Perceptível escrita por Lostanny


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/541296/chapter/1

Kozato Enma da família Shimon era uma pessoa sombria. Não era a primeira vez que Hayato observava aquela figura sentada próxima a si: os cabelos de tom intenso, a fala disparada, os gestos desesperados de uma atenção inusitada, uma aura obscura que o envolvia às vezes... Boa parte das vezes, como se lamentasse o fato de ainda estar vivo e causando problemas a todos...

Tinha tudo para que fosse perceptível ao ambiente, mas não era notado. Isso irritava Gokudera em demasia, principalmente pelo fato que ele se importava!

– Hayato-kun...? Tem algo de errado com o meu rosto...? Você está me encarando já faz um tempo sabe... - Enma falou baixinho.

E como se escolhesse bem as palavras.

Hayato tinha dito ao outro que estava “permitido” a chamá-lo assim... E seria estranho chamá-lo diferente... Era o que todos deviam imaginar. Menos Gokudera que se importava com apenas uma coisa...

– Você é estranho. Tenho que te analisar para descobrir o motivo. - Gokudera falou espontaneamente.

Como se fosse algo natural de se fazer.

– Eh...? Mas... Você disse o mesmo outro dia... - Enma falou parecendo um pouco chateado.

Só um pouco, como que acostumado a ser importunado, mas Gokudera não pareceu entender as entrelinhas daquele tom.

– Ainda não está bom... Preciso pesquisar um pouco mais. - Gokudera disse com firmeza.

Apenas isso.

Enma apenas deixou que um suspiro saísse de seus lábios.

A aura negra ao redor do ruivo se intensificou.

Os olhos de Gokudera que ainda estavam fixos no Kozato brilharam de expectativa diante daquele novo mistério que tinha se proposto a resolver.

As aulas prosseguiram sem dar atenção aos conflitos internos de nenhum estudante. Gokudera continuava observando o ruivo de hora em hora, sem saber que era o motivo para que a tristeza já consolidada do Kozato aumentasse mais um pouco.

Uma hora Enma também se viu fazendo o mesmo, não aguentava ser o único a ser espionado. Não o fez de forma tão analítica quanto o outro, mas de uma forma que tirasse toda a concentração que poderia vir a ter.

E o que viu foi... Cabelos prateados, olhos esmeraldinos, óculos de quando o outro se propunha a resolver uma tarefa difícil, o uniforme do terceiro ano impecável já que “era assim que o braço direito do Décimo devia se vestir”...

E determinação, uma coisa que o Kozato não experimentava desde muito tempo.

Mais especificamente desde que decidiu realizar sua vingança.

O tempo passou. Com o fim daquele incidente, que se tinha resolvido da melhor forma possível para as duas famílias, ele continuou em Namimori, e nada mais pareceu chamar a sua atenção a não ser os gatos.

E a amizade com o futuro chefe Vongola é claro. Tsuna teve o azar - ou sorte - de estar em uma sala diferente da deles assim como os outros da Shimon e Vongola que ainda estudavam.

O que triplicava o nível de carência que o “braço direito” poderia ter de atenção... O que acabou sendo uma sede absurda por sua atenção.

Não eram amigos, pelo menos era o que o Shimon achava. Se não fosse essa atual obsessão de Gokudera quanto a ele nada mais os ligaria, sem contar com Sawada Tsunayoshi.

– Kozato-san... Vamos fazer esse trabalho juntos! - Gokudera exclamou com a animação não usual com que geralmente tratava Tsuna.

Era estranho para ele sendo tratado daquela forma “amistosa”, mas o Kozato não reclamaria por isso.

O ruivo só havia feito amizade com Tsunayoshi no tempo que estava no colégio de Namimori e isso também valia para seu colégio anterior então ele realmente ficou feliz quando Gokudera passou a conversar com ele e tentando fazê-lo participar das coisas que gostava... Como procurar indícios de ovnis nos arredores da cidade.

Porém havia alguns questionamentos que não queriam sair de sua cabeça:

“Para ele sou apenas um material de pesquisa. O que vai acontecer quando ele se der por satisfeito? O mesmo de Shitt P? Vou ser ignorado?”

O que o carregava cada vez mais de sentimentos ruins...

– Ei - Gokudera chamou o outro - Tá livre depois da aula?

Enma se arrepiou por inteiro, tanto pelas conclusões depressivas que se abrigavam em seu cérebro quanto pelo chamado repentino do Vongola presente.

Até que parou para pensar um pouco.

Devia ser algo importante.

Hayato não era de mudanças e o que ele geralmente fazia depois da aula era encontrar Tsuna e relatar sua “experiência escolar”.

Depois parou mais uma vez.

Ele estava sendo a prioridade e não Tsunayoshi, o que o deixou parcialmente feliz e parcialmente triste e parcialmente confuso por pensar em seu amigo naquele momento como um obstáculo.

E provavelmente não devia considerar isso como uma felicidade, pois se tratando de Gokudera Hayato podia ser qualquer coisa mesmo.

–... Sim... - Enma respondeu relutante e tinha bons motivos para isso.

– Então vamos à minha casa. Tem algo que eu gostaria de tentar. - Gokudera falava animadamente.

E o Shimon tinha alguma escolha além de concordar?

– Er... Sua casa...? - Enma perguntou em uma tentativa de resistência.

– É. Ainda tem trabalho para fazer, não é? E na sua casa que eu não faço, tem muita gente barulhenta.

Como se alguém da Vongola pudesse dizer algo assim!

Mas tinha que admitir que o motivo em parte por ele tirar notas baixas era que não conseguia se concentrar em seu lar.

Não quando tinha uma Adelheid gritando com um Julie para que se comportasse pelos mais variados motivos. Um Aoba treinando arduamente para vencer seu rival no boxe Ryohei, Kaoru no baseball - e quebrando as janelas dos vizinhos no processo.

E ainda havia Rauji brincando com Lambo envolvendo granadas - o garoto meio que já era visto como parte da família pela frequência que passava por lá.

Não era de se admirar que a essa altura tivesse tudo menos a bendita concentração.

Ah, e eles ainda reclamavam e não entendiam o motivo de suas notas baixas...

–... Tudo bem... - Enma disse.

Tentava responder normal, sem suar muito, sem mostrar muito sentimento, sem que um sorriso bobo brincasse nos seus lábios... O que não foi muito produtivo, pois ele se mostrou ali mesmo que em um ângulo esquisito.

Patético... E provavelmente estranho. Mas de longe o mais estranho era que viu Gokudera corar com aquilo! Não, definitivamente não era por ele, muito menos por ter sorrido daquela forma. Ninguém podia ter um gosto tão ruim assim...

A face do ruivo ficou em brasa. A aula ainda não havia acabado, porém para a sua felicidade do Kozato os alunos que deveriam estar próximos deles, e que poderiam ver aquela cena inusitada de Gokudera Hayato vermelho até as orelhas, eram os do tipo “infratores” e já haviam se retirado antes do tempo com a desculpa de “ir ao banheiro”.

Minutos depois a aula terminava, e o sinal do fim das aulas da tarde soou. Os alunos saíram apressadamente da sala com a intenção de conseguirem seu “ar puro” mais uma vez.

Talvez fosse a primeira vez que Enma quisesse se arriscar a se lançar nos corredores, mas acabou por fazer uma ligação a Adelheid ali mesmo para informar sobre “sua” alteração de planos.

A moça tinha ficado em casa aquele dia, pois tinha ido longe demais da última vez que brigou com Julie e se encarregou de pessoalmente cuidar dele por isso.

– Hayato-kun... Já terminou de arrumar suas coisas? - Enma perguntou segurando a alça de sua bolsa com um pouco de força.

– Ah, eu já termino...

“Ele estava anotando algo sobre mim outra vez”

Enma pensou comprimindo um pouco os lábios, mas apenas isso. Não queria ter de mostrar ainda mais a extensão de seus sentimentos. Sua vontade era tomar aquele caderno e ler... Mas não tinha coragem para isso.

Compartilhando de seus pensamentos - mas sem ter a ideia de perigo - Longchamp Naito apareceu junto de sua mais nova namorada de aparência inusitada e tomou das mãos de Gokudera o caderno que procurava guardar.

Enma gelou em seu lugar enquanto que Gokudera lançou um olhar irado a Naito que aparentemente não ligou ou não entendeu.

– São minhas anotações. - Gokudera falou mantendo o olhar afiado junto a um tom cortante.

– Eu estou vendo! E não estou vendo mais - Naito disse ainda com um sorriso em sua fase, dessa forma devolvendo o caderno após uma rápida folheada.

– Se você acha que pode vir pegar minhas coisas e ficar por assim... - Gokudera soltou ameaçadoramente.

– Ora, estou apenas sendo o herói do dia! É meu dever como apaixonado ajudar outro apaixonado!

“Hã?” Gokudera e Enma deviam ter se perguntado, cada um em seu tom.

–... Eu sei por que sou muito apaixonado pela minha querida Mai! E escrevo sobre ela todos os dias!

– Não me chame de “querida”... Eu fico com vergonha...! - a garota de aparência inusitada disse com o tom de voz indiferente, para não dizer morto, enquanto dava um cascudo no “namorado”.

–... Sua tímida...! - Naito falou debilmente como se necessitasse de ajuda médica - Desculpa interromper a reunião de vocês... Já estamos saindo! Consegui o que queria...!

Enma não sabia se devia interromper o outro para questionar o que havia dito, mas Hayato foi mais rápido agarrou a roupa do outro com força.

Como estamos falando de Gokudera Hayato, ele não pensaria nas consequências... Enma já imaginava o presidente do comitê estudantil aparecendo naquele momento para bater em todos por “quebrarem a paz de Namimori”.

Mas Gokudera não bateu em Naito, apenas o observou seriamente e depois disse com um sorriso de triunfo “Valeu! Finalmente eu descobri o que queria!” antes de soltá-lo e apenas ele e o Shimon estivessem ali.

– Vamos lá então!

Gokudera agarrou o pulso de Enma sem que ele pudesse se dar ao luxo de perguntar o que o outro tinha descoberto... Normal. Se o Vongola não tivesse se mantido onde estava e apenas puxado o Shimon para si... Segurado seu rosto desajeitadamente e colando-lhe os lábios mais desajeitadamente ainda.

Não. Definitivamente isso não era normal!

– Hayato-kun... O que foi que você descobriu??

Enma acabou por perguntar assim que foi ligeiramente solto. Ainda estava nos braços do outro. Não haviam feito nada muito longe, era apenas um “selinho”... O suficiente para tirar de ambos o fôlego, as faces abrasadas pelo sentimento novo que descobriam.

– Eu... Queria descobrir porque você me chamava tanta atenção então comecei a te analisar... Tinha que ser muito simples para que eu não pudesse ver... Esse Naito... Eu... Quero te beijar outra vez Kozato-san!! Quer dizer que eu te amo, não é!? - Gokudera soltou tudo sem controle, assim como o dever de um guardião da tempestade pedia.

Uma tempestade furiosa de ataques sucessivos, sem tempo para retorno.

E não era como se algum deles quisesse retornar.

Kozato observou aquele garoto a sua frente e o que viu o surpreendeu. Apesar de ainda manter seus olhos com determinação ali havia insegurança, tinha medo, tal qual Enma estava acostumado a sentir.

Talvez por ter forçado o Shimon beijá-lo sem consentimento, talvez porque aquela era a primeira vez que não estivesse agindo nos padrões de um temível “braço direito do Décimo” em muito tempo e não soubesse como agir em seguida. Seus braços seguravam o Kozato firmemente como uma gaiola, como se não quisesse deixá-lo sair dali nunca mais.

E talvez pela primeira vez em muito tempo, Enma sentia uma calma invejável adentrar seu ser.

Era estranho. Em outras circunstâncias normalmente ele rejeitaria, quereria fugir para longe... Aquele era Gokudera quem o via apenas como um material de pesquisa, que se cansaria dele algum dia e o abandonaria...

Mas seu rosto ainda mantinha resquícios de vermelho, seu coração continuava batendo rápido, e suas palavras e gestos saíram firmes embora sua voz ainda se mantivesse baixa.

Enma abraçou Gokudera pela nuca e falou bem próximo de seu ouvido:

– O que você pretendia fazer me levando para sua casa...?

– Que...? Nada demais... Eu só achei que mudando de ambiente eu pudesse notar alguma coisa... Por quê? - Gokudera falava gaguejando.

Era evidente... Era perceptível que Hayato não estava conseguindo controlar seus sentimentos. E que Enma de alguma forma conseguia saber que o coração do outro batia junto ao seu como em uma dança. E que não conseguiria dizer não. Mas que também não era fácil dizer sim, mesmo que estivesse inclinado para...

–... Eu quero tentar uma coisa. Desse jeito eu talvez também descubra...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tchau tchau gostou é só comentar sz