Está tudo bem. escrita por Alois Beyond


Capítulo 1
Fim.


Notas iniciais do capítulo

Oi. Então, quero avisar que os pensamentos estão confusos, mas isso é INTENCIONAL. É para mostrar como o menino de ouro está se sentindo.



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A guerra acabou.

Acabou, e está tudo bem agora.

Está tudo bem, porque eu salvei a todos. Eu sou um grande herói, alguém em quem se espelhar. As revistas e jornais têm ao menos uma matéria semanal sobre mim, sempre sobre minha coragem, sempre sobre a minha grandeza inabalável.

Todos devem ter inveja de mim, pois eu sou rico e completamente inatingível. Pessoas têm pôsteres com minhas fotos em seus quartos e eu provavelmente serei chamado para o cargo de ministro da magia quando tiver idade para isso.

Eu sou Harry Potter.

E Harry Potter tem de comparecer a festas e apertar mãos. Sorrir para câmeras. Dar entrevistas.

Tudo na minha vida é controlado. Sempre foi.

Os Dursleys me mantinham fechado em um armário. Ditavam o quanto eu comia e o que eu vestia. Os Dursleys me usavam como empregado, me machucavam, me ofendiam. Mas os Dursleys nunca arriscaram minha vida. Não como Dumbledore fez.

Achei que a proposta incrível de deixar aquela casa e ir a um mundo mágico onde eu não era odiado seria o começo da minha vida. As coisas iam melhorar. E por um tempo eu achei que tinham melhorado, até perceber que aqui eu também não era livre. Eu praticamente não existia, eu já era Harry Potter. Havia um plano pré-definido para o que eu iria fazer, eu fui manipulado pela pessoa em quem mais confiava, mandado para o abate sem piedade alguma. Ainda me assusto quando penso no quão frio aquele homem foi, me educando e criando como um pai para que eu fizesse o que era necessário. Para que quebrasse relíquias e morresse depois.

Eu não tenho nada e nem ninguém agora.

Ginny não me ama. Ela ama o glamour de ser fotografada e entrevistada, ela ama Harry Potter. Quando percebeu que eu e ele somos pessoas diferentes, abandonou nós dois e até hoje responde a entrevistas, dizendo o quão bem ela esta, que apenas não demos certo.

Ronald e Hermione se preocupam um com o outro. Se dizem meus amigos, mas nunca passaram tempo o bastante em uma de suas raras visitas a ponto de perceber que eu definitivamente não "estou bem".

Os Weasleys disseram uma vez que suas portas sempre estariam abertas para mim. Não sei ao certo se é porque não sou a pessoa a quem eles prometeram isso ou porque não estou com Ginny, mas as portas me pareceram bem fechadas da última vez que chequei.

Sirius está morto. Lupin está morto. Dumbledore, Snape, meus pais,
Voldemort.

Mortos.

Todos.

Todos o que me significavam alguma coisa boa ou ruim estão mortos, ou deixaram de se importar.

Harry Potter.

Muitas pessoas gostariam de ser Harry Potter. Eu não. Eu não sou forte o suficiente pra aguentar tudo isso, toda essa expectativa. Afinal, eu nunca fui nada! Nada além de um moleque no qual foi depositado todo o peso do mundo.

Agora eu já não tenho propósito nenhum, não tenho um Lord para derrotar ou um mundo para salvar. Ninguém para proteger. Só tenho essa casa onde moro.

Essa casa grande e vazia, onde nada nunca acontece. Onde eu vago de um lado para o outro, procurando algo que não vou achar. Faz dias que não como e semanas que não falo uma palavra.

Eu ainda visito os túmulos. Sento ao lado de cada um deles e relembro o que me significaram.

Visito o espelho pelo qual Sirius desapareceu e lembro-me da promessa vaga que ele fez de um dia sermos uma família. Ele também não me amava. Ele amava meu pai, o seu eterno melhor amigo.

Visito o tumulo de Remus e lembro-me dos conselhos que ele me dava. Do patrono que ele me ensinou a fazer, o patrono que não existe mais.

Visito o túmulo de Dumbledore e jogo nele todo o meu ódio por ter me deixado, por ter planejado a minha morte.

Visito o túmulo de Snape. Dói saber que o tempo todo ele estava me protegendo. E dói ainda mais saber que nunca foi por mim.

Voldemort não tem um túmulo, nem um monumento. Não sei o que foi feito com o corpo dele.

Pensando bem, tenho minha casa, os túmulos e minhas cicatrizes. A em forma de raio na testa, que é um símbolo da minha vida, o que me identifica como o Menino que Sobreviveu. Eu a odeio.

Tenho a cicatriz em minha mão, dizendo que não posso contar mentiras.


Não vou mentir agora. Não aqui, no topo de Hogwarts, em cima desse telhado negro, aqui sou só eu, Harry. Só Harry. Toco o raio em minha testa e abro um sorriso triste. É engraçado mesmo, sou o menino que sobreviveu. Não o que viveu. Eu sobrevivi. Sinceramente, não aguento mais essa sobrevida.

É.

Muito engraçado, que o menino que sobreviveu morra assim.


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Notas finais do capítulo

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