A Personagem escrita por Nands


Capítulo 13
Jamie


Notas iniciais do capítulo

Oizii pessual, tudo bom do lado daí? saushaus

Postei mais rápido dessa vez, certo? Certo!

Esse capítulo ficou meio parado, mas prometo que o próximo vai ser melhor.



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JAMIE

O meu dia não podia estar mais estranho. Literalmente. Acordei com o escritor cantando uma música que eu tinha certeza que conhecia, mas não conseguia lembrar a letra, o refrão ou o nome. Como se tivesse ficado vários dias ouvindo até se tornar minha música favorita e, então, minha memória tivesse sido apagada.

“Closing times... You don’t have to go home... but you can’t stay here...”

– Bom dia pra você também. – respondi para o teto.

“I know who I want to take me home. Take me hoooooooome”

Eu ri, ele era claramente desafinado, mas também dava para ver claramente que gostava da música, como se lembrasse algum bom momento para ele.

– Que música é essa? Tenho quase certeza que a conheço.

Ele pareceu hesitar.

“Você...você reconhece a música?”

– Parece que já ouvi em algum lugar, mas não tenho certeza.

Ele respirou fundo.

“Closing Times – Semisonic”

Tinha criado um tipo de amizade com o escritor, de certa forma, acreditei na história de “eu estou do seu lado” que apresentou no hospital. Outro dia, ele até me falou algumas respostas da prova de história e feito a professora de biologia cancelar a prova marcada.

– Escritor? – chamei.

“Jamie, já lhe falei meu nome, lembra?”

– É difícil de acostumar, foi mal. Mas era isso que eu ia pedir. Hum... por que você escolheu esse nome pra mim?

“Era o nome de alguém que eu, hum... gostava” – falou ele com uma voz um tanto quanto amargurada.

– Meu nome é roubado? – falei fingindo estar ofendida. – Como você ousa?

“Se você quiser posso mudar para Phoebees, que tal?”

– Isso lá é um nome? Credo, parece marca de bala de cereja. Não, não, obrigado. Gosto de Jamie.

Assim, meu dia já começou de uma maneira esquisita. Então, chegando à escola, vejo a última pessoa que imaginaria ver novamente naquele local, meu primo, Dean.

– Dean? – perguntei, perplexa.

– E ai, ruiva, beleza? – ele me abraçou me levantando do chão.

– O que você está fazendo aqui? Pensei que nunca mais te veria nessa prisão novamente.

– Ahn, eu estou, ahn... Você viu a Sam?

– Não, eu acabei de... HUUUUUUM, você tá aqui pela Sam, é? Haha, to sabendo, priminho...

Dean arregalou os olhos.

– O que? O que ela te disse? Ela te disse alguma coisa? – perguntou assustado.

Eu ri alto.

– Calma, ruivo. Ela não falou nada demais. – dei ênfase na última palavra. Olhei-o com um sorriso sacana.

Ele ainda estava com expressão assustada.

– Vocês me assustam, sério. – ele disse e me acompanhou até o banco em que eu sempre esperava a Sam (atrasada, como sempre) chegar.

Quando ela chegou, vi uma cena ainda mais inusitada: Sam se inclinou para o Dean e o beijou. Quero dizer, eu já tinha visto o Dean beijando várias meninas, a Sam beijando vários garotos, e também já tinha visto eles dois se beijando, mas nunca fizeram isso de uma maneira tão natural na minha frente.

– Uoooou! – comentei – Vocês estão sérios agora?

Sam me olhou como se todo a ar do mundo tivesse sido roubado de repente, ela começou a ficar vermelha.

– Han... – começou Sam.

– Por mim, estaríamos “sérios” há muito tempo. – comentou Dean.

Sam conseguiu ficar mais vermelha do que já estava e, para ajudar, Dean se levantou e deu outro beijo nela, mais longo e mais intenso.

– Vocês querem ir lá no Nhéco? – perguntei.

Nhéco é o apelido carinhoso dado a sala 203 que ficava no final do corredor do segundo andar e, como não é utilizada para fins educacionais, virou um lugar onde todos os alunos iam para se pegarem.

– Ainda chamam aquele cafofo de Nhéco? – perguntou Dean. – Lembro disso na minha época.

– Falou o vovô – retruquei – Fazem só dois anos que você deixou de frequentar aquele “cafofo”, Dean. Pare de falar como se fosse do século passado.

– Eu sou do século passado. – disse ele com um sorriso maroto. Imitei-o.

– É, eu também.

O sinal tocou anunciando que mais um dia de aula tedioso iria começar. Fiz um gesto para os dois pombinhos se apressarem enquanto caminhava em direção ao elevador e apertava o botão. Sam chegou segundos antes da porta do elevador se fechar. Estávamos sozinhas quando eu quebrei o silêncio.

– Tá babada ai, ó. – apontei o dedo em direção à sua boca.

Ele limpou com as costas da mão.

– Vai à merda, Jam.

Caminhámos até a sala de aula 504 para dar início a pior aula da história das aulas horríveis: física. Entrei e sentei no meu lugar habitual perto da parede, Sam atrás de mim. Foi então que eu senti a falta de alguém, alguém que eu nem acreditava que não tinha sentido falta até agora. Virei para trás rapidamente para comentar a descoberta com a Sam.

–Ei, você sabe do Edu?

Ela balançou a cabeça de um jeito aparentemente confuso e logo depois arregalou os olhos e apontou com a cabeça em direção a porta. Lá estava Eduardo, calça jeans escura, camisa azul claro, cabelo castanho embaraçado, mochila nas costas, nada de diferente, exceto pelo pacote de presente amarelo gigante que ele segurava na mão esquerda. Ele sorriu e veio em direção a mim, largando o pacote com um barulho abafado em cima da minha mesa. Todos. TODOS estavam com os olhos voltados para mim.

Foi nesse momento em que eu quis me enfiar na minha cama, em baixo dos cobertores e nunca mais sair de lá, mas então resolvi que não podia fazer isso, pois antes teria que sequestrar o Edu e abandoná-lo para sempre no deserto de Nevada depois de ter jogado ele num balde de bronzeador solar.

Respirei fundo, contei até sete, encarei Edu que sorria feito bobo, então, afastei a ideia de abandoná-lo no deserto e, com a maior calma do mundo, perguntei a ele:

– Poderia me explicar o que seria esta caixa amarela enorme em cima da minha mesa, Eduardo?

– Um presente! – respondeu ele, simplesmente.

“Desculpa Jamie, queria fazer uma surpresa, fiz Edu entregar isso para você.”

– Não poderia ter me entregado isso num lugar com um menor número de pessoas observando? – falei tanto para Edu quanto para George.

“Assim dá mais emoção” – falou George.

– Assim dá mais emoção . – repetiu Edu

Ouvi a Sam rindo atrás de mim e fiz uma anotação mental parra abandoná-la no deserto junto com Eduardo e George.

– Ah-ham – pigarreou o professor – Jamie, será que poderia guarda seu presentinho para podermos começar a aula?

Cerrei os dentes e em seguida forcei um sorriso para ele.

– Claro, sr. Herbet. – coloquei a caixa no chão e abri meu fichário.

Eu te mato, George.

“Você nem abriu e já está reclamando, aposto que vai gostar do que...”

Mesmo que eu gostar...Eu ainda te mato por não ter sido discreto.

Ele estava rindo, o que de algum modo, me acalmava e não me deixava sentir raiva dele.

Pedi ajuda para Sam para levar aquele presente amarelo nada discreto para biblioteca da escola, onde a bibliotecária mais legal que eu conheço, permitiu eu deixar a caixa lá até o final da aula.

Só de birra, não falei direito com Edu a aula toda, somente quando o último sinal bateu e ele se ofereceu para levar o presente para minha casa foi que eu deixei a teimosia de lado, dizendo que ele poderia sim, me ajudar levando aquela caixa amarelo-ovo para casa.

Abri a porta para nós e, como era de se esperar, não tinha ninguém em casa. Edu largou o presente em cima da mesa da cozinha e se atirou no sofá.

– E ai, qual vai ser o filme?

– Hum...Edu, - falei com uma voz doce – eu estava pensando em ler meu livro agora.

O garoto sorriu, claramente lembrando das inúmeras vezes que ele me envolveu com seus braços em silêncio, enquanto eu devorava livros de vários tipos diferentes.

– Posso? – perguntou ele. Eu me aproximei e beijei sua bochecha.

– Claro que pode.

Assim, o presente foi abandonado na cozinha, enquanto eu e Edu subíamos para o meu quarto e eu me aconchegava em seu colo enquanto lia o livro “A menina que não sabia ler” com rapidez.

Em algum momento, fechei o livro, me encolhi mais para perto dos braços fortes de Edu, fechei os olhos e comecei a fazer uma lista de retrospectiva de lembranças. A lista acabou ficando algo semelhante a:

“Mããããe! Eu machuquei meu joelho.”

“Dean, não tome água pelo nariz!”

“Sam, achei você!”

“Pai, fiz um desenho pra você, olha, tá escrito ‘George é melhor pai do mundo’.”

“Anemia? O que é isso?”

“Edu, você é o amigo mais irritante que eu poderia querer.”

“Mãe, eu preciso ir àquela festa, o Edu vai estar lá!”

“Quem é você? Por que eu consigo ouvir você e mais ninguém pode?”

“Meu nome é George. Pode me chamar de George.”

Só então eu me dei conta. George. George. O escritor deu seu próprio nome ao meu pai. Teria sido coincidência? Duvidava muito que fosse.

“Jamie era o nome de alguém que e, hum... gostava.” O que ele queria dizer com aquilo?

George. George. A resposta estava ali na minha frente o tempo todo e eu não conseguia ver, agora tudo ficou claro, tudo fazia sentido. Eu lembrava de tudo.

Abri os olhos, Edu ainda me segurava em seus braços, pedi a ele ir comprar remédio pra cólica para mim – uma desculpa para poder ficar sozinha – assim que ele se foi, levantei da cama rapidamente e gritei para o teto.

– George!

“Algum problema, Jam?” – ele respondeu na mesma hora.

– Precisamos conversar. Eu sei quem eu sou.


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Notas finais do capítulo

Comentem!
Beeijos!



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