Preces Pecadoras escrita por Nynna Days


Capítulo 1
Reze por meu pecado


Notas iniciais do capítulo

LEIAM AS NOTAS FINAIS...



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Genievive Rousseau sentia-se sufocada. Ela poderia ter culpado o sacolejo da carruagem que há tanto tempo estivera sentada ou o quão apertado estava seu espartilho. Porém ela sabia que o que a angustiava ao ponto de retirar-lhe o ar não poderia ser resolvido com nenhuma mudança externa.

Seu estômago revirou tamanho a sua apreensão em estar de volta á aquele lugar depois de tantos anos. Instintivamente pegou sua a cruz que repousava no vão de seus seios e o envolveu com os longos e delicados dedos. Uma prece silenciosa resoou em sua mente, mesmo que tivesse a certeza de que não seria atendida.

Abriu os olhos, observando como as mudanças das guerras e das tomadas de Napoleão tinha afetado sua cidade natal de Vanves. Soldados montados em seus cavalos mantinham seus olhares altivos nos cidadãos enquanto patrulhavam buscando qualquer falha no pulso firme do imperador. Para assim poder resolvê-la de imediato.

Genievive se sentiu ainda mais enjoada.

“Pare de remoer o passado.”, Dominique Rousseau aconselhou sua filha sem desconcentrar-se de seus afazeres. Seus habilidosos dedos tricotavam com destreza, formando elegantes bordados. Ao seu lado, Zaila, sua ajudante negra segurava os panos para lhe dar auxílio. “Deveria estar feliz com o nosso retorno. Sei que são circunstâncias pesarosas, entretanto somos obrigadas a ver o lado positivo. Ainda possuímos uma casa.”

Sua mãe tinha razão e era isso o que vinha repetindo em sua cabeça durante toda a desgostosa viagem. No barco teve motivos para sentir enjoou, além de desculpa para se recolher em seus aposentos. Seu pesadelo se iniciou ao por os pés na carruagem e perceber o quão real era aquela decisão.

Dominique ainda não havia trocado as roupas pretas, indicadoras de seu estado de luto pelo marido. Por mais que tivesse se passado um mês, sempre que algum ousava tocar no nome de René Rousseau, era obrigado á enfrentar uma torrente de palavras desconexas e jorros de lágrimas.

Genievive preferia se afastar para evitar isso e os comentários sobre estarem sozinhas. Foi por esse motivo que havia retornado á França depois de quase dez anos. Para viver com Louis Roux, tio de Genievive e irmão mais velho de Dominique. Reprimiu o suspiro frustrado. Teria que enfrentar as consequências de seus atos.

“Além disso, Josephine será uma boa companhia para você.”, sua mãe continuou ainda sem olhá-la. “Ela a levará para os lugares certos e te apresentará as pessoas certas. Quem sabe um soldado ou um conde?”

Se havia um momento para esvaziar seu estômago e vomitar todos os alimentos consumidos durante esse período dentro do território francês, seria aquele. Aos dezesseis anos, Genievive tinha se tornado uma bomba relógio. E sua mãe estava ansiosa para repassá-la para outro. A tensão que exalava do corpo da jovem era palpável, mas só Zaila ergueu os olhos escuros para ela.

Calma e respire, era a mensagem que transparecia.

E foi o que ela fez, com um pouco de esforço por conta das roupas apertadas. Aproveitou que sua mãe retornou a tarefa de tricotar e voltou á encarar a cidade, querendo sentir a ligação com sua cidade natal. Desejava que aquela apreensão e o sufoco a abandonassem. Queria retornar á Espanha.

Só que existia algo que latejava no fundo do seu peito. Um pedido que ela não arriscava expor á ninguém. Porque, há dez anos, quando sua família se mudou para o país de nascença de seu pai, Genievive tinha deixado algo para trás. Algo que nem dez anos de etiqueta e bailes puderam retirar de suas lembranças.

“Genievive!”

A pequena garotinha de cabelos escuros pressionou as mãos contra o vidro frio da carruagem e seus olhos se encheram de água ao vê-lo correndo o máximo que suas pequenas pernas permitiam. Queria saltar do veículo. Queria gritar. Mas tudo o que fez foi assistir e sentir seu coração inocente quebrando em pedaços irrecuperáveis.

“Mãe...”, gemeu em um lamentou ao ver sua silhueta sendo deixada para trás. “Mãe, por favor.”

Dominique preferiu ignorar os lamentos dolorosos de sua filha e continuar a se abanar para afastar o calor escaldante daquela época do ano. René, por outro lado, pode sentir a dor de sua filha refletida em seus olhos castanhos e lacrimosos. Ele se culpou por ter posto sua família em um buraco tão fundo quanto aquele. E tudo o que pode fazer para confortá-la eram promessas vazias.

“Um dia retornaremos, Genievive.”, sua voz grave ressoou em um sotaque audível. A pequena não tirava os olhos da estrada e seus ombros não paravam de tremer. “Ele te esperará.”

Com velocidade e elegância, Genievive limpou a lágrima teimosa que lhe escapara pelo canto dos olhos. A carruagem deu um último solavanco e finalmente parou, retirando-lhe os últimos resíduos de alívio. Estaria de frente com o seu passado e provaria para si mesmo que seu pai havia feito algo de bom antes de morrer.

O condutor abriu a porta, deixando que os raios do entardecer beijassem a pele perolada de jovem Rousseau e iluminassem suas feições delicadas, distorcidas em uma expressão fria. Ocultando o furacão que acontecia em seu interior. Segurou a lateral de seu vestido e equilibrou seus saltos nos frágeis degraus.

Assim que ergueu os olhos, uma pincelada de felicidade pintou seu peito ao encarar a casa em que estivera na sua infância. Ignorou os comandos que sua enérgica mãe viúva e tocou a lateral da casa, arfando ao ser inundada por lembranças quase apagadas. Jurou que ainda conseguia escutar seu riso ao correr pelo quintal. Sempre ao lado dele.

Louis Roux teve que piscar com forças os olhos cansados pela idade para que pudesse reconhecer a sobrinha. Nunca diria que aquela menina jocosa e sapeca desenvolvera-se em uma mulher formosa e desejável. Estava atônito e praticamente arrastou os pés para poder cumprimentá-la. Sentiu-se com vergonha de ter reparado na beleza de sua sobrinha.

“Genievive.”, chamou atraindo os olhos castanhos e amargos. “Quanto tempo não a vejo. Por pouco não a reconheço.”

A jovem sorriu.

“O senhor não mudou nada, tio.”, Genievive foi a sua direção e o abraçou, buscando o contato com seu passado. Viu as bochechas do parente se enrubescerem. “Vamos entrar. Tenho certeza que minha mãe que lhe contar tudo sobre nossa viagem.”

Louis hesitou, vendo a tristeza que sua sobrinha insistia em ocultar. Genievive sempre fora um livro aberto para quem quisesse ler. O que poderia ser uma coisa boa ou ruim. Naquele momento, ela não soube definir o que era.

“Como está se sentindo?”

Ela manteve a expressão impassível.

“Estou bem, apesar de tudo.”

Seu tio sacudiu a cabeça, concordando.

“Estou feliz que tenham regressado á Paris.”, disse sincero e franziu o cenho ao ver um soldado montado estudando sua sobrinha com olhos maliciosos. “Mesmo que em circunstâncias tão lamentáveis. Meus pêsames por René.”

Genievive agradeceu em um sussurro e eles entraram. Seu rosto ganhou cor ao rever a família e ver o crescimento de seus primos – alguns já soldados se preparando para a tomada da Rússia. Era o acontecimento que marcaria o ano de 1812, dizia seus primos.

Contou os lentos minutos até que o jantar cessasse e pudesse ir para os seus aposentos. Zaila preparou seu banho e a ajudou á se vestir para poder dormir. Era só o que ansiava. Que aquele dia agonizante terminasse. E que seus familiares parassem de lhe lançar olhares de pena.

Pois aquilo só lhe fazia sentir mais culpa.

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Josephine Moreau bebericava seu chá, pausando antes de recomeçar a tagarelar sobre os últimos acontecimentos na ausência de Genievive. Quem havia se casado com quem. Quem havia morrido. Quem era soldado. E a cada notícia e exclamação de Josephine, os músculos de Genievive ficavam tensos, antecipando o momento em que escutaria seu nome.

“Lembra-se de Niccólo Delage?”, a ruiva indagou sem esperar que a amiga respondesse. “Se tornou braço direito do braço direito de Napoleão. Ele irá ajudar a comandar as tropas para Rússia.”, arqueou uma sobrancelha, lançando um olhar malicioso. “Se minha memória não me falha, ele gostava de você.”

“Éramos crianças, Josephine.”, tomou um gole do chá e fechou os olhos, reunindo toda a coragem que conseguia. Parecia que todos estavam evitando falar dele propositalmente. “Josephine, por favor.”, pediu com a voz falhando. “Não me esconda mais o que os outros tentam ocultar. O que houve com ele?”

Abriu os olhos, temerosa. Josephine encarava as mãos repousadas no vestido e – pela primeira vez – parecia não estar com vontade de falar. Genievive supriu a vontade de sacudir a ruiva até lhe arrancar informações concretas. Se tinha esperado dez anos, esperaria os intermináveis segundos.

Ou foi o que achou antes de tornar a pressioná-la.

“Ele se casou?”, especulou alarmada. Josephine encolheu os ombros e balançou a cabeça, negando. Genievive arfou quando uma possibilidade macabra escalpou-lhe. “Ele faleceu?”

Para seu alívio, Josephine negou. Sua paciência estava se esgotando e a jovem Moreau pressentia isso. Por isso soltou o ar, querendo encerrar com aquilo com pressa. Gostaria que contasse caso fosse com ela. Colocou as pequenas mãos por cima das da antiga amiga, lhe dando um olhar pesaroso e um sorriso forçado.

“Ainda bem que permaneceu sentada.”, salientou antes de dar a notícia que Genievive tanto cobiçava...

E que tanto lamentou.

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Uma das coisas que Genievive poderia afirmar sem hesito, era que não sentira falta de ir às missas na Espanha. Retornar a língua materna era um bálsamo. Dominique rezava fervorosa ao seu lado. Talvez querendo mostrar á todos ao redor que prezava a alma do marido, mesmo que tudo o que tivesse deixado fosse dívidas e pesar. E culpa. Principalmente culpa.

Só que a jovem Rousseau não pensava nos pecados que cometera no passado. E sim no que estava cometendo naquele momento. Seus olhos escuros poderiam encontrá-lo no meio de uma multidão e a ironia da situação talvez fosse essa. Porque ele estava á frente da multidão. Suas palavras altivas e tocando as almas de todos os presentes. A bíblia repousada em sua mão aberta enquanto – seguindo os quase sempre repreendidos pensamentos iluministas – recitava as palavras em um francês compreensível.

Por mais que seu coração latejasse e ameaçasse explodir em seu peito, Genievive sentia-se envolvida por sua voz, como a mais doce canção cantada ao luar no pé de seu ouvido. E sua presença máscula preenchia cada canto da capela, assumindo seu posto e evitando qualquer tentativa de ser substituído. Se ele viu Genievive, não deu nenhum sinal. E ela queria ser vista.

“Amém.”, sussurrou ao receber a hóstia da mão do padre e cedeu ao instinto de tê-lo perto.

Seus olhos se encontraram por um curto segundo antes que ela fosse obrigada a dar o lugar para a próxima pessoa. Mas foi só o que bastou. Caminhou apressada até seu lugar e se sentou, fechando os olhos e pedindo perdão por ser tão pecadora. Por ter nutrido aquele amor infantil com a reles esperança que seria esperada. Suas pernas tremiam, retirando a possibilidade de se ajoelhar. As palavras de Josephine deslizavam por sua mente com o mais puro veneno.

“Ele disse que não era capaz de dar amor á nenhuma mulher que não fosse você. Que vê-la partir, mesmo que há muito tempo, tinha deixado marcas irreparáveis. Por isso ele escolheu o celibato, Genievive. E, assim que o nosso padre local faleceu, ele tomou seu lugar.”

Pousou o rosto na palma das mãos e respirou fundo, se impedindo de chorar pela quarta – ou talvez quinta – vez desde que souberam o fim de sua fantasia adolescente. Ali estava a resposta de tudo. Etienne Bonnet, o mesmo garoto que subia em árvores para surrupiar frutas dos vizinhos, tinha entregado seu corpo e sua alma á Deus. Oh, seu coração também.

“Genievive, temos que ir.”, Dominique a chamou com o olhar rígido. “Temos coisas para fazer. Jaqueline Moreau está organizando um baile para comemorar nosso retorno.”, franziu o nariz, observando-a de cima a baixo. “E você não tem um vestido descente.”

Não temos dinheiro, mãe. Foi o que sentiu vontade de gritar. Só que seu corpo não queria agir de acordo com seu cérebro. Ele almejava ser guiado por seu coração despedaçado. Por isso que não se arrependera ao mentir.

“Mãe, sinto um peso em meu peito que só aliviarei quando me confessar.”, disse apertando o vestido no exato lugar onde seus pulmões deveriam estar trabalhando. “Permita que Zaila me espere e me acompanhe. Prometo que não demorarei.”

Dominique mexeu a mão, gesticulando que não se importava e passou as ordens á Zaila. Já a mulata estava ciente de todo o sofrimento que a jovem sentia. Afinal, era um livro aberto.

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“Perdoe-me, padre, pois eu pequei.”

Dizer aquelas palavras em alto e bom som obrigou Genievive a reprimir uma gargalhada. Como poderia uma pessoa mentir ao dizer a verdade? Ela tinha preparado a história perfeita, ignorando o fato de que iria blasfemar. Ajeitou-se no banco de madeira, fazendo uma careta com o desconforto que o vestido causava.

“Estou aqui para ouvi-la.”, a voz dele causou um impacto e ela se sobressaltou. Não era nada semelhante com ao tom fino e anasalado do garoto de onze anos que conheceu. “E Deus perdoa tudo. Ele irá te perdoa.”

A mente de Genievive estava vazia. Toda a mentira que tinha ensaiado repetidas vezes evaporou. Porque ela nunca tinha mentido para Etienne antes. Nem cogitara fazê-lo nas noites insones que almejou reencontrá-lo. Era o desespero de vê-lo que a faria afundar cada vez mais em culpa.

Colocou a mão na fina divisória entre as cabines e seus dedos escorregaram até a abertura. Toda a sua pele formigava por um simples toque. Seus olhos ardiam para vê-lo de perto mais uma vez. E seu plano se tornou tão estúpido que se envergonhou por ter se passado por sua mente.

“Eu...”, ela parou medindo sua disposição para continuar. Teria que se acostumar, pois esse era o único contato que conseguiria quando a verdade viesse a tona. “Eu matei meu pai. Depois que ele perdeu tudo o que tínhamos em jogos e apostas, começou a beber. Batia em minha mãe noite após noite e agia com arrependimento no dia seguinte. Enchia-nos de promessas vazias de que tudo melhoria. Só que pioramos.”, ela pausou novamente respirando fundo e se recompondo. “Até o dia em que ele entrou em meu quarto...”

“Quero te recompensar, Genievive. Sei que sofre por aquele menino. Vou te ajudar a esquecê-lo.”

“...e eu gritei, tentando afastá-lo. Mas ele era mais forte e estava decidido.”

“Você se tornou uma mulher bela. Sua mãe lhe transformou em uma dama para que a sociedade aplauda. Vou mostrar-lhe como ser uma mulher para que seu marido á venere.”

“Não tive escolha. Acho que ele bateu tanto em minha mãe que a deixou desmaiada. Nenhum criado iria interferir. Zaila tentou, porém não adiando. Eu o empurrei e corri. Ele veio atrás de mim – tropeçando em seus próprios pés – e não se equilibrou na escada. Toda noite consigo escutar seu pescoço quebrando de novo e de novo. Disseram que foi um acidente. Talvez realmente tenha sido, entretanto...”, hesitei. “Eu gostei. Teria o jogado da escada inúmeras vezes se aquela não tivesse funcionado.”, encostou sua testa na divisória e sorriu, amarga. “Acha que Deus ainda tem o poder de me perdoar?”

O silêncio seguido pelo baque na porta se fechando fez Genievive retornar ao presente. Deu um salto quando a porta foi aberta e seu desejo anterior de ver Etienne de ver fora atendido. Os olhos verdes estavam arregalados e incrédulos enquanto a boca pendia aberta. A jovem iria amaldiçoar Deus por ter feito dele um padre tão lindo. Só não sabia se a descrença era pelas palavras que tinha escutado ou por quem havia proferido.

“Genievive?”

Ela, já julgando sua alma condenada, não resistiu ao impulso de abraçá-lo. Esperou a repulsa, esperou até que gritasse e a expulsasse dali. Mas tudo o que Etienne fez foi apertá-la com força contra o seu corpo, como se não cresse no que seus olhos o estavam mostrando.

Ela não sabia o que era mais inusitado daquela cena. O fato de estar abraçando seu amor de infância e dando um sorriso verídico, ou por ele a estar abraçando de volta depois de ter escutado sua confissão de assassinato. Se antes pensava que era proibido, agora tinha certeza. Etienne era puro, tinha uma chance fora dali. Nunca matara nem uma mosca. Genievive sentiu prazer ao ver seu pai deslizando escada abaixo em direção ao inferno.

“É você mesma?”, questionou sem soltá-la. “Pensei que estivesse delirando quando a vi na missa. Deus atendeu minhas preces diárias.”, deu um passo para trás e a analisou com admiração. Como se um anjo estivesse parada á sua frente. “Disseram-me que a família estava de volta á cidade, mas você sempre ficava emburrada ao ser obrigada a vir para a missa...”

Genievive só conseguia ficar parada e escutando tudo o que Etienne dizia. Aqueles lábios doces que antes beijava os seus machucados, jurando que sarariam. Os longos dedos que acariciavam seus cabelos, tirando os resíduos de sujeira. E a voz que insistia em dizer que, quando tivessem idade o suficiente, a desposaria. Decepção a tomou.

Mas a culpa era dela. Sempre fora culpa de Genievive. Ela deveria ter ficado com o tio em Paris. Ou fugido para a casa de alguém. Para a casa dele. Ela queria poder ter dito que todos os dias sonhava com ele e que tentava voltar, mas com a confusão da invasão franco-espanhola, há cinco anos, fora quase impossível.

Só que a verdade sempre foi estampada na sua frente. Genievive se acomodou com tudo. A situação de seus pais, a indiferença e futilidade de sua mãe. Até com a ausência de sua antiga vida.

Foi preciso uma tentativa de estupro do pai para despertá-la.

“Etienne”, o interrompeu botando os elegantes dedos nos lábios do amado. Seu corpo se arrepiou com efeito desse singelo toque. “Eu matei meu pai. Sou uma pecadora e minha alma está condenada. Não há castigo nem prisão que mude isso.”

Ele a encarou, atônito.

“Deus perdoa.”, murmurou e pegou a mão da menina que domara seu coração á tantos anos e se recusava em reivindicá-lo. “Você estava se protegendo.”

Genievive balançou a cabeça.

“Dê-me minha pena que a aceitarei sem hesito.”, tocou o rosto do padre e seus olhos lacrimejaram. “Sei que minha maior punição é ver que o perdi para alguém que nunca serei capaz de vencer. E talvez seja melhor assim.”, dei um sorriso, triste. “Você sempre foi melhor do que eu, Etienne.”

Ele fechou os olhos.

“Genievive...”

“Cuide de sua alma. Ela é muito boa para ser corrompida.”, colocou a mão por sob a bata dele. “E preserve seu coração, garantindo que ninguém mais possa feri-lo.”

Ela ficou na ponta do pé e pressionou os lábios na bochecha do padre. Etienne gemeu de dor. Tantos anos bloqueando a lembrança do abandono e o motivo de suas lágrimas noturnas estava o dizendo adeus mais uma vez. Ele só não sabia se seria capaz de correr atrás dela novamente. Seu coração não resistiria se a perdesse novamente.

Só que era exatamente o que estava acontecendo.

“Rezarei por você.”, prometeu. “Para que seja feliz com que ama.”

Ela se afastou, caminhando até onde Zaila a aguardava. Sua voz decepcionada ecoou por toda a capela acompanhando os seus passos apressados.

“Sinto muito, Etienne. Nem a oração mais sincera poderá fazer isso por mim.”

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1 anos depois...

A viúva Delage ajeitou o vestido preto entorno no banco e soltou o ar antes de erguer o pano que ocultava seu rosto. Fez uma oração silenciosa para que a alma de seu marido, morto em combate, fosse recebida pelos anjos. Assim que terminou o sinal da cruz, virou-se para a divisória e tentou aquietar os sentimentos á tanto tempo adormecidos.

“Perdoe-me padre, pois eu pequei.”

Ela se repreendeu pelos sentimentos que tanto insistiam em afogar o luto. A culpa martelava em sua cabeça, fazendo-a se martirizar.

Etienne se ergueu ao escutar essa frase. Seu coração solitário deu solavancos e a boca ficou seca. Teve que estreitar os olhos para reconhecer a mulher do outro lado da divisória, com o rosto tomado de tristeza. Era a sua chance de poder dizer o que fora incapaz da última vez.

Suas mãos se encontraram na pequena abertura e seus dedos se entrelaçaram.

“Não foi culpa sua, Genievive.”


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Notas finais do capítulo

Então, para quem não compreendeu o final. 1812 foi quando Napoleão e a tropa foram invadir a Rússia. Só que eles passavam pelos lugares e os destruíam, fazendo-os ficar sem lugar para se proteger do inverno rigoroso, o que geral a perda França e as mortes dos soldados.Por isso deixei implícito a morte do marido Delage.



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