Ao chegarmos ao píer ficamos calados por algum momento, apenas observando o movimento suave que a água do lado fazia ao tocar a brisa da noite. Nico cortou o silêncio.

– É muito bom ter sua companhia aqui no acampamento, Pam.

Nico me chamou pelo meu apelido? E falou que era bom ter companhia de alguém? "Vamos para a enfermaria por que Nico deve estar com febre", pensei.

– Também é bom ter sua companhia, Nico. Por mais estranho que pareça isso, você é a pessoa com quem eu mais falo. A única que conheci de verdade desde que cheguei aqui. Nem com meus irmãos eu falo tanto. A maioria do tempo que estou com eles, estamos dormindo. - O fitei por um momento, ele sem tirar os olhos do horizonte escuro- Por que gosta da minha companhia?

– Simples. Você é muito legal, não tem medo de mim e logo vai saber as coisas que eu sinto e que ninguém mais entende. Além disso, você não fica zombando e fazendo perguntas que as outras pessoas fazem, umas perguntas sem nexo. E quando estamos juntos conseguimos achar um assunto que seja interessante aos dois.

Sorri com a explicação de Nico e então ele tocou seu ombro no meu, me dando um empurrãozinho.

–Que é?

–Sua vez. Não vai contar por que é bom ter minha companhia?

– Certo. Basicamente é o que você falou mesmo. Conversar com você é bem mais interessante do que as conversas que os outros semideuses têm. Pelos raios de Zeus! Achei que fosse enlouquecer na mesa do chalé sete. E o medo de estar brilhando como o sol?

–Nem me fale. Não aguentaria nem mais um minuto com aquelas conversinhas sobre como as filhas de Afrodite são lindas. Elas podem ser bonitas, mas existem pessoas que tem um beleza bem melhor que a delas.

Não entendi o que Nico queria dizer. Fala sério. Elas eram sim maravilhosas. E os filhos de Afrodite, nem me fale. Que meninos são aqueles! Deixei pra lá e então falei:

– Quando começaremos? Não vejo a hora de usar minhas habilidades. Estou tão feliz!

– Que tal...Agora?

– Fala sério? Seria incrível, Nico!

– Não vou te ensinar nada agora, é muito demorado. Mas você já pode fazer uma viagem nas sombras e ir até o mundo inferior acordada.

– Adoraria! Vou poder falar com vovó?

– A gente tenta dar um jeito.

– Ok. Como faremos isso?

Nico segurou minha mão e me levou até uma sombra que se fazia no píer.

– Não solte minha mão até estarmos de volta, Gomes.

De repente comecei a sentir um aperto em meu abdômen e um pouco de dor de cabeça. Dei um gemido de dor e ouvi Nico dizer:

– No começo é assim mesmo, e olhe que eu estou te levando. Fazer sozinha é bem pior, mas com o tempo você se acostuma.

Começamos a andar por um lugar totalmente escuro e sem fim. Parecia um nada. E logo em seguida estávamos onde sempre via minha avó nos sonhos.

– Pâmela Gomes, bem vinda ao Elísio!

– Uau Nico! Incrível. Ao longe vi minha avó e, como não podia soltar as mãos de Nico puxei-o e fomos correndo em direção a minha avó.

–Vovó! Consegue me ver? Me ouvir?

–Querida! Finalmente acordada! Olá Nico! Há tempos venho tentado te dizer que você é abençoada por Hades, mas você nunca estava consciente bastante para me ouvir. Que saudades!

–Nem me fale vovó!

Demos um abraço esquisito por eu estar segurando a mão de Nico. Conversamos mais uns poucos minutos até que vovó disse:

– Vocês precisam ir agora. Nico já está bastante cansado. Venham mais vezes. Sinto muito a sua falta, querida.

Então voltamos para o vazio de onde viemos e de repente estávamos no píer outra vez. Nico se ajoelhou e caiu, ainda consciente, mas muito fraco.

– Oh, deuses! Nico você está bem? Me desculpe.

Com a voz fraca Nico respondeu:

– N-não tem que pedir desculpas, só me ajude a chegar até...meu chalé. Preciso dormir.

Com muita força fui amparando Nico até que estivéssemos à porta do chalé 13. Bati na porta e um dos irmãos de Nico, o que atendera a porta , me ajudou a colocar Nico em sua cama.

– Durma bem, Nico. Obrigada pelo passeio maravilhoso.

Dei um beijo em sua bochecha. Ele sorriu, com os olhos já fechados. Eu me virei e segui até meu chalé, estranhamente muito feliz e mais leve por dentro.