Rainha do Caos escrita por Keen, Pink


Capítulo 8
Oito - A culpa não é da Alicia. A culpa é das estrelas




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Sienna havia se jogado em Ian.

Não sei exatamente explicar o motivo, mas tudo que eu queria era que meus olhos estivessem me traindo. Que nada do que estivesse acontecendo a poucos metros de mim fosse real.

Mas era. Sienna tentava beijar Ian. Tentava não, porque agora ele correspondia.

Isso soou como se eu estivesse com ciúmes. Mas vou deixar bem claro que não. Porque simplesmente não há motivos pra isso, não é? Ian é dono da vida dele – e da boca também - e pode fazer o que quiser com ela.

Mas ficar com uma garota como Sienna? Francamente, viu. Por mais que isso tivesse muitas chances de acontecer, no fundinho achei que Ian fosse mais inteligente do que aparentava.

– Eu quero ir embora - digo virando as costas para o que estava acontecendo e encaro Alicia.

Ela arqueia as sobrancelhas, mas logo sua expressão confusa se dissolve num sorriso.

– Porque ? - ela indaga cruzando os braços. - Não consegue ver Ian beijando outra garota?

Foi quando caiu a ficha de que eu nunca vi Ian ficar com uma garota ao vivo e a cores. O que é estranho. As garotas inundam o chão de baba quando ele passa perto delas. Volte e meia, quando o carteiro passa, há cartas cheias de coraçõezinhos de remetente desconhecido destinada a ele. Também desconfio que Alicia, minha melhor amiga e uma das pessoas que mais posso confiar no mundo, tenha um abismo por ele.

E moramos a exatamente quatro anos e um pouquinho juntos. Acho que Ian já deveria ter aparecido em casa com uma namorada ou pelo menos eu já deveria tê-lo visto aos amassos com alguma garota atrás do colégio.

Então, a minha conclusão é: ou ele é muito moço de família com vergonha na cara – coisa que desconfio, a minha intuição é que ele seja o lobo em pele de carneiro - ou talvez ele seja, bem você sabe... talvez ele não curta muito pessoas do sexo oposto ao seu, ou seja, garotas.

No entanto, quando eu me viro para encará-lo levando em consideração a última hipótese, ela simplesmente não faz nenhum sentido.

Um gay não beijaria tão intensamente uma garota daquela forma como Ian Becker estava fazendo.

− Eu não estou muito bem − minto. − Meu pé está doendo um pouco.

Alicia faz uma careta.

− Ah, Elise, eu não quero ir embora.

Juntos minhas mãos implorando e é a minha vez de fazer uma careta nada boa.

− Ok − Alicia bufa. − Vou ligar para o Jake.


– Tem certeza disso? - Alicia pergunta quando paramos na calçada. Tenho certeza é de que ela está implorando por dentro para que eu diga que não.

– Claro que tenho - resmungo enquanto meus olhos percorrem pelos carros estacionados. - Você não disse que seu irmão estaria aqui?

Alicia suspira.

– Sim, sim. Mas eu tenho que ligar pra ele - ela diz rapidamente. - Só que eu não-

– Onde vocês pensam que estão indo? - posso escutar a voz da Barbie se aproximar. Acho que acabo rosnando de raiva sem querer. - Vocês não estão indo embora, não é?

Elise quer ir embora - Alicia dedura. - Não eu.

Ian tomba a cabeça para o lado. A luz da rua faz seus olhos azuis brilharem. Por que diabos ele não está lá agarrando Sienna? Não era isso que ele estava fazendo há alguns minutos atrás?

– Ah, Elisinha, por que você quer ir embora? - Ian pergunta docemente e sua expressão é de quem realmente quer saber. Algo nele me assusta. Elisinha, desde quando ele me chama de Elisinha? - Fica, já cortaram o bolo.

– Não é da sua conta e eu não quero bolo - respondo curta e grossa. - Vamos Alicia, liga logo.

– Eu posso levar você, se quiser - Ian se precipita. Meu Deus, só pode terem dado droga a ele. Essa é a única coisa que explica seu jeito demente. Agora, imagina se minha mãe ver ele nesse estado? Tenho certeza que a Terceira Guerra Mundial começaria.

Os olhos de Alicia brilham.

– Vamos juntar o útil ao agradável - ela diz. - Se você aceitar a carona do Ian, eu posso ficar na festa e você poderá ir embora. Assim nós duas ficaremos felizes.

– Eu não vou com ele de jeito nenhum - digo como se só de pensar nessa ideia fosse o cúmulo. E talvez seja mesmo.

– Eu ainda estou aqui, sabia? - Ian diz a poucos metros da gente.

– Por favor, Elise - Alicia insiste fazendo aquela carinha de cachorrinho que caiu da mudança.

– Você é uma traidora - eu acuso irritada.

– Mas o que eu fiz? - ela pergunta confusa.

Respiro profundamente como se fosse possível transformar oxigênio em paciência.

– Seu alguém morrer no caminho, a culpa vai ser sua - eu alerto apontando pra ela.

– A culpa não é da Alicia. A culpa é das estrelas - foi Ian que soltou isso, e a minha vontade é de socar a cara dele. Mas ele está olhando para o céu de um jeito sonhador. Ninguém socaria a cara de um drogado lunático e ainda por cima... bem, um pouco... bonitinho. Mas isto é apenas o que eu ouço as outras garotas dizerem. Além do mais, eu teria coragem de socá-lo sim, só não faço isso porque ele deve está drogado e seria uma luta injusta.

– Então você quer dizer que vai com ele? - Alicia abre um sorriso de orelha a orelha.

– Tenho outra escolha?

Ela comemora discretamente enquanto corre para dentro. Eu me viro para encarar Ian.

– A gente vai do quê, posso saber?

– Meu pai emprestou o carro dele - responde Ian soltando uma risadinha. - Ele disse que se eu devolvê-lo intacto, eu posso pegar quando eu quiser. - Ian anda até o carro e enquanto abre a porta me encara por cima do teto. - Você está bonita, Elise - seu tom não é de zombaria.

– Você bebeu, foi? - pergunto.

– Um pouco - responde ele na cara dura enquanto entra no carro.

Eu abro o carro e sento-me no banco ao lado do motorista.

– Era por isso que estava beijando Sienna Bloomfield? - pergunto e, enquanto fecho a porta, me arrependo. Que tipo de pergunta é essa, meu Deus?

Ele sorri de lado, voltando os olhos pra mim.

– Está com ciúmes, é?

– Óbvio que não - respondo seca.

Ele suspira deixando os ombros cair.

– Eu estava tentando esquecer alguém – ele esclarece olhando pra frente.

– Uma garota? — pergunto curiosa.

– Não, um garoto por quem eu estou me apaixonando - ele diz sério, mas posso o sentir debochar enquanto revira os olhos.

– Sempre desconfiei - não consigo segurar uma risada. - Mas porque Sienna Bloomfield? Escuta, eu não estou tentando dar uma de irmã mais velha preocupad-...

– Eu sou mais velho que você - ele lembra. - E você nunca vai ser minha irmã.

Ai! Essa doeu. Eu não estava preparada, apesar de ter a mesma opinião em relação a ele.

– Tudo bem, eu sei que não, - digo - mas com tantas garotas no mundo, porque justo Sienna Bloomfield?

– Por que ela gosta de mim - ele responde dando de ombros.

– Não, é diferente. Ela tem obsessão por você. - explico irritada. - Na verdade, acho que todo mundo tem.

Ian encosta-se no banco.

– A garota que eu queria esquecer não.

Eu arqueio as sobrancelhas, surpresa.

– Então, faz o seguinte. Não esqueça ela não - aconselho. - Porque ela sim parece ter algo que preste na cabeça.

Ian me encara.

– Já disse que você está bonita?

Foi nesse momento que percebi que Ian Becker não estava bem. Os cantos de sua boca simplesmente não desciam e ele estava com um olhar um tanto... estranho, como se tudo a sua volta fosse motivo pra achar graça.

Acho que ele havia bebido um pouco mais da conta.

– Você está bêbado – acuso espantada.

Ian vira-se pra mim assustado.

– Claro que não - diz lentamente tentando esconder um sorriso travesso que logo se desmancha dando lugar um expressão nada agradavel. – Ah, e eu posso saber o que o Cameron estava falando com você?

− Que Cameron?

− Cameron Walsh.

− Você o conhece?

− Claro que eu o conheço.

− Você são amigos?

− Éramos – ele explica. – Não somos mais.

− Por quê?

− Nada de tão grave.

− Não é da sua conta o que eu e ele estávamos conversando, Becker. − Alguma coisa me diz que eu só disse isso pra deixá-lo com raiva.

Nós ficamos em silêncio e nesse momento lembro-me de algo que eu queria muito saber, mas que simplesmente não poderia perguntar com ele em sã consciência. Certo, mas como eu sou uma garota muito boa, vou me aproveitar da situação.

– Porque está me dando um gelo? - pergunto. - Desde aquela noite na cozinha você vem me tratando de um jeito estranho.

Ele suspira por um instante e depois encara a janela ao seu lado.

– Você disse que preferia que eu não tivesse nascido, lembra? - posso ver pelo seu reflexo no vidro que sua expressão é de mágoa . - Só de pensar que aquilo poderia ter acontecido eu...

– Como é que é?

– É, Elise. Eu poderia não está aqui te perturbando, se isso te interessa - ele responde seco voltando a me encarar, mas desiste no caminho e resolve encarar o volante do carro. - Digamos que minha mãe tenha engravido de mim sem querer. A gravidez foi complicada e o médico disse que ela não poderia ter mais filhos. Só que essa era vontade dela. Ela queria ter um filho planejado, sabe, o que não foi o meu caso. Depois de anos, ela resolveu ter Finn e aí, - Ian para de falar e umedece os lábios - você sabe o que aconteceu. - Ele diz voltando a me encarar e posso ver dor em seus olhos.

Eu assinto. A mãe dele morreu no parto do irmão.

– Então eu fico pensando, - Ian diz num tom mais baixo - que se eu não tivesse nascido, ela poderia ter tido o filho que ela tanto queria e ainda estaria viva.

Tudo o que eu quero é contrariá-lo. Dizer que ele não deveria pensar assim. A mãe dele morreu, mas ele sabia que ela o amava. Que mesmo que não tivesse sido a gravidez dos sonhos, ele havia recebido amor de ambos os pais. Queria contar pra ele que depois da separação da minha família, fui praticamente rejeitada pelo meu pai. Minha mãe estava ali, o tempo todo fazendo papel tanto de mãe como de pai, mas não era a mesma coisa.

Mas eu não podia dizer tudo isso porque simplesmente eu não tinha coragem. Aquele do meu lado era Ian Becker. Apesar de estar bêbado, continuava sendo o mesmo.

– Sinto muito - é o que eu digo sentindo o peito doer. - Eu não sabia disso.

Ele sorri triste.

– É claro que não - responde. - Como poderia saber?

O que mais me decepciona é que tenho quase certeza de que ele não me contaria aquilo em sã consciência. E também eu preciso me redimir de alguma forma, pelo menos essa noite. Depois de tudo que eu tinha dito na cozinha naquela noite... bem, era muito injusto.

O bom garoto está bêbado e a má garota tentando cuidar da vida dos dois. Daria uma bela história.

– Vamos - eu digo abrindo a porta do carro.

– Pra onde? - ele pergunta segurando o volante. - Temos que ir embora.

– Eu sei - estou em pé do lado de fora do carro o encarando. - É justamente isso que vamos fazer. Escuta, pode até não parecer, mas eu prezo pela minha vida. E não vou deixar você ir embora de carro sozinho nesse estado, está bem?

– Mas eu não quero ir andando - ele diz.

– Nem eu, seu bocó − digo sem paciência. − Vou chamar um táxi.

O canto esquerdo de sua boca se eleva.

– Fala sério, você me ama - ele diz sorrindo, enquanto abre a porta e pula de dentro do carro. Quando vejo, ele está correndo em minha direção.

Assim que ele passa o braço pelo meu ombro, minha ficha cai: ele está bêbado, muito bêbado. E não vai se lembrar nada disso amanhã.


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Notas finais do capítulo

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