Eu acordei em um campo florido, com o sol batendo em meu rosto. O perfume das flores era notável e as cores eram incrivelmente vivas. Levantei ainda meio tonta pelo sono, e olhando ao redor, realmente aquele era o mundo dos sonhos. O horizonte se espalhava, longe, e aquele campo florido parecia infinito.

Olhei ao redor por um tempo, meio sem saber o que fazer, até que vi um longo cabelo rosado, cuja dona corria alegre pelo campo.

– Tomoyo? - Sussurrei, e logo me dei conta de que só poderia ser ela. - Tomoyo! - Chamei, já correndo na mesma direção dela.

A menina percebeu que estava sendo perseguida e achou divertida a brincadeira, dava altas gargalhadas enquanto tentava correr ainda mais rápido.

Logo vi que estávamos chegando a um chalé que me era bem familiar. Ela parou na porta e bateu. Parei ao seu lado, enquanto ela me lançava um sorriso adorável. Uma bela muher de cabelos também cor-de-rosa abriu a porta, e a menina pulou em seus braços, enquanto a mesma afagava seus cabelos. Eu reconheci a mulher.

Aquela menina não era minha filha. Eu conhecia aquele chalé, aquele campo, aquela mulher, minha amada mãe. Eu quase me esqueci que aquele era o mundo dos sonhos, que ali tudo era possível. Quantas vezes eu não havia sonhado com aquela minha antiga vida... Mas sempre que isso acontecia, esse sonho se tornava um pesadelo, lembrando daquele dia. Foi aí que eu me toquei.

A menina, quero dizer, eu, larguei minha mãe e voltei a correr pelo campo. Eu me lembrei do que acontecia em seguida. As lágrimas correram sem autorização pelo meu rosto, refletindo a imagem das chamas tomando conta do chalé.

Fechei os olhos, segurando a cabeça e me ajoelhando no chão. Fazia um tempo que não tinha essa imagem na minha cabeça. Desde que conheci o Sasuke e depois que tivemos a Tomoyo, eles cicatrizaram perfeitamente essa ferida.

Quando abri os olhos novamente, não vi mais nada. Escutei um choro distante.

– Tomoyo! Filha, você está aí?! - Eu gritava, mas não tinha resposta alguma... Estava tudo escuro, não enxergava um palmo à frente.

Comecei a caminhar na direção do som, mas quanto mais eu andava, mais eu me perdia.

– Mamãe? - Escutei uma voz baixa, distante. Era da Tomoyo, com certeza, eu reconheceria a voz da minha filha em qualquer inferno que me colocassem.

– Tomoyo?! Tomoyo, cadê você?!

– Está frio, mamãe... - A voz ficava mais sensível, como se ela estivesse congelando. Meu coração encolheu.

– Filha, onde você está?! - Comecei a caminhar na direção em que tinha escutado a voz dela.

– Mamãe, mamãe... Me ajude, por favor... Eles estão vindo, eles querem me pegar.

– Espera, quem está vindo?! Tomoyo, você está bem?! A mamãe está aqui, eu vou te ajudar! - Eu já gritava sem se importar o que tinha ao meu redor.

– Eles chegaram, mamãe... - Um fio de voz falou, suspirando. Continuava distante, e me doía saber que aquela droga de escuridão não me permitia fazer nada.

– Fale com a mamãe, Tomoyo! - Gritei, quando vi que não escutava mais nada dela. - Por favor, eu vim para te levar de volta! Papai está nos esperando lá fora!

– Você não vai me salvar, mamãe. - Pude sentir a respiração quente ao meu ouvido, enquanto o sussurro era alto e claro.

Definitivamente essa não é a minha filha.