Bad Things escrita por Melody Malone


Capítulo 1
Simpatia com o Diabo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da fic, Boa leitura :)



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A nebulosidade já alcançava a cidade de Santa Fé, as vastas ruas, mesmo no meio da tarde, eram escuras e vazias.

Não era uma cidade grande, cerca de dez mil habitantes, uma cidade que mesmo em 2016 parecia não ter saído do século XIX. Bem no meio da cidade havia uma grande igreja, tão grande que eu acho que poderia ser vista de qualquer lugar de Santa Fé, a porta parecia ser feita de uma madeira qualquer mas, para quem conhecia do assunto, saberia que era uma Quercus alba, também conhecida como carvalho-branco. As vidraças eram lindas, refletiam a quase inexistente luz do sol, de longe pareciam retratos da crucificação de Jesus Cristo, porém, se olhasse com um pouco mais de atenção, era possível ver pequenos símbolos que para mim eram totalmente desconhecidos. Ao lado da igreja, havia um também grande cemitério, com enormes lápides e alguns mausoléus. Segui em direção a igreja, dava pra se ouvir, mesmo de longe, um murmúrio. Logo em frente a porta havia escritas em uma língua que me pareceu latim, que felizmente eu sabia falar, havia algo escrito mais ou menos assim: Non enim est occultum quod non manifestetur nec absconditum quod non cognoscatur et in palam revelabitur -Luke 8:17 (Não há nada oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não venha a ser conhecido e revelado-Lucas 8:17).

Entrei na igreja e o murmúrio cessou, apenas o padre começou a falar, levou um tempo para perceber que todos estavam vestidos de preto, havia um grande caixão em frente ao padre, duas estacas de prata prendiam as bordas do caixão, mas não havia ninguém chorando. Então o padre continuou:

—Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram, Amém.

Nenhuma simples alma respondeu ao amém do padre, o silêncio era ensurdecedor, eu olhava para todos mas me sentia invisível, até que uma senhora rompeu o silêncio:

"Aquele que pratica o pecado é do Diabo, porque o Diabo vem pecando desde o princípio. Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo,1 João 3:8". Este homem que o senhor quer enterrar como sendo um de nós, padre, ele é fruto do diabo, é um desrespeito seu corpo estar dentro da casa de Deus.

—Senhora Felt, se acalme, todos nós conhecíamos Tom, ele era seu filho, acho que a senhora mais do que ninguém deveria querer enterrá-lo corretamente — Disse o Padre.

—Não ouse chamar essa criatura demoníaca de meu filho, você sabe o que ele é, você sabe.

O Padre ordenou que retirassem o corpo da igreja para enterrar, ele parecia cansado, aquela discussão parecia algo que ele carregasse há um bom tempo. Depois que, na minha concepção, todos os dez mil habitantes saíram da igreja, fui em direção ao padre.

—Olá, padre.

—Filho, novo na cidade?

—Sim, só de passagem. Se me permite perguntar, o quê foi aquilo com a senhora Felt?

—A filho, aquilo é uma discussão longa, ela acha que seu filho foi mordido por um..

—Um?

—Um animal, isso a fez ficar louca. Mas não se preocupe, nada perigoso, e você? Faz o quê de passagem em uma cidade como essa?

—Nada demais, só dando uma passeada pelo país, mas padre, quantas pessoas existem na cidade?

—Não sei, mais ou menos dez mil pessoas, por que?

—É uma igreja muito grande para dez mil pessoas, não acha?

—Igreja antiga, do século XIX, essa cidade era uma nova york da época, por isso uma igreja deste tamanho.

—Hum, entendi, muito obrigado, padre. Foi um prazer.

—Prazer é todo meu, filho.

Me distanciei do padre, olhei rapidamente para trás e pude ver que ele olhava atentamente para mim, um olhar severo e preocupado, segui até uma pensão que parecia ser tão velha quanto aquela igreja, pequena e com madeira cheirando a mofo, não era grande coisa mas era o suficiente para um disfarce.

—Olá, como posso ajudar?—Disse a recepcionista.

—Um quarto por favor.

—Está sozinho?

—Por enquanto.

—Quer um quarto de casal ou um quarto com camas separadas?

—Camas separadas, por favor.

—Aqui está sua chave, quarto 11. Aproveite a estadia, senhor.

Subi para o quarto que era grande suficiente para mim e para minha futura companhia, tinha uma janela impressionávelmente grande, mas o toque "retrô medieval" ainda me incomodava, camas com colchões nada confortáveis, lamparinas, velas e abajures, não que fosse necessário tudo isso já que uma lâmpada já resolvia toda a situação. Ao menos o banheiro era limpo e com uma banheira grande. Peguei meu telefone celular que mal tinha sinal naquela cidade fantasma, aposto que nem mesmo estava no mapa.

—John, o quê conseguiu?— Disse uma voz rouca e grossa no telefone.

—Nada muito interessante a princípio, porém achei algo que você possa gostar.

—O quê?

—Essa cidade, tem apenas dez mil habitantes.

—O quê isso tem demais?

—A igreja, ela é feita para caber o triplo da população, o padre disse que era muito antiga e costumava abrigar mais pessoas, mas não acredito nisso.

—Por qual motivo?

—O cemitério é recente, ele é grande demais para a população, e tem cova demais para tão pouca gente. Eu acho que essa cidade tem algo a esconder, uma senhora na igreja alegava que seu filho era o diabo, o padre disse que ele foi mordido por um animal e a mãe ficou louca por isso.

—Acha que pode ser um deles?

—Eu não tenho certeza, mas meu instinto diz que sim.

—Desculpe, John. Isso não é o suficiente para mim, se você acha que existe um caso como esse na cidade, precisa me contar mais do que isso. Você sabe como eles são extremamente raros.

—A porta da igreja é feita de carvalho branco, na janela havia símbolos que nem mesmo eu conheço, se o seu melhor caçador não conhece símbolos místicos, acho que é uma coisa a investigar.

Houve silêncio por alguns segundos.

—Devo mandar Elena?— Disse a voz, agora não tão rouca.

—Ahh... eu estava ansioso pela visita dela.

Desliguei o telefone, Elena chegaria em breve e eu precisava me preparar para sua chegada. Olhei para a lua que estava estonteante no céu, lua cheia, eu a olhava e sentia como que se ela estivesse me olhando de volta, havia várias nuvens ao seu redor e ela brilhava alaranjada.

—Lua de sangue —sussurrei— acho que alguém previu minha chegada.


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Notas finais do capítulo

Me desculpem qualquer erro que passar despercebido.
Até o próximo capítulo.