respondeu. Devia ser o mesmo engraçadinho que ligou quando se mudaram para aquela casa. - Olha aqui, se não falar nada eu vou ligar para a polícia, entenderam? - o silêncio continuou. Ela estava prestes a desligar quando ouviu um barulho vindo da sala. Era como se fosse um tombo, algo caindo. Claire sentiu seu corpo perder todo o calor. O suor saia frio. E se tivessem invadido a casa? Se fosse um animal do bosque? Pegou o vaso que estava ao lado da mesa do telefone e foi em direção a escada. Tentou espiar oque estava havendo, mas estava escuro demais. Outro barulho de objeto caindo. Passo por passo foi descendo a escada. Merda, havia esquecido a lanterna no quarto. Os barulhos cessaram. Acendeu a luz da sala. Nada. Na cozinha, um enfeite de metal da geladeira caíra no chão e um prato havia caído da pia. A janela estava aberta. Um gato devia ter entrado, a mãe esquecera a janelinha da cozinha aberta. Limpou os cacos do prato e colocou o imã denovo em seu lugar. Como um gato teria entrado ali se a janela que estava aberta, além de minúscula ficava próxima ao teto? A pergunta passou como um raio pela mente de Claire, que ignorou por completo. Estava intrigada em ver o gato que causou aquele estrago. Acendeu a lanterna e apontou para a floresta. A lanterna era de longa distância, ou seja: A luz do quarto atrapalhava.

Desligou a luz do quarto, apagou as velas e deixou acesa somente a luz do closet e da lanterna. Nenhum sinal, nenhum vulto. Então apontou para o topo da colina, perto da fenda. Nesse momento, a copa das árvores de mexeram. Claire fixou os olhos ali.

Ele anda, ele anda
Pelos bosques ele anda.
Eu o sigo, eu o sigo
Sou o seu único amigo
Ele não me assusta, não faz caretas
Seu rosto é branco. Me acalma, me prende.
Ando pela frente, pela frente
Para trás não posso olhar
É melhor não se arriscar.

Quem anda por essas florestas quer com ele encontrar
Mas se o encontram sabem bem
Sabem bem, muito bem
Que para casa nunca mais
Irão voltar.

A música atingiu de forte Claire. Uma calma voz infantil a cantava bem em seus ouvidos.

Borrões passaram em sua visão. Claire Daan teve o impulso de correr até a cama, enfiou o rosto no travesseiro, mas a voz continuava em sua mente. As três meninas subiam a colina. A de olhos verdes de perdia. Ela corria para o abismo e lá dentro ela caía. Mas os seus olhos não fechavam. Continuavam petrificados. A música continuou a tocar, e Claire começou a chorar. A voz infantil ficou tomada por ruídos estranhos - Televisão em estática, corpos caindo, risos. A mulher dos olhos de gelo estava olhando para ela, fria e mórbida.

Ele não tem rosto, não tem com oque se preocupar
Se tiveres algum segredo, ele sabe muito bem guardar

A menina continuava a correr, repetidas vezes até cair no precipício. A velha a olhava. A cabeça de Claire latejava. A porta do quarto abriu com tudo, fazendo um ruído infernal. Ela gritou, e sentiu uma mão fria a tocar. Gritou mais alto e abriu os olhos.

Era a sua mãe, preocupada. Seu pai também estava lá, parado junto a porta.

– Calma filha, calma. -disse a mãe, colocando sua mão no rosto da filha - Você estava gritando e seu pai abriu a porta a força, já que estava trancada. Foi um pesadelo, amor?

– Sim. - respondeu, engolindo as lágrimas. - Foi um pesadelo. Desculpem o transtorno. Acho que não me adaptei ainda a casa nova. - disse, e sorriu. Os pais assentiram e deram um beijo na testa suada da garota.

Ela esperou eles saírem e levantou-se, acendeu a luz do quarto.

A lanterna estava apagada, mas continuava a mirar a floresta. O Apanhador No Campo de Centeio estava no chão, um tando amaçado.

Claire pegou o livro e a primeira página estava uma frase escrita em garranchos de caneta preta:

NÃO ENTRE NA FLORESTA

Claire arrancou a página com cuidado, amaçou e foi até o lixinho do seu quarto.

Mas mudou de ideia. Pegou a folha e colocou na última gaveta de sua cômoda. Limpou o suor do corpo e foi dormir.

Eu o sigo, eu o sigo
Sou o seu único amigo.


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