- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Eles estavam bem próximos à boca da cascata que era formada por toda a água que evacuava por aquele corredor. Sem escolha e como a correnteza era forte, foram enfim “cuspidos”. E para confirmar o tempo gigantesco que passaram dormindo, ao avistarem Narnia, que antes era o mais terrível inverno, agora o verde dos bosques era intenso e morno, assim como o sol brilhava de forma aconchegante. Mas o tempo de queda era curto e não foi o suficiente para que eles pudessem notar algo mais.

         - VAMOS MOR... – Mas antes que pudesse terminar a própria frase, caíram em um imenso lago, formado em volta do castelo com toda a água que ali escapou. O “Splash” havia soado como um forte baque surdo, e após alguns segundos no meio de toda aquela água, nadaram até a superfície.

         - Todo mundo bem? – Perguntou Lee, enquanto via Eros cuspir um bocado de água e Nina retirar os cabelos castanho-caramelo sobre o rosto.

        - Ta vendo? É por isso que nunca deixei você guiar o carro! E se tivéssemos morrido nessa? – Ralhou Eros.

         - Ok, estão todos bem. – Contestou Lee.

         - Vamos nadar até a margem de uma vez, essa água esta tão fria que podia jurar ser toda aquela neve derretida! – Disse Nina, dando fortes braçadas, enquanto se direcionava até o começo de um bosque. Seguindo-a, os três pisaram fortemente sobre a grama e graças à luz do dia, puderam notar as bruscas diferenças físicas de cada um. Eros sentiu o rosto ficar bruscamente vermelho, ao reparar que o vestido de Nina estava muito curto, devido ao crescimento repentino da menina. Sentaram-se um pouco, querendo buscar o sol quente a fim de secarem as próprias roupas e, olhando aquela paisagem, enquanto a cascata jorrava aos fundos do imenso castelo em ruínas, era possível ver várias áreas desmoronando. Foi bom terem saído logo de lá, pois assim estariam a salvo e não teriam morrido esmagados. Aquele era o triste fim do castelo em ruínas.

         - Ok... Sabe-se lá quanto tempo dormimos. E o que faremos agora? – Perguntou o oriental, coçando o próprio queixo.

         - Encontrar o carro do meu pai! Lógico! – Disse Eros, obviamente ofendido por ter visto o amigo se esquecer do automóvel do pai.

         - Após isso, eu quis dizer.

         - Eu... Gostaria de saber quem nos prendeu aqui, pra começo de conversa. – Disse a garota, em tom pensativo. Meio sem graça, Lee virou o rosto e coçou a própria nuca. –... Lee? Você tem algo pra nos dizer?

         - Pra ser sincero... Estou com vergonha, e tenho muita coisa pra contar.

         Enquanto caminhavam pelo bosque, na busca pelo carro, Lee contou sobre o que havia acontecido a ele, quando chegou a Nárnia. Após a briga com Eros e revoltadamente ele ter ido à busca de lenha, quase fora atropelado por um trenó de gelo em meio a uma estrada. Socorrido pela mulher que ali estava, ela teria dito que era a Rainha de Nárnia. Disse que podia ver através de seu coração e que sabia também sobre a incessante busca dele para tornar-se um usuário da Keyblade. Enganado por ela e pelos doces que a mulher ofereceu, deu-lhe as indicações sobre um castelo, que em mentiras deslavadas, ela disse ser um local onde foram criadas as Keyblades, e que possivelmente ele encontraria uma que cedesse a seu coração. Revoltado, ao menos foi assim que ficou após comer os doces oferecidos por ela, ele guiou os amigos até o castelo em ruínas, onde dormiram por tempo indeterminado.

         - Desculpe Lee, Eros... Acho que a culpa disso tudo é minha... – Nina abaixou a cabeça, seus olhos refletiam tristeza. – Sabe, por minha causa... Talvez eu não tivesse colocado a todos nós nessa viagem idiota...

         - Idiota? Eu tenho os meus motivos para estar aqui! – Disse o ruivo animadamente. – Graças a essa viagem “idiota”, estou mais forte, pude lutar, conhecer novos lugares, e mesmo que seja falsa, eu tenho uma boa arma... E pra ser sincero, uma nova arma também! – Sorrindo, Eros esticou o braço esquerdo, onde uma forte luz surgiu e em formato redondo, um escudo vermelho tomou forma. De forma vívida, o brasão do Rei Mickey estava estampado. – Eu viajei pra ficar mais forte e poder um dia reerguer junto a Rainha Minnie a escola que era formada no Disney Castle! Sinto até que te usei um pouco, Nina... Por que achei que te seguindo e sobre você ter conhecido dois usuários da Keyblade pessoalmente, eu poderia acabar conseguindo uma para mim ou então uma outra arma tão poderosa quanto...

         - Eros... – A garota o observou, sentindo os olhos pouco a pouco ficarem úmidos.

         - Se for assim, sinto que também te usei, Nina. Viajei em busca de novo conhecimento, aventuras e principalmente... Estar junto mais uma vez aos meus melhores amigos! – Disse Lee, sorrindo animadamente. – E assim como Eros, enquanto dormíamos, coisas me aconteceram ou... Aconteceram nos meus sonhos. Sei que também porto uma nova arma, que ainda não entendi muito bem como a consegui. – Esticando a mão direita, um báculo verde com uma pequena coroa incrustada surgiu, pousando suavemente entre os dedos deste.

         - Lee... – E sem mais suportar, a garota chorou, como uma criança que havia acabado de se machucar. Pôs as mãos cobrindo os olhos molhados, logo ambas ficando molhadas também. De cada lado, Eros e Lee a abraçaram, rindo e falando palavras de animação para que ela, e que não importasse o motivo, o melhor era que os três estavam juntos mais uma vez.

         Sem falar nada, a garota esticou o braço direito. Olhava entristecidamente, porém limpando as próprias lágrimas. Em questão de segundos... Seu olhar tornou-se intenso e ali uma arma também surgiu. De adorno liso e prateado, em sua ponta uma coroa tomava forma. Sua guarda e base eram douradas e pequenos detalhes vermelhos podiam ser vistos. Preso a uma das extremidades da arma, um chaveiro pendurado através de uma correntinha, tinha também o brasão do Rei Mickey. Nas mãos de Nina, ali repousava a Kingdom Key, Dark Side.

         Eros e Lee ficaram em choque. Observavam a arma, surpreendidos pela garota ter conseguido ser uma escolhida da Keyblade. Mas esta tinha um enorme peso da consciência, pois sabia que os amigos não foram escolhidos pela espada-chave. O ruivo, sério, observou a arma, até que sorriu e gritou.

         - VOCÊ FOI ESCOLHIDA! NÃO ACREDITO, TINHA QUE SER VOCÊ, CARA! – E ele pulou, bagunçando agora os cabelos de Nina que estavam enormes.

         - Realmente, dentre nós três, você era a que mais merecia. – Disse Lee, aprovando também.

         - Não falem como se a arma tivesse que escolher dentre nós três...

         - Cala a boca, garota! Você agora é uma escolhida da Keyblade! Pensa só, cara! Você como escolhida, eu como seu fiel escudeiro e o Lee como o mago do trio! Ninguém mais para a gente!

         - Sim, em perfeito equilíbrio, e de acordo com os pontos fortes de cada um, essa era a melhor composição que poderíamos arrumar.

         - Mesmo...? – Ela olhava para as armas que os três portavam.

         - Ainda tem dú... – Um abrupto barulho de quem pisava mato surgiu. – Silêncio, os dois! - Disse Eros, tentando prestar atenção em algum som distante. Quietos, eles viram a aproximação repentina de um novo ser dentre as árvores. Ele era esquisito, sua pele era estranhamente acinzentada, tinha a cabeça achatada com um brasão estampado, além de que sua boca era fechada por um grande zíper. Andava de forma engraçada, como se tivesse várias formigas no corpo ou então estivesse tentando aprender a dançar. Lee arregalou seus olhos puxados e observou atentamente “aquilo”.

         - Eu sei o que é... – Disse baixinho para os outros dois. – Estudei sobre ele em um dos livros do Castelo Disney... O nome desse ser é... “Nobody”.

         Como se tivesse reagido ao ouvir o próprio nome, o Nobody avançou contra os três. Sua boca lacrada se abriu e como uma cobra, girou e se arrastou no chão. De modo muito rápido, ele bateu em Nina na altura dos pulmões, jogando-a a uma distância considerável. O mesmo com Lee, porém tentando atingi-lo na cabeça. Ao tentar acertar Eros, o garoto defendeu-se com seu novo escudo, afastando o mesmo facilmente. A garota, não querendo deixar que as coisas piorassem, levantou e correu, saltando contra o Nobody. Golpeou o mesmo com a Kingdom Key nos braços, enquanto Lee virava-se e fazia um cara de dúvida. Pensando sobre coisas que achou em livros antigos no Castelo Disney, pronunciou, tentando suas novas habilidades:

         - Thunder! – E apontando o bastão para o céu, raios vieram do mesmo, atingindo várias áreas ao redor do inimigo e então finalmente o acertou. Eros tacou o escudo, que por sua vez fora girando contra o Nobody e o acertou na boca. Com os três atacando sem perdão ao mesmo tempo, o oponente enfraquecia, até então, finalmente padecer.

         - Nossa pequena e primeira vitória, após tanto tempo dormindo! – Disse Nina, sorrindo, mas cansada por não enfrentar seres estranhos há algum tempo.

         - Não... Nossa batalha nem sequer começou direito... – Disse Eros apontando dentre as árvores, enquanto mais outros 10 Nobodys se aproximavam. Correram para então mais outra batalha cansativa, agora... 10 vezes pior. Destruíram um... Dois... Três... Sete... Nove. Cansados, Nina ajoelhou-se, apoiando-se na Keyblade, enquanto respirava fundo. Lee encostou-se em uma árvore e Eros mantinha-se de pé, porém suado e bem desgastado. Foi quando se dera conta: O último Nobody havia desaparecido completamente, ou até pelo menos, ele estar atrás de Nina e a agarrar pelos cabelos com sua estranha boca de zíper.

         - Nina! – Gritou Lee. Mas eles não podiam fazer muita coisa, o Nobody estava parado, apenas segurando-a. Até que ele começou a arrastá-la pela relva úmida. Puxada com força, a garota estava quase deitada e não conseguia manejar a keyblade de modo a ferir o inimigo. Lee e Eros se dispuseram a correr, mas então houve uma outra aproximação. Cavalos cavalgavam rapidamente e um garoto loiro, de cabelos a servir de suporte a uma coroa de rei, pulou sobre o Nobody, com espada em mãos. Mas ao invés de feri-lo, cortou habilmente os cabelos de Nina, de modo a soltá-la do ser. Feito isso, o garoto o atacou finalmente diretamente, cortando-o tão rapidamente que era difícil ver como o oponente pereceu.

         - A senhorita está bem? – Ele perguntou à Nina, enquanto guardava a espada e lhe oferecia a mão para ajudá-la a se levantar. – Peço perdão quanto a seus cabelos longos e bem cuidados, mas naquele instante eu não consegui pensar em outra coisa.

         - Não tem por que se desculpar... – Ela disse passando a mão na própria cabeça, enquanto sentia os cabelos agora tão curtos quanto um garoto. – Você salvou a minha vida... Eu deveria lhe agradecer... Caro... Rei?

         - Rei Pedro. – Ele disse. – E aquele ali é o meu irmão mais novo, Edmundo. – E apontou para um garoto visivelmente mais novo, portando também uma coroa, mas sobre curtos cabelos negros.

         - Vossa majestade... – Nina fez uma reverencia masculina, pois não era exatamente do feitio dela ter “grande educação”. Saudou o rei, mas este, por sua parte, segurou a mão dela e a beijou, seguido de um sorriso. A garota ganhou um tom corado sobre as maçãs do rosto e desviou o olhar. Eros fez uma expressão de quem desaprovava aquela situação.

         - Creio que vocês não sejam de Nárnia. – Disse Edmundo, caminhando de forma a se aproximar do irmão mais velho. – De onde são? Eu e meus três irmãos somos os únicos humanos de Nárnia.

         - Ah, perdão por não nos apresentarmos. – Lee adotou uma formalidade simples, porém elegante. – Lee, e venho da China. Aquele jovem atrás de mim é Eros, jovem herói da Grécia. E a senhorita aqui presente é Nina, nascida em Paris, França.

         - Então... Como conseguiram chegar a Nárnia? – Pedro observava as roupas surradas dos três, onde este também ganhara um rosto vermelho, ao notar o vestido curto de Nina. Caminhando os cinco juntos, o trio principal contava aos Reis tudo o que lhes aconteceu. Convidados a ganharem novas roupas, banho e comida farta, Edmundo contou-lhes sobre Cair Parável, o castelo sobre o qual residiam e governavam Nárnia. E para lá foram, enquanto Eros resmungava baixo com Lee sobre procurarem o carro.