O Fantasma Da Rosa escrita por Miranda Jackson


Capítulo 1
Uma Pétala Deixada


Notas iniciais do capítulo

Então, o tema escolhido para o cenário do contexto histórico é a Revolução Francesa. Como ela se passa em 1700 e tais, a linguagem deles é meio antiga, ou seja, são usadas algumas palavras que não são usadas no dia a dia.Um outro muito obrigada à Montibeller!Espero que gostem, especialmente a Clélia, a Alanys e a Drama Queen *-*



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O sol brilhava intensamente, iluminando o contraste entre os olhos castanhos da garota e os cinzentos do menino. Nenhum dos dois deveria ter mais de doze anos.

Há volta, naquela apreciável paisagem, havia uma diversa florestação, desde árvores altas a plantas francesas exóticas. A tamanha beleza da paisagem natural jamais indicaria para a guerra passada no mundo de fora, na França. Uma guerra que, na opinião do pequeno, não fazia sentido. Mas quem disse que ele tinha direito de pensar o que quisesse?

— Um dia, me casarei com a senhorita — disse ele num tom apaixonado, mas infantil ao mesmo tempo. Uma combinação que ela adorava.

— Podereis prometer tal coisa? — madura, era a palavra que melhor a definiria. O seu olhar era intenso e poderoso, mesmo que ela não ocupasse tal cargo importante na sociedade em que vivia. O seu longo vestido, antes branco, agora estava sujo da terra em que esteve deitada.

— Porque não? O que me impediria de tê-la em meu leito?

— Temos uma longa vida pela frente. Vida essa que não será fácil, especialmente para o senhor. — ela riu com a própria fala. Era impressionante a educação que lhe tinham dado, mesmo para uma criança.

— Por favor, Hermione, não me tratareis por “senhor”. Faz-me velho — quem olhasse para eles, imaginaria duas crianças apaixonadas e com um futuro prometido. Mas para eles, tudo era incerto.

— Você gosta de morangos? — perguntou divertida, desconversando, com um morango colhido na sua mão.

— O que você acha? Poderei prometer que me casarei com você?

— Você sabe que tal coisa não será permitida... — o seu olhar ficou distante, fixado numa nuvem do céu encantado.

— Então fugiremos.

— Draco! Eu quero me casar com você. Mas...

— Não existe um “mas”, minha deusa. Eu quero me casar com você. Quero morrer a seu lado de mãos dadas e fechar os olhos para sempre sabendo que você estaria comigo para onde quer que eu fosse. Eu prometo que poderei cumprir isso e... Uma rosa branca irá simbolizar a promessa de morrermos juntos. Por favor, dai-me esta oportunidade. — ele implorava, agarrando as mãos da sua jovem amada. Os seus olhos lacrimejavam, mas mesmo assim não perdiam o brilho que ela tanto amava.

— O senhor promete? — estava incerta, estava com medo do futuro.

— Eu prometo. Juntos na vida, juntos na morte.

Xxx

— Meu senhor — disse uma voz, acordando o homem bem formado que adormecera vestido sobre a cama. — já amanheceu. Seu pai estará à espera do senhor no escritório dele — ela fez uma pequena reverência, deixando as roupas secas de Draco ao pé deste.

Após um longo banho quente preparado pelas servintes do Château, vestiu a sua habitual roupa de negócios.

Automaticamente, as suas pernas o levaram para o antigo escritório, já velho e bafiento do seu pai. Lucius era um homem encantador, de tal modo que nenhuma mulher iria negar fechar as pernas.

O homem olhou para os olhos do seu filho e levantou-se, colocando uma adaga de ouro sobre a mesa.

— Meu Pai — fez uma leve referência ao seu superior, sentando-se na cadeira a seu frente. — Porque me chamais aqui?

— As coisas estão complicadas, cada vez mais nós estamos a sofrer com certos problemas originados por aqueles... Enfim, o nosso Rei não está nada feliz com esta crise

— Pensou em cobrar ainda mais ao terceiro estado? Eles estão cada vez piores, cada vez mais nós estamos vindo a ficar sem as nossas riquezas.

— Eu sei, Draco — a fúria presente na voz era percetível. Estava desesperado por quaisquer decisões que fossem tomadas que lhe afetava o seu alto cargo. — , mas a burguesia não quer facilitar nada. Nós poderemos perder ainda mais as nossas terras, o nosso dinheiro.

— E o que o Senhor pensa poder fazer para tentar deliberar Vossa alteza?

— Bem, em algumas conversas com os outros nobres, nomeadamente com os Greengrass, chegamos a um acordo de tentar convencer nosso rei a permitir realizar a Assembleia dos Estados Gerais.

— O nosso povo não está contente com tal facto, imagino — Riu. Tão cego pelo poder, tão cego pela luxuria. Era esse o seu pai.

— Não é motivos para rir! Podemos perder tudo, mas eu quero me certificar que verei o meu filho a tornar-se o meu herdeiro.

— O que quereis dizer? — ficara subitamente mais interessado na conversa.

— Tudo o que eu faço é em seu respeito, meu filho. E mesmo assim, parece que você não está importado com tudo o que tem ocorrido à nossa volta. Meu Deus, você tem quase trinta primaveras e nunca assumiu as suas propriedades. Tenho a certeza que Astória será uma ótima esposa para você. Terá o seu dinheiro garantido...

— O povo está a morrer de fome e o Senhor apenas está preocupado com o dinheiro? — não sabia definir os seus sentimentos. Estava furioso, estava irritado por terem de tomar conta da sua vida e agora teria de casar? Já tinha quebrado uma promessa, não poderia quebrar outra.

— E estou me garantindo que você não morra de fome. Draco, meu filho, tempos difíceis estão por vir. Não poderemos viver para sempre, mas me permita fazer com que você sobreviva à tempestade. Não me desobedeça. Ela virá viver aqui. Por favor, mantenha a cordialidade.

Xxx

— Estais bem instalada? — a voz masculina de Draco ecoou pelo quarto vago em que a sua noiva estava se instalando. Tinha chegado esta manhã numa rica e elaborada carruagem puxada por dois cavalos. Poderia ter saído de um conto de fadas, mas a sua beleza não conseguia chegar à da sua princesa.

Mesmo que Astória Grengrass, filha de um dos maiores duques mais poderosos de França, fosse bonita, não poderia, jamais, ter os olhos castanhos que tanto o encantavam enquanto jovem.

— Sim, meu Senhor. O quarto está ótimo — sorriu no meio da resposta, encarando o belo rosto do homem que não a amava. Não que ela também gostasse dele, mas viveriam um para o outro o resto da vida.

— Lucinda virá preparar a Senhora para o jantar com os nossos pais, oficializando o nosso noivado. Esteja pronta cedo — não era uma questão de falta de respeito para com as mulheres, mas Draco tinha a obrigação de ser superior a elas e apenas o tom autoritário da sua voz as fazia encolher-se. Algo que lhe dava gosto em vê-las submissas.

Entrou no seu quarto sem falar com nenhum empregado que tinha passado por si, deitando-se rapidamente na sua cama. Os seus olhos estavam esgotados e pouco se aguentavam abertos, contudo foi o suficiente para ele reparar numa rosa branca sobre a cama. Deitada delicadamente com as suas pétalas perfeitas, numa harmonia única.

Aquela rosa.

“— Nossos progenitores têm negócios há tempos, principalmente de compra e venda de criados— a voz do homem grande e musculado entranhava-se na mente de Draco, que desejava poder usar a adaga de ouro que o seu pai tinha nos escritórios.

E o que Senhor propõe, mais concretamente? — não era preciso muita conversa entre os dois. Pequenas palavras eram suficientes para entenderem o que queriam.

Uma pequena troca. Soube, pelo bispo Nosso Senhor, que o seu pai está precisando renovar o seu armamento de armas. A qualquer altura o seu Châteaux pode ser, acidentalmente, atacado. Mas os senhores não têm de se preocupar. A minha gente trata de todos os privilégios merecidos.

Qual é o preço?

Aquela vossa burguesa que têm no hall de entrada.

Hermione? — a sua voz tremeu, não de medo, mas de raiva. Ninguém a tirava de si. — Lamento, mas ela não se encontra à venda.

Porque é ela tão importante para você? Certamente, que se tal proposta chegasse às mãos do seu amado pai, ela já estaria na minha propriedade, não concorda?

Muito bem, se o Senhor Viktor assim o deseja — o homem à sua frente estranhou a súbita mudança de ideia do nobre Malfoy, mas se desconfiou de algum plano, nada disse. — espere por mim com a criada no celeiro, juntamente com as armas que espero chegarem amanhã. Que seja feita a sua vontade.”

Aquele fora o maior erro dele.

Xxx

“— Ajude-me, por favor! Não me deixe — a voz de uma mulher gritava desesperada. No meio das chamas, os olhos suplicantes dela eram uma vida que estaria quase a abandonar o seu corpo.

Era uma memória dolorosa, mas tão única, tão real.

O cenário mudou, aquela cor castanha no seu olhos se tornara vermelha, se tornara um poço profundo de mágoa e raiva, deixando de lado a caixa de Pandora.

Você prometeu, você jurou.”

O suor escorria pelo seu corpo, enquanto olhava para a mulher que se remexia sobre o seu corpo. Ao contrário do seu pai, não tinha pudor do terceiro estado, especialmente Camila, que tinha sido uma das suas muitas viagens a um pequeno paraíso. Contudo, os seus pensamentos não estavam no sexo casual ou preocupado se a sua noiva ouvisse os gemidos dos amantes. Aquela memória assaltava-lhe a mente todos os dias, aqueles olhos que lhe envenenavam a alma, a culpa.

Deixando a mulher nua entregue ao sono, Draco levantou-se e cobriu a sua nudez com um habit de seda totalmente delicado, com enfeites a ouro. Mais uma coisa feita pelos Ingleses. Mas o jovem não estava interessado na revolução que teria de enfrentar, nem tão pouco nas roupas. Sua mente o levava pelos corredores do Château gelado naquela altura do ano.

Saiu do seu espaço acolhedor e entregou-se à escuridão da noite. O jardim da sua morada era um dos mais belos que França tinha para oferecer. Totalmente bem tratado pelos camponeses, dava ao seu povo uvas, carne e leite. Algo que era essencial nestes dias em que muitos morriam à fome. Atravessou um pequeno caminho de terra e olhou para o novo celeiro ali colocado. A grana à sua volta deixara de crescer, assim como a esperança de vê-la um dia a seu lado desapareceu em Draco.

Se pudesse, evitava ir para aqueles lados, mas as suas pernas pouco respondiam por si.

O seu olhar perdeu o pouco brilho que tinha, enquanto admirava a noite gelada e a porta bem esculpida a pedra que guardava os jumentos e os cavalos que lhes pertenciam.

“— Draco, onde você está? — a voz dela era suave, divertida como se tivesse numa pequena brincadeira dos dois jovens que as amavam fazer. Contudo, logo a preocupação apareceu, dando lugar a um sentimento estranho de dor, de mágoa. Algo que ela não poderia explicar.

Sentiu um forte cheiro a queimado e tentou seguir o rasto, mas o seu vestido à l'anglaise era tão apertando que lhe dificultava a andar. Mas rapidamente chegou ao seu destino, deparando-se com o celeiro antigo a arder em chamas. Pensou em correr para chamar o seu amado, mas antes que saísse em direção à entrada do Château, um grito agudo se fez ouvir dentro do pequeno local ardente. Um grito de um homem.

Rapidamente e sem pensar, Hermione entrou pela porta derrubada, onde saíram vários jumentos e cavalos assustados, alguns estavam queimados no chão, mas uma sombra visível a fez olhar em frente. Temendo pela vida do seu homem, ela desapertou o vestido e correu por entre as chamas. A voz dele ainda gritava, mas de repente, calou-se, fazendo-a sentir o pior.

— Draco! — ela gritava para o corpo que desabou no chão, pensando ser o seu duque, contudo reparou que era um homem mais corpulento, mais cheio. Reparando que ele estava morto, ela tentou dar a volta a sair, mas tal coisa não foi permitida por o seu vestido ficou preso numa apara de madeira. Tentou libertar-se, mas era tarde de mais. Uma dor imensa, maior do que é possível descrever, tomou o seu corpo. Era a pior tortura das torturas, sentia a sua pele queimar, o seu corpo a ficar ardente, mas não de um bom jeito.

A dor era tanta que se obrigou a deitar no chão e os seus olhos lentamente se foram fechando, mas não sem antes ouvir algo a chamar por ela... Possivelmente o último sopro da vida dela. Algo que ela nunca soube realmente o que foi dito”.

Lágrimas humanas escorriam pelo rosto belo do duque. A sua respiração estava ofegante, sem sentido. A promessa que ele nunca cumprira pela sua covardia, deixou a sua amada morrer às mãos do demónio do fogo que se alastrou por alguns campos... Só por causa da vingança dele.

Ele não queria tê-la morto, não era suposto ela ter ali estado. Era culpa dele e da sua grande capacidade para pensar que tudo dá certo.

Todas as noites ele chorava quando se lembrava dos gritos suplicantes dela, dos olhos a fecharem-se. Ele tinha uma abertura para salvá-la, mesmo assim não arriscou a sua vida. Mesmo que não fosse permitido um relacionamento com o terceiro estado, ele não podia ter evitado se apaixonar pela criada que crescera junto a ele, aquela que o acompanhou em vida... Que agora estava morta.

Meu senhor a voz doce de Astória, a sua noiva, ecoou pela sua mente, o acordando de pensamentos incertos. Ela olhava preocupada, enquanto levava uma das suas mãos à face do homem, limpando as lágrimas que não tinham sido causadas por ela. Ele nada disse, nem agradeceu o gesto carinhoso Está tarde, amanhã tereis de levantar cedo.

Delicadamente pegou em suas mãos e o guiou para dentro do Château. Estavam noivados a mais de um mês, mas a convivência era pouca, contudo era o suficiente para Draco perceber certos sentimentos acordados no coração da duquesa... Sentimentos esses que jamais seriam retribuídos.

Ela o guiou para o seu quarto, felizmente a criada já lá não estava e parecera ter feito a cama, não deixando vestígios de adultério.

Lado a lado, os dois amantes se deitaram, não demorou a Astória adormecer, mas o duque se viu contemplando as estrelas brilhantes no seu escuro. Uma delas guardava a sua alma que ele entregara de bom grado. Hermione olhava por si.

Xxx

Cada vez mais se sentia confuso com aquela planta, aquela rosa. Provavelmente era uma criada que a deixava ali, mas sem saber o seu significado e o quanto importava para Draco. Pegou nela com cuidado, temendo que se partisse, andou até à janela bem formada de vidro ao lado do quarto que era pintado de diversas cores que contrastavam entre si e com os móveis de madeira, e olhou para o jardim abaixo. Deitou fora, mas não evitou ter-se cortado num dedo. Não era algo profundo, mas a fascinante lágrima de sangue lhe lembrava da dor que deveria sentir todos os dias, infelizmente esta era só na sua alma.

Astória deixara o quarto de manhã, para agradecimento do duque. Ele usava um breeches simples de cor preta. Era a moda mais prática que fora inventada naquele tempo obscuro.

Saiu de seu quarto, olhando o vazio à sua volta. Estava tudo calmo e silencioso, até ouvir uma voz. Não a reconheceu de imediato, mas o sou era suave, calmo e quase inaudível.

— Draco — era um anjo, só podia ser aqueles ser que guardam a sua alma, para um dia a levarem em segurança para o céu. Pelo menos, era nisso que acreditava.

Ignorando o som, Draco andou mais alguns metros, mas o seu nome continuava a ser repetido, cada vez mais alto. Ele reconhecia aquela voz, só podia ser uma brincadeira de algum mau olhado do Château.

O seu coração estava descompensado, assustado. Olhou em frente e ao longe avistou uma pequena pétala de uma rosa branca. Continuava em linha, mas as cores iam mudando, radiando o chão já desgastado de madeira. Em vez de virar no corredor à sua direita e ir em direção do seu escritório, Draco decidiu seguir o rasto das flores. Estava um pouco assustado, mas tudo camuflado pela curiosidade.

Olhou para uma parede de pedra, forjada com umas grades de metal. Levava diretamente a cave do Château e depois às masmorras, apesar de nenhuma vida viva lá estar. Não compreendia por ali tinha sido levado.

Foi então que olhou para o lado. Num corredor ainda mais escuro notou um corpo no chão. Queria fugir dali, mas a muito que o destino lhe castigou pela sua covardia. Tirou uma adaga do seu cinto e ergueu no ar, tentando ver qualquer movimento suspeito.

Aproximou-se da sombra e com a pouca luz que o sol fraco transmitia, conseguiu reconhecer o rosto esbelto de Astória. Os seus olhos negros perderam o brilho da alma e sobre o seu coração estava uma ferida aberta, indicando a causa da sua trágica morte.

Draco olhou em volta desesperado. Pôde notar que pelo sangue, ela não tinha morrido há muito tempo. Ouviu uns barulhos, mas eram apenas pequenas ratazanas a passarem por ali.

Foi então que, gravada na parede, escrito com o sangue da sua noiva, estava palavras. Apenas duas que tinham um significado tão grande para ele que por um momento, Draco esqueceu-se de respirar: “Rosa branca”.

Voltou a dirigir o seu olhar para a futura esposa, que jazia morta no chão. Não sentiu medo, pânico ou dor, pouco os dois conviveram. Temia mais pela sua vida do que pela alma morta.

Xxx

— As coisas estão muito complicadas, meu filho — Lucius não negava a face desesperada que tinha. Andava de um lado para o outro no seu escritório, enquanto o seu herdeiro estava sentando numa cadeira a ouvir os problemas dele. — Há meses que as coisas se têm complicado, Vossa Alteza está cada vez mais assustado e com razão.

— Não há nada que possais fazer? — havia passado mais de quatro meses desde a morte da noiva e a cada dia, Draco parecia empalidecer, mostrando ter mais idade do que verdadeiramente tinha.

— Temos de fugir — outra vez, outra fuga. Outro desespero deixado em mãos para salvar a sua vida. Não mais, não podia continuar a fugir. Prometeu isso.

— Eu não vou sair daqui — o seu tom era firme, mas não ousava enfrentar o seu progenitor.

— Draco, as coisas estão cada vez piores. Aquela escumalha começou a condenar os nossos aliados, é só uma questão de tempo até deitarem o nosso Château abaixo. A Assembleia nada resolveu, só piorou. Temos que ir, estamos a ficar sem tempo, meu filho.

— Eu não vou!

— Draco...

— Eu não vou! — era o fim de conversa que ele precisava. Não fugiria mais uma vez e o seu pai finalmente parece ter compreendido isso. Mas, infelizmente, o seu amor pela alma era muito maior que o seu amor paterno.

E assim foi, dois dias depois partiu para a América, abandonando o seu filho.

Xxx

Amaldiçoou-se eternamente por não ter ouvido o seu pai. Os gritos dos seus criados eram imponentes e assustados. Corriam de um lado ao outro, fugindo do dito terceiro estado que incendiara o seu jardim e matara uma dúzia de aldeões quando ali chegaram.

Draco fechou-se no quarto, mas sabia que não tinha onde fugir, a não ser que saltasse pela janela, mas tal fato fora desconsiderado por ele.

O seu coração batia a mil por hora e não demorou a ouvir passos furiosos no corredor perto do seu quarto. O som metálico das armaduras era estrondoso, assim como o rasgar dos quadros pendurados que enfeitavam o corredor. Ouvia as espingardas Charleville serem disparadas por todos os lados e pela janela do seu quarto pôde avistar corpos mortos espalhados pelo chão.

Esperava passar despercebido, que ninguém reparasse na porta de madeira fechada ou na dura respiração do seu habitante. Algo que não aconteceu.

Várias balas foram lançadas contra a porta, e nenhuma tinha acertado no corpo de Draco. Poderia estar salvo, mas um último tiro foi fatal para ele.

Sentiu uma dor indescritível, não conseguia respirar, pois não tinha força para tal. Arrepios horrendos passavam pela sua espinha e sentia um liquido espesso que escorria pela sua mão. Caiu ao chão e mordeu os lábios, evitando gemer demasiado alto. Lágrimas saltavam pelos seus olhos, ardendo o seu corpo como em chamas. A dor a que obrigara a sua amada a sofrer.

Quando pensou nela, a dor tornou-se suportável. Tentou abrir os olhos, mas pouco via. Sentiu umas mãos a agarrarem o seu ombro e a puxarem-no. Tinha sido apanhado e seria morto na guilhotina, era o seu destino marcado por todo o sofrimento causado. Era o que merecia.

xXx

— Draco, meu Senhor — novamente a voz. A voz do ceifeiro, só podia ser ela. — reage! Por favor. — sentiu umas gostas de chuva caírem sobre o seu rosto e abriu os olhos.

Já não sentia aquela dor da bala, mas não conseguia erguer o corpo. Olhou em volta e reparou estar nuns canos do Château. Fora salvo.

Olhou em volta até localizar o seu anjo da guarda. Uma máscara branca cobria o rosto do seu guardião. Tão brilhante, tão limpa.

Não sabia quem era o seu dono, mas o cheiro delicado que preenchia os canos eram familiares. Os cabelos rebeldes e soltos espalhados pelas suas costas eram reconhecidos à distancia por Draco. Os cabelos que ele tanto amava. Não era possível. Tinha morrido e estava no paraíso com ela. Era a única explicação plausível.

— H-hermione? — a voz dele era inaudível, mas temerosa.Tinha medo que não fosse real, mas ao mesmo tempo queria que fosse um lindo sonho que ele sempre tinha. Todavia, as ligaduras ensanguentadas que ligavam o seu abdomém destapado eram o sinal da sua alma viva.

— Sim... Sou eu — ela sorriu. O sorriso que sempre lhe era dado pelo enorme amor que tinha.

— M-mas, não é possível — era inacreditável.

— Eu não morri.

— Sim, você morreu! Se isto é alguma brincadeira pode esperar pela guilhotina. — Draco estava furioso. Não poderia admitir que um desconhecido de máscara se fizesse passar pela sua amada falecida.

— Draco... — ele tentou se levantar, mas o seu ferimento não permitiu ter forças para tal.

— Eu não acredito. Me leve de volta! E nunca, mas nunca mais se atreva a fazer essa... Bem, o que quer que esteja a fazer.

— Me deixe explicar, por favor — acrescentou num tom piedoso quando ele ira contestar — Depois de... Bem, ter ardido, acordei no chão do celeiro. Ninguém me viu, ou salvou — ele não a salvou. Não eram precisas outras palavras para entender — Fiquei parada, debaixo da madeira por dias. Por fim, ganhei forças e voltei a entrar. Roubei comida e me olhei ao espelho. — ela chorava, mas não sabia dizer de alegria ou tristeza. O seu amado não podia ver o seu rosto, para além dos seus olhos. — eu vim viver por aqui, pelos túneis. Mas sempre o visitava à noite, na esperança de um dia me ir procurar, ou perceber que estava viva.

— As rosas...

— Eram o nosso símbolo, a sua promessa. Você me abandonou, mas mesmo assim eu o perdoo.

— Hermione... — ele tentou captar a sua atenção, mas ela continuava a falar. Não queria enfrentar todas as perguntas que viriam.

— Eu matei a Astória porque você jurou casar comigo. Você era meu, Draco. Só meu, mas me abandonou e iria casar com outra. Por anos eu tive de viver aqui, com o rosto deformado, à espera que o senhor se lembrasse de vir. Mas nunca aconteceu...

— Estavas morta, eu não sabia... — ele chorava com ela. Sentiu as suas delicadas mãos o erguerem e suavemente beijou os seus lábios. A esperança voltara.

— Eu cumpro as minhas promessas. Eu amo você.

— Porque não me veio procurar? Dizer que estava viva?

— Estava com vergonha. Tinha nojo do meu rosto, estava horrível. Mas eu estou aqui, assim como você. Eu estava no seu quarto quando foi atingido e o trouxe para aqui. — Draco não sabia o que dizer. Não havia nada a dizer.

Ouviu um som estranho e barulhento, não sabia identificar. Continuava abraçado à sua amada, prometendo nunca a largar. Sabia qual era o destino, poderia ver pelos seus olhos o que iria acontecer.

— Eu vou cumprir a promessa — não era preciso dizer mais nada. Hermione tinha entendido o que ele queria dizer.

— A promessa de morrer a meu lado? — beijaram-se mais uma vez, deixando-se levar pelos sentimentos abalados que tinham. O barulho aumentava cada vez mais. O canhão aproximava-se.

— Sim, eu vou cumprir essa promessa.

Foi a última coisa dita, a última promessa cumprida.


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Notas finais do capítulo

É aqui que são feitas todas as revelações. Ora bem, quem reparou, poderá notar que esta história é um baseado no "Fantasma Da Ópera", mas a única coisa relacionada é a Hermione e o rosto deformado, assim como os sinais de que é um fantasma e a morte da Astória, que é como um simbolo do ciúme que ela tinha.Para quem também não percebeu, Draco jurou que morreria com Hermione sobre uma rosa branca, daí que ela sempre aparece.Espero que gostem, porque particularmente eu adorei escrever esta história :D



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