Caminho de Casa escrita por surfsushi


Capítulo 1
Ito Watanabe


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Sempre quis escrever a respeito de família, principalmente sobre adoção. A protagonista não será apenas Ito, mas também os personagens que ela conhecerá durante a estória.



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Meus pais faleceram no dia 27 de agosto de 2012, uma quarta-feira, ás quatro da tarde, em um acidente de trânsito durante uma chuva torrencial. Naquele dia, uma assistente social me levou em um carro preto para ver o enterro deles, ainda chovia muito. Naquele dia eu pensei muitas coisas que eu nunca havia pensado antes. Três anos atrás, quando eu tinha cinco anos, li uma vez em um livro velho de minha mãe uma estória sobre um gato filhote que perdia sua mãe que morria atropelada por uma moto. No final do livro dizia "Sempre se despeça daqueles que ama com palavras de carinho, pois pode ser a última vez que você as verá."
Na época em que li, eu não me lembro o que senti ao ler aquilo, mas eu me lembro que não entendi que mensagem o livro estava tentando transmitir. Hoje, eu percebo que a mensagem era mais clara do que eu imaginava. Quando temos pessoas que amamos muito, geralmente não pensamos que algo assim realmente poderia acontecer com elas. Geralmente preferimos pensar que acidentes acontecem, mas não aconteceríam com aquela certa pessoa que amamos. No dia em que meus pais faleceram, eu percebi que as pessoas a minha volta não eram muito diferentes das que vejo em noticiários sobre acidentes e tragédias. Eu passei a ter medo, e nunca mais me permiti a amar alguém da mesma maneira que eu amava meus pais, imensamente.


-


27 de Agosto, 2012, 08:35 da noite


O que eu vou fazer agora? - Eu pergunto mentalmente para mim mesma enquanto seguro firmemente a mão de uma mulher alta de terno feminino usando um crachá que dizia "assistente social", e me guiava por um hospital.


Ela se aproxima de um balcão e permaneço segurando sua mão. Levanto o rosto para ver melhor a enfermeira com quem a mulher falava. Minha cabeça está pesada e não consigo pensar direito, mas a ouço falar com a enfermeira. Ouço-a perguntando a respeito de orfanatos.


Orfanato... - Eu digo baixo, olhando com atenção as lajotas brancas e sujas do chão do hospital.


A mulher pede licença a enfermeira e agacha-se em minha frente, apoiando-se em um joelho.


- Ito-chan. - Ela faz uma pausa de alguns segundos, me olhando nos olhos - Você sabe o que é um orfanato?


- Sei. É o lugar para onde eu vou.
Ela suspira de maneira triste.


- Ito-chan... - A mulher segura uma de minhas mãos com cuidado, quase sem que eu perceba. - Um orfanato é um lar.


Eu sempre gostei da palavra "lar". Eu gosto de como um lar nem sempre precisa ser uma casa, ás vezes não precisa ser um lugar também. Gosto de como é apenas algo que lhe dá segurança, e lá você pode se sentir amado. É um lugar para onde você sempre poderia voltar. Aquela moça de pele tão clara e cabelo tão escuro que falava comigo teve minha total atenção no momento em que disse "lar".


- Um orfanato é um lugar onde você pode conhecer muitas pessoas gentis. Estas pessoas cuidam de você e se tornam partes importantes da sua vida. - Ela olha minhas mãos por alguns segundos. - As pessoas que você conhecerá no orfanato podem se tornar algo como uma família.


Eu fiquei um pouco triste ao ouvir isto. Era como ouvir que meus pais seríam substituídos. Eu continuei a ouví-la.


- É muito difícil perder uma pessoa que você ama. Mas é sempre possível encontrar pessoas que possam lhe oferecer um lar. Não é como trocar seus pais por um outro alguém. É apenas... Como aceitar que outras pessoas também podem lhe querer bem como seus pais queriam.


Senti algumas lágrimas preencherem o canto de meus olhos. Por algum motivo, até aquele momento eu ainda não havia chorado. Saitou, a assistente social, enxugou meus olhos com o polegar. Porquê eu não havia chorado? Eu estava tentando parecer mais forte?


Saitou se levantou e voltou a me guiar pela mão até a saída do hospital. Me perguntou se eu estava me sentindo um pouco melhor e fiz sinal com a cabeça dizendo a ela que sim. Enquanto andávamos da saída até o mesmo carro preto de antes, eu fiquei pensando no sorriso de meu pai. Ele tinha o sorriso mais bonito do mundo. Ao chegar no carro, Saitou abriu a porta para mim e me ajudou a entrar. Quando me sentei, ela cuidadosamente colocou o cinto de segurança em mim, mesmo eu estando no banco de trás. Ela sorriu para mim da maneira que meu pai costumava fazer e sentou-se no banco da frente, logo dando a partida no carro. Eu me senti bem. Pensei em porque eu não poderia ficar com a Saitou-san. Ela era gentil, e eu ficaria feliz com ela. Quis perguntá-la o motivo, mas preferi não o fazer. Fechei os olhos e encostei a cabeça no banco por um breve momento.


- Você lembra da moça com quem falei no hospital? - Saitou perguntou durante o caminho.


- A enfermeira? - Abri os olhos e respondi.


- Sim. - Pude ver os olhos bonitos de Saitou-san olhando o vidro da frente do carro enquanto dirigia. - Ela me disse sobre um lugar muito bom. Um orfanato.


Fiquei ouvindo.


- Eu lhe levarei lá, para você conhecer.
"É para me deixar lá.", pensei. Eu ainda estava triste, embora fosse reconfortante estar com Saitou-san.


-


Abro os olhos lentamente, ainda estou no carro. Ainda não chegamos ao orfanato?


- Ito-chan. - Vejo Saitou-san abrir a porta e chamar por meu nome. Seu rosto me dá novamente aquele sorriso que me lembrava de meu pai. Ela solta meu cinto de segurança e segura minha mão para que eu não caia ao sair do carro.


- É o orfanato? - Perguntei. Eu havia poucas coisas no tempo em que passamos juntas. Saitou-san provavelmente já havia percebido o quão quieta sou.


- É sim. - Ela respondeu.


A minha frente, há uma casa muito grande de madeira, com um telhado laranja e um portão alto de metal, enferrujado. Posso ver as luzes da casa ligadas, e uma grande porta marrom que parecia ter alguns anos.


Eu me distraio enquanto olho a casa e, sem que eu perceba, Saitou-san levanta-me, me segurando em seu colo. Fico surpresa, com os olhos b abertos olhando o rosto dela perto do meu. Ela ainda sorri, me ajeitando em seu colo.


- Saitou-san... - Digo calmamente, olhando-a. Ela ri.


- Me desculpe. - Ela me coloca no chão com cuidado. - Você já é uma mocinha. É que eu tive uma filha também, mas ela não está mais aqui... Eu sinto muita saudade dela, ela era linda como você. Me lembrei de quando eu a levantava nos braços assim.


Eu pensei naquele momento que talvez Saitou-san também tivesse perdido uma pessoa que ama. Meu coração apertou, e abracei ela. Ela passou a mão em minha cabeça.


- Você me lembra mesmo dela.


Caminhamos juntas até a frente da casa até a frente da casa, e Saitou-san puxou a chave do carro preto do bolso e cutucou o portão de metal com ela, fazendo um som para que abrissem para nós. Uma mulher um pouco mais baixa que minha amiga assistente social saiu pela porta de madeira e abriu o portão para nós, nos guiando até a porta.


- Saitou-san! - A mulher exclamou.


- Erika-san, boa noite. - Ela respondeu. - Me desculpe por vir tão tarde.


- Eu recebi um telefonema me avisando que você viria. - A mulher, Erika-san, olhou para mim sorrindo. - Esta deve ser a menina.


Me escondi atrás de Saitou-san, segurando em sua saia.


- Olá, como vai? - Ela perguntou para mim.


Saitou-san fez sinal para que eu me apresentasse, e eu o fiz, timidamente.


- Vamos entrando? - Ela prosseguiu.


Uma garota pequena, de pele clara, olhos castanhos e cabelos loiros, vestindo um macacão jeans velho e tênis se aproximou da porta. Eu, Ito Watanabe, estava prestes a conhecer o meu novo "lar".


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Notas finais do capítulo

Ufa! Terminei o primeiro capítulo. Pena que ficou curto.
Se você leu até o final, agradeço muito. Por favor, comente! Me faria muito feliz.



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