Ela se perguntava como a situação havia chegado até aquele ponto. Ainda podia sentir o cheiro amadeirado do perfume dele. Quando ele a abraçou, o perfume ficou em suas roupas e a acompanhou durante o final do dia, uma lembrança daquele momento que sufocava seu peito.

Ele era exatamente o que ela poderia querer: Responsável, amável e gentil. Ainda por cima era bonito, com seu cabelo dourado, olhos na cor do mel, sempre tão cuidadoso, havia tanto que compartilhavam em comum. O gosto pela literatura, o amor pelos felinos. Ah, ainda lembrava-se bem do dia que o ajudara com os gatinhos necessitados, seu coração bateu tão forte aquele dia, ela já o admirava por suas qualidades, mas aquele dia tinha sido especial.

Porque não podia apenas fechar os olhos e deixar que esse sentimento aflorasse mais? Quando ele a procurou, estava tão envergonhado. Ela nunca o vira daquela maneira, tão inseguro, as bochechas vermelhas, lindo como em todos os dias. Ele não havia conseguido se expressar, ela percebera, as palavras dele saiam descoordenadas e ela achava graça, ele tão certinho e seguro de sim, era cômico vê-lo assim. Até que inesperadamente ele a abraça, seus braços fortes a apertavam gentilmente e naquele momento seus corações batiam em um ritmo frenético, em sincronia.

Ela fora pega de supressa, mas em seu interior, gostou do gesto e inspirou profundamente aquele cheiro que emanava da pele dele. Ele subitamente levou as mãos ao rosto dela, desfazendo o abraço. Seus polegares acariciavam as bochechas dela. Ela sabia o que viria a seguir e mesmo relutante, deixou que o momento se seguisse. Ele sorriu e seus olhos brilhavam, timidamente tocou os lábios no dela, em beijo cálido. Mas ela sabia que aquilo não era o certo, não podia beija-lo, não ele, o amor de uma de suas amigas! Mas porque não o impedia? Mesmo sabendo do amor que Melody sentia por Nathaniel, porque ela não parou? Era mesmo tão péssima amiga assim? Milhões de pensamentos invadiam sua mente, no entanto, ela se deixou levar, entregou-se ao beijo de Nathaniel, desfrutando de seus lábios macios.

Quando ele interrompeu o beijo em busca de ar, sorria ainda mais para ela. Disse-lhe que fazia um tempo que esperava por aquela oportunidade, que sonhava com ela todas as noites. Ela era tudo que ele sempre desejou, mas sempre que tentava tomar a iniciativa, temia que o desprezasse, ou que os sentimentos não fossem correspondidos.

Ele continuou a falar, dizendo o quanto a estimava e apreciava. Ela adorou ouvir suas palavras doces, mas ao mesmo tempo em que seu coração vibrava por essa declaração, ele sangrava em desespero. Pensou novamente na amiga, tinha certeza que ela amava Nathaniel, mais ou tanto quanto ela mesma descobriu naquele dia, quando ele a beijou.

Quando o silencio se apoderou dos dois após a declaração que ele lhe proferiu, ela não aguentou. As lágrimas lhe escaparam e mesmo sabendo que o magoaria, ela correu sem ao menos olhar para trás. Ela o ouviu lhe chamar, mas ignorou o chamado correndo ainda mais. Nem mesmo lhe importava que estivessem no meio do período das aulas, não podia encara-lo, não agora que as dúvidas lhe corroíam a alma.

Chegou em casa aos prontos, despedaçada.

Ela recomia esse dia a cada minuto, podia sentir o gosto dele em seus lábios. Nunca fora beijada daquela maneira, tão serena, tão apaixonante...

Como poderia amar alguém que lhe era proibido? Suas indecisões poderiam custar caro, só que não havia escolha. Ela agira por impulso o deixando para trás sem ao menos lhe dizer nada. Não havia motivos para arrependimentos, o passado não poderia ser refeito e somente esperava que ele entendesse seus motivos quando explicasse tudo. Se realmente a amava, ele entenderia.

Exausta pelo dia turbulento, apesar de emocionante, ela suspirou e deitou em sua cama. Seus pensamentos iam de encontro a Nathaniel, em seus lábios apaixonantes, em seu abraço forte e em seu cheiro sedutor. Ah, ela teria bons sonhos essa noite. O amanhã poderia esperar.