Encarei novamente o espelho da penteadeira de madeira do galpão como se só existisse eu e o cara desconfigurado que me encarava de volta, que por sorte, era eu mesmo. Seria mais fácil se só nós existimos. A ausência de sanidade seria comum e a loucura seria normal.

As cicatrizes do cara do espelho eram horrendas e ele riu do fato de que estivesse pensando nisso. Ele tem vontade de sair para a noite noturna de Gotham. Acha uma boa ideia. Diz que eu preciso disso.

- Não é uma boa ideia. - eu rio. Minhas ideias nunca são boas de qualquer jeito. Ou as deles. - Batman está nos caçando, amigão.

Ele balança a cabeça negativamente. "Você está com medo do Batman? Do homem-morcego? Não. Não. Você não pode estar falando sério." Era terrivelmente cômico como ele falava cada palavra com uma alteração na expressão, como se não estivesse falando da mesma coisa nunca. Talvez eu não estivesse mesmo.

- Eu...Não estou...Eu não...- eu tentava me explicar. - Eu só pretendo ser pego daqui uns anos. Não agora.

"Ah, certamente não sabes jogar o jogo. Você quer se esconder do resto do baralho, huh? Você tem medo."

Ele me deixou sem palavras. O eu do espelho me deixava pensativo e atordoado. Eu basicamente o odiava.

"Tire essa maquiagem de palhaço. Você fica bonita nela, mas Gotham ainda não está preparada.", rimos juntos. "Experimente a leve liberdade normal. Mas não se deixe levar, certo? Volte e me conte."

- Certo. Certo. - ele havia me convencido. Talvez eu voltasse mesmo para contar-lhe ou talvez eu tivesse tanta raiva dele que nunca mais lhe dirigisse a palavra.

Dei as costas para a penteadeira e caminhei para longe daquele galpão. Eu entrei em um carro qualquer que estava estacionado por ali, soltando uma de minhas costumeiras risadas. Talvez fosse divertido jogar, enfim.