A menina e o Lobo escrita por Beatriz Prior


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, estou aqui mais uma vez com uma nova Fanfic pra vocês!
Espero que gostem e boa leitura!



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Sei que sou sólido e são.

- Walt Whitman

Beatrice Prior estava apoiada numa árvore em meio á floresta, ela pensava melhor ali, ou só gostava de estar ali, na floresta, sem ninguém, o problema não era as pessoas, mas o que faziam, na vila onde morava, matavam animais por medo de serem atacados por lobos, egoísmo a deles, por ela, ela se sacrificaria pelos animais, por qualquer um.

A floresta era cercada de árvores com longos espinhos que saiam delas, e o único lugar em que os raios solares iam era no topo de uma montanha bem alta, fora dali, o frio e escuridão predominavam. Tris sempre quis saber como era no topo, com o sol enchendo de vida o que os humanos nunca conseguiriam fazer com suas festas e danças típicas. Alguns chamavam essa floresta de Floresta do lobo, por ser uma floresta escura e sombria, onde não se encontrava fauna e nem outro tipo de flora, a não ser as velhas Árvores-espinho. Para Beatrice, era O bosque dos sonhos, pra ela, o motivo por não haver nenhum animal era por acreditar que todos estariam num lugar melhor, um lugar em que O bosque dos sonhos os mandara ir.

Cansada de estar ali pensando nas babaquices dos humanos, se levantou limpando seu vestido com as mãos e subiu na Árvore-espinho que estava encostada, a árvore era alta e dava um grande número limitado de liberdade, quanto mais Tris subia na árvore, mais livre se sentia. Estava tão concentrada em subir até o topo que não viu os espinhos da árvore aumentando e nem sentiu alguns perfurando-lhe a pele e rasgando suas vestes de segunda-mão – pois era uma das pessoas mais pobres da vila, e a mais humilde.

Chegando ao topo da árvore, Tris nunca viu nada mais lindo, as montanhas eram iluminadas pelo sol, algumas delas eram cobertas por nuvens, algumas espessas e outras não. Olhando em volta ela viu o céu azul e algumas aves voando em bando, sentiu a brisa balançar seus cabelos loiros e sedosos, fazendo-a expirar o ar que não sabia até ali que estava prendendo.

- Lindo. – falou com os olhos fechados absorvendo cada brisa, cada som que a natureza estava lhe mandando. Inspirou fundo – Pena que tenho que ir. – resmungou.

Demorou um pouco para descer da árvore, foi mais desconfortável que subir, pensou Tris. Chegando lá em baixo, viu o rosto furioso de sua irmã, Christina, que não tinha nada a ver com ela. Tris era loira com longos cabelos e seus olhos eram verdes e possuía um corpo magro, não era nada atraente comparado a sua irmã. Christina era morena com os cabelos pretos como a noite e curto, seu corpo era curvilíneo e seus lábios eram carnudos – o que Tris achava lindo – seus olhos eram cor de mel, tão marrons e tão sedutores.

Até furiosa, seu rosto ficava com uma cor que lhe caia bem, um vermelho que era como blush em sua face.

- O que você está fazendo aqui? – perguntou.

- Estava escalando árvores. – respondeu. – Você deveria tentar, á uma beleza inenarrável no topo e...

- Não quero saber! – exclamou. – Mamãe e papai precisam de você e você está aí, subindo em árvores, se ferindo e rasgando seus vestidos que mamãe fez de tudo pra conseguir, é assim que agradece? – disse soando decepcionada e cansada.

Tris odiava ver sua irmã decepcionada, principalmente quando ela o fazia. – Desculpe. – murmurou. – O que eles precisam que eu faça?

- Querem que você busque uma cabra...– sua expressão estava pálida agora. – Você esqueceu que hoje é noite de lua cheia?

- Sim... Se eu soubesse não teria vindo aqui.. – mentiu.

Tris viria á floresta até se estivesse tendo um ataque de aranhas, ela amava aquilo, mas não queria preocupar sua irmã com sua história suicida de que não tinha medo do lobo. Christina assentiu e abriu caminho para que sua irmã passasse, olhando uma última vez para a árvore que lhe permitiu ver o mundo além das cinzas, Tris seguiu em frente.

***

Chegando no vilarejo de Daggorhorn, estavam todos na praça principal, um lugar em forma de círculo com uma fonte d’água no centro, ao redor da praça, encontravam-se as casas humildes que os aldeões faziam, altas para que o lobo não a destruísse, na frente dessas casas estavam seus donos, amarrando os animais para que não tentassem fugir enquanto a faca atravessava-lhe o peito.

Aquilo enojava Tris, mas não podia mentir, já matou alguns coelhos enquanto caçava com seu melhor amigo, Al, quando crianças. Aquilo lhe deu uma satisfação, não sabia se porque estava com ele, ou porque simplesmente ela gostava. Tris sempre se sentiu bem ao lado de seu melhor amigo, ela podia ser ela mesma, falar do que ela bem entendia. Mas Al não estava lá, ele saiu da cidade quando tinha 14 anos, o motivo? Ela não sabe. A única coisa que sabia era que ele se fora, e levara uma parte dela com ele.

- Beatrice! – gritou sua mãe do outro lado da praça.

Tris caminhou até sua mãe, era uma bela mulher, com cabelos pretos e lisos, uma pele clara e feições que a deixavam jovem.

- Sim mamãe?

- Vá pegar uma cabra para darmos como sacrifício. Hoje é lua cheia como pode perceber. – disse enquanto gesticulava para as pessoas que estavam matando seus animais. – Hoje é sua vez lembra?

Sim, minha vez de matar um ser inocente, pensou. Mas apenas lhe disse:

- Certo mamãe.

Tris passou pelas pessoas indo em direção ao campo de trigo onde as mulheres mais velhas iam para trabalhar, mais á frente, havia uma pequena casinha onde se encontrava os animais, chegou perto da casinha, acocando-se afagou a cabeça de uma cabra.

- Vai ser você. – disse num murmúrio mais para ela mesma.

- Coitado da cabra não acha?

Tris levantou-se num súbito e olhou pra trás. Will. Era um menino que Christina era apaixonada, ele tinha olhos verdes e inteligentes, cabelos castanhos que cobriam-lhe o rosto, era forte, porém reconhecido por sua falta de coragem e riqueza.

- Sim. – respondeu.

- Sua... – hesitou. – Sua irmã está em casa?

- Terá de ir lá para saber. – disse sem um pingo de solidariedade pelo rapaz. Puxou a cabra pela corda que lhe prendia o pescoço e desviou do jovem. Enquanto caminhava pesadamente, ouviu passos atrás de si e caminhou o mais rápido que podia, porém suas pernas eram curtas e ele logo a alcançara.

- Desculpe-me, não queria lhe dar uma má impressão. – disse Will. – Só gostaria de conversar com ela.

- Minha dica continua a mesma. – respondeu Tris passando pelas casas que a levariam para a praça.

Ao virar numa esquina de uma casa foi em direção á sua, era uma casa pequena e como todas as outras, dentro havia um cômodo apenas, a cama de sua mãe ficava em baixo e dela e da sua irmã ficava em cima, sua irmã estava deitada sob sua parte da cama. – seu pai havia morrido quando Tris havia 6 anos pelo lobo, e foi aí que as lendas a atormentaram desde então. – A cozinha ficava um pouco á frente da cama de sua mãe e ao lado da mesa de madeira polida, havia um forno a lenha com um caldeirão cozinhando algo, sopa. Tris podia sentir o cheiro. Sua mãe estava em pé mexendo na sopa com uma colher de pau.

Amarrando a cabra no pé da mesa, ela apreciou o cheiro que saia do caldeirão, tinha cheiro de canela, alho, cebola e carne cozida, estava uma delícia. Havia alguns pães em cima da mesa por mais tentada que ficou em pegar, sua família havia uma regra: Só pegar comida quando estivermos todos juntos, se não, é roubo.

Sua garganta se fechou e caminhou em direção á mesa, e pegou a faca que lá estava. – Mamãe, vou fazer meu trabalho, já está escurecendo, não vai demorar para que a lua apareça. – disse com a voz rouca.

- Tudo bem filha. – disse sua mãe com um sorriso encorajador no rosto.

Tris pegou a cabra do pé da mesa e andou em direção á saída. O clima ficara úmido agora, era sempre assim no dia de lua cheia, ela estremeceu, não por medo, mas por pensar no que estava prestes a fazer. Tentou pensar em Al – aquilo lhe dava conforto -, e em todas as vezes que ele lhe fizera matar, suas mãos ficaram trêmulas. Christina sempre fazia aquilo, com a elegância e rapidez de uma dama audaciosa.

Respirou fundo e o tremor melhorou um pouco, posicionou a faca para acertar o coração, e sem pensar no animal que estava ali, afundou a faca em seu peito. A cabra fez um barulho e depois, silêncio. Ela acertara o coração, o lugar sangrava onde a faca estava cravada. O sangue em suas mãos agora estava escorrendo pelo seu vestido rasgado. Tirou a faca do peito da criatura e caminhou para a praça central.

Estava deserto, o único barulho que havia ali era dos passos da garota e do vento, foi em direção á fonte e lavou suas mãos ensanguentadas, o vento começara a ficar forte e ela sabia o que isso significava, estava na hora. A lua começara a aparecer e correu para sua casa, chegando lá ela não viu mais sua cabra, havia apenas uma corda arrebentada, fora roubada? Claro que não! Ninguém nesta aldeia rouba, só havia uma explicação para o acontecido, o lobo estava ali.

A garota procurou por todos os lados ofegando, nunca havia visto o lobo, e estava com uma certa curiosidade para ver. Ao virar sua cabeça para onde ficava o bar – um pouco a frente de sua casa – ela viu, os olhos amarelados ameaçadoramente e sua pelagem acinzentada, era enorme, ele rugia com os dentes á mostra, tudo que Tris queria era correr, mas seus pés pareciam colados no chão de terra, seu corpo grande e massivo foi em sua direção, agora estavam a poucos centímetros de distância e tudo o que Tris parecia querer fazer era sentir a pelagem da fera. E o fez.

Sua mãe hesitava no caminho mas quando tocara o pelo do animal, ela sentiu seu corpo relaxar, tanto dela como do animal, seus olhos não estavam mais ameaçador, por um segundo, a tensão dela havia passado, até que ele resolvera rugir.

Desta vez, foi um grande rugido, e seus olhos ficaram vermelhos como fogo, Beatrice se jogou no chão e viu o lobo sair pela floresta. Queria correr atrás dele, ela sabia que não havia apenas ferocidade naquele animal, nunca iria esquecer aquilo.

***

No dia seguinte, foi para a casa de sua avó, Marlene, passando pela floresta no caminho em que o lobo ira, não havia pegadas, nem sinal de que houve algo ali. Ele não era um lobo comum, Tris sabia disso.

Chegando ao pequeno chalé com rosas em volta da construção de sua avó, subiu a curta escada e bateu em sua porta, ouviu-se de longe o grito da avó:

- Quem é?!

- Sou eu! Beatrice! – gritou de volta.

- Entre!

Tris abriu a porta e entrou na humilde casa, estava com uma sopa no caldeirão e ali era o único lugar onde poderia pegar pães sem que seja repreendido, então como não havia comido nada desde a noite passada, pegou um pão e melou um pouco na sopa, sentiu o estômago agradecer e foi atrás de sua avó.

Marlene estava no canto superior da casa com algo no colo.

- Vovó, o que é isto? – disse Beatrice apontando para o tecido vermelho em seu colo.

Sua avó sorriu e respondeu com uma voz melódica:

- É uma capa, para você minha querida.

Ela estendeu a capa, era feita de um tecido fofo e confortável, havia um capuz no alto da capa e era de cor vermelha sangue, Tris franziu a testa – ninguém usava uma cor assim em sua aldeia por conta de acreditarem que poderia trazer a morte -, apesar de ser sua cor favorita, ela não podia usar, os olhares das pessoas, iam ser direcionados para ela, Ah! Quem liga para o que as pessoas pensam? Pegou a capa de sua avó e a amarrou entre o pescoço, era linda e a deixara quentinha.

- Obrigado, é linda. – disse Tris com um sorriso satisfeito no rosto.

- De nada, minha querida, combina com seu tom de pele. Mas, o que a trouxe aqui?– perguntou sua avó.

Contou-lhe sobre o lobo, e sobre como reagiu ao seu toque, contou sobre o medo que sentiu pela primeira vez em anos e sua avó escutava com uma atenção que mais ninguém lhe daria se contasse uma coisa daquelas, eles achariam que era sua imaginação, mas sua avó não o fizera. Ela encarou Tris por muito tempo até ter o que falar.

- Sabe, seu pai já teve uma coisa parecida, mas ele alega que não apenas encarava o lobo, mas como também se comunicava com ele.

***

Tris estava caminhando de volta á aldeia, as palavras de sua avó ecoavam na mente dela como um eco, chegando á praça principal da aldeia, estava deserta, de novo, algumas pessoas corriam para o campo de trigo murmurando algo sobre, morte, Chris e Trágico. Beatrice largou a cesta de frutas que estava segurando e correu para o campo com o coração batendo á mil, sentiu por um momento o laço que tinha com Christina se romper, sentiu uma dor aguda no peito em pensar que tinha perdido o pai e a irmã. Havia um círculo no meio do local e sentiu como se seu coração estivesse a ponto de sair pela boca, viu o corpo inerte de sua irmã, frágil e sem vida pela primeira vez, atravessou a multidão e se ajoelhou ao lado da irmã, sua mãe estava sentada centímetros longe do corpo da filha, com o rosto entre as mãos e soluçando baixinho.

Do outro lado do círculo havia um grupo de homens e mulheres conversando com Will, gritando com ele, seu rosto estava melancólico e confuso com as acusações das pessoas.

Mas Tris só tinha olhos para o grande e profundo corte na barriga da irmã, havia sangue por todo o vestido e uma grande poça do mesmo no campo de trigo. Lágrimas brotaram de seu rosto e sentiu seu coração rasgar como papel, parecia que o estômago de Christina havia sido arrancado de seu corpo. Depois de muito tempo ali, todas as pessoas já haviam ido, menos Nathalie – mãe de Chris e Tris – a irmã de Christina e suas amigas, Shauna e Lynn, também viu... Will.

Desvencilhou-se da irmã morta e com o rosto molhado foi em direção as amigas de Chris, o vento que batia em seu rosto secava as lágrimas que ali estavam de tanto chorar, pensou no que havia acontecido e o porque sua irmã estava ali se não tinha idade suficiente para trabalhar no campo, e dentre tantas mulheres e pessoas ali, por quê ela?. – O que houve com ela? – perguntou com a voz rouca para Lynn. Porém, foi Shauna quem se apresentou, ela olhou de relance para Lynn e hesitou em responder.

- E-ela estava aqui, por que recebeu um bilhete de Will, e sabe, ela ama ele, então veio achando que era um encontro...

- Mas só encontrou a morte. – completou Lynn com a voz fria e sofrida, seus olhos não encontraram o de Tris, ela estava encarando o chão.

- Will fez ela vir aqui?- perguntou Beatrice com uma raiva crescendo em seu peito.

- Não exatamente, ele alega que nunca mandara um bilhete para Chris, e parecia sincero ao dizer tais palavras. – esclareceu Shauna.

Beatrice assentiu e foi em direção a Will que ainda estava do outro lado da roda, sua mãe não mais chorava, apenas lamentava silenciosamente no ouvido da filha morta.

- Quem mandou o bilhete se não foi você? – indagou Tris.

- Não sei. Eu estava trabalhando quando ouvi a notícia.

Ele parecia exausto, e abatido. Não era o Will firme e seguro de si que ela conhecia. Ela nem conhecia Will, mas era assim que ele aparentava ser.

- E ninguém aqui viu quem fora o responsável? – insistiu Tris com um pesar na voz. – Quer dizer, aqui estava cheio de gente e... – agora chorava – Por que ela?

Will baixou a cabeça – Estava na hora do almoço, elas haviam saído e só havia sua irmã. – Ele balançou a cabeça – Eu não sei por que foi ela, eu não sei... – agora estava soluçando. – Eu a amava, você sabe.

Depois de ter falado com Will, ela só tinha uma coisa em mente: Ir aos lugares mais sombrios do Bosque dos sonhos e achar a fera que matara sua irmã.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Comentem suas opiniões que como sempre, me ajudam muito na produção da fic.
Até o próximo capítulo, que vai demorar um pouco, mas quando sair, vai estar ó: Incrível pra vocês.
— beatrice