Lunaris escrita por Ally Waldorf


Capítulo 2
Decepção


Notas iniciais do capítulo

Essa é apenas uma ligeira introdução que levará ao próximo capitulo.



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– Sofia! – Tia Alice chamou sua voz abafada pela distância. Olho para trás e a vejo parada no meio da rua acenando com um malote de papel em suas mãos.

Droga, meu trabalho de história. Tinha passado as últimas noites debruçada em cima da escrivaninha para termina-lo a tempo, mas sai tão rápido de casa tentando evitar falar com a Alice que nem me lembrei de pega-lo. Acenei rapidamente para a minha melhor amiga caminhei relutantemente até ficar frente a frente com ela sem olhar peguei o amontoado de folhas e dei as costas tentando sem sucesso escapar.

– Sofia, por favor, espere. - Ela parecia cansada e a tristeza em sua voz me fez virar para encara-la. Seus olhos âmbar hoje estavam emoldurados com olheiras quase tão escura quanto o seu cabelo negro, agora quase todo tomado por fios prateados que ela tentava esconder. Até aquele momento não havia percebido o quanto tinha envelhecido durante os últimos doze anos em que vivemos juntas quando ela me resgatou de ir parar em um orfanato após perder a minha mãe em um acidente de carro. Naquele dia ela foi até a minha escola e contou da melhor forma possível o que tinha acontecido, imagino o quanto deve ter sido difícil para ela explicar para uma menina de cinco anos que ela tinha passado de filha amada para órfã. Chorei em seus braços enquanto ela me acalentava, prometendo que tudo ficaria bem e que sempre estaria ao meu lado e que me protegeria de tudo, acho que essa última parte inclui a verdade.

– Não acho que essa seja uma boa hora. – Falei me surpreendendo com a frieza em minha voz. – A não ser que você queira me contar porque escondeu que eu tinha uma avó e é claro que é irmã dela.

– É complicado. – Repetiu pelo que deveria ser a milésima vez desde que descobri a verdade. – A Beatrice irá explicar tudo quando chegar aqui.

– Claro, a minha avó. A mesma que esteve em contato com você por todo esse tempo e nunca pensou em sei lá.. Aparecer. Se bem que... – Peguei o pedaço de papel amassado que estava no meu bolso e li as palavras que depois de tanto reler já havia decorado. – “Já esperamos demais, Alice. Nós duas sabemos o que irá acontecer caso ela não volte para casa agora e duvido muito que a sua estimada sobrinha iria gostar de ver a filha compartilhar o seu destino. Apenas faça que eu disse, antes que seja tarde demais.

Beatrice Albuquerque.”

– Eu prometo que há uma boa razão por ter mantido a existência da Beatrice em segredo.

– Você mentiu para mim por anos, acha mesmo que vou acreditar em algo que saia da sua boca agora?

Dei as costas novamente dessa vez ela não tentou me impedir. Segui em silencio até o ponto de ônibus sem olhar para trás uma única vez, uma voz dentro de mim gritava para ter calma tentando amenizar o furacão de emoções que havia me tomado desde ontem quando descobri a carta da Beatrice junto do colar que agora pesava no meu bolso. Ele foi o que me chamou a atenção quando abri a caixa no sótão enquanto procurava uma fotografia minha, da Bianca de do Miguel, irmão dela e agora meu namorado. Somos amigos desde criança e aquela tinha sido a primeira foto que tiramos juntos, achei que ficaria bonito se mandasse ampliar e colocar em um porta retrato, mas o que encontrei foi um pedaço de papel que arruinaria uma amizade ainda mais longa, a minha e a da Alice.

Quando o ônibus chegou caminhei em direção a porta com alguns outros alunos e antes de subir vislumbrei a Alice ainda parada no meio da rua, seus ombros caídos sacolejavam levemente indicando que ela estava chorando. Dor queimou no meio peito, não importa o que ela fez aquela ainda era a mesma mulher que me criou como mãe seria impossível para mim vê-la sofrer sem sentir nada. Dei dois passos em sua direção e então congelei ela tinha me traído, me deixado pensar durante anos que era órfã e se recusava a me explicar o porquê. Dei meia volta e entrei no veículo sentando-me ao lado da Bianca, quando o motorista deu partida acompanhei com os olhos a figura fina e cabisbaixa até não poder mais, uma voz me alertava para descer e ir até ela, mas a ignorei e irei me arrepender para sempre disso porque aquela seria última vez que veria a Alice com vida.

Quando a encontrei novamente, depois da escola, era apenas um corpo flácido sobre uma maca sendo arrastada para fora de casa. Assisti enquanto eles a eletrocutavam tentando fazer com que seu coração voltasse a bater e depois declaravam o óbito cobrindo o seu rosto pálido com uma lona amarela. Um homem se aproximou de mim nesse instante e perguntou se eu conhecia aquela mulher, mas não consegui falar porque qualquer estava sendo sufocada pela culpa de tê-la deixado morrer pensando que a odiava. Lágrimas brotaram nos meus olhos e escorregaram livremente pelo meu rosto, por minutos, horas fiquei naquele transe silencioso incapaz de acreditar que ela realmente estava morta. Só quando a Bianca e o Miguel chegaram e me abraçaram foi que a realidade bateu e foi um doloroso tapa bem no meu rosto.

– Eu sinto muito, Sof. – A minha melhor amiga dizia sua voz embargada e seu rosto estava vermelho e molhado. – Muito mesmo.

Eu ainda não tinha contado a Bianca sobre a minha discursão com a Alice, ela não sabia que antes de morrer a Alice tinha ouvido de mim palavras duras. Ela não sabia que eu ontem a noite desejei coisas horrorosas para a Alice durante o ápice da minha raiva.

– Ela te amava, você sabe disso não é? – Miguel disse sem saber que tais palavras apenas aumentava o meu pesar. Alice era uma das pessoas, senão, a pessoa mais incrível que conheci e até mesmo magoada e ferida eu nunca deixei de acreditar que ela me amava. – Você quer ficar lá em casa? Não acho que seja uma boa ideia você entrar agora. – Ele continuou apontando para a porta por onde policiais saiam e entravam. Acenei afirmativamente com a cabeça, não queria entrar ali onde minha tia e eu passamos os melhores momentos de nossas vidas juntas e cada aposento seria imediatamente ligado a uma lembrança. Levantei do chão com a ajuda dos meus dois melhores amigos sem saber se teria forças para fazer isso sozinha.

– O que é isso? Parece que caiu do seu bolso. – Bianca disse recolhendo o colar prateado do chão e o colocando na palma de sua mão.

Segurou o pingente entre os dedos, a pedra violeta parecia mudar de tom a cada movimento alternando entre lilás claro quase transparente e roxo purpura. Era uma bela peça, tentáculos prateados se agarravam a gema a abraçando desde a base de prata até o topo e se alinhavam de tal forma que se colocada em um ângulo correto dava para formar uma palavra entre os seus espaços: Albuquerque.

Minha vontade era apenas atirar aquele objeto o mais longe possível, ele tinha virado o símbolo da minha discursão com a Alice e eu o odiava quase mais do que a mim mesma por isso. Bianca colocou a joia na bolsa e segurou o meu outro braço, repousando a sua cabeça na minha.

– Vai ficar tudo bem, Sof. Vai ficar tudo bem.

Eu queria acreditar que ela estava certa, mas no fundo sabia que nada iria ficar bem.


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