Snow White [HIATUS] escrita por Hela


Capítulo 3
Era uma vez... Espelho, espelho meu


Notas iniciais do capítulo

Tenham uma boa leitura



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—Uma viagem? Isto é inaceitável. Você irá se casar daqui a algumas semanas e está agindo como se tudo não passasse de uma grande piada.

—Mas papai... Isto é uma piada, apenas não tem graça.

—Impressionante. Você tem uma resposta para tudo.

—Apenas para aquilo que me é questionado. - Regina respondeu, ficando na frente de seu pai e bloqueando o caminho - Me dê um único motivo para impedir minha viagem.

—Bem... Não tem nada pronto ainda para a cerimônia.

—Claro que tem. Já escolhi as flores, os pratos que serão servidos, os músicos, distribui as funções dos empregados e o mais importante, escolhi o meu vestido.

—O mais importante é o noivo.

—E creio que o senhor ainda não o escolheu, portanto, tenho tempo para passear pelo reino e voltar dias antes do casamento.

—Você está certa, mas fique sabendo que posso escolher seu futuro marido rapidamente.

—Oras papai, sabemos que a pressa é inimiga da perfeição. Sua escolha deve ser sensata, não queremos que o futuro rei não saiba nada sobre governar e muito sobre como assar pão.

—Não vejo mal algum em um rei que saiba assar pão. Talvez nosso povo precise de um rei assim.

—Povo? Eles que comam brioches. Precisamos de um rei inteligente, corajoso e que acima de tudo saiba como nos proteger contra as ameaças estrangeiras. Um rei como o senhor, Henry, o Bravo e seus ancestrais.

—Não deixe que escutem isto, ou irá ser enforcada assim que assumir o poder. - Ele falou lançando um olhar cruel a ela - Tenho que ir para as audiências agora. Já encerramos nosso assunto.

—Não, não encerramos. Ainda não tenho sua permissão. - Ele parou de andar, olhou para ela por alguns segundos e por fim suspirou.

—Te dou uma semana. E você escolhe seu marido.

—Três. E o senhor escolhe.

—Duas.

—Três. E o senhor escolhe três príncipes, para mim escolher o que mais me agrada quando voltar.

—Vá arrumar suas coisas.

—Elas já estão prontas.

***

—Oh! Sentirei saudades. - Mme. Anne Bleuâtre conseguiu falar entre soluços e lágrimas.

—Por favor não chore minha amiga. Prometo que trarei os tecidos mais lindos que encontrar para você.

—È un'ottima idea. - Disse batendo palminhas e depois limpando as lágrimas - Já sabe para onde vai?

—Ainda não.

—Quem sabe o norte? - Anne perguntou.

Regina olhou para o norte. Lembranças vieram a sua mente. Ela já conhecia o norte de um passado não muito distante. Suas praias de areias brancas e quentes, as águas geladas e convidativas. Se fechasse os olhos conseguiria sentir a brisa quente e úmida que fazia seus cacho balançassem, poderia sentir o cheiro e o gosto salgado e ouvir o grito das gaivotas. Mas ela não queria lembrar disto. Não queria lembrar das caminhadas que fazia descalça, sentindo a areia entre seus dedos e não queria lembrar, talvez uma de suas lembranças mais felizes, de sua mãe penteando seu cabelo e cantando para ela dormir depois de passar o dia inteiro dançando juntas. Não deveria se prender a estes sentimentos se quisesse ser uma Grande-Rainha.

—Não. Dessa vez vou para as colinas ao leste. Quero saber como é o limite daquilo que um dia será meu.

As carruagens já estavam prontas. Eram duas, a primeira para transportar a princesa e seus pertences e a segunda para transportar seus criados. Seria escoltada por vinte dos melhores soldados.

Regina abraçou Mme. Anne Bleuâtre e entrou na carruagem. Os cidadãos já a esperavam do lado de fora dos portões do castelo. Lembrou de um detalhe, uma tradição, que sua mãe sempre fazia quando se ausentava do castelo por um longo período e mandou pararem a carruagem. Abriu a porta e chamou uma linda garotinha ruiva, com olhos cor de amêndoas que estava comprando legumes com seu pai. Ela se aproximou da carruagem com timidez. Todos sabiam o que estava prestes a acontecer, exceto ela.

—Qual o seu nome, querida?

—É Danielle, majestade. - A pequena fez uma leve reverência.

Regina tirou suas luvas tão brancas quanto a neve, dobrou-as, tirou também seus sapatos de cristal e os entregou à Danielle.

—Faça bom uso. - Fechou a porta e ordenou que seguissem o curso.

Já fora da cidade as carruagens pararam de novo. Um dos cocheiros desceu e foi até a janela perguntar a princesa qual era o destino.

—Me levem para as colinas. - Respondeu sem olhar para ele.

—Sim, majestade.

Voltaram a se movimentar, indo em direção as colinas do leste. Um novo sentimento crescia dentro dela. Ela sentia um sopro de vida. O interior da carruagem estava tão silencioso. Através da janela, olhou para o sol, um pequeno toque de luz celestial. Sorriu para o nada.

—Tragam-me o horizonte.

***

Regina e seus criados pararam em todas as cidades que encontravam no caminho, sendo recebida alegremente por todos os duques e condes. Não havia se esquecido da promessa feita à Mme. Anne Bleuâtre e comprava os tecidos mais bonitos que encontrava nas feiras. Já estava pensando na possibilidade de alugar uma outra carruagem, talvez comprar.

No décimo-terceiro dia eles se aproximavam das colinas e no décimo-quarto chegaram. Era o limite. Tinha acabado. No alto delas, era possível ver uma linha clara no chão que separava a grama esverdeada, do seu reino, do chão seco e sujo do Deserto Sem Fim.

Ela já estava pronta para retornar à cidade mais próxima quando olhou para o alto da colina e viu uma linda casa, exatamente no limite. A casa não estava ali minutos antes.

—Quem mora naquela casa Sidney? - Perguntou ao criado forte, com tom de pele bronzeado e cabelos encaracolados.

—Não sei majestade, talvez seja a casa de campo de algum duque.

—Não havia visto aquela casa antes. Será que o dono está lá?

—Desculpe-me, mas também não sei.

—Ora, pois, vamos descobrir agora. Venha Sidney.

—Majestade, não seria melhor se levássemos alguns soldados?

—Então os chame. Rápido.

Junto de alguns soldados e seu criado Sidney, Regina subiu a colina e a medida que se aproximava ficava mais encantada com a casa. Com dois andares, as paredes do lado de fora eram verdes do mesmo tom da grama e a chaminé era de pedra, com lindas flores azuis que surgiam de dentro dela e caíam até o chão.

Ela mesma bateu na porta verde, após alguns segundos puderam ouvir o som de passos firmes contra o chão de madeira e uma mulher idosa, baixa, pálida e com os cabelos brancos trançados com as mesmas flores azuis da chaminé, abriu a porta.

—Em que posso ajudá-los?

—Boa tarde senhora...? - Sidney falou esperando por uma resposta.

—Quem são vocês?

—Não conhece sua futura rainha? - Regina perguntou, altiva.

—OH! Perdoe-me. - A mulher fez uma longa e desajeitada reverência - Por favor. Desculpe-me princesa Regina. Pensei que fosse mais outra filha de duques ou condes.

—Mas o que elas vieram fazer aqui? - Regina perguntou, demostrando interesse e raiva.

—Adoraria responder essa e outras das suas perguntas. Dar-me-ia a honra de me acompanhar no chá? Não tenho espaço para todos os seus... ahn... seguranças e criados, mas garanto-lhe que ficará segura.

—Acho que posso tomar um chá. Fiquem me esperando aqui fora. Posso entrar?

—Ah. Claro, claro. Venha, parece que você ficou na estrada durante um longo tempo.

Assim que as duas mulheres entraram e a porta foi fechada, a mais nova pensou que tivesse sido transportada ao lugar mais luxuoso do mundo, mais luxuoso até que o castelo onde morava. Todos os cômodos eram brancos, os móveis eram de madeira cor de mogno e o objetos eram de ouro puro.

—Gostou dele? - A idosa perguntou quando Regina parou de andar e ficou se admirando no espelho.

—Ele é maravilhoso. - Regina respondeu e se aproximou dele.

Tocou as letras gravadas em volta dele. Maravilhada. Era o objeto mais bonito que já vira e seu reflexo nele ficava mais diferente do que o dos outros espelhos. Ficava mais bonito e cheio de vida. Ela não percebeu, mas sua alma acabara de ser aprisionada.

—O que significa? Não conheço este idioma.

—Eu não sei o que significa, sei apenas que é uma pergunta. Apenas as mais bonitas e corajosas sabem o que está escrito e ainda dizem que a mulher que dizer esta frase na frente dele terá todas as suas perguntas respondidas.

—E quem diz isto? Nunca ouvi rumores sobre este espelho.

—Ele e sua dona não são deste reino princesa. Nós viemos de um lugar em que a água é escassa, os dias e as noites são quentes, o transporte não precisa ser feito com a ajuda de animais e todos os habitantes passam horas no deserto procurando por um objeto dourado.

—OH! Já ouvi muitas histórias sobre este lugar. Agrabah. Mas ninguém que saiu do reino para procurá-lo voltou, então muitos acham que é apenas uma lenda.

—Isso é porque os que conseguiram chegar não quiseram voltar. A mágica que há no deserto faz com que os todos de lá se sintam muito bem.

—Então tudo é real? A mágica? Os gênios? - Perguntou desesperada. A velha riu com a reação da jovem.

—Venha querida. Responderei todas as suas perguntas durante nosso chá.

Regina fez todos os tipos de pergunta para a velha durante o chá. Estava bastante empolgada com as histórias e magia de Agrabah, que quase decidiu prolongar mais a sua viagem e ir para o deserto.

Depois fez com que a mulher levasse ela a todos os cômodos da casa. Eles eram pequenos, mas todos eram bastante luxuosos e o ouro predominava em cada canto. Apenas o último quarto do primeiro andar era diferente. As paredes e o chão estavam pintados de marrom. No meio havia um tear, ao lado esquerdo dele o chão estava coberto por palha e ao lado direito, coberto por ouro.

—Como isso é possível? Não há mágica neste reino. Você não conseguiria transformar palha em ouro aqui.

—Há mágica em todos os lugares e pessoas, até mesmo em você.

—E você pode me ensinar?

—Ensinar o quê? A transformar palha em ouro?

—Não. Digo, não apenas isto. Eu quero que você me ensine tudo. Você pode ir morar comigo em meu castelo. Posso deixar alguns de meus criados cuidando da sua casa.

—Seu pai não permitiria que eu morasse no castelo, não depois de saber o que posso fazer. Isso só daria certo se você virasse rainha antes de se casar.

—Meu pai não viverá para sempre... - Regina falou, dando de ombros e pegando um vaso de porcelana.

—Está enganada, todos que pensam que ele morrerá logo estão enganados. Ele viverá tempo o suficiente para passar a coroa ao seu filho mais velho. - A mulher disse, interrompendo-a. Regina virou bruscamente e jogou, com raiva, o vaso no chão.

—Como pode dizer isto para mim? Você não o conhece, eu que convivo com ele sei que já está próxima a hora de sua morte.

—Querida, eu sempre estou certa. - Quando ouviu isso, Regina caiu aos prantos.

—Não pode ser. Isso está errado, você está dizendo que eu nunca serei rainha, que continuarei recebendo ordens de homens até o fim de meus dias. Deve haver algum jeito para que receba a coroa.

—E há querida. - A outra se ajoelhou e segurou o rosto molhado da princesa - Sempre há um jeito e você sabe o que deve fazer.

A princesa De Mills arregalou os olhos e se afastou.

—Está louca? Não posso fazer isto.

—Oh, querida, eu sei que parece loucura, mas acredite em mim, só isso que você pode fazer. Você está com medo, compreendo isto, apenas as pessoas mais corajosas conseguem.

—Acha que sou uma covarde? - Perguntou com raiva - Saiba que sou capaz de fazer tudo, até queimar o reino inteiro, para ter minha coroa.

—Era isto que eu queria ouvir. Venha. - Ofereceu a mão para ajudá-la a levantar - Vamos limpar estas lágrimas. Te contarei o que você precisa fazer. - A abraçou - Ai, ai. Não há nada pior que uma princesa chorosa.

***

Regina dormiu durante quase toda a viagem de volta ao seu castelo.

Quando saiu da casa ordenou para que seus guardas pegassem o espelho que ganhara de presente da mulher, que na despedida revelou-se chamar Cora. Segurava uma pequena bolsa de veludo negro e ninguém suspeitou o que tinha dentro. Devem ter pensado, talvez, que era mais um presente.

A carruagem passou pelos portões do castelo e na escadaria Mme. Anne Bleuâtre a esperava com um grande sorriso, acompanhada de vários criados, as filhas dos duques e seu pai.

Antes de sair, Regina respirou fundo e abriu um sorriso falso, o melhor de todos. Anne, as visitas e os criados reverenciaram-na.

—Minha amiga, senti tanto a sua falta. - Anne a abraçou - Oh! Você está com olheiras enormes. Aconteceu algo de errado?

—Não, não. A viagem foi perfeita, preciso apenas de um descanso.

—Tem certeza?

—Absoluta. Depois converso contigo, trouxe tecidos maravilhosos para ti.

Subiu os outros degraus e fez uma longa reverência ao rei.

—Todos nos sentimos sua falta.

—Eu sei papai. Também senti falta de vocês. - Regina respondeu, não conseguiu olhar nos olhos de seu pai, por isto resolveu encarar seus sapatos - Se importaria se eu fosse para meus aposentos agora? Quero descansar um pouco antes do jantar.

***

Durante o jantar, o rei revelou o príncipe escolhido por ele para se casar com sua filha. Muitos outros príncipes de outros reinos tentaram convencer o rei de que eram uma boa escolha. Mas ele acabou por escolher um que parecia ser a pior escolha. Príncipe Daniel, era filho de um rei que fez seu reino entrar em falência e aceitou se casar em troca de ajuda financeira.

Com sua alta estatura e um pouco desengonçado, Daniel, sentou-se ao lado de sua futura esposa e no decorrer do jantar passava as mãos pelos cabelos claros. Regina o intimidava.

***

Na calada da noite Regina saiu de seus aposentos e sem que nenhum dos guardas noturnos percebesse, entrou no quarto de seu pai. Ele dormia tranquilamente, não se movia muito.

De dentro da bolsa de veludo negro, retirou um pequeno frasco com um líquido roxo. Ao se aproximar do pai, o ouviu falando baixo:

—Olhe Lilian, como nossa pequena princesa está linda.

Lágrimas caíram de seus olhos enquanto derramava o veneno dentro da orelha dele. Veneno que faria com que sua morte parecesse natural. Sua pele ficou pálida em instantes, sua respiração ficou mais serena e segundos depois ele deu seu último suspiro.

Oh! Pobre homem. Morreu sorrindo, mal sabia ele que o motivo deste sorriso foi a causa de sua morte.

Regina voltou rapidamente ao seu quarto, jogou o frasco na lareira e guardou um colar dentro da bolsa de veludo. Olhou seu reflexo no espelho que ganhara de presente, a mulher no espelho era linda, deslumbrante, forte e corajosa. Ela olhou para a Regina real com um olhar de escárnio e um sorriso nos lábios.

—Está feito. Não tem como voltar atrás. - Ela falou alto e Regina ouviu sua própria voz ecoando no quarto. Não gostava daquele reflexo, não gostava do que havia feito. Mas ele estava certo. Não tem como voltar atrás.

Deitou em sua cama e se encolheu em posição fetal.

—Me desculpe papai. Eu sinto muito. Eu te amo.


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