Véspera de Natal. Momentos de alegria, felicidade, união e paz. Como tradição do Limoeiro, todos se encontraram em uma casa, que no caso era a minha, e festejavam alegres a tão esperada vinda do menino Jesus. Não havia como não se sentir feliz com tanta gente rindo, correndo, se beijando e se abraçando. Bem, talvez. Acho que eu era a exceção.

Ele ainda não havia chegado, estava atrasado. Como sempre... Meu coração pedia desesperadamente por sua chegada, ele precisava respirar aliviado pelo menos mais uma vez. Precisava bater em disparada e se apaixonar pela adrenalina que viaja por todo meu corpo. Por que, por que ele não chegava? Sentada em um banco, afastada de todos, soltava lágrimas salgadas que pulavam de meus olhos desesperadamente.

- Amiga, você está bem? – Mônica perguntava com uma voz preocupada. Ficou frente a frente comigo, fitando-me – Não vai aproveitar a ceia com todo mundo?

- Não estou disposta para isso – admiti – Não consigo pensar em outra coisa a não ser naquele beijo, naquele abraço, daquela voz... – estava começando a delirar – Preciso dele! Ele chegou?

- O Cebola ta ligando pra ele, mas parece que o Cascão quer ficar sozinho. Não quer ver ninguém... - informou-me, olhando vagamente para o horizonte.

- Ele precisa me ver- levantei e encarei minha amiga – Onde é que ele está? – perguntei desesperada.

- Não sei... – admitiu a dentuça – Acalme-se, ele vai chegar logo logo...

Foi então que me lembrei. Cascão não iria a minha casa... Ele havia me dito isso da última vez que nos vimos. Pediu para eu ir encontra-lo... Ah! Meu Deus, onde era mesmo? Minha mente me confundia a todo instante.

- Ei, aonde você vai? – Mônica perguntou-me, quando movimentava minhas pernas.

Comecei a correr. Estava prestes a explodir. Precisa vê-lo, precisava ouvi-lo. Precisava senti-lo. Avancei várias quadras até encontrar o parquinho. Estava completamente escuro, mas não parecia vazio.

Caminhei lentamente por entre as gangorras. Minha respiração estava irregular e meu coração estava saindo pela boca. Os minutos pareciam não passar, o tempo estava tendo uma briga particular comigo. Meus passos falharam e minha visão não me ajudava. Aonde ele está?

- Oi, amor – escutei uma voz máscula muito conhecida atrás de mim. Era ele. Virei-me e o abracei com toda minha força.

Ele não disse nada, apenas retribuiu meu abraço. Ficamos em silêncio durante alguns minutos.

- Por que você não foi para casa? – perguntei cortando o silêncio, olhando em seus olhos.

Ele pareceu irritado com minha pergunta. Se desfez do abraço e me empurrou, fazendo-me cair no chão.

- Você ainda me pergunta? – disse, alterando a voz – Parece que tudo o que aconteceu dias atrás não tem valor pra você, né?

- É claro que tem, Cascão – disse, me aproximando dele – Só não lembrei que você não vinha... Estava esperando você, precisava de você...

- Ah, me poupe! – ele ignorava a minha presença – Se realmente se preocupasse comigo, estaria aqui o quanto antes e não esqueceria de nada... É, acho que a Cascuda tava certa, você não gosta de mim... Só se sente atraída por mim...

- NÃO – gritei, abraçando-o nas costas – Não escute o que ela diz, amor. Ela só quer ver a gente separado, quer destruir nosso amor. Eu nunca, nuca esqueceria de você. NUNCA. Eu não vou me esquecer do que você falou para mim: Você é minha estrela: a única que ilumina minha vida – pressionei meu corpo no dele, tentando acalma-lo.

Ele pareceu refletir minhas palavras. Mas afastou-se de mim mais uma vez, sentando-se em um dos balanços. Acompanhei-o, sentando ao seu lado. Tentei reprimir as lágrimas, mas elas foram mais fortes do que eu e comecei a chorar. Olhei para Cascão e percebi que ele também chorava.

- Ei, não chore – pedi, enxugando suas lágrimas com a costa da minha mão – Eu estou aqui com você. Sempre...

- Se fosse fácil fazer isso... - ele suspirou, tentando cessar o choro - Estou arrependido – ele me fitou brevemente.

- Do que? – fitei-o e ele sustentou meu olhar.

- De não ter passado mais tempo ao seu lado – ele beijou minha mão, sorrindo pra mim.

- Não se arrependa – pedi, levantando-me – Não dá pra mudar o passado... E sim o presente. Viva-o para nunca mais se arrepender.

Ele assentiu calmamente. Levantou-se e me abraçou fortemente. O calor de seus braços me envolvia, deixando-me com uma sensação de segurança, de proteção. Não precisava de mais nada. Não queria presentes, já tinha o meu diante de meus olhos.

- Eu te amo tanto – seu hálito quente fazia-me arrepiar – Quero viver sempre ao seu lado... Desculpe ter gritado com você, estava louco por você não aparecer...

- Eu também estava morrendo sem sua presença, Cascão – admiti, fixando meu olhar em seus olhos castanhos – Cada segundo sem você corrói meu coração. Preciso de você ao meu lado. – encostei minha testa na dele, ficando a centímetros dos seus lábios.

Ouvi fogos de artifício ao fundo e muitos gritos de "Feliz Natal". Era meia-noite. Nada mais perfeito do que passar esse momento ao lado da pessoa que a gente ama.

- Feliz Natal - sussurrei calmamente nos ouvidos de Cascão - Que esse momento mágico ilumine nosso amor.

- Já está brilhando, estrela da minha vida... - afirmou, beijando minha testa - Eu, hã, preciso te perguntar uma coisa - ele parecia contente com isso, mas ao mesmo tempo confuso.

- Pergunte... - fiquei tão proxima de sua boca que sentia sua respiração falhar.

- Cabeçuda, você quer - ele sorriu - namorar comigo?

Não pude deixar de sorrir. O que? Um pedido de namoro... No Natal? Inacreditável. Meu coração dava saltos mortais, fora de controle. A adrenalina o alucinou, deixando uma sensação maravilhosa dentro de mim. Era tudo que eu precisava naquele instante.

- Eu quero! - foi tudo o que consegui responder.

Nossos lábios se uniram em um beijo urgente, apaixonado. Acariciei seus cabelos calmamente, enquando ele brincava com alguns fios de minhas madeixas. O mundo girava a minha volta.... E não me importei com isso. Tudo o que eu queria, tudo que realmente necessito eu tinha conquistado.Ficamos juntos durante um bom tempo, abraçados, jogando conversa fora. Trocamos várias carícias e muitas palavras de amor. Depois de ficar na areia durante horas, nos despedimos quando o sol surgia. Ele sorriu para mim e me deu um último abraço. Senti um aperto no peito quando ele começou a se afastar. Mas estava feliz, porque estava completa.... Finalmente.