Eros sentou dentro da maquina e sorriu. Pôs uma chave na ignição e então fez-se um barulho de ronco, demonstrando que o possante havia sido ligado. Olhou para os amigos animadamente, mas ambos estavam assustados com aquela “caixa voadora”. Sua cor era prateada e tinha duas faixas pretas pintadas do capô até a traseira. Por dentro parecia ser bem confortável e era basicamente um CARRO mesmo. O ruivo saiu do carro e pegou as bagagens de Nina e jogou as mesmas no porta-malas, seguido de empurrar a garota para o banco traseiro. Fez o mesmo com Lee, porém redirecionando o amigo para o banco do carona. Eros se sentou na nave já ligada e apertou alguns botões que estavam escondidos abaixo do volante, fazendo após alguns segundos tudo balançar e a amiga olhar pela janela: Eles já estavam começando a levantar vôo! Lentamente eles estavam subindo, e quando atingiram uma altura bem considerável (era possível ver boa parte de paris.) o garoto anunciou.

         - Simples: Lee já entendeu como funciona. Mas Nina, repare que há uma espécie de cordas de couro, meu pai chama isso de cinto de segurança. Puxe a ponta do cinto e prenda num pequeno suporte, é melhor assim. – Seguindo as instruções de Eros, Nina fez e se sentia ansiosa. Eles não estavam em um trem, estavam viajando por conta própria e sem auxílio. Se algo de turbulento acontecesse, teriam de dar o próprio jeito... E pensando assim a garota apertou a pequena chave com força na própria mão.

         - E lá vamos nós! – Sussurrou Lee se segurando com força nas laterais da cadeira do passageiro. Quando viram que estavam a uma altura absurda, o carro tremeu e em instantes um portal se abriu a frente, por onde eles passaram a uma velocidade extremamente acima do normal. O impulso foi tão grande que o corpo da garota ficou praticamente colado no banco traseiro, assim como os dois amigos sentados a frente. O ruivo mal conseguia segurar o volante, enquanto Lee tentava fechar os olhos devido a pressão do vento. Ao passarem pela luz do portal, aquela visão incrível estava diante dos seus olhos: Um espaço imensamente negro com luas, estrelas, planetas, mundos... Eles estavam em um lugar que de fato, nunca deixava de surpreender cada canto do nosso raio de visão. Após alguns minutos Eros diminuiu a velocidade, parecendo que estavam em um simples veículo a passear... Passear entre estrelas. Girando o volante, o garoto desceu o carro em algo que pareciam trilhos de trem e por ali seguiram algum tempo.

         - Por que estamos indo nessa linha? – Perguntou Nina após tanto tempo calada.

         - Ah, por que com os Heartless se espalhando por aí, quase todas as rotas seguras entre os mundos foram tomadas, então não da pra confiar... A não ser que sejam as rotas de trem. Fiquei sabendo de que elas são muito bem protegidas e praticamente são indetectáveis. Com o transporte de pessoas entre mundos, manter essas rotas escondidas é essencial. – Explicou Eros enquanto dirigia com apenas uma mão e admirava a paisagem.

         - OLHA PRA FRENTE! – Foi apenas o que Lee gritou ao ver um imenso rombo na linha de trem, como se fosse um terminal ou uma ponte quebrada. O moreno havia puxado o amigo para olhar para frente, mas já era tarde. Com a velocidade que também estavam, o possante caiu rente, dando a impressão de ali haver gravidade.

         - Porcaria! Heartless devem ter achado essa rota e a destruíram. Não temos escolha, vamos ter que ir pelo caminho difícil! – E então foi puxado o freio de mão. Feito isso, o carro se estabilizou e pousou em uma pista longa e alaranjada, com vários cânions e uma espécie de água laranja escorria pelos mesmos. O cenário era simplesmente novo, e no fim deste, era possível ver uma imensa “bola alaranjada” que dava a cor característica ao cenário único. Parecia um cânion da América, porém com água e estranhas pistas que iam para vários lados, além das plantas flutuantes (também na cor laranja). De início a visão dos três não estava acostumada a cor forte, e graças a isso Eros apertou um estranho botão que tinha um desenho de um cigarro. O para brisa começou então a escurecer, melhorando a visão de ambos. E assim eles foram indo por aquela estranha pista, até que então uma espécie de painel de controle saiu detrás dos bancos do motorista e passageiro. Nina olhava as telas até notar em letras vermelhas a um canto “Heartless Detected” e rapidamente olhou a pista.

         - Espera aí! Gente, olhem pra frente! – E um imenso tanque alaranjado, parecendo mais um imenso brinquedo vinha andando a toda contra eles. Seu tamanho era de pelo menos vinte vezes maior do que o carro no qual de encontravam e a menina chegou até a aumentar o tamanho da chave que estava na sua mão, mas Eros freou o carro e ligou o botão de pisca alerta. Ao fazer isso, tubos saíram nas laterais do veículo e um controle se apresentou diante de Lee.

         - Nina, você dá as coordenadas dos Heartless que aparecerem no perímetro de alcance do carro, Lee, você mira pra destruí-los e eu dirijo a toda. – E antes que pudessem concordar com qualquer coisa do que o ruivo disse ou perguntar como tudo funcionava, ele já estava aumentando a velocidade mais uma vez. – Atira, vai, vai, vai! – Sem saber o que fazer, Lee apertou um botão que parecia vir de um controle de vídeo game e mandou uma bomba na direção daquele tanque Heartless, destruindo-o em questão de segundos. O garoto de rosto oriental olhou assustado pro estrago que ele mesmo fez e Eros começou a rir. – É assim mesmo cara, manda ver! – E assim eles seguiram, enquanto novos Heartless surgiam, muitos sendo bem maior que os anteriores. Porém, pro medo dos três, um bem (bem mesmo) maior havia surgido. Ele tampava completamente a pista e seu rosto estava furioso.

         - Segundo os comandos aqui... Não temos nenhuma arma compatível com esse bichão aí. Temos várias armas fracas ou uma potente até demais. O que querem?

         - Lee, a mais potente!

         - Mas vai destruir a pista e-

         - Dane-se, vai nessa!

E o garoto apenas apertou o botão enquanto Eros acelerava demais. Do teto surgiu uma imensa bomba atômica e a mesma fora disparada, entrando em choque com a criatura que mais parecia uma baleia colossal e alaranjada. A explosão foi tão grande que era quase impossível mudar o caminho pelo qual estavam indo e apenas viram labaredas correndo pelas laterais do possante. Nina fechou os olhos com força e Lee também, mas Eros se mantinha alerta, até que o carro começou a cair. Naquele momento eles haviam passado entre o Heartless pulverizado e a explosão, caindo na área dizimada da pista. O carro mais uma vez estava caindo, mas eles foram envolvidos por luz e num grande impacto eles sentiram o carro bater com força no chão.

         - Estamos inteiros? – Perguntou Lee.

         - Acho que o Eros perdeu boa parte do bom senso depois dessa, não é? – Disse a garota soltando o cinto de segurança e dando um tapa na cabeça do ruivo.

         - Definitivamente! – Falou o moreno, repetindo a ação de Nina. Saindo de dentro do carro, ela bateu a porta com uma certa força e se assustou com o ambiente. Estava em meio a uma densa floresta e no alto do céu estava a Lua, iluminando tudo. Era uma visão até bem bonita, se a garota ao menos soubesse onde estava. Caminhou até a porta do motorista e abriu a mesma, lançando em Eros um olhar reprovador. O garoto saiu do veículo e Lee também, ambos se admirando com o lugar.

         - Caramba! Esse lugar... – E o oriental girou o corpo por completo pra ter uma noção de tudo.

         - Esse lugar nada, olha só o meu carro! – E o ruivo estava desesperado, olhando para o carro com a suspensão acabada, vários arranhões e o capô meio amassado. – Não dá pra sair daqui com ele assim! Vamos ter que passar a madrugada aqui e eu vou consertando o carro!

         - Tem certeza de que quer fazer isso? – Nina o observava enfim com cara de preocupação.

         - Se eu não devolver isso daqui inteiro pro meu pai, ele me MATA, entendeu? – A nostalgia estava óbvia nas ações do garoto e com um pano ele começava a limpar a lataria. – Veja bem, vocês podem dormir dentro do carro. Eu vou fazer uma fogueira e começar a trabalhar na parte de baixo do bichinho aqui, sei que precisamos sair daqui logo... Nós nem sabemos onde estamos...

         - Se é assim... Nina, vem comigo pegar alguns galhos, vamos fazer uma fogueira. Está bem frio aqui. – E eles adentraram alguns metros na floresta. Nina aumentou sua Keyblade de tamanho e subia nas árvores, cortando ramos velhos que fossem fáceis de pegar fogo. Enquanto os cortavam, Lee os pegava antes que chegassem ao chão. E terminada a tarefa, a garota guardou a chavezinha em seu bolso e dividiu o peso com o amigo, voltando para onde se localizava Eros e seu carro. Enquanto o ruivo estava deitado debaixo do carro, consertando os estragos, Lee e Nina faziam uma fogueira.

         - Alguém se lembrou de trazer algo para comer? – A garota finalmente notou que estava a praticamente dois dias sem comer direito. A última vez que soube o que era mesmo comida foi no café da manhã em pleno Castelo Disney, mas aquele clima de despedida só a fez perder a fome. Um dia exaustivo de viagem a fez chegar de manhã em Twilight Town, onde passou mais um tempo sem comer, sobrevivendo a base de sorvete. Por fim, a volta pra sua terra natal. Tinha comido apenas meio pão! Bem dizia minha avó que saco vazio não para em pé.

         - Eu não trouxe nada. Eros? – E assim, com cara de quem estavam realmente com fome, olharam ambos para o ruivo que bancava o mecânico debaixo do carro.

         - No porta-malas há uma sacola com biscoitos, cogumelos e cantis com água. Mas economizem! Não sei quanto tempo posso passa aqui consertando o estrago além de que eu também estou com fome. – E a garota acompanhada do moreno foram pegar os poucos mantimentos que tinham. Os biscoitos foram as primeiras vítimas, enquanto saboreavam a água quente guardada a horas no carro. Estavam já ali a umas 2 horas, quando a garota começara a cochilar. Lee ficou com pena desta, sabia que ela havia passado por muita coisa em tão pouco tempo e a carregou, deitando a mesma no banco traseiro do veículo. Eros acabou dormindo debaixo do carro mesmo e nisso o moreno dormiu no banco do carona jogando um livro em sua própria cara.

         - Nina, você pode me escutar? – E a voz que chamava a garota soava como uma doce melodia. Diante daquela voz cheia de ternura, ela resolveu abrir os olhos. Era um belo dia, ou pelo menos foi o que constatou do que era possível observar o céu dentre as árvores e suas ramificações. Sentou-se delicadamente. Seu corpo trajava um vestido azul bem delicado e cheio de camadas, dando-lhe um ar antigo. Seus pés estavam descalços e as madeixas soltas, onde seus cabelos castanhos ganharam uma ondulação que voava junto da brisa. Parecia uma boneca até mesmo enquanto se levantava para poder seguir a voz que cantava em seus ouvidos. Seus pés foram lambidos pela relva úmida grudada no mato daquela densa floresta. Segurou a barra do vestido e então começou a correr, tentando atender ao seu chamado. – Nina, será que você pode me alcançar?  E a garota seguiu por um caminho que lhe dava brechas para correr. Tudo parecia tão mágico ao seu redor. As vezes parava de correr e girava seu corpo observando tudo, enquanto luzes corriam em torno de seu corpo.

         - Oh, fadas! – Ela sorriu ao ver as bolinhas douradas que voavam em torno de si. – Como vão senhoritas? Poderiam me acompanhar? – E Nina voltava a correr animadamente, tentando encontrar aquele que a chamava tão intensamente.

         - Eros...? Acordou, cara? – E então Lee abriu os olhos e retirou o livro que protegia seu rosto. O garoto havia acordado quando ouviu o barulho de uma das portas do carro se abrir. – Eros...? – Mas para seu espanto, a única porta que estava aberta era a do compartimento traseiro. Nenhum corpo dormia ali atrás e assim ele entrou em desespero no mesmo instante. – NINA!