Imprevisível escrita por Clary Fray


Capítulo 1
Capítulo 1 - Tudo que vai...volta!


Notas iniciais do capítulo

Nós sempre fomos apaixonadas por esse casal de irmãos tão fofos e como não achamos (depois de uma busca incessante) nenhuma fic deles, resolvemos escrever a nossa própria.
Esperamos que gostem ♥



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CAPITULO 1 - TUDO QUE VAI... VOLTA!

Não me sinto confortável encarando os grandes portões de ferro contendo desenho de dragões no topo; uma vez dentro de lá não haverá nenhuma chance de volta. O sopro gélido me remete a lembranças amargas que eu gostaria que fossem apagadas permanentemente da minha memória e ao pressionar a campainha sou acometido de um embrulho no estômago pela expectativa que não haja ninguém em casa. Casa. Há exatos quatro anos eu não sei o significado dessa palavra. Talvez seja por isso que sinto que meu coração vá sair pela boca quando a porta for aberta e eu inevitavelmente confrontar meu passado sombrio. Eu deveria estar vestido de maneira mais apresentável ao invés de parecer um completo mendigo que perdeu tudo numa aposta errônea. Calça jeans surrada, cabelos despenteados, camisa folgada, sapatos gastos pelo tempo e semblante cansado de quem não dorme há dias. Se bem que nos último três dias passei as madrugadas acordado, imaginando como será o encontro com meus familiares após eu ter fugido de casa aos doze anos de idade.

Se Gon não tivesse insistido tanto, eu nunca cogitaria a hipótese de voltar aqui de novo. Eu nem voltaria, para falar a verdade. O tempo que passei longe da minha família me transformou numa nova pessoa e eu temia que minhas antigas manias voltassem à tona ao pisar dentro da mansão em que vivi grande parte da infância. Mas eu preciso enfrentar meus problemas como um homem ao invés... de viver fugindo como um garoto covarde! Tenho que cumprir a promessa que fiz para alguém muito especial.

Apalpo os bolsos da calça pegando um chiclete de menta e coloco na boca, produzindo uma bola grande. Volto a tocar a campainha uma, duas, três vezes seguidas e ninguém atende. Uma parte de mim relaxa enquanto a outra entra em estado de alerta. Os Zoldyck nunca deixariam a casa sem ninguém, seria muito descuido considerando quem nós somos: uma lendária família de assassinos profissionais. Sim, minha família possui PhD na arte de matar.

Nossos ancestrais acreditavam que quanto mais cedo os herdeiros Zoldyck começassem o treinamento para se tornarem excelentes assassinos melhor seriam nossas habilidades, minha infância foi cercada de dor devido às torturas que fui exposto para que meu corpo criasse resistência – como levar choques de 50 V continuamente, passar dias sem comer, erguer pesos nas costas por horas seguidas sendo privado de horas de sono e ter as costas judiadas por chicotes e marcas profundas de adagas – e assim fui instigado a cada dia que emoções, desejos e amigos só atrapalhariam minha vida. E acabei virando uma pessoa totalmente fria, calculista e solitária. Isto até eu encontrar meu atual melhor amigo, Gon, mas esta história eu prefiro contar mais tarde. Preciso me concentrar com o fato de que ninguém veio atender a porta e com o súbito silêncio á minha volta.

Tiro a adaga presa na cintura e coloco entre o vão da primeira fechadura tomando o máximo de cuidado para que a trave não acione o mecanismo de armadilha, a qual joga os intrusos para Mike, o nosso “Bichinho de estimação” – se é que posso chamar o rottweiler treinado para destroçar qualquer inimigo na sua frente ou vulto que se mova, de bichinho. Mike é extremamente perigoso e duvido que ele me reconheça depois de tanto tempo passado, além de que minha aparência não é a das melhores. Estrategicamente, mexo a adaga dentro do vão fazendo uma fricção contra a tranca e ouço as sete outras fechaduras cedendo à medida que a adaga vai cumprindo seu papel. Era para eu ter perdido essa manha de arrombar portas e caminhar com passos extremamente silenciosos, como fiz ao adentrar a mansão com êxito, o que me faz pensar que a minha parte homicida e perversa planeja voltar à ativa.

E este é o meu maior medo. Que seja acometido pela aura assassina que incansavelmente lutei para aprisionar, que a morte ou tortura de alguém cause um divertimento profundo em mim e que os gritos de clamor tornem-se melodia aos meus ouvidos sádicos.

A mansão não mudou em nada desde a minha partida. Ainda são os mesmos quadros da era renascentista, os mesmos móveis banhados a ouro, as mesmas persianas filtrando a entrada de luz e os mesmos corredores que te engolem numa escuridão sem fim; o que prova que mamãe continua com seu péssimo senso para decoração e papai não se importa nem um pouco com as loucuras de consumista dela. Se duvidar meu quarto está intacto, isto se Milluki não o transformou numa sala de jogos eletrônicos. Olhando por esta perspectiva, certa nostalgia invade meu coração vendo que a morte paira no ar e a obscuridade provocada pelas janelas fechadas torna o ambiente mais sombrio do que o de costume, odeio admitir para mim, mas realmente senti falta daqui.

O silencio continua a me irritar, o que obriga que eu passe de cômodo em cômodo procurando por um sinal de vida, e frustro vendo que realmente não há ninguém. Mas isso é impossível! Eles jamais deixariam a casa desprotegida, a não ser que...

Minhas pupilas se dilatam. E minhas mãos congelam em volta do cabo da adaga. Foi como se meu cérebro ordenasse que meus sentidos de assassino fossem despertados e que me mantivesse em total estado de alerta. Eles não podiam ter feito aquilo! Não! Os olhos fitaram cada ponto a espreita de um ataque repentino, e foi assim que uma pequena faca atingiu meu ombro direito, impulsionando meu corpo a tombar no chão com a força e destreza que ela foi arremessada. Droga, meus reflexos estão mais lentos do que imaginei!

A pequena faca alojou-se no fundo da minha pele embora eu não dedique tanta atenção ao ferimento, cambaleio no chão escondendo-me atrás do sofá vermelho felpudo e obrigo-me a pensar rapidamente numa estratégia. Tecnicamente sou um intruso com aparência de mendigo e alguém indesejável, logo não há menor chance que aquela pessoa me reconheça antes que sua faca corte minha veia jugular e ela me veja agonizando, usar a voz também não funcionará já que aquele timbre infantil que eu possuía foi substituído por um timbre grave. Meus dezesseis anos, recentemente completados, estão me trazendo mais desvantagens do que as vantagens que eu queria quando soprei a vela do bolo há duas semanas.

Chega de pensar, hora de agir. Saio do esconderijo esquivando-me de um punhado de pequenas facas que sobrevoaram pela minha cabeça, um minuto a mais e teria sido degolado, e rolo o ioiô pelo assoalho de madeira em direção a sala; o objeto subitamente para ao ser transformado em pequenos pedaços ao prender-se nas linhas invisíveis e acionar uma armadilha que o destroçou em menos de um segundo. Isto prova que as habilidades de quem eu estou lidando aumentaram perigosamente durante minha ausência, o que é o mais terrível de tudo. Máquina mortífera.

Respiro profundamente. Independente de tudo eu preciso passar pela armadilha e chegar do outro lado. Balanço as mãos ao lado do corpo e relaxo os músculos, me concentrando em deixar a mente limpa – imaginando como foram armadas as cordas finas de um poder de corte inimaginável – e ao obter o desenho vou tocando o chão cautelosamente nos espaços que julgo serem os vãos entre uma corda e outra. O suor escorre pelo meu rosto à medida que fico perto demais de entrar em contato com as cordas e o sangramento do meu ferimento acentua a dor que cismei em esconder, as batidas do coração soam no meu ouvido e minha pulsação fica frenética ao notar que a sala fica cada vez mais perto do meu campo de visão. Embora eu tenha crescido uns dez centímetros, ainda consegui esquivar-me das cordas com um exímio que jurava ter perdido. Ás vezes ser baixinho não é uma desvantagem, se bem que ter 1,68 não me enquadra no grupo dos baixinhos, mas para um assassino a altura pode ser benéfica em alguns pontos.

Deito o corpo no chão sentindo a temperatura gelada do assoalho contra minhas costas, retiro a camisa manchada de sangue e rasgo uma tira fazendo um curativo improvisado prendendo a tira envolta do ombro. Inclino a cabeça para cima, ainda em estado de alerta, e inevitavelmente confronto um par de olhos azuis cristalinos me encarando com uma fúria que jamais pensei estampar aquele rosto delicado. Não houve tempo para que eu me movesse em contra-ataque, pois ela me imobilizou no chão ao pressionar brutalmente os joelhos contra as minhas pernas e roçar a lâmina afiada na minha garganta.

- Quem é você, intruso? – sua voz possui um perigo iminente. Os cabelos pretos alcançam suas costas e brilham em contraste aos raios solares, mostrando como o tempo favorecera sua beleza.

Ela me fuzila com os olhos por longos minutos enquanto mantenho silêncio absoluto. Meus olhos percorrem sua face analisando as mudanças que sofrera: o rosto adquirira mais traços femininos, seus olhos azuis pareciam mais intensos e os lábios rosados continham uma intenção de morte subentendida. Fui acometido por um aperto no peito ao vislumbrar o dia que a abandonei sozinha quando tinha apenas onze anos de idade, como fui covarde o suficiente de ir embora e deixá-la? Eu havia feito uma promessa a ela...

- Responda logo, antes que eu corte sua língua fora! – ameaça, deslizando a lâmina pela minha garganta e fazendo um filete de sangue escorrer. Se eu não disser nada ela vai me matar.

- Alluka... – engulo em seco. Como vou explicar? – Eu voltei...

- Ainda não respondeu! – ergue a lâmina na altura da cabeça preparando-se para me dar um golpe final. – Quem é você, intruso? – as sobrancelhas arqueiam perigosas.

- Eu...sou... Killua, seu onee-chan.

Sua boca se abre num perfeito "o" e os olhos se arregalam como se não acreditasse no que presenciasse, usando a mão livre ela retira a franja prateada que escondia meus olhos azuis e fita-me por um longo tempo. Então a lâmina cai ao lado de seu corpo e ela envolve os braços finos em volta de mim num abraço caloroso, uma umidade fez-se presente nas minhas costas indicando que ela começara a chorar, enquanto repetia sem parar o quanto sentira minha falta. Como ela cresceu! Está tão bonita... e letal! O calor do seu corpo (que antes parecia uma tabua reta e agora continha curvas marcantes) e o cheiro doce de seus cabelos despertam uma mágoa no meu subconsciente, como eu queria ter passado mais tempo com ela e ter acompanhado sua passagem para adolescência. Sinto-me tão idiota quanto no dia que decidi esquecer que fazia parte dos Zoldyck e tentei viver como um garoto normal.

- Onee-chan? – ela passa os dedos delicados pela minha face e um arrepio percorre minha nuca. Alluka sorri de orelha a orelha e volta a me abraçar bem forte – Senti tanto a sua falta, onee-chan. Fiquei muito sozinha quando... – não completou a frase. Subitamente seus olhos ficam opacos e ela olha para o nada como se estivesse perdida em devaneios.

- Alluka? – chamo, balançando seus braços. Não. Ainda não. Não vá, agora. – Alluka?

Eu sempre odiei os momentos que os olhos de Alluka tornavam-se opacos, pois significam que ela se foi e que a sua outra "eu" assumiria seu lugar. Até seus três anos de idade minha irmã era uma garota completamente normal, mas no dia em que completou cinco anos nós começamos a perceber mudanças radicais no seu comportamento que ora era doce e ora agressivo, e esta alteração foi intensificando cada vez mais depois que ela passou a treinar junto conosco. Nossos pais se preocuparam com a segurança de seus demais filhos ao notarem que a caçula – no caso Alluka – apresentava tendências homicidas desenfreadas sendo que uma noite ela "acidentalmente" quase matou nosso segundo irmão mais velho, Milluki, porque ele preferiu jogar video game ao invés de brincar com ela. Os médicos a diagnosticaram com transtorno dissociativo de identidade, ou seja, ela possui dupla personalidade. Além de Alluka, habita no corpo de minha irmã uma assassina de sangue frio, implacável e totalmente impulsiva que não se importa com quem machuca. Eu chamo essa sua segunda personalidade de Nanika. E pelo jeito, ela também está com saudades de mim, tanto que decidiu assumir o controle para me ver.

- Killua?! – a perversidade com que ela pronuncia meu nome, me faz tira-la de cima de mim antes que houvesse a oportunidade dela pegar a lâmina e me atacar. – Que bom que resolveu voltar, eu já estava ficando entediada por aqui... E nós temos que resolver alguns assuntos pendentes.

Ao contrário de minha irmã que é mais compreensiva e amável, Nanika guarda rancor no coração e tem a péssima mania de se vingar.

Seus lábios se comprimem numa linha fina, ela pega a lâmina e a gira nos dedos, logo ouço o zunido dela passando perto da minha orelha e fincando-se na parede. Sangue escorre pela orelha e como previ, ela sorriu vitoriosa em me ver encurralado na sua própria armadilha. Ela sabia que eu faria de tudo para não machucar minha irmã e usava este fator ao seu lado como vantagem. Porque no fundo ela sempre gostou de brincar com o meu psicológico.

Salve a si mesmo ou a sua irmã, o que prefere?"


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Notas finais do capítulo


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