Nunca em toda minha vida os salões comunais de Valhalla pareciam tão sombrios...

Já era tarde, e não houveram comemorações naquele dia aos combatentes trazidos de Midgard. A noite se aproximava lentamente, o salão quase vazio se banhava na luz do crepúsculo enquanto um chifre cheio de hidromel repousava na mesa... Tentando aplacar minha dor.

_ Sabe que a decisão vai ser tomada, mais cedo ou mais tarde.

Heimdall sempre foi direto nos assuntos. Sua objetividade sempre me agradou, mas nesse dia era como se estivesse recebendo pedradas na cabeça.

_ Eu sei disso Heimdall.

_ Sabe que deve ser feito, senhor.

_ Eu sei Heimdall.

_ Cada segundo conta. Se as nornas já fizeram a previsão...

_ EU SEI HEIMDALL!

Um trovão cortou o silêncio do salão, já não sabia se era eu mesmo, não sabia se estava certo do que deveria ser feito. Toda essa confusão, me levava pra longe do que eu deveria fazer.

Mas eu sabia, eu iria fazer, e iria fazer em breve. E se não fizesse, todos os universos seriam obliterados.

Mas o preço... era alto.

_ Perdão Heimdall, não sei o que me passou pela cabeça...

_ Meu senhor, eu quem peço desculpas pela petulância.

_Eu só estou com raiva, por ser ela quem vai sofrer. Sofreria mil vezes no lugar dela, se fosse possível.

_ Invejo sua filha, senhor.

_ Sabe que te considero como irmão, Heimdall, não deveria ter inveja.

_ Pode dizer o que quiser, meu senhor, mas nem mesmo Thor recebe o mesmo carinho que ela, sei que ela é uma filha especial para o senhor. E sei que lhe dói tomar essa decisão.

_ Ela vai sofrer muito Heimdall...

_ Mas vai voltar, o senhor mesmo viu.

_ Ela nunca vai me perdoar.

_ Isso, o senhor já não viu, então nada pode dizer.

Isso era verdade. A visão só me permitia ver a salvação dos universos, e nada mais além. Pode ser que ainda dependa de coisas que virão a acontecer.

Troquei meu pesar por seriedade. Minha dor, escondi em minha coroa. E com dificuldade, retornei ao trono, onde iria ordenar o pior castigo, para minha mais amada filha.

Sem motivo. Ela seria exilada.

_ Traga Brunhild, Heimdall.

_ Agora mesmo, Odin, meu senhor.

Nesse momento me lembrei das orações que humanos guerreiros faziam quando levavam dor aos inocentes. Nas batalhas que eram travadas.

"Que os Deuses me guiem, e me perdoem."

E quem iria me perdoar?