- Cadê aquele capeta? – Ouvi Jacob gritar do andar de baixo, com os passos pesados sobre o piso. Batendo as portas.

Deve ser eu o capeta. Fico até acanhado quando me chamam assim. Mas de alguma forma, ele parecia estar muito bravo, muito mesmo. Tenso.

Eu nunca faço nada de errado. Minha família tem alguma coisa contra mim. Se alguém não da descarga, culpa minha. Se alguém enfiam o controle remoto na televisão pensando que pode machucar o Barney, a culpa é minha. Se alguém solta um pum e faz a arvore cair, a culpa é minha. Se alguém compra protetor solar nessa casa, eu que sou o idiota que gastou o dinheiro a toa.

Ta, ta. Eu posso ter feito toda essas coisas, mas não de propósito. Talvez eu tenha dupla personalidade ou algo do tipo...

- Humm

 Vocês acreditam em mim né?

- Sua peste, abre a porta. – Ele estava do lado de fora do sótão. – Abre, eu preciso conversar com você. – Jacob parecia muito estressado, provavelmente era mais uma crise de TPM.

- Estou ocupado. – Falei.

- Com o que ?

- Estou, estou... – Eu preciso pensar em alguma desculpa rápido. Não tava afim de ficar escutando ladainhas. Poxa, eu to inspirado mano. – Eu estou colhendo manga. - Disse rápido, mordendo os lábios nervoso. Fiz figas, torcendo para que ele acreditasse.

- Ata.- Ele falou vagamente do outro lado da porta. – Eu tenho cara de que? Idiota?

- Sinceramente?

- Fala querido, só não me responsabilizo depois pelos meus atos. – Ele berrou, rugiu, e provavelmente tacou a cabeça contra a porta.

- Claro que não, nunca, de forma alguma, de jeito nenhum. Idiota? – Ri tenso. – Magina, talvez só um pouquinho... Mas isso não importa, afinal existem caras com cara mais idiota que você. É, isso. Bom eu acho.

“Putz, ferrou.” Pensei, me rendendo abrindo a porta. Quando ouvi um baque estrondoso, parecia que a porta ia cair. "Proteja-me Mulher gato", Rezei. 

Jacob entrou, deu um sorriso estranho. Fiquei com medo naquele instante.

- Você sabe o quanto é importante você parecer um cara normal na escola?- Falou calmo.

Eu acenei um sim com a cabeça, sem piscar. Eu já era normal. Lógico.

- Então trate de fazer essa apostila algo útil. E não um monte de folhas para você ficar fazendo zuações dos professores, ou minha.

- Opa, opa, opa! – Eu falei nervoso. – Refira-se á ela de ADELAIDE. – Apontei para a apostila, e soletrei. – A-D-I-L-A-D-E-W + H pra fica Chik. 

Eu adorava o Jacob, ele era meu herói e tudo mais. Agente se divertia bastante, compartilhava segredos, confiável, alegre e que sempre me apoiava. Mas as vezes, ele discutia um pouco comigo sobre minhas raras brincadeiras inofensivas. Algumas. 

Ele estava me olhando pasmo. Com os olhos cor de chocolate, esbugalhados. E depois respirou fundo, contendo o riso.

- Você deu um nome para a apostila? – Então ele saiu do sótão, onde eu escrevo, gargalhando. Eu fiquei confuso. – Esse menino não tem solução.

Eu sorri, contente.

Olhei para a ADELAIDE. E sabe, isso pode ser útil para vocês. Uma apostila, tem mais do que uma utilidade. Alem de estudar, você pode usa-la para se proteger da chuva. Ou quando quiser sentar em algum lugar, mas não sujar a bunda, use a apostila como apoio e o mais importante- No final delas sempre tem uma folha em branco, então quando der uma dor de barriga, não precisa usar folha de bananeira, só pegar a da apostila. Mas cuidado, ela morde.

E não esqueçam de dar um nome para elas. Pisca.

Quem sou eu ?

Fica na curiosidade,baby.